Suave aconchego
Quando a tarde caía, na sua hora mais sombria, o que mais doía não era o iminente
breu, que na certa viria, mas era a brevidade crespuscular que parecia deflagrar
em minhas manas, LaToya e Labelle, aquele cigarrear de cotovias em par. Aquela
cantoria.
Cantavam em dueto, coisas assim como Os Sinos de São João, ou o "...na Itália eu
vi, e traduzi..." e estou que cantassem afinadinhas, botando em cada canção, um
pedacinho de cada coração. E cantavam geralmente junto à janela que dava para
o quintal, numa indicação de que as galinhas, já empoleiradas, e o arvoredo, só
com as copas ainda tenuemente iluminadas, gratos lhes ficavam pelos vespertinos
trinados, sinalizando o bom momento para a reflexão e o recolhimento.
Minha tristeza vinha quiçá de não poder me juntar às vozes e espantar assim -
mais em mim - brava e galhardamente, o anoitecer iminente.
Com pouco as luzes se acenderiam, mortiças que eram, mas portadoras daquele
suave aconchego, digno de agradar a troiano e a grego, remetente ao sossego - se
o não interrompesse o vôo erradio d'algum morcego.
Rádio ligado, o que se ouvia era a Ave-Maria, pausada, pelo Júlio Louzada
serenada.