A AGULHA OU A LINHA: QUEM É A MELHOR

 
Peça teatral – Adaptação de “Um apólogo” de Machado de Assis
Personagens: A agulha, a Linha, o Alfinete, a Costureira, a Mulher do Governador, o Governador, o Professor.


Narrador:-  Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha:

Agulha: − Por que você está desse jeito, metida, toda enrolada, fingindo que é alguma coisa?

Linha: − Me deixe em paz!

Agulha: − Ora, por quê? Digo que você é antipática, e vou dizer isso sempre que me der na cabeça.

Linha: − Que cabeça? Você não é alfinete, querida! É agulha. Agulha não tem cabeça. Por que se incomodar com o meu jeito de ser? Cada pessoa é diferente. Cuide de sua vida e me deixe cuidar da minha.

Agulha: − Que orgulhosa!

Linha: − Sou porque posso.

Agulha: − Não vejo motivo para isso.

Linha: − Essa é boa! E quem é que costura os vestidos e enfeites de nossa dona? Não sou eu?

Agulha (ofendida): − Você? Essa foi forte! Você sabe, mas não quer admitir que quem os costura sou eu... (bate no peito).

Linha: − Você apenas fura o pano, nada mais. Eu que junto um pedaço de tecido ao outro, deixando tudo perfeitamente preso...

Agulha: − Sim, mas e daí? Eu furo o pano, vou adiante, puxando você (faz gesto de puxar), que vem atrás obedecendo ao que eu faço e mando...

Linha: Os batedores também vão à frente do imperador...

Agulha: (debochando) Ah, desculpe, querida! Eu não sabia... Você é imperador?

Linha: − Não estou dizendo isso. O que quero dizer é que  seu trabalho é inferior: só mostra o caminho... E isso qualquer um pode fazer... Enquanto eu prendo, ligo, ajunto...
Narrador: − Nesse momento a costureira chegou à casa do Governador, onde moravam a agulha e o novelo de linha. É importante dizer que a costureira andava sempre atrás da mulher do Governador, para que a mulher do Governador não precisasse andar atrás dela. Pois bem, chegou a costureira, pegou o tecido, pegou a agulha, pegou a linha, enfiou a linha na agulha e começou a costurar. As duas – agulha e linha – iam andando orgulhosas pelo pano adiante – que era uma seda das melhores − (Aqui as personagens devem estar de mãos dadas, andando uma atrás da outra). A agulha, entre os dedos da costureira, parecia um atleta de tão rápida. E para implicar com a linha, dizia: (Ar de deboche)

Agulha: − Então, dona linha, ainda teima comigo? Não percebe que esta famosa costureira só se importa comigo? Com a mãozinha leve ela me pega e vou furando embaixo e em cima...
Narrador: - A linha não dava a menor importância aos insultos da agulha. Seguia andando. O buraco que agulha abria ela enchia imediatamente, sempre calada e decidida, como quem tem certeza do que está fazendo e não perde tempo com provocações. Ao ver que a linha não lhe dava atenção a agulha se calou também e continuou trabalhando... Era um silêncio enorme na salainha de costura. Só se ouvia o plic-plic-plic da agulha no pano e mais nada. Já era quase noite, quando a costureira dobrou o tecido, para continuar nos três dias seguintes; Por fim, o vestido ficou pronto. Agora era só esperar o baile.
Na noite do baile,  a mulher do Governador vestiu-se com a ajuda da costureira que trazia a agulha para qualquer emergência. Afinal, às vezes é necessário apertar um pouco, prender um botão ou dar um pontinho a mais. Enquanto a costureira alisava o vestido, abotoando, puxando aqui e ali, a linha, para irritar a agulha, perguntou: 

Linha: −E agora? Quem é que vai ao baile, no corpo da primeira dama, fazendo parte do vestido e de sua beleza? Quem é que vai dançar com o Governador, enquanto você volta pra caixinha da costureira? Vamos querida, responda! 
(A linha, de mãos dadas com a mulher do Governador, sai de cena despedindo-se da agulha com ar irônico: tchauzinho, querida!!!).

Narrador: A linha não respondeu. Ficou bem quietinha e humilhada. Entretanto, um alfinete, de cabeça grande e experiência maior ainda, alertou a pobre agulha:

Alfinete: -  Viu no que deu, sua boba? Você cansou de abrir caminho para ela e é ela quem vai curtir o baile junto com a primeira dama, enquanto você volta para caixinha de costura. Faz como eu, que não abro caminho pra ninguém. Ali onde me espetam, eu fico!

Narrador:- Contei esta história para um professor, meu amigo, que me disse com muita amargura:

Professor: - Eu também tenho servido de agulha a muita linha ingrata...

Narrador: Pois é, pessoal, esta história nos mostrou que todos nós somos importantes e que devemos trabalhar juntos, unindo nossas experiências, para que o mundo possa ser melhor e mais justo.


 
Lídia Bantim
Enviado por Lídia Bantim em 17/05/2013
Reeditado em 20/06/2017
Código do texto: T4295648
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