[Original] Volver - Capítulo 12
Capítulo 12 – Como seduzir a (ex) namorada irritada.
Bruna Merten
- Tu não vai me contar então? – Balancei a cabeça sinalizando um não pela 5ª vez. – Merda, tu tá com essa carranca desde manhã, Bruna!
- Terminei com Demétri. – Respondi, seca. – É isso, Eveline. – A boca dela se abriu, pasma. – Ele fez merda, deixou uma vadia qualquer coagir sua mente, torna-lo volúvel! E não só isso, ele não enxerga a besteira que está fazendo!!
- Não pode ser...
- Mas é. Quando voltei de São Paulo estava com uma sensação esquisitíssima, daí quando nos vimos eu, idiota, faço a merda do pedido e levo um fora. – Eu bati com força o prato na mesa do restaurante. Todos me olharam, mas eu não me importei. – Uma merda de um fora! E a justificativa, sabe qual é? “Eu não sei lidar com a minha necessidade de ti”. Covarde.
Nos sentamos em uma mesa central. Eu só peguei a comida por pegar, não conseguia sentir fome desde ontem.
- Eu ainda não to acreditando.
- Acredite, Eveline! Tu acha que a vida é um clipe da Taylor Swift? Não, não é! – Ela sibilou um “te acalma” e eu tentei me controlar. – Não importa também, que se dane ele, que se dane o sentimento, o noivado, tudo.
O celular de Eveline tocou no momento em que ela ia me responder. Sua expressão congelou ao olhar o visor.
- Quem é? – Perguntei a ela, que não me respondeu. A tensão em seu rosto lhe entregava. – Acho, só acho que tu devia cortar relações com esse aí!!! – Era Demétri, claro.
Ela se levantou e foi atender a ligação fora do restaurante. Com muita raiva comecei a comer meu nhoque. Cada garfada, um xingamento. Quando Eveline traidora Merten voltou, parecia em choque, mas tentou não manifestar isso.
- O que ele disse?
- Amenidades. – E deu de ombros enquanto se sentava.
- Amenidades pra mim é falar da chuva. Ele não ligaria pra falar disso.
- Tu tem certeza que quer mesmo saber?
- Quero.
- Ele só avisou que o Emerson disse que quer sair comigo. – Cerrei os olhos para minha irmã, que começou a comer, indiferente. – O que?
- Emerson tem celular.
- É, mas usou o do amigo para ligar. Sem grilo né?
- Não, com grilo. Tu tá mordendo o lábio, Eveline, tu só faz isso quando tá mentindo.
- Bah! To mentindo nada!
- Sei.
- É sério.
- Se vocês tiverem aprontando, Eve, é contigo que eu vou brigar dessa vez.
E mais tarde...
Demétri Scholz
Eu já estava me preparando pra dormir quando a campainha tocou, fazendo-me dar meia volta para atender. Era Eveline. Pelo estado de seu cabelo e de suas roupas, deu uma passadinha rápida na casa de Emerson.
- É, Eve... A diretora pediu pra eu chamar a Bruna. Quer que ela cante. Isso foi ideia de Emerson e Lennon. Filhos da puta. – Nós retomamos o assunto que eu iniciei pelo telefone na hora de seu almoço.
- Ela não vai aceitar. – Eu balancei a cabeça, assentindo derrotado. – Mas podemos dar um jeito.
- Como?
- Minha irmã não foi ao baile aquele ano, né? Ela ficaria mexida se tu a convidasse.
- Mexida de ódio, né.
- Também, mas tudo é questão de saber como persuadi-la. – Gosto da forma como ela faz tudo parecer simples.
- Não sou bom nisso. – Eve fez cara feia. – É sério.
- Tem que tentar. Se eu chegar nela e pedir, o máximo que eu vou conseguir é com que ela me mande tomar no cu. Aliás, ela mandou. Eu e metade do restaurante em que almoçamos hoje.
- Eu to tentando não me sentir arrependido, mas cada vez mais eu creio que magoando a sua irmã, eu consegui superar todas as coisas que ela me fez. E isso não é legal.
- Tu e minha irmã iam engrenar agora, mas essa Aline conseguiu acabar com vocês. De novo. E pelo jeito que Bruna está agindo, ela não vai te perdoar com facilidade.
- Não mesmo. Vou ir na loja amanhã...
- Mas bah! Pra que?
- Provocar a fera. Sabe como é, né?
E como dito na noite anterior, o dia seguinte foi destinado a ver Bruna. Me arrumei do melhor jeito o possível, com direito a gel no cabelo e tudo. Eu detesto gel no cabelo.
As 8h00 eu estava em frente à loja, cheguei junto com o carro de Bruna. Ela baixou o vidro do carro e me olhou, impassível. Por um momento seu olhar me fez congelar, mas tentei não transparecer isso.
- Bom dia! – Cumprimentei, animadamente. Ela arqueou a sobrancelha esquerda.
Perigo.
- Pra quem?
- Pra ti, Bru.
- Não me chame de “Bru”, não temos mais nenhum tipo de relacionamento. – Ela abriu a porta da loja e entrou, eu a segui antes que fechasse na minha cara. – Bah, mas o que é que tu queres?
- Pedir uma coisa pra ti.
- Não.
Ela cruzou os braços, impaciente.
- Mas eu...
- Não. – E continuou andando. Eu a puxei pelo cabelo e a grudei na parede. – ME SOLTA! NÃO VEM COM ESSA DE QUERER ME AGARRAR PRA ME AMOLECER. – Eu ri de sua brabeza, o que a deixa claramente mais irritada. – NÃO RI DEMÉTRI, NÃO RI. SE TU SOUBESSE O ÓDIO QUE ESTOU DE TI NÃO ESTARIA NEM AQUI.
- Me deixa falar que eu vou embora!
- MANÉ FALAR, DEMÉTRI!!!!! – Ela arranhou meus ombros, não me afetou em nada. – IDIOTA!!!
- Vai ter um baile na escola... Pra incentivar os alunos atuais a participarem mais dos eventos e tal... Daí tão convidado a turma de 2008 pra participar.
- E...? – Eu a pressionei um pouco mais a parede. Ela virou o rosto pra não me olhar.
- E a diretora, que é a minha antiga professora de matemática quer que tu cante.
Bruna parou, me olhou muito surpresa e depois entrou em uma crise de riso.
- Cadê a graça...?
- Tu é a graça.
E mais riso. Eu a soltei.
- Qual é, Bruna?
- Bem a minha cara cantar na escola e ainda num baile.
- Eu sei que tu sempre quis ir a um baile. – falei, sério. Ela se calou diante de minhas palavras. Eu a tinha atingido. – Eu queria ter te levado a um baile...
Bruna baixou a cabeça e respirou fundo, como estivesse pedindo forças pra resistir a mim.
- Desiste. – Eu toquei seu pescoço e apertei levemente. Ela quase desfaleceu. – Sai daqui. Puta que pariu! Tu não terminou comigo por causa da nojenta lá? Então! Me deixe em paz.
- Cante no baile. Será a última coisa que eu vou te pedir. Depois disso eu não vou te incomodar. – E eu cumpriria a minha promessa, por mais difícil que fosse.
- Eu não acredito que vou aceitar isso. – Disse ela, em uma distancia considerável de mim. – Se eu aceitar eu quero mesmo que tu suma.
Feliz por ter vencido seu orgulho (até que não foi tão difícil assim), eu a puxei para um abraço. O que pela força mal calculada e um tropeço dela em cima de uma caixa nos fez cair bem no meio da loja. Teria sido engraçado se a dor em seu olhar não tivesse destruído qualquer chance minha de provoca-la. Ela tenta esconder tanto que acaba falhando.
- Tu vai chorar? – Perguntei. E foi a pergunta mais idiota que eu já fiz a uma mulher. – Ah merda...
- Não to chorando!! – Ela disse, e seu rosto transbordando lágrima. – Seu idiota, quem tu pensa que é pra me deixar assim desse jeito???
- Eu sou o homem da tua vida.
- Tá saindo mal nesse papel.
- Eu sei. Acho que é muito pra mim. – Bruna riu. Riu!!!! Milagres acontecem. – O que?
- Essa normalmente seria a minha fala.
- As coisas mudam. – Eu disse, categórico. Ela mordeu o lábio, chorosa.
- O seu sentimento por mim também, percebo.
Nós estávamos conversando no chão da loja. Excelente lugar para se conversar.
- Não.
- Sim. Tu se apaixonou por ela nesse tempo que eu estive fora. Normal, essas coisas acontecem.
- Não, Bruna, comigo não aconteceu. – Por debaixo de mim, eu a ouvi dar uma respirada longa e triste. Bruna estava pura emoção. Eu, sem nem perceber, a fiz liberar todos esses sentimentos que ela penou a guardar. Honestamente, não sei até que ponto isso é bom.
- Não me pede pra acreditar em ti depois do que tu fez.
- Eu sei.
- Sai de cima de mim, então.
- Não quero.
- Por quê?
- Em pé nós vamos voltar a brigar.
Ela riu trêmula, mas ainda assim, suave. Eu a beijei. Eu sei, não devia ter feito isso, mas quando eu fui ver, já estava completamente entregue ao momento e sendo movido pelo mais maluco dos sentimentos. Bruna correspondeu até uma luzinha de racionalidade tocar em si.
- CAPETA!! – Berrou, me empurrando e me enchendo de tapa. – SAI, VAI EMBORA DAQUI DEMÉTRI.
Nós ficamos de pé. Ela, linda e toda descabelada e eu a fitando com inocência. Guria estressada, bah.
- Eu to indo!! – Dei um passo em sua direção e lhe roubei um selinho rápido. – O negócio do baile tá em pé né?
- TÁ!!! EU VOU NESSE BAILE, MAS NÃO PERDOEI TU!
- LINDA!!
- VAI A MERDA. – Eu a puxei novamente. Só pra deixa-la mais fula da vida. – NÃO OUSE.
- TE AMO.
E como prêmio por minha ousadia, eu recebi um grande e bem dado tapa no rosto.