[Original] Volver - Capítulo 6 - Parte 1
Capitulo 6 – A ação, a reação e o ciúme. – Parte 1
Eveline sentou-se ao meu lado no chão da sala do meu apartamento.
- Tu queres me dizer que o Dan apareceu do nada em sua casa e o Demétri chegou e viu, daí vocês claro, brigaram? – Acho um tanto impressionante a habilidade de Eveline em resumir minhas histórias. Eu assenti. – Barbaridade! E por que Daniel apareceu?
- Disse que estava de passagem, daí tu lembra do fogo que ele era quando novo, não mudou nada.
- E tu retribuiu. – Ela me passou a cuia onde bebíamos o mate.
- Eve... – Murmurei como se falasse com uma pessoa de raciocínio lento. – Daniel tem 1, 80 e braços tão fortes que me esmagariam com facilidade. Ele foi grudando a mão na minha cintura e a outra invadiu meu cabelo. Complicado. Só que pra mim não significou nada. Demétri não acreditou, claro.
- Tu não parece preocupada com isso. – Dei de ombros. Não que eu não estivesse preocupada. Conheço Demétri e sua impulsividade sem limites e sei lidar com isso.
- É, acho que estou mais preocupada com o fato de Demétri ter dito uma frase que eu não entendi.
- E qual seria? – Perguntou, estendendo a mão para pegar a cuia de volta.
- “Eu sabia que isso ia dar em merda”.
- Tu fez alguma coisa. – Não foi uma pergunta. Indignada, bati a mão com força no chão.
- Tudo sou eu?? Que diabos eu posso ter feito agora pra ele?
- Bah e eu que sei? O casal mexicano aqui são vocês. Eu sou solteira.
Aproveitando a deixa, logo mudei de assunto.
- Pelo nhe nhe nhe que tu estava com Emerson, acho que em breve isso acaba. Aliás, nem sabia que vocês se conheciam tão bem...
Ela sorriu, sem-graça.
- Bah. A gente já se viu em vários lugares, e sem contar que no tempo que tu namorou Demétri era comum ele ir lá na casa da mãe. E na época do mongol também. Sempre achei ele um gato... Só que a gente não ficou.
- Como não?
- Também me perguntei isso quando ele me deixou em casa. – Conforme falava, ela balançava a cabeça e olhava fixamente a parede, creio eu que pensando inconformada o por que disso ter acontecido. – Marcamos de sair novamente.
- Espero que dê certo.
- Ah, eu tenho fé que tu e o Demétri vão se juntar, então se tenho fé nisso, posso ter fé no Emerson também.
Arqueei a sobrancelha.
- O que uma coisa tem a ver com a outra?
- Nada. Só quis te provocar mesmo.
- Tu é muito babaca mesmo.
- Sou nada, pare. – Ela cruzou os braços e fez beicinho. – Vou embora... Preciso ver umas coisas no meu consultório.
- Já?
- É, a vida não tá fácil pra ninguém.
E mais tarde quando eu já estava achando demasiado tedioso olhar para o teto branco da minha parede (na verdade está meio amarelado, preciso pintar novamente), liguei para Demétri. Eu não sabia se ele ia atender, e com a demora que o fez, quase desisti. Quase.
“Bruna...” – Eu odiava quando ele dizia meu nome num tom de alerta, como se tivesse medo de mim.
- Onde tu estás?
“Onde eu estou? Ué, porque quer saber?”
- Porque sim. Tu me responde se quiser, oras! – Ele bufou e eu tive a leve sensação de que revirou os olhos.
“No hospital, Isabel sofreu um acidente quando estava indo para a Rodoviária.”
Foi então que um nó amargo se formou em minha garganta e eu finalmente consegui compreender o porque dele ter me dito aquela frase.
- Ahn... E ela está bem?
“Sim, ela está bem, ótima.”
Tentei camuflar meu choque sendo engraçada.
- Bah, quase achei que tu diria que a culpa dela ter se acidentado foi minha. – Forcei uma risada.
E fui infeliz. Primeiro porque ele ficou um longo tempo calado e depois...
“Não, a culpa não foi tua, é verdade... Mas se tu tivesse tido a maturidade de ter deixado aquela vingança babaca de lado, acho que poderíamos ter evitado.”
... Não sou engraçada.
- Tu entende disso de ser corno, então, acredito que se tivesse a minha coragem, teria feito a mesma coisa!
Eu não estava muito convicta das minhas palavras, mas não podia ficar calada.
“Não Bruna, eu não faria isso.”
- É, eu sei...
Tentei mais um argumento:
- Se tu tivesse me contado as coisas talvez fossem diferentes.
“É... Eu devia ter te contado, com essa culpa eu posso morrer.”
- Eu sinto muito pela guria, mas seria injustiça da tua parte me culpar.
“Qual é o intuito dessa ligação, afinal?”
- Eu só queria ouvir a tua voz.
Eu pude ouvi-lo dar uma respirada funda, como quem travava uma sangrenta batalha interna. Eu sei, eu sei, eu não ajudo fazendo isso, mas eu realmente precisava daquilo.
“Ficamos só 2 dias sem nos vermos.” – Disse sério, porém, sabia que ele estava sorrindo.
- Eu sei.
“Preciso desligar...”
- Tudo bem.
“Ah, eu acho que é bom tu ir se preparando, fora a minha mãe e minha avó, ninguém daquela família é normal.”
- Bah!! Eu devo temer alguém em especial?
Ele gargalhou diante do meu temor.
“Calma, eu vou estar contigo.”