Singelo

- Você disse que me acha bonita.

- Sim.

- Então por que não me chama de flor?

Ele não gostava de flor. Aquelas petalazinhas eram sedosas, não havia como negar. Mas de que adiantava delicadeza e perfume se a haste quebrava facilmente?

Os 17 anos do rapaz já revelavam certa visão de mundo. Embora não que tivesse bons argumentos para defendê-la, possuía convicção suficiente.

Na sua frente, dois olhos azuis, impassíveis, exigindo uma resposta. Ele não era dado a floreios. Tentou um pouco de sinceridade, afinal.

– Ah, meu bem... Eu até de chamaria de flor, mas sua envergadura tá mais pra cipreste. – com um sorriso despreocupado.

Pondo-se a pensar, a jovem mulher encontrou encantamento. Sensação de exclusividade. Jamais imaginou que aprenderia com a inocência. Mas não deu o braço a torcer. Fungou, virou o rosto e jogou os cachos.

- O que foi que eu disse?

Ela o fitou com uns olhos desconhecidos, cheios de desejo. Ele, claro, não entendeu. A garota se aproximou e deu-lhe um beijo quase imperceptível na bochecha. Eram namorados, por que o retrocesso?

Adquiriu certa distância, olhou para o bem-amado. A inocência fazia bem. Sentiu-se viçosa, como o cipreste que era.

Alceon
Enviado por Alceon em 01/09/2013
Código do texto: T4462360
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