O Plano Verde.

O tempo verde! Verde como a própria morte! Nossa herança cultural diz que a cor do sobrenatural, do fantástico ou similar é o preto, sua origem é algo semelhante ao que é oculto, daí o medo da própria cor. Tradição religiosa e porque não mística. Só que não é somente isso, combina-se também com o vermelho que etimologicamente é vermillus deriva-se do latim e significa verme, além de remeter a própria morte no sentido Bram Stoker da coisa, também é algo sexual, ou sugere isso. Daí achar que as cores pretas e vermelhas serem a primeira coisa que se vê quando passamos de um plano. Agora vejo diferente. O verde é o real. Estavam errados. O verde prevalece nesse plano.

Olho pelo horizonte. Retomo o passado. Tempo extraordinário foi aquele, acreditávamos nos políticos, na efervescência da mudança, de um mundo igualitário. Cegos. Todos éramos. Respondo isso com um velho jargão: "éramos jovens". Lembro-me que nessa época comecei a trabalhar com a carteira de trabalho assinada, até então jamais tinha passado por essa experiência. Sensação de segurança, mas só isso. Em outro momento já havia dito que segurança e certeza só existe uma: a morte. Segurança, pois não há o que temer; certeza, não há mais vida.

Não sei explicar os acontecimentos daquela época, um véu de consciência encobre a realidade, mas creio que tudo aconteceu devido à quebra da bolsa de valores, chamavam-no de depressão, hoje tem algo parecido para significar uma doença que se origina com o excesso de problemas mal-resolvidos. Resolva-os todos. Diriam. Sem falsa modéstia. Sempre fui excelente funcionário e o que isso quer dizer? Nada. Trabalhava em uma grande empresa siderúrgica, ganhava um salário, trabalhava muito, e o que tem de mau? Tudo! Trabalhava excessivamente para enriquecer outra pessoa, fazia horas extras para ter um dinheirinho a mais. Só não sei dizer quem ganhava.

Tudo isso parece um romance ou história que me contaram, não sei precisar se é verdade, mas é a memória. Mais ou menos assim: Em uma fazenda de animais, os porcos, ajudados pelos cachorros, conquistaram e organizaram os demais animais, passaram a ter vida de reis, enquanto os demais continuavam a trabalhar, sempre havia os bichos que se revoltavam com a situação, até mesmo incentivavam os demais a rebelaram-se contra, mas o medo permanecia, uma espécie de véu verde encobria a consciência. Apenas um, o cavalo, concordava com a atitude dos porcos, o que acontecia e ainda dizia que os demais deviam voltar ao trabalho. Esse trabalhava sem reclamar e, quando os demais reclamavam, ele era o primeiro a frustrar as intenções.

Continuem trabalhando, ele dizia. Foi o primeiro a precisar de remédio. O primeiro a morrer e ser esquecido. O ideal grego de vida acabou para ele. Encontrou o verde primeiro.