Revolução, mulher dos cabelos negros.

Não sei dizer como ocorreu, na verdade sei sim, vi tudo, só não posso contar, sei muito bem como ocorreu! Detalhes que ficam comigo no mundo verde. Tudo isso está somente na minha cabeça. Tenho plena convicção na democracia e os princípios que me permitem ir e vir e dizer o que penso, mas é melhor calar-me. Sábio ditado popular: o peixe morre pela boca. Ainda não inventaram nada melhor do que o pensamento, pois tudo posso e não existem restrições, além das que me imponho, mesmo isso não sei se controlo. Vi-os dizerem: nós sabemos o que aconteceu. Eu também. Vi, mais e melhor, porque não tinha prioridades.

Atravessava as ruas enquanto os carros passavam. O pedestre foi atropelado, disse-me algo e se foi. Continuei. Se me lembro bem, foi nos idos da década de 60. Alguns amigos reuniram-se para conversar e beber, nada demais, isso do ponto de vista dos que olhavam desinteressadamente. Mas, não sei dizer ao certo, nem todos tinham o olhar vago, ou o olhar contemplativo, algo que fazemos quando não temos interesse algum no objeto que é observado. Um reflexo, um olhar indiscreto ou mesmo um nada...

Parece que naquele simples ato havia um interesse a mais à cerveja que bebiam. Assim que saíram foram pegos. Homens os levaram.

Depois, jamais foram vistos. Vestiam camisas vermelhas. As mães choraram! As irmãs choraram! O pai, nem ligou, não os conhecia. Disseram que eram assaltantes, iriam roubar algo. Precisavam de dinheiro. Quem não precisa? Eram simpatizantes de uma tal de Revolução, mulher que cheguei a ver. Nome esquisito. Era Russa. Também nunca mais foi vista. Os jornais simplesmente diziam: A Revolução está fora do país. Pelo menos conseguiu fugir desse Brasilzão.

Futebol, Religião e Política, diziam, jamais devem ser discutidos. Nunca entendi o porquê, mas inconscientemente fiz isso, talvez nem tão inconsciente, mesmo assim, de maneira relativa, quem sabe por falta de conhecimento sobre o que se falar. Não quando se tratava do Corinthians, esse assunto eu brigava e discutia. Afinal havia uma identificação muito forte, sofredor, assim como eu. Entre mim e o time havia identificação. Pelo menos da minha parte. O clube nem sei onde é. Mas gosto de torcer. Torço muito. Pão e circo, alguém gritou do carro. Não liguei. Na verdade, mesmo agora, não sei o que significa. Gosto de Circo e mais ainda de pão, acho que o sujeito não gosta disso. Elitista.

Ouvi essa palavra e gostei. Foi uma professora que lecionava em uma escola de madeira que me explicou isso. Elite ou elitistas, são as pessoas que têm dinheiro. Devem ser felizes, pois quem tem dinheiro tem tudo! Barriga cheia é o que importa.

Vejo-os de cima. Conversam sobre como arrumarão o Brasil, a Revolução já está aqui. Foi nesse momento que chegara uma morena com cabelos pretos como o próprio petróleo. Era ela a Revolução? Chegou e sentou-se com os rapazes.

“Pessoal, não tem jeito, a falsa consciência é enorme, tudo pensado e articulado pela mídia. Ideologia. Não dará, a revolução sairá pelas portas do fundo”. Disse isso, só não entendi como falava dela mesma na terceira pessoa. Os três entreolharam-se e saíram.

Uma Veraneio preta e branca parou, desceram, não disseram nada, jogaram os três dentro do carro. Espancara-os. Vi tudo, estava dentro do carro. Ninguém, com exceção única, viu o fato. A vida transcorreu normalmente. Alguns dias depois o exército tomou o país, era necessário rigidez para arrumar a bagunça, os EUA ajudariam com isso, a CIA foi acionada. Trouxeram inclusive um pessoal de uma tal Universidade que tem nome de cidade, parece-me que é Chicago. À frente do projeto o senhor Milton F.

Depois disso, levou muito tempo para arrumar o país.