DESAMIGOS

Em uma fase remota de minha vida eu tive essa necessidade de andar em grupo. Grupo, que eu digo, sou eu e mais alguma(s) pessoa(s). Não me sentia bem sozinha, me sentia desconfortável e exposta. As vezes quando minha mãe se atrasava, todos iam embora e eu ficava mal por não ter sobrado ninguém para ficar perto de mim. Eu na época não entendia, mas agora acho que entendo. Em minha mente, se eu estivesse sempre com alguém do lado, as pessoas não iriam descobrir que eu tenho esse lado inclinado a solidão.

Que eu gosto do silêncio e da calmaria em vez de muitas vozes diferentes perto de mim. Que eu não consigo suportar pessoas rindo o tempo todo e gritando por qualquer coisa estúpida na hora do intervalo entre uma aula e outra.

"Shiu! Parem de falar. Não consigo ouvir o vento."

Mas mesmo assim eu precisava estar perto delas, pois tinha medo de ficar deslocada. Tinha vergonha desse meu lado.

E isso nunca me fez ser muito criteriosa com meus amigos. As vezes olho para o passado e me pergunto como pude conviver por tanto tempo com algumas pessoas que em nada me edificaram ou fizeram com que eu sentisse saudades do passado. Não, nada disso. Tempo perdido, mal gasto.

Quando comecei a enxergar assim, decidi ser mais criteriosa com as pessoas que eu ando. Decidi ser mais aberta e mais sincera com meus gostos e decisões.

Decidi passar maior parte do tempo sozinha.

A verdade é que boa parte das pessoas não são sinceras. Elas escolhem conviver com outros que lhe são convenientes, que podem lhe dar acesso a festas divertidas e boas risadas momentâneas. Mas e quando a fumaça de alegria se esvairá e a tristeza lhe acometer? Quem estará lá para estender a mão? Nenhum deles.

Pode parecer um tanto negativo, mas a verdade é que quase nenhuma amizade dura para sempre.

Eu olho para meus avós e vejo a comprovação dessa tese. Eles, que já viveram tanto tempo, já passaram pela adolescência e juventude também, que já acumularam amigos e boas risadas momentâneas.. Eles, cadê seus amigos? Tirando sua família, poucos são os presentes.

A adolescência é uma fase complicada. Se eu pudesse escolher, e tivesse o controle que o protagonista tem no filme "Click" eu adiantaria essa parte. Mas como não há jeito, só há uma possibilidade: Enfrentar seus desafios da maneira mais eficaz. E saber quem são seus amigos de verdade é um deles.