Mudando a letra da vida – Cap. 15
Alice Brienza.
Cheguei à escola me contendo para não ser grosseira com ninguém. Todos me encarravam e faziam sinais obscenos para mim.
Na aula de historia falamos sobre Romeu e Julieta e alguns alunos jogaram piadinhas sobre traição, entendi na hora do que se tratava toda aquela hostilidade.
Antes de bater o sinal do fim da aula, me retirei da sala e caminhei para o refeitório mais cedo.
Diário.
Não sei mais o que devo fazer!
As pessoas são tão estupidas e ignorantes, não sabem de nada, mas fazem questão de opinar em tudo.
O que mais me irrita é o fato de saber que eu era uma pessoa tranquila, e agora estou afim e matar um, ou melhor, uma. Caroline me paga!
Parei de escrever quando um garoto loiro e metido a gostosão passou por mim me chamando de vadia fura olho, esperei ouvir de novo para saber se era comigo mesma, mas ele logo se certificou de mandar na lata.
- É com você mesmo garota. – Se apoiou na mesa e mostrou o sorriso mais ridículo. – todos já estão sabendo do que você e o Davis andaram aprontando.
- Não me lembro de ter “aprontado” nada. – Encarrei me controlando para não agredi-lo.
- Só queria te disser que estou namorando agora, quando quiser me ajudar a botar uns chifres nela a gente se fala.
- Você é um babaca! – Me levantei furiosa.
- E você uma cachorrinha fura olho.
Minha mão coçou para que eu pudesse bater nele, mas algo passou bem rápido pela minha visão e vi o garoto caído no chão furioso e surpreso pelo golpe.
A multidão começou a gritar e uma rodinha já havia se formado. Vi o Caio ser empurrado para cima do garoto que já estava de pé e os dos começaram a briga, puxei o Caio pela camisa tentando para-lo e gritava sem sucesso. Um professor me puxou e no mesmo momento separou a briga junto com um faxineiro.
- Para a diretoria! – Gritou.
***
Estava no corredor para da frente para a porta do diretor pela segunda vez naquele ano. Esta bem que desta vez eu não gritei com algum professor, mas quando eu estudava em Roma, só conhecia a diretoria por conta de papeis para assinar, ou para trocar de aula e etc. Bati em uma mesinha com revistas até ver o rosto do Caio saindo pela porta. Levantei em um salto e já estávamos um de frente para o outro.
- O que ele disse? – Perguntei antes que ele falasse alguma coisa. – Sabe o problema que se meteu? Eu sei em defender sozinha. Me desculpa pelo que eu disse sobre seu pai, eu não tinha o direito de...
Um sorriso se formou no canto de sua boca e colocou um dedo sobre meus lábios para me calar. O sorriso dele agora era completo, mas antes que eu pudesse pensar em como isso me afetava, ele me beijou, um beijo quente e suave que passou a ficar mais rápido e frenético. Encostei-me na parede sem que parássemos os beijo, mas para minha tristeza ele parou.
- Vamos sair daqui. - Ele pegou minha mão e me guiou. – Precisamos conversar.
***
Passamos pelo pátio e todos davam risinhos e debochavam, mas de alguma forma estar ali com o Caio fazia o resto ser exatamente isso: resto.
Paramos no corredor e ele me encostou no meu armário.
- Não quero saber do que já aconteceu – Ele parecia nervoso. – Nem quero saber da Carol ou dos nossos pais. Quero ficar com você desde o dia em que te conheci, isso eu tenho certeza.
- Acha que podemos dar certo depois de tanta confusão. – Acariciei seu rosto. – Tem sim a Carol, Guilherme e nossos pais juntos. - Fiz cara de nojo.
- O que falam de mim? – Guilherme se aproximou da gente e por impulso afastei o Caio.
Ele estava incrível. Sempre bem arrumado, mesmo em um uniforme.
- Guilherme? – Consegui dizer. – Você sumiu, não atende minhas ligações.
Ele sorriu sem mostrar os dentes, mas seu olhar não correspondia.
- Andam falando muita coisa de você. – O sinal tocou e o corredor logo ficou lotado. – Devia resolver isso.
- Não é da sua conta- Caio se irritou.
- Eu sei que estão falando que furei o olho da Caroline, mas não foi bem assim. – Falei antes que houvesse uma discussão.
- Não é só sobre isso. – Ele pareceu sincero. – É sobre sua mãe estar querendo dar o golpe em um dos mais ricos dessa cidade. Ela e você... Pai e filho.
Meu sangue ferveu! A Caroline falar de furar olho eu entendo, pois ela perdeu Caio, agora falar da minha mãe... E como ela soube?
Por incrível que pareça a Caroline entrou na direção em que eu olhava, estava conversando com a Bruna e ambas riam de alguma coisa. Junto delas se encontravam outras garotas que nunca falaram com a gente, mas pelo visto a pobre historia dela deu lucros.
Não pensei duas vezes e corri atrás dela, ouvi o Caio gritar algo, mas em quanto todos me olharam eu não consegui ouvir mais nada, minha boca tinha gosto de sangue e meu rosto queimava. Ela me olhou assustada, mas não me importei, empurrei ela fazendo um estrondo no armário e saíram sequências de tapas e chutes. Eu iria pagar por isso, mas ela iria muito mais.