Comunidades Horizontais 3.0 - Parte (1 notícias imaginação)
Parte I : Ecoterroristas, os radicais da sustentabilidade.
Noticias imaginação.
“-Isto é uma intervenção, se eu não estiver atrapalhando, chamando atenção, interferindo de alguma maneira na normose* deste local, eu preferia dar um mergulho.
O jovem de 26 anos conhecido como Peixe, é um dos representantes do grupo ecoterrorista da capital paulista e diz que já tem mais protestos preparados até o final deste semestre. Os passantes da Avenida Central que quiserem evitar o tumulto e se proteger da marginalização podem atravessar na cruzamento do shopping, ou evitar parar o carro em locais abertos, distantes do centro. Prezem pela segurança. “
Essa mulher é tão chata, que nem com um assunto desses ela consegue deixar a reportagem interessante. Fora que aparentemente todos os jornais da cidade tem os mesmos repórteres, as noticias são tão parecidas que um copiar/colar disfarçaria melhor. Já não aguento mais ouvir que as gangues ecoterroristas estão invadindo não só as ruas, parques, praças, mas também as lojas, as instituições. O curioso é que eles parecem rápidos, não fazem muito o estilo de celebridades de reality show ou grande mídia. A impressão é quase de que eles não se importam em ser reconhecidos e nem estão atrás de dinheiro. O que é realmente estranho, talvez eles sejam bem perigosos mesmo. A única coisa certa por enquanto é que eles estão se espalhando pelo mundo, afinal esta por toda a internet.
Eu nem bem acessei meu perfil e já estou vendo imagens de ações e intervenções desta semana. Na real elas aparecem aqui quase todos os dias, dois ou três amigos aqui movimentam isso e quase não me comunico com eles, meio mala tudo isso. Por que não podem jogar um game ou só fazer uma programação de jovens como uma balada, uma festa open bar, postar sobre algum jogo, ou alguma menina... O estranho é que nessas fotos eles usam cartazes, saem em grupos, no meu colégio a gente praticamente não faz mais isso. Para que ficar me reunindo e fazendo colagens, só não é pior do que ir na frente da sala apresentar pesquisa. Coisa mais mala...
Mas fato é que já estou quase atrasado para encontrar o bigode, melhor desconectar desse site e deixar aberta a pagina do curso de inglês online, mesmo que eu já não entre aqui há algumas semanas. Tomara que não mandem nenhum comunicado. Também para informação deles eu estou viajando e sem acesso a internet. Mas a p... é que este lance de online limita todas as minhas desculpas. Mas desencana se eles acreditaram beleza. Para que porcaria de lugar eu iria que não tem conexão?
Até no ponto de encontro com o bigode, o O’ Laughs é assim. A esta altura eu nem sei se eu saberia reconhecer ele em outro ambiente. Lá ele assiste os jogos pela TV do bar enquanto a nós tomamos chope com os RG’s falsos que logo eu não vou mais precisar. As vezes senta uma gatinha no balcão e quando eu já virei uns três copos e o bigode eu nem tento contar, nós vamos ate a pista. Menos de domingo, porque só tem gente mais velha de uns vinte anos.
Nossa, o cara já esta virado para a TV concentrado, nem esta passando nenhum jogo. Eu perdi o comentário inicial, mas vi que o nome que apresentaram a reportagem era Os Radicais da Sustentabilidade, já sei bem do que eles vão falar, até meus pais já estão começando a falar sobre isso e eles só são interessados por assuntos financeiros, ou de novas tecnologias e estratégias que a empresa lança, que só me soam a baboseiras de adulto. Mas sem me distrair da tela, já reconheci nas imagens da larga tela do bar rostos de ativistas que circulam ha dias pelo meu mural online e eu sempre passo reto. Os jornais quase não conseguem captar ou ilustrar essa tal de rebelião ecológica, mas eu reconheço aquelas ruas na tela, e no momento só nela, pois não ando por ali faz meses. Por isso mesmo não entendo o que tudo isso tem a ver comigo. Quer dizer, eles quebram as vitrines e eu é que não posso sair sozinho? Parece que to de castigo por alguma coisa que eu nem fiz. Antes era porque as ruas eram vazias, escuras, cheias de mendigos bêbados e assaltantes, agora com essas rebeliões fica todo mundo em estado de alerta e ninguém sabe o que fazer. Ai vai todo mundo direto para casa, para o trabalho, para o colégio e começa a fazer aquelas mesmas coisas de sempre, tipo em modo repeat. Eu nem me divirto mais com essas reportagens, já esta todo mundo falando da mesma coisa e sempre do mesmo jeito, acho que eu até consigo dublar a próxima. Talvez possa até fazer um vídeo e colocar no meu perfil, quem sabe eu viro um comediante e ai nem preciso fazer prova para curso universitário no final do ano. Seria perfeito.
Parece que o bigode já esta virado para mim faz algum tempo, a reportagem já terminou, esta passando outra coisa e como todas as pessoas aqui estavam falando ao mesmo tempo eu perdi o final. O bar já esta uma bagunça lá pelo balcão, eu não sou bom em disfarçar que estava distraído e ele já deve ter me perguntada alguma coisa que eu não respondi. Melhor começar outro assunto.
-Então eles atacaram de novo, hein? Foi loja de doces? De roupas? Firma pr...
O bigode nem me esperou terminar. – Não, foi uma empresa de energia. Eles estão loucos!
Esse segundo gole só me confirma que hoje essa bebida não esta muito boa. Sei que aquele grupo deve ter um nome e eu realmente duvido que seja o que eles usam nas reportagens. Agora que reparei que além de varias pessoas discutindo em volta do balcão o bigode não esta me esperando responder, esta me olhando como se eu estivesse fazendo algo de muito errado. Caraca! O cara não tem mais bigode no rosto. Provavelmente ele percebeu que eu acabei de notar, porque eu senti meu corpo dando aquele balanço de quando a gente acaba de levar um susto. Ele estava para me dizer alguma coisa, mas falar é instintivo.
-O que aconteceu?
-Tive uma alergia do xampu. – Ele falou de modo tão seco e sem graça que eu só posso concordar em silencio. –Você ta distraído hoje, tava jogando Western Wars no portátil antes de vir para cá?
-Não eu já terminei antes de ontem.
Será que ele ainda é o bigode agora? Sei lá, mas chamar ele de Rodrigo é ainda mais estranho do que ele sem bigode, nem sei se ele iria responder. Ele fica olhando para a tela do celular como que com pressa para sair e isso me deixa irritado demais.
-Esses caras tão por toda parte agora, né? – quem sabe para responder ele guarda esse aparelho. É já até fechou e colocou de lado.
-Nem me fala, guri. Minha mãe fica controlando minhas saídas e ta me ligando toda hora. Algumas vezes eu finjo que perdi a ligação e mando pro ocupado, vou falar o que? Se bem que outro dia, meu irmão voltou de uma festa cheirando super forte a cigarro e vodca, todo sorridente as quatro e meia da manha e tudo que meus pais perguntaram foi se ele não tinha cruzado com nenhum radical ou algo parecido no caminho.
-Estranho. Mas também seu irmão já tem quase vinte, cara?
-E dai, Garcia? Espero que sejam assim comigo então. Não to nada afim de fazer provas de múltipla escolha por três finais de semana seguidos. Bem que podiam invadir os locais dos testes.
O bigode é quase um personagem de historia em quadrinhos. Agora com o rosto liso até parece um jovem de dezessete anos, mas eu não consigo imaginar ele estudando o dia todo, sentado em mesa de escritório, usando roupa social, avental, preenchendo relatórios ou quase qualquer coisa que qualifique o que eu conheço por emprego. Talvez trabalhando no bar ou fazendo a programação de internet. Mas se eu for lembrar mesmo, meu primo e o irmão dele eram assim, acho que depois que o pessoal vai ficando mais velho essas coisas vão ficando mais próximas da realidade. Estou meio que esperando o mesmo para mim, porque eu não me interesso por nada disso, mesmo que na verdade eu espere entrar para a área de publicidade. Sinceramente, acho que nem passo na prova de direito com o meu boletim. Eu nem penso muito nisso porque o que tenho que fazer eu faço e deixo o resto do tempo livre enquanto ainda posso.
-Vamos pedir outro? – O bigode costuma se entusiasmar pelo segundo copo, então deve ter chegado antes da reportagem. Deve estar evitando ficar em casa.
O barmen é rápido com os pedidos, quase tanto quanto com a conta. O bom é que não é o meu dinheiro, pelo menos por enquanto. Vi meu amigo já chegando na metade, mas não estou tão no clima de descer a bebida de uma vez, minha boca esta com o gosto um pouco amargo e nem estou me divertindo.
-Repara só. Eu tava pensando, eles não mataram ninguém, não é?
-Quem? – Ele pergunta sem idéia do que eu estou falando. Nem parece interessado.
-Os caras da reportagem.
-Os ecoterroristas radicais?
-É, os caras do meio ambiente.
-Que a gente saiba, né Pablo?
-Então, e também não roubaram nada, não vão atrás de objetos de valor e tal...
-Não to sacando sua idéia, cara.
-Por que chamamos eles de terroristas?
-Pô velho, os caras quebram tudo por onde passam, invadem vários lugares, tão sempre causando o maior agito e você espera que chamem eles de que?