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Capitulo 6 – A ação, a reação e o ciúmes. – Parte 4
Bruna Merten
Acho que nunca em minha vida respondi tanta pergunta sobre mim e Demétri. As primas e também a avó dele perguntaram de tudo, até as minhas intenções com ele. Não me senti desconfortável com as perguntas de nenhuma dela, mas não nego que Ricardo e suas piadas maldosas conseguiram me irritar. Mesmo que eu soubesse que era mentira.
Quando já estava quase anoitecendo, Demétri e eu passeamos pelo centro de Pelotas. O tempo estava meio friozinho, o que dava vontade de andar abraçado.
Conversamos sobre tudo, relembramos nosso primeiro beijo e todas as nossas brigas. Poderia ter sido uma noite perfeita, se...
- Aquela guria tá te olhando demais. – Falei, olhando de cara feia uma guria ruiva comer Demétri com os olhos. O que é isso? Será que o fato de estarmos abraçados não significa nada pra ela?
- Quem?
Eu apontei com a cabeça para a guria encostada na árvore com um grupo de meninas. Ela notou que eu tinha percebido e nem assim parou.
- Olha que desgraçada!!
- Para de ser louca, tu não vai arrumar confusão por causa disso né?
- Ah vou! – Dei alguns passos até ela, mas Demétri me segurou pela cintura. – O QUE É? TÁ OLHANDO DEMAIS JÁ! NOTOU NÃO QUE ELE TEM DONA?
- Se eu continuo olhando é porque aos meus olhos tu é invisível, ridícula!
- MAS, MAS O QUE???? – Tentei me soltar de Demétri. Como ela fala assim de mim? – VAI MUDAR A COR DO SEU CABELO DE ÁGUA DE SALSICHA, NOJENTA!
- Para, Bruna!
- ÁGUA DA SALSICHA? – Ela mexeu no longo cabelo. – OLHA A COR DO SEU, ESSE CASTANHO SEM-GRAÇA. VAI PRO CABELEIREIRO ANTES DE FALAR DE MIM, LINDA!
- AH NÃO!!!! NÃO FALA DO MEU CABELO!!!! – Dei uma cotovelada em Demétri e corri até a ruiva. Antes que eu investisse contra ela, uma amiga dela se pôs entre a gente. As outras queriam mais é que o “circo pegasse fogo”.
- Para, não vale a pena. Ela vai parar de olhar pro seu namorado.
- Vou, Nanda? Me obrigue! – A amiga então se afastou e eu parti pra cima da guria. Foi um verdadeiro festival de tapas. Acho que descarreguei todo meu ódio em cima dela, sério. Deixei a infeliz sangrando. Só parei porque Demétri saiu me arrastando pelo braço.
- NÃO VAI FICAR ASSIM GURIA! – A água da salsicha gritou, sendo acudida pelas amigas.
- Pra que isso? – Demétri perguntou, visivelmente irritado pela briga.
- Ela olhou pra ti como se... Se... – Eu tremia de tanta raiva.
- É... E olha que tu nem tinha ciúmes...
Eu o fitei mortalmente. Ele engoliu seco.
- Não fica nervosa, tu sabe que não precisa disso. – Seu abraço me reconfortou. Paramos no meio da rua e ele ajeitou meu cabelo que devia estar semelhante ao de uma pessoa eletrocutada. – Assume que tua brabeza maior foi por conta dela ofender seu cabelo.
- Bah...!
- Eita mulher braba.
- Sou mesmo.
E de volta a casa da avó de Demétri, tudo parecia razoavelmente tranquilo depois do meu ataque de ciúme. Ele sabe que eu sou ciumenta mesmo, por isso não fez mais piadas sobre isso. O restante da noite estava sendo perfeito, assistimos filme com as primas e primos de Demétri. Ricardo manteve-se calado. O que foi ótimo, mas ele não ficou assim por muito tempo. Eu não entendo o motivo de uma pessoa ser tão babaca a ponto de beijar a namorada do primo apenas para provoca-lo. Pois é. Ele me beijou quando eu estava bebendo água na cozinha rendendo uma briga que resultou em Demétri (mais uma vez) me arrastando para irmos embora. Eu dei um soco bem dado no nariz arrebitado de Ricardo. Sabe aquele soco que você esvai toda a sua raiva? Então. Claro que eu tive de fazê-lo parar para pegar nossas coisas, e claro que ele gritou comigo em meio a sua família dizendo que “namorar comigo era um imã a problemas”. A mãe ainda tentou
apaziguar as coisas, mas como toda mãe sabe o filho que tem, ela não fez muito. No fim daquilo tudo nós fomos embora brigados um com o outro.
- Eu sou a culpada por ele ter me beijado, então? – Mulher gosta de puxar briga, eu sei. – Eu sou o seu problema. – Conclui, de forma séria.
- Falei de cabeça quente.
Eu o observei dirigir tensamente. Ele segurava o volante com muita força. Ainda não tinha relaxado após toda aquela confusão. Tudo bem que não faz nem 20 minutos que saímos da casa da avó dele.
- E é de cabeça quente que dizemos as maiores verdades.
- Tu tá me pirraçando para brigarmos ainda mais, não é?
- Não quero brigar! – Exclamei, irritada. – Só que isso só provou o que eu já sabia: tu não confia em mim!!
- Bruna... – Ele ia dizer algo, mas um carro cortou a frente dele no trânsito, roubando sua atenção. – TU NÃO DÁ SETA NÃO, ANIMAL DE TETA????? – Demétri berrou, pondo a cabeça para fora da janela.
A senhora muitíssimo simpática dona do Celta preto, mostrou o dedo do meio pra ele em resposta.
- Por isso que eu não gosto de mulher no trânsito.
- Não muda de assunto.
Novamente, Demétri apertou o volante com muita força. Ele que quebre algo do meu carro pra ver se eu não quero a cara dele.
- Temos mesmo que ter essa conversa agora?
- Sim, temos.
Desesperado e cada vez mais nervoso, ele passou a mão pelos cabelos.
- Bah!!! Eu sei que não foi tu que beijaste o Ricardo. Eu só disse que tu era um imã à problemas... E tu é um imã mesmo.
- Sou???? – Perguntei, pasma com sua coragem em repetir aquilo.
- É, tu sabe que é!
- Vá para o inferno, tchê! – Gritei, puta da vida e fiz o que qualquer homem mais odeia na vida: - Vamos ter que discutir nossa relação, Demétri.