Intertextualidade Poema de Sete Faces e Ausência (Carlos Drummond de Andrade)

Intertextualidade

Poema de Sete Faces (Carlos Drummond de Andrade)

Quando nasci, um anjo torto

Desses que vivem na sombra

disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens

que correm atrás de mulheres.

A tarde talvez fosse azul,

não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:

pernas brancas pretas amarelas.

Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.

Porém meus olhos

não perguntam nada.

O homem atrás do bigode

é sério, simples e forte.

Quase não conversa.

Tem poucos, raros amigos

o homem atrás dos óculos e do bigode.

Meu Deus, por que me abandonaste?

se sabias que eu não era Deus

se sabias que eu era fraco.

Mundo, mundo, vasto mundo,

se eu me chamasse Raimundo

seria uma rima, não seria uma solução.

Mundo, mundo vasto mundo,

mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer

mas essa lua

mas esse conhaque

botam a gente comovido como o diabo.

__________

Ausência (Carlos Drummond de Andrade)

Por muito tempo achei que a ausência é falta.

E lastimava ignorante, a falta.

Hoje não a lastimo.

Não há falta na ausência.

A ausência é um estar em mim.

E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,

Que rio e danço e invento exclamações alegres,

Porque a ausência, essa ausência assimilada,

Ninguém a rouba mais de mim.

________________

ANÁLIESE DAS MINHAS ALUNAS:

Joline Lacerda de Souza Nº 19 3ºB JD

Drummond retrata nos dois poemas um eu lírico sendo uma pessoa solitária e um profundo observador da vida.

Em “poema de sete faces”, o eu lírico não tem muita aptidão, é um individuo tímido, mas em compensação é um bom observador. Não se importa de ser solitário, pois observa o modo de agir das pessoas com quem encontra na rua “os homens que correm atrás de mulheres”, “O bonde passa cheio de pernas: pernas brancas pretas amarelas”, “O homem atrás do bigode é sério, simples e forte”.

Assim como no “poema das sete faces”, “Ausência” possui o eu lírico também sozinho e não se incomoda com a solidão, pelo contrário “essa ausência assimilada, Ninguém a rouba mais de mim”. Não fica claro a que se refere sua ausência, mas relata que ele já se acostumou com ela e a tornou sua companhia, assim como as pessoas encontradas na rua pelo outro eu lírico.

COMENTÁRIO DO PROFESSOR JOÃO BOSCO a jholyy.lacerda@hotmail.com

Conseguiu, parabéns!

Observe o contexto do autor e a sua crítica à sociedade pós-guerra e no Brasil pós-Getulista... A modernidade impõe aos cidadãos condições paradoxais de convivialidade, conflitos sociais, e em tudo, uma crise ética e de valores. O eu lírico melancólico se recolhe nos cacos do cotidiano procurando um sentido ainda que efêmero para o sentido da vida pessoal e coletiva, daí as fases que consegui perceber ao longo de sua vida urbana... E a ausência é a própria condição da pessoa – como trepidação da vida e estilhaçamento dos sentidos antes demarcados pelo romantismo e outras estéticas alienantes...

CAROLINE SANCHES ROSA Nº06 3ºB

No “poema de sete faces”, o eu lírico aparece como sendo uma pessoa tímida e alheia, mas também um bom observador. Já no poema “Ausência”, o eu lírico é solitário e não se incomoda de viver na solidão, muito pelo contrario, ele se sente bem e afirma que ela faz parte da vida dele e ninguém pode tirá-la.

Ambos os textos mostram a solidão na vida do eu lírico, mas que o mesmo é um bom observador.

PARABéNS PELO SEU COMENTÁRIO – ESTE É O CAMINHO DO CRÍTICO LITERÁRIO... INSERIR O TEXTO NA CULTURA E A CULTURA DO TEXTO NA VIDA COTIDIANA...

PROF. JOÃO BOSCO

J B Pereira e alunos do etec José Dagnoni - 2013.
Enviado por J B Pereira em 06/04/2013
Código do texto: T4227384
Classificação de conteúdo: seguro