[Original] Volver - Capítulo 13 - Parte 1

O texto e a música em inglês pertencem aos seus respectivos autores: Martha Medeiros e e Christina Perri.

Capítulo 13 – Memórias, música e você. – Parte 1

Bruna Merten

O amor existe pra deixar as pessoas burras. É só pra isso, nada de conto de fadas, nada de romance em Paris. O amor é uma idiotice. Só isso.

- Milagre vocês duas por aqui. – Minha mãe abriu a porta e me fitou descrente. – Entrem.

- Oi mãe!! – Eve entrou primeiro, mega à vontade. Ela costuma vir sempre aqui, diferente de mim, o que explica o fato de eu estar me sentindo esquisita.

- Oi mãe... – Eu procurei o meu antigo piano com os olhos, e não encontrei. – Mãe, onde está o meu piano?

Ela me olhou como se eu tivesse falado algo de outro mundo. Aí vem a pior parte: explicar o porquê de eu querer usar o piano.

- Está lá no fundo... Bah, porquê?

- Eu... Ahn... – Tentei pensar em algo banal que não delatasse a minha real intenção. Fitei Eveline e implorei ajuda com o olhar.

- Ela sentiu saudades do piano, mãe. – Deu de ombros, como fosse bobagem. - Vai lá Bru!!

E antes que nascessem mais perguntas, eu corri para os fundos e me tranquei no quarto o dia inteiro.

- Eu ainda não acredito que vou ficar aqui pra criar uma música pra um baile que eu não quero ir, que terá pessoas que eu não quero ver, numa escola que eu detesto e tudo isso por que minha capacidade de resistir ao babaca do meu ex-namorado é vergonhosa.

“Vamos lá... Milhares de pessoas criam músicas. Eu criei várias quando eu tinha criatividade e uma vida menos maluca que agora.” – Era o início da tarde de um domingo quente e que eu poderia aproveitar estando na praia, mas não, eu estou dentro de um quarto de fundo, que só tem um piano velho, um banco velho e a companhia de muita poeira.”

Em pé, eu ainda fitava o piano sem saber como começar.

Eve entrou no quarto e me fitou, preocupada.

- Mamãe está na cozinha, aproveitei pra vir aqui... – Ela segurou a minha mão, carinhosamente. – Quer ajuda?

- Não sei como começar.

- Relembre momentos em que vocês viveram juntos.

- Só coisas boas?

- Não... A vida não se resume a boas lembranças.

Ela sorriu antes de sair do quarto. Foi quase instantâneo o mergulho que dei minhas próprias lembranças. Como um espectador de seu próprio filme. Memórias vivas, que ardem, machucam, alegram...

"Ela andou de nariz empinado e com uma pose de extrema confiança pela escola. Sabia que se não fosse assim a tratariam como um lixo. Sim, Bruna Merten era nova na escola. Nova, não burra ou influenciável.

Estava atravessando o corredor quando avistou um rapaz sozinho encostado indisciplinadamente na parede. Ela parou também, surpresa. Apesar de sua pose, ele era totalmente diferente do que se imaginava.

Bruna não soube o que a fez ir até ele, mas quando percebera, já estava de frente pra aquele estranho garoto. Demétri sorriu, exibindo os dentes mais brancos e perfeitos que ela já vira. E uma beleza que fez seu coração disparar descontrolado.

- Oi, meu nome é Bruna."

(...)

" - Porque mesmo que eu aceitei entrar nesse curso contigo, Bruna? – Demétri leu e releu a crônica, aflito. – Merda, como nós traduziremos isso?

- Entrou porque não consegue ficar sem a minha presença aos sábados. – Respondeu, espertinha. Ele revirou os olhos. – É fácil.

- Pra quem faz curso desde os 8 anos e só está fazendo de novo porque quer fortalecer os estudos, capaz que seja mesmo.

- Cala a boca e me ouve. – Bruna puxou o papel da mão do amigo. - You are alone

You and the fans of Flamengo. In front of the TV, devours two

packages of Doritos while waiting for the phone to ring. Well it could be today, it could well be now, a brand new love.

Nunca antes, Demétri achou tão sensual uma garota recitar uma crônica em inglês.

Ao finalizar sua parte, passou o papel para ele.

- Trimmm! It's his mother, who else could it be? Love does no calls by telepathy. Love does not meet by appointment. It may arrive earlier than expected and you find a phase chicken, unwilling to serious relationships. He is beaten and you do not care. Or it may be too late and you find life disillusioned, suspicious, full of dark circles.

Ele a fitou com intensidade. Bruna sorriu, mergulhando no verde daquele olhar.

- The love turns around, turn. Why love never arrives on time?"

(...)

"- Eu acho que tu és um idiota! Só isso! – Demétri respirou fundo antes de voltar a seguir uma irritada Bruna Merten pela escola. – E NÃO ME SEGUE QUE EU NÃO SOU TWITTER!

Ele riu, antes de puxa-la pelo cabelo e empurra-la na parede da escola.

- Para, to braba.

- Não fica.

- Já to.

- Eu juro que não falei aquilo por maldade.

- Vai lá com a sua nova amiguinha, eu não ligo. – Ele deu um selinho em Bruna. Como bons amigos, tinham esse tipo de intimidade. Mesmo que internamente, ambos soubessem que nunca eram simples “selinhos”.

- Shiu...

Demétri roçou os lábios pelo pescoço de Bruna e chupou lentamente. As mãos dela foram para a cintura dele, puxando-o para ela. Ele parou e a fitou como se pedisse permissão, afinal, eram amigos. Ela respondeu o beijando com um fervor que ia muito além da amizade.

“Que sensação engraçada.” – Pensou Bruna. “Deu aquele gelo na boca do estômago, uma vontade de tê-lo só... Ai Meu Deus.”

Ela o empurrou, afoita.

- O que?

- Não faz isso...

- Bah, mas o que eu fiz, Bru?

- Não faz seu o beijo parecer o melhor do mundo. – Demétri engoliu seco, não sabia o que responder. - Eu preciso ir. – Se soltaram. Ela deu dois passos.

- Fica mais um pouco... – Ela suspirou. – Por favor.

“E tem como resistir a esses incríveis olhos verdes? – Perguntou em pensamento. “Eu acho que não.”

(...)

"Ele a observou chorar em silêncio. Doía nele e muito, mas pela primeira vez, não limpou suas lágrimas.

- Não está dando certo. – Ela disse, referindo ao relacionamento deles, que andava conturbado desde as mudanças de Bruna. Mudanças essas que Demétri não estava sabendo como lidar.

- Não mesmo. É melhor terminarmos.

- Eu não sei como pude me deixar levar.

Estavam chegando ao momento pelo qual Demétri não estava preparado. Algo tinha se rompido entre eles naquele momento. Não se sabia o que.

(...)

Sentei-me diante do piano e dei início a uma melodia suave e em inglês. Pois eu cantaria assim, em uma língua que nem todos sabem a tradução, mas na maioria das vezes, gostam pela melodia, pelo sentimento que elas lhe trazem.

“Heart beats fast

Colors and promises”

- Coragem... – Eu murmurei, tocando as teclas do piano com leveza. Depois voltei a cantar alto, contando tudo o que eu tinha ocultado. Cantar é parecido com libertação.

“How to be brave

How can I love when I'm afraid to fall

But watching you stand alone”

Cantei alto, com vontade. O que atraiu a atenção de Eveline, fazendo-a voltar à sala. Ela me fitou, emocionada. Eu a olhava fixamente, porém, a minha mente ainda estava movida por lembranças.

(...)

“Um grupo de adolescentes lotavam a praça de alimentação do shopping. Entre eles, Bruna e Demétri, que já não eram um casal, mas ex-namorados famosos por suas trocas de indiretas em todo canto que se encontravam. E pra infelicidade de ambos, eles se viam com frequência demais para um ex-casal.

- Vou ao banheiro. – Lennon disse, sendo seguido por Emerson, que chamou Rose, que chamou outra garota presente. Bruna suspeitou que a intenção deles fosse a de deixa-los sozinho, mas como não queria acreditar nisso, tratou de ignorar tal pensamento.

- Isso me soou um tanto forçado. – Demétri comentou, apoiando o cotovelo na mesa e fitando Bruna.

- Sua existência? Sim, sempre achei forçada.

- Bah, mas que engraçada tu é. Já tentou fazer parte da “A praça é nossa”?

Ela riu debochada. O que era uma noite sem provocar o ex-namorado?

- Não quero fazer parte da tua família.

- Nossa, vou ali me matar porque tu ofendeste a minha família.

- Tá fazendo um bem pra humanidade. – Ela fingiu olhar as unhas.

- Primeiro as damas. Pode acreditar que tu fará menos falta do que eu.

- Acho que não, meu amor. – Ela piscou e mandou um beijo pra Demétri, o provocando.

- Ah é? Engraçado, tu passou uma semana longe e não vi ninguém sentir sua falta... Isso inclui teu namorado, que nem te ligou né?

Eis que ele toca no ponto fraco de Bruna.

- Ele disse que o celular estava quebrado!!! – Ao vê-lo gargalhar, sentiu-se burra.

- Oh! – Abriu a boca fingindo espanto. Bruna arqueou a sobrancelha. Não perderia a pose, não com Demétri. – E tu acreditou mesmo?

- Vai à merda!

- To de frente pra ela.

“Quer saber, foda-se a compostura”. – Pensou, antes de jogar um copo de vinho na cara do ex-namorado.

- IMBECIL.

-

(...)

- Como se chama a música? – Eve perguntou, trazendo-me a realidade.

A resposta, estranhamente estava na ponta da língua.

- A thousand years... Mil anos.

Tamiris Vitória
Enviado por Tamiris Vitória em 12/05/2013
Reeditado em 27/06/2015
Código do texto: T4286421
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.