Ensino de Língua Estrangeira vai além da gramática em http://fundamentaling.blogspot.com.br/2011_04_01_archive.html

Texto - Revista Nova Escola

Ensino de Língua Estrangeira vai além da gramática

Para aprimorar o ensino de Inglês e Espanhol, o ideal é usar textos diversos, valorizando a interação e as situações reais de comunicação

Amanda Polato (Amanda Polato) Bruna Menegueço

Os jovens - sejam japoneses, franceses, angolanos, brasileiros ou mexicanos - vêem os mesmos filmes, curtem as músicas de sucesso internacional, lêem os best-sellers e acessam ao mesmo tempo as páginas da internet. E fazem tudo isso usando, além da língua materna, o inglês e também o espanhol, que amplia cada vez mais seu alcance. Por isso, o ensino de Língua Estrangeira vem se modificando (confira a linha do tempo no quadro abaixo) e hoje busca, como principal objetivo, fazer com que os estudantes participem ativa e criticamente de um mundo com fronteiras diluídas no que diz respeito ao acesso à informação.

GÊNEROS DIVERSOS Só no contato com

diferentes materiais os alunos

passam a dominar o idioma

"Os alunos têm, sim, interesse em aprender outro idioma a fim de entender as letras das canções e poder cantá-las e se comunicar via internet", explica Deise Prina Dutra, formadora de professores de Língua Estrangeira na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

As pesquisas mais recentes no ensino das disciplinas estão vinculadas à perspectiva sociointeracionista (leia mais sobre outras formas de ensinar no quadro "Metodologias mais comuns"), defendida pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). Essa visão leva em conta as necessidades dos alunos. "Sempre se deve perguntar por que o brasileiro precisa aprender outra língua e para quê", diz Maria Antonieta Alba Celani, pesquisadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e uma das autoras dos PCNs.

Mitos pedagógicos

Confira alguns modismos passageiros e outras idéias sem fundamento sobre o ensino de Línguas:

É impossível ensinar em escola pública

"Eis um grande equívoco", diz Deise Prina Dutra, da UFMG. "Há limitações, como a baixa carga horária, mas um trabalho bem-feito leva a turma a avançar."

Gostoso é aprender sem perceber

Ninguém adquire conhecimento dormindo ou brincando. "Quanto maior o controle da criança sobre o que faz, mais facilidade ela terá para assimilar os conteúdos", diz Luiz Paulo da Moita Lopes, da UFRJ.

É preciso falar como os nativos

O professor que nasceu ou viveu no exterior serve de exemplo de falante nas escolas de idiomas. "Mas alguns sem essa vivência se sentem incapacitados para ensinar", diz Maria Antonieta Celani, da PUC-SP, que refuta a idéia. Línguas como o inglês e o espanhol são cada vez mais usadas por quem não nasceu onde esses idiomas são os oficiais.

Existe um método infalível

No fim do século 20, modelos vindos de editoras internacionais invadiram as escolas de todo o mundo. Pesquisadores como o indiano N.S. Prabhu lançaram a era pós-método, demonstrando que modelos que não levam em consideração o contexto local não são eficientes.

O sociointeracionismo critica a concepção de aprendizagem de abordagens e métodos que valorizam apenas as questões relativas à cognição e a comportamentos (aquisição de hábitos lingüísticos), sem considerar o contexto social, a interação e a mediação. De acordo com essa perspectiva, cuja origem é o pensamento do psicólogo Lev Vygotsky (1896-1934), a interação mediada pela linguagem sempre ocorre num determinado lugar social e num momento da história, e os professores têm de saber disso. Críticas a outras teorias aparecem também pela falta de preocupação com aspectos políticos, culturais e ideológicos que sempre estão associados à linguagem.

O importante é não cair em engodos da moda (leia o quadro ao lado), mas usar diferentes recursos para entender as práticas sociais de leitura e escrita e participar delas, como interpretar o rótulo de um produto importado ou entender as instruções de um videogame. Para pesquisadores e formadores de professores, as atividades mais significativas são aquelas que criam em sala situações reais de comunicação. Também é interessante que os jovens produzam textos em outra língua. "Se antes havia o modelo do download, de baixar conteúdo na internet, hoje existe o upload, com as pessoas produzindo informação", explica Lynn Mario Menezes, da Universidade de São Paulo (USP). Isso tem ref lexos no processo educacional: "Os alunos não são passivos diante do conhecimento".

O ensino de Língua Estrangeira no Brasil

1500 Com a chegada dos colonizadores, a Língua Portuguesa começou a ser ensinada aos índios, informalmente, pelos jesuítas. Posteriormente, foi considerada a primeira língua estrangeira falada em território brasileiro

1750 Com a expulsão dos jesuítas e a proibição do ensino e do uso do tupi, o português virou língua oficial. Os objetivos eram enfraquecer o poder da Igreja Católica e organizar a escola para servir aos interesses do Estado

1759 O alvará de 28 de julho determinou a instituição de aulas de Gramática Latina e Grego, que continuaram como disciplinas dominantes na formação dos alunos e eram ministradas nos moldes jesuíticos

1808 Durante o período colonial, a língua francesa era ministrada somente nas escolas militares. Com a chegada da família real, esse idioma e o Inglês foram introduzidos oficialmente no currículo

1889 Depois da Proclamação da República, as línguas inglesa e alemã passaram a ser opcionais nos currículos escolares. Somente no fim do século 19 elas se tornaram obrigatórias em algumas séries

1942 Na Reforma Capanema, durante o governo de Getúlio Vargas (1882-1954), Latim, Francês e Inglês eram matérias presentes no antigo Ginásio. Já no Colegial, as duas primeiras continuavam, mas o Espanhol substituiu o Latim

1945 Lançamento do Manual de Espanhol, de Idel Becker (1910-1994), que por muito tempo foi a única referência didática do ensino do idioma. Idel, argentino naturalizado brasileiro, tornou-se um dos pioneiros das pesquisas na área

1961 A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) retira a obrigatoriedade do ensino de Língua Estrangeira no Colegial e deixa a cargo dos estados a opção pela inclusão nos currículos das últimas quatro séries do Ginásio

1970 Na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, é criado o primeiro programa de pós-graduação em Língüística Aplicada ao Ensino de Línguas no país, tendo como um dos idealizadores Maria Antonieta Alba Celani

1976 Com a Resolução 58/76 do Ministério da Educação, há um resgate parcial do ensino de Língua Estrangeira Moderna nas escolas. É decretada a obrigatoriedade para o Colegial, e não para o Ginásio

1977 O professor José Carlos Paes de Almeida Filho, hoje professor da Universidade de Brasília, é o primeiro brasileiro a defender uma dissertação de mestrado com foco na abordagem comunicativa para o ensino de um idioma

1978 Evento realizado na Universidade Federal de Santa Catarina foi pioneiro no Brasil em combater as idéias estruturalistas do método audiolingual, funcionando como semente do movimento comunicativista

1996 Publicação da Lei de Diretrizes e Bases que tornou o ensino de Línguas obrigatório a partir da 5ª série. No Ensino Médio seriam incluídas uma língua estrangeira moderna, escolhida pela comunidade, e uma segunda opcional

1998 A publicação dos PCNs de 5ª a 8ª séries listou os objetivos da disciplina. Com base no princípio da transversalidade, o documento sugere uma abordagem sociointeracionista para o ensino de Língua Estrangeira

2000 Na edição dos PCNs voltados ao nsino Médio, a Língua Estrangeira assumiu a função de veículo de acesso ao conhecimento para levar o aluno a comunicar-se de maneira adequada em diferentes situações

2005 A Lei nº 11.161 institui a obrigatoriedade do ensino de Espanhol. Conselhos Estaduais devem elaborar normas para que a medida seja implantada em cinco anos, de acordo com a peculiaridade de cada região

2007 Foram desenvolvidas novas orientações ao Ensino Médio na publicação PCN+, com sugestões de procedimentos pedagógicos adequados às transformações sociais e culturais do mundo contemporâneo

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http://www.planetaeducacao.com.br/portal/artigo.asp?artigo=1291

Cíntia Oliveira Coordenadora de Inglês do Projeto Educacional Planeta Educação em Taboão da Serra – SP; Formada em Letras - Português/Inglês pela faculdade Morumbi Sul, São Paulo - SP, e em Magistério pelo CEFAM, Itapecerica da Serra - SP; Professora na rede municipal de ensino de Taboão da Serra, SP, Formanda do Programa Letra e Vida, oferecido pela Secretaria de Educação em Taboão da Serra.

Repensando o ensino-aprendizado de Línguas Estrangeiras

Por que e para quê meu aluno precisa aprender outro idioma?

“(...) as mudanças necessárias para enfrentar sobre bases novas, (...) não se resolvem com um novo método de ensino, nem com novos testes de prontidão nem com materiais didáticos. É preciso mudar os pontos por onde nós fazemos passar o eixo central das nossas discussões. (...) Temos uma imagem empobrecida da criança que aprende: a reduzimos a um par de olhos, um par de ouvidos, uma mão que pega um instrumento para marcar e um aparelho fonador que emite sons. Atrás disso há um sujeito cognoscente, alguém que pensa, que constrói interpretações, que age sobre o real para fazê-lo seu.” (FERREIRO, 2000)

O que refletir na busca por um bom ensino-aprendizado de Línguas?

Nosso quadro atual de sociedade nos mostra o avanço da globalização, a rapidez das informações, a internet, as músicas internacionais, os filmes, os produtos, as tecnologias, enfim, uma quebra de muros de países e continentes em detrimento de uma proximidade de línguas, culturas, negócios e mídia que cresce a cada dia. E é exatamente neste contexto que vive nossos alunos. Eles jogam videogames cujas instruções e jogos são em inglês; eles ouvem no rádio músicas em inglês; utilizam a internet que tem nomes específicos, serviços, avisos, sites em inglês; vão a shoppings que tem lojas, restaurantes, produtos, em inglês; assistem à TV que exibem artistas que falam e cantam em inglês, vêem propagandas, reportagens, entrevistas e outros, em inglês; enfim, eles estão no mundo e interagem nele, seja de forma consciente ou inconsciente. E é aqui que entra o papel não do professor, mas do mediador.

Relembrando Paulo Freire, quando falava sobre a “Educação Bancária”, já não é satisfatório mais uma aula de Inglês em que se vê o professor como a única fonte de informações e saberes que tão somente deposita tais conhecimentos nas mentes, até então “vazias” dos alunos. Conscientes de que nossos alunos são agentes ativos deste novo modelo de sociedade e que dispõem de diversos conhecimentos antes de chegar à escola, cabe a nós, mediadores da aprendizagem, organizarmos estes tais conhecimentos, disseminá-los entre o grupo e permitir circular na classe o máximo de informações que auxiliem no aprendizado de uma nova língua.

Planejamento

Sendo assim, partindo do que sabem nossos alunos, do que necessitam, e de onde deverão chegar, é possível traçarmos um planejamento adequado, coerente e significativo para um efetivo aprendizado de línguas:

Planejamento anual ou por ciclo = Plano de ação de extensão anual ou por ciclo, para se pensar em como o aluno deverá chegar ao final de um ano letivo. Quais habilidades ele deverá ter alcançado. Neste, conterão os objetivos gerais do programa.

Planejamento por bimestre/semestre = Plano de ação de extensão bimestral/semestral, para se pensar quais objetivos específicos baseados nos objetivos gerais, o aluno deverá alcançar enquanto habilidade e bagagem de conhecimentos.

Estratégias / Recursos = A fim de se garantir aulas dinâmicas, motivadoras, agradáveis, devemos pensar nas estratégias e recursos que serão utilizados, tais como:

*Histórias

*Músicas

*Jogos

*Atividades comunicativas

*Dramatizações

*Passatempos

*Pesquisas

*Trabalhos em grupo

*Laboratório de Informática

*Internet

*Projetos, etc.

Abordagem sociointeracionista

É necessário se ter em mente também a estrutura de aulas que queremos oferecer aos nossos alunos. Que tipo de atitude, saber, desenvolvimento, habilidade, hábitos são fundamentais para eles? Conforme discutido no início do artigo, é essencial que as atividades sejam voltadas para a interação em situações reais. Por exemplo, simular uma entrevista, uma visita a um restaurante, uma compra, um show, etc., sempre propondo aos alunos que coloquem em prática tudo o que sabem, oferecendo-lhes atividades difíceis, mas possíveis, bastante desafiadoras e motivadoras, em que se dêem de frente com problemas a resolver e decisões a tomar, objetivando formarmos alunos, além de conhecedores de outro idioma, autônomos, hábeis e ativos, perpassando pelos quatro pilares da educação: o saber conhecer, saber fazer, saber ser e saber conviver.

Outra mudança que se busca hoje é quanto à função social dos materiais, textos e situações trazidos à sala de aula. A pedagogia como um todo tem discutido esta questão. A idéia é que ao invés de trabalharmos com histórias e personagens inexistentes, redações pedidas apenas para avaliação e ponto, vocabulário por vocabulário, descontextualizado de qualquer estrutura textual real; é que se trabalhe com diversidade de gêneros e textos, de situações cotidianas e de fim social aos trabalhos propostos, partindo de textos e não de palavras soltas, sem contexto, pois precisamos trabalhar dentro da escola o que faz sentido fora dela. Exemplos de gêneros textuais em inglês que podem ser utilizados em sala de aula:

Manual de instrução

Regras de jogo

Embalagem de produto

Site

Entrevista

Propaganda

Carta

Música

Convite

Bilhete, etc.

Para se compreender, por exemplo, uma entrevista escrita em inglês, não é obrigatório que se saiba falar/escrever em inglês. Os alunos se apoiarão no máximo de informações do gênero para interpretar o que está ali contido, através de:

Fotos

Estrutura

Imagem

Fonte

Cognatos

Conhecimento prévio, etc.

Estas, no caso de habilidades de leitura e escrita. Já no caso de habilidades orais, a idéia é se utilizar de situações reais de comunicação, simulando-as, como por exemplo:

Telefonema

Apresentação pessoal

Restaurante

Entrevista

Compra

Show

Música

Perguntas cotidianas

O importante é que o aluno se coloque em situações reais onde tenha que improvisar, pôr em jogo tudo o que sabe, formular hipóteses, utilizar a língua como meio de comunicação para expressar suas idéias, sentimentos, preocupações, para falar de si mesmo, do outro, do mundo, de forma espontânea, utilizando estratégias, ferramentas diversas, fazendo associações, assimilações, enfim, se comunicando.

Ambiente de aprendizagem

Outra questão a se repensar é quanto ao ambiente de aprendizagem. Não faz parte da realidade de todos os alunos e mediadores ter uma sala de inglês, o que facilita na apresentação dos recursos e materiais. Porém, precisamos saber que ambiente de aprendizagem não diz respeito somente a paredes enfeitadas e materiais à mão. Mais que isso, ambiente de aprendizagem é o “clima” de interação, socialização, circulação de conhecimentos, tanto por parte dos próprios alunos como do mediador.

Mudanças conceituais

A Revista Nova Escola do mês de Agosto/2008, traz uma reportagem interessante de Amanda Polato, sobre o ensino de Línguas, acompanhe este trecho por meio do qual a autora brilhantemente fala sobre as “Mudanças conceituais”:

“A própria natureza da linguagem exige que se considere seu uso social, e não apenas sua organização. Quando o ensino se resume a vocabulário, gramática, funções (cumprimentar, pedir informação) e questões ligadas ao conhecimento sistêmico, a própria língua e sua estrutura passam a ser entendidas como objeto de ensino. O importante é considerar o contexto de produção dos discursos, permitindo a compreensão do uso que as pessoas fazem do idioma ao agir na sociedade. (...) Isso significa que, ao participarem de uma atividade real, as crianças vão aprender os conteúdos lingüísticos e também outros ligados à própria ação. Por exemplo, ao buscarem informação num site (...), perceberão, além do vocabulário e da organização da frase, diversos conteúdos relacionados à pesquisa em si e ao assunto investigado. Ao estudar um segundo idioma, o aluno usa conhecimentos prévios de leitura e escrita e faz analogias com a língua materna. Embora a maior parte dessas comparações não tenha correspondência, existe um conceito abrangente, vindo da área de Alfabetização, que pode ser usado em Língua estrangeira: o desenvolvimento de comportamentos leitores e escritores por meio de práticas sociais. Os principais instrumentos para trabalhar nessa perspectiva são os diversos gêneros textuais ou discursivos. (...) O trabalho com gêneros também possibilita o estudo das questões relacionadas à diversidade cultural e social.”

Temos plena consciência de que não é fácil, mas é possível desenvolver um trabalho de qualidade com um bom planejamento, objetivos claros, aulas e projetos bem estruturados, bem como, estudar e acreditar nas propostas e compreender que o maior intuito de se saber outra língua é a comunicação, a interação, a ampliação da visão de mundo e, claro, o conhecimento de outra cultura.

Referências Bibliográficas:

FERREIRO, Emília. Reflexões sobre alfabetização, São Paulo, Cortez Editora. 24. edição. 2000.

POLATO, Amanda. Além da Gramática, Revista Nova Escola do mês de Agosto/2008.

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Enviado por J B Pereira em 13/05/2013
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