Essências dos Sonhos - Capítulo 3

Essências dos Sonhos Cap 3

                                3

     - Com certeza deve ter alguma dessa coisas de jornal que possa comprovar que existe "amor a primeira  vista". Tem um livro que se chama "A probabilidade do amor a primeira vista" talvez você devesse ler, a história pode ser interessante...

    - Ki, você não tá mais falando coisa com coisa. 

    Quando saímos do prédio do ensino médio assim que a aula de inglês terminou, Kiara ficou falando um bando de baboseira sem nenhum sentido. Eu sabia que o fato de estar chovendo deixava o cabelo dela sem funcionamento "de beleza", mas talvez dessa vez tivesse afetando o cérebro dela também.

     - Eu quero dizer que deve existir de verdade pessoas que gostam uma das outras assim que se vêem pela primeira vez - ela disse bem devagar como se eu fosse aquelas pessoas que tem dificuldade em entender o que as outras falam.

    - Eu entendi o que você quis dizer. Só não entendo o que isso tem a ver com a aula de inglês. - parei de andar assim que avistei o carro da minha mãe parado no estacionamento. 

    - Não tem nada a ver com a aula de inglês. Tem a ver com o "Matheus".

    - Amor a primeira vista? Sinceramente, eu não gosto...

    - Não você, mas ele. Quer dizer nada comprovado mas você sabe... Eu gosto de juntar os casais bem no comecinho pra dizer depois que fui eu que fiz eles perceberem o que sentiam, se o amor for pra frente, claro. Sou tipo um cupido, só que sem flechas. - ela sorriu.

    - Você bateu a cabeça em algum lugar? Bom... Ainda não conheço a escola direito mas a gente pode ver se a enfermaria tá aberta...

    - Eu estou bem.  Sério. É que você não percebeu o que EU percebi. Ele tava te olhando... Te olhando não, te ENCARANDO. Mas não de um jeito ruim, quer dizer era como se ele fosse falar com você depois da aula, como se vocês já se conhecessem.

    - Onde você aprendeu a perceber esse tanto de coisa que não existe? Já parou pra pensar então que ele podia estar olhando pra você? Ki - eu coloquei meus braços em seus ombros fazendo-a olhar pra mim. - Qual é, você é loira, seus olhos são daqueles castanhos meio verdes e sua pele é tão perfeita. Por que ele estaria olhando pra MIM?

    - Qual o problema de ser loira? Só porque eu sou loira não significa que eu seja mais bonita que as morenas. Se você reparar nessa sociedade de bosta, de acordo com os meninos a mulher mais sexy é a Megan Fox. E ela não é loira. Terê, se você percebesse o jeito que ele olhava pra gente ia ver que com certeza esse cara prefere as morenas. - de repente um sorriso maior apareceu em seu rosto, a chuva estava diminuindo e fiz um sinal para minha mãe que a esperaria passar um pouco mais para poder entrar no carro. - Mas você se importou não é? Se ele realmente não estivesse olhando pra você...

    - Por favor, Ki. Eu nem conheço o cara porque eu me importaria pra quem ele olha? Escuta, - eu mudei de assunto assim que recebi uma buzina como resposta de que deveríamos entrar no carro logo ou a chuva iria voltar com tudo - não fala mais sobre isso, minha mãe vai estar ouvindo tudo e você sabe como ela é.

                            ~.~

    Quando chegamos (finalmente!) no prédio, mal consegui falar com minha amiga porque minha mãe com certeza estava naqueles dias de estresse do trabalho e falou para eu subir logo. Mas pude sentir que Kiara me mandou um olhar de que continuaria aquela conversa maluca no dia seguinte. Isso quer dizer: ela entraria no apartamento e continuaria falando por horas no o chat do facebook.

    Eu nem liguei o notebook. Deixei-o bonitinho na estante do meu quarto enquanto tomava banho. Estava tão cansada que sinceramente meus olhos acabaram decidindo o que eu deveria fazer logo: dormir profundamente.

    Tive um sonho.

     

     "Eu estava em um ônibus escolar velho a caminho da escola. Quando cheguei a tal, mal me levantei e alguém me empurrou. Aquele mesmo garoto idiota. Matheus. E ele disse a mesma coisa 'Foi mal... Hum... Novata'. 

      Era como se tivéssemos voltado no tempo e só eu tivesse percebido isso. Dessa vez eu me virei para olhá-lo. Ele fez o mesmo gesto com as mãos de que eu poderia passar na frente. Quando percebeu que eu o encarava ele deu um sorriso meio torto com o canto da boca.

    Seus olhos eram mesmo muito negros e pareciam encarar, talvez porque como a grande parte é só uma bola preta gigante não tem como saber para onde exatamente ele está olhando. O cabelo era castanho, curto, mas grande o bastante para o vento deixar alguns fios da nuca voarem de leve. Eu reconheci depois de um tempo. Eu o tinha visto no meu sonho na noite anterior àquele dia! Mas é claro! Ele é aquele cara que disse que estava me procurando! Por isso parecia tão familiar!

     - Se você não quiser sair, tudo bem. Eu posso te carregar até a saída, Terê. - o sorriso se aumentou no rosto dele. Antes que eu pudesse me dar conta do que estava acontecendo ele me segurou em seu colo e me carregou com mochila e tudo até a porta do ônibus fedido.

    - Me solta, idiota!! - as palavras dele vieram na minha cabeça a tona naquele momento - Espera... Do que você me chamou?

     -  Terê, ué? Não é esse o seu nome? - ele agia como se tudo fosse normal. Como se realmente me conhecesse, sendo que era a primeira vez que nos víamos. Definitivamente.

     - Sim. É sim mas... Você nem me conhece como sabe o meu nome? - minha voz saiu mais trêmula do que eu planejava.

     - Digamos que eu tenha os meus contatos - foi o que ele disse rindo e logo depois me colocou no chão. Com cuidado.

     - Tá mas como?

     - Olha... Eu já te disse que tava te procurando não já? Na floresta. Você corria de mim.

     - É porque alguém queria me matar - as palavras simplesmente pularam da minha boca e nem sabia mais o que estava falando. Era como se uma consciência minha estivesse tomando o meu lugar, falando coisas das quais eu não me lembrava. - E você corria atrás de mim. Se eu baixasse a guarda, a bala ia perfurar meu coração.

     Perfurar meu coração? O quê??

     - Eu sei disso. Mas eu estava te procurando porque me disseram que você era alguém que eu devia encontrar. Talvez você pudesse me dar algumas respostas.

     - Que tipo de... - assim que deixei de encará-lo com uma cara feia olhei ao me redor - respostas?...

      - Esse lugar aqui é onde eu venho pra relaxar legal né?

      O cenário da escola tinha mudado, as pessoas que gritavam e a própria Kiara saltitante haviam sumido. Só estava eu e ele ali, no meio de um bosque, com uma mesa de madeira, uma arvore que dava uma boa sombra e um pequeno riacho. Aquilo era Brasília?

     Ele riu. Será que ele podia ler a minha mente? Ou será que tudo estava tão na cara assim?

     - É l-lindo... - respondi me sentando na grama extremamente verde.

     - É sim. - ele respondeu como se fosse a coisa mais natural do mundo. Não parecia igual os garotos normalmente fazem. Se sentem alguma coisa escondem. Ele não. O "Matheus" estava aberto.

     - Que tipo de respostas você queria? - eu me despertei assim que percebi que estava um pouco perto demais de alguém que eu queria distancia.

     - Sobre uma coisa que vocês meninas entendem melhor. Tipo - aquela hora ele voltou com seus olhos negros em mim. Que agonia era aquilo! - Como eu faço pra uma delas perceber que eu gosto dela sem ter problemas?

    Se ele lesse a minha mente, eu diria que ele estava brincando comigo. Mas sua expressão era séria. Era verdade.

     - Acho que você procurou a pessoa errada. Eu não sei disso. Nem todas as garotas sabem desse tipo de coisa.

     - Hum... Mas me diz então o que você iria querer que alguém fizesse pra você? Se "ela" fosse "você".

     Aquele cara complicava tudo. Eu não sabia de quase nada porque minhas experiências eram todas um fracasso. Eu me levantei e comecei a correr sem motivo. Apenas não queria ficar ali. Era estranho porque ele tinha me procurado só pra saber de uma coisa que todas as outras garota sabiam menos eu. Ele veio me perguntar sobre o que outra garota qualquer iria gostar que fizessem pra ela! 

     - Terê! Terê espera! - ele de levantou e correu atrás de mim. Eu enxerguei o começo de uma floresta de carvalhos e me infiltrei lá dentro. A luz parecia fraca demais por causa dos troncos. Mas não parei de correr. Eu não sabia responder nada daquilo nem pra mim mesma, imagina para outra pessoa?

    - Terê!! Me escuta! Eu tô falando a verdade, por favor!

     Então tudo voltou para o primeiro sonho como se fosse continuação do primeiro porém o que acontecia antes. Não sei mais a não ser que continuei correndo sem direção e ainda escutava a voz dele gritando lá de trás. Por que de repente estava usando um vestido?

    Ouvi um som de tiro ecoar pelo ar. Havia mesmo uma pessoa querendo me matar? 

     Minhas pernas finalmente cansaram. Eu caí. Senti uma coisa pesada sobre mim e minha cabeça começou a latejar. Matheus estava do meu lado e parecia preocupado. Depois disso não sei mais o que aconteceu.

     Apaguei."

Bec
Enviado por Bec em 22/04/2013
Código do texto: T4254385
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