Singelo
- Você disse que me acha bonita.
- Sim.
- Então por que não me chama de flor?
Ele não gostava de flor. Aquelas petalazinhas eram sedosas, não havia como negar. Mas de que adiantava delicadeza e perfume se a haste quebrava facilmente?
Os 17 anos do rapaz já revelavam certa visão de mundo. Embora não que tivesse bons argumentos para defendê-la, possuía convicção suficiente.
Na sua frente, dois olhos azuis, impassíveis, exigindo uma resposta. Ele não era dado a floreios. Tentou um pouco de sinceridade, afinal.
– Ah, meu bem... Eu até de chamaria de flor, mas sua envergadura tá mais pra cipreste. – com um sorriso despreocupado.
Pondo-se a pensar, a jovem mulher encontrou encantamento. Sensação de exclusividade. Jamais imaginou que aprenderia com a inocência. Mas não deu o braço a torcer. Fungou, virou o rosto e jogou os cachos.
- O que foi que eu disse?
Ela o fitou com uns olhos desconhecidos, cheios de desejo. Ele, claro, não entendeu. A garota se aproximou e deu-lhe um beijo quase imperceptível na bochecha. Eram namorados, por que o retrocesso?
Adquiriu certa distância, olhou para o bem-amado. A inocência fazia bem. Sentiu-se viçosa, como o cipreste que era.