Uma nova esperança [13]
Ao voltarmos, ninguém parecia ter dado por nossa falta. A cantoria seguia animada e o cheiro de carne assada na brasa invadia os pulmões abrindo o apetite. Regados por muita pinga os rapazes, cada vez mais animados não davam mínimos sinais de cansaço, mesmo tendo trabalhado por todo o dia naquela terra a perder de vista.
Depois de dançar bastante entre os belos jovens, de corpos lapidados pelo duro trabalho da lida mas com um sorriso que refletia sua tamanha alegria em ser quem se era, depois de comer maravilhosamente bem e ouvir as mulheres falarem sobre filhos e casamento, resolvi que era a hora de me retirar. Também pudera, o dia estava quase amanhecendo!
Despedi-me de todos que, aparentemente, seguiriam ali pelo resto do novo dia que dava seus primeiros sinais de vida e subi pelas sintuosas escadas a caminho de meus aposentos.
A casa, de fato, parecia falar. Parecia irradiar amor por cada centímetro, era como um coração pulsando e bombeando o sangue por todo o corpo, aquele lugar irradiava vida e era impossível não sentir esse sentimento majestoso transformando os meus antigos e amargos sentimentos em algo nobre e puro. Essa reflexão me acompanhou até meu travesseiro, onde foi rapidamente esquecida dando lugar ao sono, que veio tão rápido quanto uma chuva de verão.
De repente, uma doce presença parecia invadir minha alma e me fez despertar. Como uma escultura grega com seus musculos definidos e naturais estava ele, parado diante de minha cama, Acácio, que parecia ter chegado de viagem no mesmo instante, usava uma camisa vinho, bem molhada de suor e praticamente toda desabotoada. Nos olhamos sem que houvesse uma única palavra trocada. Me aproximei para abraçá-lo, o cheiro de seu corpo suado me despertava sensações que nunca sonhei existirem. Beijei sua bochecha longamente enquanto minhas mãos, que não estavam mais sob meu controle, percorriam seu tórax e desabotoavam o resto de sua roupa. Tudo era muito natural, eu o desejava cada vez mais até que nossos lábios se encontraram e eu pude sentir seu calor. Meu coração batia por cada pedacinho do meu corpo e eu já deixava que aqueles instintos tão primitivos me guiassem.
Quentes, molhados, apaixonados, exaustos, era assim que sentia ao olhá-lo ao meu lado na cama. Sua mão percorria minha cintura e seus olhos verdes e intensos me cobriam de ternura. Aquilo era o amor? Se fosse, queria mais e mais, queria morrer de amor e continuar vivendo.
Tudo pareciam rosas até que algo totalmente fora do contexto chamou-me a atenção. Uma bandeja de prata com uma linda rosa amarela, frutas, café e uma rosca fresquinha se materializou diante de mim. Ouço a voz de Nico me dando bom dia, mas nada mais fazia sentido. Olhei para o lado confusa a procura de Acácio, que havia sumido, suas roupas não estavam pelo chão, seu gosto não estava em mim, o outro lado da cama parecia intocado e eu permanecia imaculada. Nico me olhava sem entender nada.
-Onde ele está?
-Ele quem, Aurélia? Você está bem? Estava dormindo, deve ter tido um pesadelo.
Pesadelo? Ora, pois, se não fora real estaria eu louca? Acácio e eu nos amamos em minha cama e eu podia sentir isso em meu coração.
-Onde está Acácio, Nico? Não estou com humor para chacotas.
-Acalme-se, o patrão ainda está viajando, mandou uma mensagem mais cedo dizendo que se tardará mais dias que o previsto, quer ver um bom rebanho e um reprodutor que estão chegando do sul do país. Não se aflija, ele está bem, foi só um sonho ruim. Deixo seu café e espero que esteja melhor para que cavalguemos pelos pastos mais ao atardecer, quero te mostrar tanta coisa.
Ainda bem que Nico não percebera a real causa de meu desespero, mas nada fazia sentido, como pudera ter sentido Acácio em mim de maneira tão real? Tardar-se mais alguns dias? Era algum tipo de piada? Minha saudade só aumenta e agora vê-lo novamente era a única coisa na qual podia pensar em cada minuto do meu dia.
[continua]