FILOSOFIA EM http://pt.scribd.com/doc/138822297/Livro-Apostila-Do-EJA

O ser humano dos tempos pós-modernos temem suas mãos ferramentas suficientes capazes de fa-zê-lo diferenciar-se dos outros seres. Ora, sabemosque desde sua criação ele tem buscado transformarsua história e, conseqüentemente a história do mun-do. Ao diferenciar-se dos outros seres, Ele necessari-amente se torna um agente transformador da história.Tal diferenciação é visivelmente vista na maior qua-lidade humana, a esfera do pensamento. Por meio dopensar, o ser humano passa à qualidade de “animal”diferenciado das outras espécies porque é capaz depensar de maneira elaborada.A explicação para tornar aceita racionalmenteessa diferenciação entre ser animal e ser humano temgerado diversas discussões até nossos dias. Há umtempo atrás, alguns pensadores apostaram suas “fi-chas” na Teoria Criacionista para explicar porque vi-emos ao mundo, ou ao menos explicar porque omundo existe. Sem respostas reais e evidentes capa-zes de tranqüilizar o pensamento humano quanto àsua existência, os cientistas da Teoria Criacionista as-sumiram Deus como resposta mais plausível paratantas interrogações acerca do mundo, do universo eda existência humana.Outros pensadores, no entanto, desviaram seuspensamentos dessa teoria, pois não aceitavam que aexistência humana e do planeta tenham sido algo rea-lizado num “passe de mágica” por um ser que sequerconhecemos o seu rosto. Eles, por este motivo, co-meçaram a pensar a partir de uma nova perspectiva.Acreditavam que o ser humano não havia sido criadopor Deus como uma “mágica” em que se tira um coe-lho da cartola, mas que ele evoluiu a partir de ummacaco ou mesmo de um mamífero. Isto não quer di-zer que viemos do macaco. Na verdade, a teoria refe-re-se à ancestralidade. Assim como há vários tipos deflores mas a flor em si é única, havia também há mi-lhares de anos atrás diversos tipos de primatas, entreeles, o

homo

.Mas, em quem podemos acreditar? Estaria coma razão a ciência, que procura através de provas e ex-perimentação explicar a existência das coisas e doser? Ou os antigos estavam corretos ao tomarem nassagradas escrituras o princípio Deus como explicaçãopara a existência humana e das coisas? Não poderiamelas, a ciência e as sagradas escrituras, serem asas domesmo corpo? Toda essa discussão, entretanto, ficanum âmbito teórico mais complexo que não cabe a-qui aprofundar. Por enquanto, ocupemo-nos apenascom os fatos.A cultura, com o acúmulo de conhecimentos ede experiências pelas pessoas ao longo das gerações,torna o ser humano diferente dos animais. O ser hu-mano utiliza tal aprendizado cultural para experimen-tar, analisar e diferencia o que há de melhor na vida.Os animais também se utilizam da experimentaçãopara se desenvolver, mas o homem atingiu primeiro oestágio de encadear as idéias com um grau mais apu-rado de raciocínio para um fim específico e determi-nado.Não podemos negar também que ao longo dostempos o ser humano passou por várias mudanças atéchegar ao estágio atual. Se olharmos a história huma-na a partir de básicos fundamentos científicos bási-cos, racionalmente aceitos, perceberemos querealmente ele evoluiu bastante, desde a caverna ou apré-história, passando pelo

homo sapiens

, até chegarao atual humano, dominador da Informática e da In-ternet.Todas as transformações humanas ou evolu-ções se devem ao fato de que o homem percebeu-secapaz de criar, inventar, dominar. Conforme a coisasiam acontecendo, ele crescia cada vez mais na cons-ciência de sua consciência, do seu potencial como

agente transformador da história

. Sua percepção daprópria consciência levou-o a concluir que necessita-va conviver com outros de sua espécie de maneiraharmoniosa e pacífica, por motivos de sobrevivênciaem relação à natureza e às outras espécies animais.Por causa dessa percepção, não foi difícil parao ser humano aceitar que viver em sociedade seria si-nônimo de viver em comunidade (comum + unida-de). Ora, essa vivência refere-se à regra fundamentalda vida coletiva: saber dividir o “seu” com os outros.A vivência em sociedade também é um diferencialfundamental do homem em relação aos outros seres,visto que na natureza os animais comuns possuemuma espécie de comunidade, (a das abelhas por e-xemplo), mas essa vivência não altera a programaçãopermanente da natureza. Com o homem ocorre a mu-dança das regras da natureza pois ele se nega a serparte desse eterno determinismo.A vida social trouxe responsabilidades ao ho-mem que, como indivíduo isolado, não as possuía.Devido a sua evolução, ele foi forçado a adquirir ain-da mais conhecimento, aprender a respeitar o direitoalheio e a exigir os seus. Assim, ele aprendeu a amara prole protegendo-a de tudo, mesmo que nessa proletivesse alguém sem condições para enfrentar as durasregras da seleção natural, ou fosse fragilizado porquestões de doença. Ora, no mundo animal em geral,quando um bicho passa a não ser mais útil para a pro-le, este é descartado sem qualquer escrúpulo. Neste aspecto temos que questionar nossa postura humanados tempos atuais. Não estaríamos hoje retrocedendoem nosso processo descartando pessoas que julgamosinúteis para a sociedade ou para determinado sistemaeconômico, ou para a melhoria da família?O ser humano aprende ainda a monogamia,com o acréscimo do amor. Isto eleva os laços de con-vivência e provoca uma revolução no significado defamília. O homem tenta tornar sua vida algo eternona memória e na cultura de seus filhos, ele assumesua condição humana e repassa essa atitude a seus fi-lhos que a melhoram a fim de que um dia, no longín-quo futuro, ele esteja maduro suficientemente paraconviver com o outro sem problemas de qualquer na-tureza.Um outro aspecto diferenciador entre ser hu-mano e animal refere-se à arte. Temos a natureza quepossui mil maneiras de criar a arte. Entretanto, o ho-mem aprendeu mil maneiras de apreciá-la, demons-trando um sentimento elaborado para tanto. Osanimais passam milênios fazendo a mesma coisa,como as aranhas que tecem suas teias fantásticas paraaprisionar suas presas, mas não escapam de seus mo-delos milenares. O homem pode criar a arte. E podefazê-la com maestria a ponto de, a partir dela mesma,experimentar novas formas. Tudo isso em prol dobem comum.Mas, sejamos realistas, temos algumas obriga-ções como seres humanos diferenciados. Temos odever de preservar o cosmo, a vida humana. Temostambém o dever de trabalhar em prol do bem comuma fim de que todos vivam com dignidade porque so-mos todos uma parte privilegiada da natureza. Por is-so, atingir o bem comum e fazer a vida acontecer emritmo de boa vizinhança é uma tarefa fundamentalpara nós seres humanos. Se falharmos nesse aspectosocial, estaremos, ao contrário do sentido de nossaexistência, tecendo a própria falência humana em suabusca fantástica pela razão de seu existir.

Praticando o pensamento

O texto acima coloca você diante de uma rea-lidade que se inicia agora em sua atividade filosófica.Tal realidade pode ser chamada de condição humana.É fundamental que você tenha elementos básicos so-bre o caráter diferenciado do ser humano em relaçãoà natureza e suas belas peripécias. Esta consciênciada condição humana permitirá que você desfrutarcom mais gosto das reflexões filosóficas sistemáticas,que a partir desse momento se iniciam.Neste momento, você é convidado a pensarsobre o texto acima citado. Ele contém algumas idéi-as iniciais que o introduzirão na arte de pensar a vidae o mundo. Releia-o e exercite seu pensamento. Apósa re-leitura, faça uma pausa e reflita sobre as idéiasmais importantes que há no texto. Finalmente, escre-va carta direcionada a um amigo, comentando a im-portância da existência humana e o rumo dasociedade, a partir da percepção humana de sua capa-cidade transformadora da história.Comece assim:“Caro amigo/a, tenho refletido....”

2.

A FILOSOFIA ENQUANTO INSTRUMEN- TO DO PENSAR HUMANO

Considere o seguinte texto extraído do livro Fi-losofia para Jovens, de Maria Luiza Silveira Teles.

“O homem é um animal diferente. Só ele temconsciência de si próprio e da realidade, pode refletirsobre isto e, também, agir sobre si, transformando-se,e sobre a realidade exterior, criando cultura e mudan-do as circunstâncias. Não é apenas o fato de racioci-nar, de ter um sistema nervoso mais complexo, mas,principalmente, o fato de poder opor o polegar e sercapaz de manipular os objetos que o leva a se perce-ber como algo separado do mundo, embora inseridonele. Isto conduz a uma série de conseqüências, in-clusive ao ato de filosofar.Já que ele não se mistura com a natureza, em-bora faça parte dela e só se realize nela, ele levantaquestões como “quem sou eu?”, “qual a minha ori-gem?”, “qual o meu destino?”, etc.A investigação filosófica, pois, consiste emtomar como objeto da consciência o próprio ato deconsciência das coisas, é uma busca do significadoimutável das coisas em si. Ela é uma atitude, um atode reflexão e apreensão, metodicamente controlado.Se ela é uma apreensão de algo que está alémdas aparências e do nível aparente do que é dito, con-siste, portanto, em:



um esforço intelectual do pensamento paraa obtenção de uma resposta;



uma análise metódica;



uma interpretação teórica;



uma reflexão sobre as possibilidades de cer-teza ou não dessa interpretação.A filosofia busca, então, respostas, eleva-se,desenvolve-se, reflete-se, retoma, ao reconsiderar respostas anteriores. Ela não é uma conclusão a res-peito de nada, mas, mais apropriadamente, uma colo-cação, um debate. Como diz Husserl: ‘a filosofia é,por essência, uma ciência dos começos verdadeiros,das origens radicais’. O filosofar é, portanto, próprio da natureza humana. Que é isto? O que é o homem?Qual a sua humanidade?/.../ O legítimo filosofar é a tentativa de responder, pessoalmente, a uma pergunta pessoal, sobre algo experienciado.

Em 25 séculos de filosofia, temos inumeráveisdoutrinas contraditórias. Não há, sequer, um reduzidonúmero de proposições sobre as quais os filósofos es-tejam de acordo. Os filósofos – e todos nós – se enre-dam em suas próprias elucidações. Estão sempreinsatisfeitos. A verdade é que buscam soluções, damesma maneira desesperada que todos nós. A metafinal é a realização, mas alguém consegue alcançá-la?Eles vão – e nós também... – só até onde a inteligên-cia pode ir e ela é limitada, e o que alcança não nossatisfaz.O que é a realidade? Somente o que é palpá-vel? Já sabemos que não. O homem sofre ou é infelizpor meio de formas invisíveis (amor, ódio...), que, noentanto, não são menos reais do que aquilo que é pal-pável. /.../ Na filosofia, pois, aprendemos a analisaros elementos que compõem a existência do ser-no-mundo, isto porque há em nós uma inquietação exis-tencial congênita. Ao filosofar, avivamos nossa pró-pria luz interior, fazemos um exercício deaproximação e de encontro com o que é buscado.Há, pois, o descobrimento e o diálogo, em bus-ca do conhecimento. Por isso, a filosofia é o conhe-cimento do conhecimento. Aí está a sua diferençacom relação à ciência. Enquanto esta trata dos dadosexperimentais da realidade, a filosofia trata das idéi-as, conceitos ou representações mentais daquelamesma realidade. /.../ Muitos especulam se o mundorealmente existe. Para nós esta questão é um contra-senso, porque sem esta existência o homem não seria“existência”.Seria, também contra-senso pensar o homemcomo um simples resultado de forças e processoscósmicos. Só o homem dá sentido às coisas. Há umaprioridade de subjetividade sobre as coisas, pois elassó têm sentido para o homem. Ele é, pois, o único serque tenta explica o seu próprio ser.O filosofar é, então, uma apreensão da vida, afim de exprimi-la. Mas este filosofar só tem valor sea experiência do filósofo sustenta sua própria expres-são reflexiva. Na filosofia, aprendemos a analisar oselementos que compõem a existência do ser-no-mundo. Mas, como disse alguém: “não há aqui ne-nhuma lógica matemática, pois esta não é capaz deexplicar o que é o homem e em que consiste o senti-do da vida”.Filosofar, no mundo contemporâneo, é maisimportante do que nunca, pois o novo homem estáameaçado de ser vítima da mentalidade tecnocrática.Mais do que nunca, se torna necessário levantar umasérie de questões, começando por: “O QUE É OHOMEM? Somente filosofando poderemos encontrarcaminhos que nos levem à tão buscada felicidade.”

Praticando o pensamento

1) Reflita sobre o que Maria Luiza escreve:.“O homem é um animal diferente. Só ele tem consci-ência de si próprio e da realidade, pode refletir sobreisto e, também, agir sobre si, transformando-se, e so-bre a realidade exterior, criando cultura e mudando ascircunstâncias.” Faça uma breve análise crítica pro-curando explicar racionalmente as razões que fazemo ser humano ser diferente dos animais em comum.2) As reflexões de Maria Luiza nos situa na es-fera do pensamento filosófico. Procure, por isso, ex-plicar o que ela quis dizer em: “

Na filosofia, pois,aprendemos a analisar os elementos que compõem aexistência do ser-no-mundo, isto porque há em nósuma inquietação existencial congênita. Ao filosofar,avivamos nossa própria luz interior, fazemos um e- xercício de aproximação e de encontro com o que é buscado. Há, pois, o descobrimento e o diálogo, embusca do conhecimento. Por isso, a filosofia é o co-nhecimento do conhecimento. Aí está a diferençacom relação à ciência. Enquanto esta trata dos da-dos experimentais da realidade, a filosofia trata dasidéias, conceitos ou representações mentais daquelamesma realidade.”

3.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A caminhada filosófica se dá a partir de ques-tionamentos fundamentais para entendermos nossaexistência e assumirmos nosso papel no mundo. Nãopodemos esperar que nosso pensamento seja preen-chido por fórmulas mágicas inseridas pelas ciências,ou pelas religiões, ou ainda pela própria filosofia,sem que para isso sejamos capazes de entender pro-fundamente o real fluxo do pensamento humano emsua permanente busca por compreensão de seu papelno mundo.Não deixando de considerar que devemos ini-ciar nossa caminhada de algum ponto do pensamentohumano, para daí percorrer o belo processo do co-nhecimento da realidade e de sua verdade, há que se aceitar que o caminho é complexo diante das respos-tas nem sempre satisfatórias, ou diante de novos questionamentos que geram outros e mais outros.Iniciar a caminhada filosófica é iniciar uma caminhada sem possibilidade de definir sua chegada.Mas, se a filosofia indicasse de antemão uma chega-da, ela mesma perderia seu sentido existencial. Por isso, é necessário um ponto para iniciarmos a caminhada, mas chegar ao final, a uma conclusão não é uma preocupação que faça a filosofia ficar irrequieta.Talvez porque o problema maior da filosofia não seja solucionar problemas. Ora, faça a sua conclusão a partir do que Karl Jarspers

2 - diz em seu belo texto filosófico:

“O problema crucial é o seguinte: a filosofiaaspira à verdade total, que o mundo não quer. A filo-sofia é, portanto, perturbadora da paz.E a verdade o que será? A filosofia busca averdade nas múltiplas significações do ser-verdadeirosegundo os modos do abrangente. Busca, mas nãopossui o significado e substância da verdade única.Para nós, a verdade não é estática e definitiva, masmovimento incessante, que penetra no infinito.No mundo, a verdade está em conflito perpé-tuo. A filosofia leva esse conflito ao extremo, porémo despe de violência. Em suas relações com tudoquanto existe, o filósofo vê a verdade revelar-se aseus olhos, graças ao intercâmbio com outros pensa-dores e ao processo que o torna transparente a simesmo.Quem se dedica à filosofia põe-se à procura dohomem, escuta o que ele diz, observa o que ele faz ese interessa por sua palavra e ação, desejoso de parti-lhar, com seus concidadãos, do destino comum dahumanidade.Eis por que a filosofia não se transforma emcredo. Está em contínuo combate consigo mesma.”

_________________________

tempos modernos na filosofia:

1.2. Visão Panorâmica do Modo de Pensar Moderno

A História do Pensamento Moderno iniciadapor volta do século XIV é um exemplo evidente deque nossa maneira de “olhar” o mundo ainda está emum processo de construção. Nessa época, a mudançana rota da história do pensamento provocou uma re-viravolta nas questões relacionadas à percepção doCosmos. Tal mudança leva a concepção greco-romana cristã, que promovia a idéia de uma

ordem fixa segundo hierarquias de perfeição, dotada decentro e de limites conhecíveis, cíclico no tempo elimitado no espaço

, a uma nova fase, com o reorde-namento de idéias e de questões filosóficas da época.No lugar da concepção de uma ordem fixa surge a i-déia do Universo Infinito, para além dos limites hu-manos, aberto no tempo e no espaço. Blaise Pascalretrata a nova mudança na seguinte frase: “

esfera cu- ja circunferência está em toda parte e o centro emnenhuma.”

No século XIV e seguintes, as crenças das pes-soas passavam por uma drástica mudança. Em várioscampos sociais e científicos a humanidade passavapor câmbios os mais diversos. O comércio florescia,a quantidade de bens produzidos era cada vez maior,resultando em excedentes e desenvolvendo cada vezmais as relações de mercado através da troca via es-pécie monetária. As cruzadas haviam deixado abertoo caminho para o Oriente, a imprensa dera um passoimportante na propagação do conhecimento a partirde Gutenberg. A invenção da bússola motivou nave-gantes a avançarem cada vez mais em suas descober-tas marítimas, derrubando crenças nunca antesquestionadas. Uma Nova Era estava sendo construí-da. A essa época de grandes mudanças universais de-nominamos de Renascença. A Renascença é oresultado da explosão do pensamento humano em vi-as de libertação das crenças cristãs.Ora, essa nova postura que então se desenhavaestava sob a bandeira de um movimento filosóficochamado de Humanismo Imanentista. Ele procuravadestruir a harmonia do Pensamento Clássico baseadona transcendência cristã. Ele privilegiava os interes-ses e ideais materiais e terrenos, colocando de ladovalores espirituais e religiosos. Para o HumanismoImanentista, era necessário conquistar, dominar, go-zar o mundo com meios humanos. Com ênfase em taltipo de postulado, o homem passa a ser potencializa-do, celebrado, exaltado até à divindade, livre de si.Ocorre de fato um endeusamento do homem demons-trando a existência de uma redescoberta da FilosofiaAntiga, mas desta vez exaltando o Humanismo. Onovo pensar no início da Era Moderna indica que osentimento vigente na época era o de que as pessoasnão pareciam ser tão incapazes de conhecer a verda-de, como a filosofia cristã deixara transparecer.

Na busca de auto-afirmação diante de ummundo em reordenação surge a idéia da mecânica douniverso. Esta nova postura do pensar refere-se emprimeiro lugar à geometrização do espaço. Na físicaaristotélico-tomista, o espaço fora caracterizado co-mo topográfico ou topológico, ou seja, rico em aci-dentes. A nova concepção espacial o vê como neutro,homogêneo, mensurável, calculável, sem hierarquia esem valores, portanto, sem qualidades. A geometri-zação do espaço diz respeito à idéia de que o univer-so, feito de figuras geométricas circulares etriangulares, parece escrito em linguagem matemáti-ca.Essa nova postura diante do universo requertambém uma nova concepção da ciência da naturezaenquanto pensamento acerca do cosmos baseado namecânica. O princípio da mecânica que fundamenta aciência da natureza da Idade Moderna postula que to-dos os fenômenos naturais são corpos constituídos departículas dotadas de grandeza, figura e movimentodeterminados. Ora, para conhecer a natureza é preci-so estabelecer as leis necessárias do movimento e dorepouso que conservam ou alteram a grandeza e a fi-gura das partículas. Ou seja, é necessário que se acei-te a concepção física da Causa e do Efeito. Por estarazão, devemos repensar nossas idéias de Substânciae de Causalidade. Ora, o mundo greco-romano pen-sava a existência de uma pluralidade infinita de substâncias. Essas substâncias podem ser um gênero, ou uma espécie ou mesmo um indivíduo, cada qual comseus modos ou acidentes e suas próprias causalida-des.Os modernos simplificam tal conceito, afir-mando que a substância é toda realidade capaz de e-xistir ou de subsistir em si e por si mesma. Nestecaso, há três substâncias: a extensão - matéria doscorpos regida pelo movimento e pelo repouso. Opensamento - a essência das idéias, e constitui as al-mas. Por fim, o infinito, ou seja, a substância divina.

A partir dessas três substâncias ocorre o processo deconhecimento, que se fará pelo princípio da causali-dade. Logo, conhecer é conhecer a causa da essência,da existência e das ações de um ser. Por isso, um co

FILOSOFIA

Editora Exato19

universais, provocando inexoravelmente a destruiçãodo cosmos.Iremos a partir desse momento nos direcionarpara alguns pensadores modernos.

1.2. O Filosofar em Descartes

René Descartes, francês da Bretanha (1596-1650), é considerado o pai da Filosofia Moderna. Seuinício de atividade foi marcado por um ceticismo e-vidente, talvez devido a seu apego à idéia de que nãotinha certeza de nada e, ao mesmo tempo, ansiavaconhecer a partir de suas faculdades racionais. Des-cartes procurou sistematizar seu pensamento atravésde um método eficaz a partir do qual seria possívelconhecer.Para ele, o conhecimento se deduz das primei-ras causas. Por isso há a necessidade de se começar apensar o conhecimento obedecendo a duas condiçõesfundamentais: a primeira é ter um princípio tão claroe evidente que não haja qualquer possibilidade dedúvida de sua verdade, e uma outra que o conheci-mento das coisas deve depender do princípio anteriorpara deduzir esse conhecimento das coisas. Partindodessa percepção racional, Descartes inicia sua orga-nização do Discurso do Método, esboçando quatroregras básicas: aceitar somente idéias claras e defini-das; dividir cada problema em tantas partes quantasforem necessárias para a sua solução; ordenar o pen-samento do simples ao complexo, e verificar exausti-vamente se há algum lapso.Ele afirma o seguinte: por desejar ocupar-mesomente com a pesquisa da verdade, pensei que eranecessário agir exatamente ao contrário, e rejeitarcomo absolutamente falso tudo aquilo em que pudes-se imaginar a menor dúvida... Enquanto eu queriapensar que tudo era falso, cumpria necessariamenteque eu, que pensava, fosse alguma coisa, e, notandoque esta verdade:

eu penso, logo existo

, era tão firmee tão certa que todas as mais extravagantes suposi-ções dos céticos não seriam capazes de abalar, jul-guei que poderia aceitá-la, sem escrúpulo, como oprimeiro princípio da filosofia que procurava.O

cogito ergo sum

cartesiano leva à suposiçãode que a essência do ser era o pensamento, e que amente era algo separado do corpo. Mas, como algoseparado do corpo e, por conseguinte, do mundo ex-terno, podia conhecer os objetos? Não estaria Descar-tes adotando uma postura dualista platônica? De fato,para ele, a alma é uma substância distinta do corpo,mas os dois trabalhavam como dois relógios sincro-nizados.A filosofia primeira cartesiana não é uma ciên-cia que prioriza o conhecimento de objetos específi-cos. Se ela demonstra a existência de certos objetos éporque somente por meio deste conhecimento é pos-sível fundamentar as outras ciências. Esta sua filoso-fia partia da certeza de que ele existia e se ele existia,Deus também existia, pois se a existência de Deus erapossível, mais ainda o conhecimento. Sua solução pa-ra a questão epistemológica sobre o que podemos co-nhecer tornou-se uma corrente filosófica chamada deRacionalismo, ou a crença de que a mente é capaz deconhecer coisas mesmo sem experiência. Assim, opensar cartesiano se direciona para a metafísica.A metafísica visa fundamentar o saber. O saberporém não é o fundamento da verdade. A verdade, naverdade, é uma relação entre pensamento e objetos. Aidéia de saber envolve relação entre a verdade e acerteza de que algo é verdadeiro. A certeza é apenasum estado do sujeito. Logo, fundamentar o saber sig-nifica evidenciar dois aspectos, a verdade e a certeza.

Evidenciar a verdade e a certeza é o objetivodo método cartesiano que tem sua gênese na funda-mentação dos primeiros princípios por si evidentes.Eles não se apoiam em qualquer outro princípio, eenquanto evidentes dispensam qualquer outra de-monstração. Assim, o método cartesiano passa a du-vidar de todos os gêneros de conhecimento paraencontrar um princípio que, se colocado ainda emquestão, acarretaria uma contradição. Se no entantoum princípio é indubitável e não acarreta contradição,não pode ser negado e pode assim ser considerado justificadamente como um primeiro princípio.O método dedutivo, físico-matemático, quanti-tativo-mecanicista de Descartes fundamentado nadúvida coloca em questão os saberes sensíveis, a i-maginação e, por fim, a própria razão. Dessa dúvidaradical emerge um enunciado fundamental e indubi-tável:

eu penso

. Só o ato de pensar, a consciência vi-va desse pensar é indubitável, e nesse mesmo atoencontra-se o desejo de provar a existência de Deus.A dúvida cartesiana sem a inserção da questão sobrea existência de Deus e sua prova irrefutável gera oceticismo. Ora, a idéia de Deus perfeito deve ter umacausa. Mas como somos imperfeitos, não podemosser essa causa, de maneira que Deus deve ser a causade nossa idéia da perfeição dele.

1.3. O Pensar Filosófico Segundo Loc- ke

John Locke (1632-1704) é um pensador quenos proporciona uma teoria do conhecimento bastante interessante e diversa de Descartes. O Empirismo,em contraposição ao Racionalismo na Europa do sé-culo XVII, estava crescendo cada vez mais. Locke assume o Empirismo como forma válida de atingir o conhecimento. Para ele, o Empirismo é o fundamento de como aprendemos o que sabemos. Os nossos conhecimentos (idéias) derivam da experiência. Há um fenômeno do pensamento, onde as idéias que temos são representações derivadas da experiência, ou seja,não há idéias inatas. Para ele, os sentidos e a mente (...)

____________

.4. O Filosofar Segundo Hume

O escocês David Hume (1711-1776) desen-volveu o fenomenismo empírico. Sua filosofia, por-tanto, é de caráter empírico. Hume aprofunda oempirismo de Bacon e Locke. Ele parte de duas idéi-as fundamentais. A primeira é o princípio de que sóos fenômenos são observáveis; e a segunda é a de queo mecanismo do real não é passível de experiência.Assim, as relações entre o ser humano e os objetossão modos que o homem tem de passar de um objetoa outro sem que para isso tenha de passar pelas idéi-as. Portanto, o nexo causal, propagado no início doRenascimento, onde estabelecer um nexo causal é de-terminar quais as identidades e quais as diferençasentre os seres, é totalmente rejeitado por Hume, queprefere dizer que as coisas observadas por nós sãoapenas uma sucessão de fatos ou a seqüência de e-ventos. Para ele, todo conhecimento humano é com-binação de sensações. A impressão é a percepção a-tual das coisas e a idéia é a imagem que a impressãodeixa após ser.A filosofia de Hume assume que todo conhe-cimento é reduzido ao sentido, que nos proporcionaos fenômenos, as aparências das coisas. Mas temosimpressão de algo. Diferentemente de Locke, esse al-go é chamado de substância. Assim temos que as im-pressões e a idéias são coligadas entre si pela leifundamental da associação. A substância é uma cons-tante associação de percepções, tirada da experiênciareal, na realidade. Ora, a realidade é resolvida em ummundo atômico de impressões sensíveis, aparênciasfenomênicas, em perpétuo vir-a-ser.Por buscar os fundamentos para o conhecimen-to nos sentidos, Hume não prega a Metafísica, aomesmo tempo em que ao demolir a idéia da ligaçãocausal entre os fenômenos, acaba também por implo-dir a indução como método científico. Ele tambémimplode quase toda a ciência, e qualquer conheci-mento do eu e do mundo externo ao determinar que arealidade é a associação de acontecimentos separadose coincidentes. Essas ligações associativas reúnem-seem nossas mentes somente se forem semelhantesumas às outras ou se as experimentamos conjunta-mente. Por exemplo, podemos associar abacate e a-bacateiro porque costumamos experimentá-los juntos.A ruptura que Hume faz entre fatos e razão échamada de “forquilha de Hume”, e refere-se à idéiade que os fatos não existem em relação lógica neces-sária, e essas relações não pressupõem nenhum fatoespecífico, não havendo portanto nexo causal na rela-ção entre as coisas, apesar de gerarem novos conhe-cimentos.

1.5. A Ilustração (Iluminismo) e a Ati- vidade Racional

O século XVIII, na Europa, é marcado pela li-bertação da razão de tudo o que fosse irracional, asaber: a tradição, a autoridade, a religião, o mito e ospreconceitos. O progresso da humanidade podia fi-nalmente ser plenificado através da ciência e da filo-sofia que instrumentalizando as luzes da razãopodiam levar adiante os anseios existenciais da hu-manidade. Esse período é denominado de Iluminismoou Ilustração. Ilustração é uma expressão alemã

Auf-klarung

para significar a saída do ser humano de suamenoridade para sua maioridade.Essa saída é realizada por meio de um movi-mento cultural desenvolvido entre a revolução ingle-sa (1688) e a revolução francesa (1789). De nomeIluminismo, refere-se ao próprio objetivo do movi-mento de iluminar a sociedade da época com a razãocontra o Obscurantismo da história e das tradições política e religiosa. Ora, a Reforma Luterana retroce-deu o pensamento cristão à sua época inicial. O Hu-manismo e a Renascença remontaram ainda maisatrás, até a civilização pagã. O Racionalismo enquan-to método crítico demoliu a estrutura do pensamentocristão tradicional. O Empirismo, por sua vez, pro-moveu a reconstrução da percepção da realidade a-través de elementos primitivos mediante omecanicismo e o associacionismo. Mas, desses mo-vimentos e correntes, nada se compara ao Iluminis-mo.A característica do Iluminismo é o culto à

deu-sa

razão, que deve dominar absolutamente todas asinstâncias da sociedade, provocador de guerra a tudoque não seja puramente racional, como fantasia, pai-xão e sentimentos. É preciso demolir tudo para im-plantar o reino da razão. Kant revela com bastanteclareza essa época:

entretanto, nada além da liberda-de é necessário à ilustração; na verdade, o que serequer é a mais inofensiva de todas as coisas àsquais esse termo pode ser aplicado, ou seja, a liber-dade de fazer uso público da própria razão a respei-to de tudo.

A vitória das Luzes sobre o ObscurantismoMedieval pode ser visualizada como o fato de que elapassa pela instalação do sol em seu verdadeiro lugar.Daí para frente, a luta seria cada vez mais facilmenterealizada. Surge logo em seguida o projeto da Enci-clopédia, esforço coletivo entre pensadores filósofose cientistas visando difundir e solidificar o novo pen-samento tornando-o acessível ao povo. Os enciclope-distas concebiam a natureza como um grandeprocesso criativo, com o ser humano sendo parte deum todo. Além disso, apontavam a necessidade demudanças principalmente no aspecto cultural da Eu-ropa. Entre os grandes enciclopedistas, temos Ques-nay, Buffon, D´Alembert, Rousseau, Voltaire,Montesquieu e Diderot. A

Enciclopédia da ciência,arte e ofícios

foi lançada em 17 volumes e concluídasob a coordenação de Diderot.Promotores da humanidade, os enciclopedistastambém defendiam as idéias iluministas. Entre asmais importantes temos a defesa do homem como sernão depravado por natureza; o objetivo da vida é aprópria vida, mas não a vida após a morte; a condiçãoessencial para bem viver na terra era libertar o serhumano de sua ignorância e superstição, bem comodos poderes arbitrários do estado; a evolução para sechegar à perfeição humana é condição fundamental;tudo é interligado e é parte de um grande esquema deuma providência benevolente..Finalmente, a razão se impõe como fundamen-to da humanidade e instrumento luminar da ação hu-mana. Mas seria essa razão capaz de controlar osanseios humanos de domínio em relação ao universoe a seus próprios semelhantes? A razão tornada umaespécie de

deusa

teria força suficiente para implantarno coração do ser humano princípios morais capazesde preservar a espécie humana de guerras e desaven-ças, lutas de conquistas e de colonização? Estariamos sentimentos humanos condenados à repressão parasempre? As leis do Estado estariam subordinadas àrazão ou à vontade geral? Se por um lado o Ilumi-nismo libertou a humanidade do Obscurantismo, poroutro, fez o ser humano tornar-se sujeito absoluto dosrumos da humanidade avançando os próprios limitese assumindo e auto-denominando o novo

dono domundo

.

1.6. A Atividade Filosófica Segundo Kant

O pensamento contemporâneo se inicia comImmanuel Kant (1724-1804), filósofo alemão consi-derado o pensador mais influente dos tempos moder-nos. Kant fornece uma síntese crítica e especulativa,fundindo os dois fenômenos,

razão

e

sensação

, emum superior, o Idealismo, que é denominado por elede Criticismo. Essa síntese explicita uma concepçãosistemática imanentista e humanista do mundo e davida de sua época. Tal pensamento vai até Hegel.Immanuel Kant é um grande pensador. Segun-do ele, a atividade filosófica deve considerar a razão,mas também deve levar em conta as sensações. Aoter esse princípio como fundamento de seu pensa-mento, ele volta sua atividade para a organização deum pensamento crítico diante dos problemas do co-nhecimento.Os estudos de Kant fizeram-no perceber apa-rentes contradições nas ciências físicas da época. Eletambém percebe certa contradição nas ilações feitaspor Hume em sua análise do

princípio de causa

, ondeaponta que a relação de causa e efeito é uma coinci-dência e não um conhecimento verdadeiro, conformehavia dito Leibniz. Por esta razão, Kant decide teceruma crítica sobre a experiência humana do conheci-mento a fim de solidificar as verdades metafísicasque o ceticismo de Hume havia demolido. Hume ha-via revelado que não podemos ter nenhum conheci-mento metafísico da realidade.Entre Leibniz e Hume, Kant confronta commais profundidade o pensamento de Hume. Este ha-via afirmado que nada podemos conhecer sem a ex-periência, além de termos de julgá-la para entãocompreendê-la. Por isso, o conhecimento estava re-duzido ao mundo real. Além disso, a mente ainda de-veria “apelar” à associação dos objetos reais para quehouvesse o mínimo de conhecimento. Kant inverte a idéia empírica de submissão do conhecimento à ex-periência. Não é o conhecimento que deve se con-formar com os objetos, mas os objetos é que devemse conformar com o conhecimento, pois os objetossão organizados pelo conhecimento. Para superar es-se problema, Kant afirma que o conhecimento éconstituído de forma e matéria. A matéria são as coi-sas em si e a forma somos nós com nossa percepção

a priori

das coisas.

Immanuel Kant tinha também uma preocupa-ção com a metafísica. Sua rejeição à metafísica “tra-dicional”, presa a rigorosos dogmatismos sem antespensar o que de fato o ser humano era capaz de co-nhecer, fê-lo tecer novos fundamentos para a metafí-sica. Seu pressuposto parece bastante válido poispercebia o homem como um ser desejoso de conheceras coisas para além da experiência. A alegação deKant é um bom início de nossa reflexão: o ser huma-no em sua ânsia de conhecer enfatiza a questão fun-damental da vida:

o que é o ser humano?

Em suaCrítica da Razão Pura ele destrói a metafísica tradi-cional e a reconstrói sob novas bases racionais.Ora, o homem possui uma natureza metafísica,pois relaciona-se com o ser e não se desenvolve senão for a partir de sua compreensão do ser. O pro-blema surgirá quando Kant tentar conciliar Raciona-lismo e Empirismo, Idealismo e Realismo. NoRealismo, conhecer os objetos é apreendê-los comorealmente são em sua existência independente damente. Conhecer algo é assumir entre vários concei-tos o mais adequado a tal coisa, ou seja, a essência.Ao contrário do Realismo, temos o Idealismo. Paraele, as coisas existem conforme a construção da men-te; tudo que existe é conhecido através de idéias oucomo idéias. O Racionalismo tem na razão sua fontedo conhecimento. Ora, há uma classe de verdadesque o intelecto pode intuir diretamente, e que está a-lém da percepção sensível. Na contraposição está oEmpirismo, onde todo conhecimento vem da experi-ência sensível.Para Kant, conciliar essas quatros concepçõesdo conhecimento era fundamental para seu postulado.Sua atividade filosófica presume a organização dopensamento, percebendo que o problema da percep-ção das coisas pelos cientistas era muito semelhanteao de como os metafísicos conheciam coisas sobreidéias abstratas tais como a justiça, a honestidade, amoral. Segundo Kant, o ser humano parte de dadospara fazê-los juízos. Inicia-se aqui sua idéia de que

arazão pura é a que contém os princípios que servem para conhecer alguma coisa a priori.

Para tanto, ele usa proposições analíticas e sin-téticas. As proposições analíticas só explicam as pa-lavras, enquanto que as sintéticas explicam as coisaspara além das palavras. Além disso, ele assume ou-tros dois termos fundamentais, o conhecimento

a pri-ori

, que vem antes da experiência e torna a experiên-cia possível; e o conhecimento

a posteriori

, queocorre a partir da experiência.Na filosofia da época kantiana, os juízos analí-ticos eram perfeitamente concebíveis, mas o que di-zer dos juízos sintéticos

a priori

? A filosofia deHume não acreditava na possibilidade do conheci-mento que ultrapassava os limites do objeto real emsi. Mas Kant insistia que o conhecimento sintético

a priori

era possível. O conhecimento nesse aspecto erao resultado de uma síntese entre experiência e concei-tos. Ora, sem os sentidos, como perceberíamos os ob- jetos? Mas sem o entendimento, como formarmosconceito de um dado objeto? Logo, era necessário ainteração entre sensibilidade e razão para ocorrer o“conhecer”. É necessário que o mundo numênico (re-alidade em si) e o mundo fenomênico (aparência) in-terajam em vista do conhecimento, visto que a coisaem si –

noumenon

, era incognoscível. Ultrapassar oslimites de seu método levaria inevitavelmente a falá-cias e paradoxos. Por isso, o emprego da razão deviase dar na esfera prática, conhecendo o mundo, orga-nizando sob a forma

a priori

de tempo e espaço nossapercepção sobre ele. Tempo e espaço no pensamentokantiano deve ser pensado como formas que alguémpõe nas coisas, e não como uma realidade externa.

1.7. Notas Finais Sobre o Pensamento Moderno

O Renascimento trouxe para o centro das re-flexões uma ruptura radical frente ao pensamentocristão. As preocupações especulativas desde entãoapontaram suas baterias carregadas de questionamen-tos filosóficos com respostas nem sempre alcançáveisao pensamento humano. Neste sentido, René Descar-tes é um profeta do conhecimento pleno. Sua dúvidasobre a certeza do conhecimento pleno do ser fê-lochegar a idéia fundamental de que a dúvida é a certe-za de um conhecimento livre de qualquer erro da ló-gica. Assim, podemos assumir como o centro denossa atividade filosófica a dúvida sob a fantasia doquestionamento. Ora, a pergunta é um instrumentonecessário para evitar que o pensamento se interrom-pa em seu processo de apreensão do conhecimento.Mas não somente Descartes é profeta. Imma-nuel Kant, ao valorizar razão e sentido, criticandoposturas particulares, dogmáticas e reducionistas decertas correntes filosóficas, coloca-nos num grau ele-vadíssimo do pensar humano. Com nosso raciocínioenvolvido nesse grau, a prática do nosso pensar tra-balha os limites, as fronteiras do conhecimento pos-sível, permitindo “olhar” o mundo como se semprefosse a primeira vez. Por isso, para o ser humano en-veredar nas atividades filosóficas é preciso perder al-go da fé nas aparências, nas rotinas, nos dogmas para que não seja aceita nenhuma verdade que não sejaespeculada, problematizada e pensada limitar nossoconhecimento. Hoje, distante dos idos séculos do dasLuzes ainda podemos desfrutar das conquistas que avitória da razão trouxe para a humanidade. Daquelaépoca até nossos tempos, o ser humano vem enfati-zando cada vez mais a não clausura do pensamento eo permanente compromisso de manter aberta a ques-tão do sentido de nossas vidas.O permanecer em aberto as questões funda-mentais de nossas vidas remonta a Hegel que, em suafeliz apreciação acerca da história, revela que ela en-sina que nunca aprendemos com ela. Talvez isso te-nha duas verdades aparentemente paradoxais. Aprimeira verdade é a que nossa alienação permanentediante dos fatos ocorridos é uma realidade pois os fa-tos históricos se repetem porque somos incapazes dealterá-los ao longo do caminhar temporal. A segundaverdade é a que não ocorre esse repetir, mas o reco-locar no centro do caminhar temporal as mesmasquestões feitas há milhares de anos atrás para que,quem sabe com novos postulados categóricos, comnovos dados da história e das ciências, possamos res-ponder finalmente a grande pergunta kantiana:

o queé o ser humano?

Se assim fazemos então estamos fa-zendo filosofia, ou seja, estamos dialogando comuma tradição que já tem mais de 25 séculos no Oci-dente.

Praticando o pensamento

1) Reflita sobre a seguinte idéia: "O Renasci-mento trouxe para o centro das reflexões uma rupturaradical frente ao pensamento cristão. As preocupa-ções especulativas desde então apontaram suas bate-rias carregadas de questionamentos filosóficos comrespostas nem sempre alcançáveis ao pensamentohumano. Neste sentido, René Descartes é um profetado conhecimento pleno. Sua dúvida sobre a certeza do conhecimento pleno do ser fê-lo chegar a ideia fundamental de que a dúvida é a certeza de um conhecimento livre de qualquer erro da lógica.

Assim,podemos assumir como o centro de nossa atividade filosófica a dúvida sob a fantasia do questionamento.Ora, a pergunta é um instrumento necessário para evitar que o pensamento se interrompa em seu processo de apreensão do conhecimento...” Faça uma breve análise crítica procurando explicar racionalmente as razões que evidenciam a importância do perguntar na Filosofia.

http://pt.scribd.com/doc/138822297/Livro-Apostila-Do-EJA

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Enviado por J B Pereira em 05/08/2013
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