[Original] Volver - Capítulo 5 - Parte 2
Capítulo 5 – Romeu – Parte 2
Bruna Merten
- Não quero sair.
Eveline cruzou os braços e bateu pé no chão repetidamente, parecendo nossa mãe quando estava braba.
- Vai sim, quero curtir hoje. Tive um dia estressante.
- O dia estressante foi seu, não meu. – Dei de ombros. É claro que eu iria com ela, mas eu gosto muito de provocar minha irmã.
- Ah é?
Eveline cruzou os braços e sorriu de canto, mas foi um sorriso seco, duro. É um sinal claro de que está ficando nervosa. Melhor não provoca-la hoje. Ela está “naqueles dias”.
- Credo, tá de TPM né? – Olhei no calendário do meu celular. – Bah, semana do dia 15, tu fica irritadíssima, melhor nem brincar contigo.
- Não mesmo. Vamos sair então?
- Vamos, minha senhora.
- Bruna!
- To brincando... Calminha Eve.
Mais tarde...
- Ai, to adorando esse pub!!! – Comentei, sentando-me animada em uma das cadeiras. O bar, de nome Sports, era em estilo americano e havia algumas flâmulas de times, mas todos do estado do Sul, claro. Era um lugar onde todos pudessem se encontrar para um momento de lazer, descontração. Para deixar de lado as diferenças esportivas, coisa que não é fácil, mas por incrível que pareça, haviam vários gremistas e colorados socializando.
Eve sentou-se ao meu lado e me passou um drink que ela mesma escolheu, o nome era heaven to hell.
- Eu curti demais aqui. É novo né? – Eve perguntou, bebendo o líquido vermelho do copo.
- Novíssimo. – Dei uma olhada no local e sorri. Fazia um tempo que eu não me sentia tão bem em um lugar assim. Quando meu olhar focou na entrada, me virei rapidamente para frente. – Ah, não.
Demétri e Emerson estavam entrando no pub com sorrisos de pura alegria. Com tanto lugar no mundo para esses dois irem, eles tem que vir justamente no que eu estou. Tá, não to dizendo que foi proposital, mas, mas... Ah, dane-se.
- O que? – Perguntou Eve, que estava sentada de frente pra mim e não tinha como ver a entrada. Não tinha até fazer as três coisas imperdoáveis quando se encontra alguém indesejado: 1 - virar o pescoço “discretamente” para ver o que você estava vendo. 2 – Acenar fervorosamente até a pessoa indesejada te ver 3 – se levantar e chamar a pessoa pra sentar com você.
Eu quis correr, chutar Eveline, mas me limitei a beber meu drink e observar como era interessante o desenho do copo.
- Demétri!! Emerson!! – Eu o olhei por dois segundos e baixei a cabeça. Ele estava tão lindo que me fez perder o ar. Odeio quando ele usa camiseta preta, o deixa muito irresistível. Eveline me paga por essa. – Sentem aqui com a gente!
- Tem certeza? Não quero incomodar. – Disse, dando ênfase na pergunta. Aposto que ele me olhou, claro. Está achando graça dessa situação. Demétri acha tudo muito engraçado. – Que coincidência tu por aqui. – Continuou, sentando-se ao meu lado. Quando sua perna encostou a minha, um choque percorreu meu corpo. – Acho que vocês dois já se conhecem... – Ele ia apresentar Emerson a minha irmã, mas pela forma animada com que já conversavam, não era necessário. – É, se conhecem.
- Lógico que se conhecem, você não a viu chama-lo toda querida? - Perguntei, grosseira.
Ele riu, mas não me respondeu, invés disso calmamente tirou meus dedos do redor do copo e pegou a bebida.
- Heaven to hell. – Disse, após experimentar. Sensualmente, lambeu os lábios, deu aquela mordidinha clássica e me fitou. – Porque tu está nervosa?
- Fizeste de propósito né? – Perguntei, apoiando o cotovelo direito na mesa e o olhando acusatória.
- Bah, claro. Falei pro guri “Vamos justamente no bar que a Bruna vai estar porque eu quero vê-la”.
- Não debocha. – Murmurei, fechando os olhos, respirando fundo e abrindo logo em seguida.
Ele riu e voltou a beber o meu drink.
De repente Emerson se levantou e chamou Eve, estendendo educadamente a mão. Minha irmã deu um sorriso que quase rasgou a boca ao retribuir o gesto. 5 minutos depois eles já haviam sumido em meio aquele monte de gente.
- Eu que ensinei. – Demétri disse, todo orgulhoso do amigo.
- Bah, Eveline estava precisando mesmo beijar na boca.
- E tu não precisa? – As batidas do meu coração aumentaram. A mão dele passeou pelo meu rosto, o dedo indicador no meio do meu lábio. Ele me puxou pela nuca. – Precisa.
- Nós vamos ser amigos, lembra? – Murmurei, mergulhada no momento.
- Para de ficar premeditando o que ou como vamos ser. Nunca ouviu falar na frase “deixa rolar”? – Perguntou e antes que eu pudesse responder, seus lábios tocaram nos meus e eu senti todo aquele turbilhão habitual de sentimentos. Quando sua língua ansiosa invadiu a minha boca, o lugar ficou um tanto pequeno para nós dois e tudo o que sentíamos. Ao se afastar e me olhar, Demétri sorriu. Um sorriso inocente e puro. O sorriso que a minha alma precisava todo santo dia. – Viu?
- Vi. – Murmurei, ainda com os olhos fechados.
- Abre os olhos.
Obedeci.
Ele me beijou novamente, e mais uma vez, e de novo, de novo. Eu quis por um minuto que as coisas fossem sempre assim conosco, na base do “deixa rolar”.
- Eu te amo. – Declarou, sussurrando ao pé do meu ouvido. Na mesma hora um arrepio traidor fez os pelos do meu braço se eriçarem. Ele notou isso, sabia do poder que tinha sobre mim. O verde de seus olhos tomaram um brilho muito especial.
Deitei minha cabeça em seu ombro e me desmanchei diante de seu cheiro.
- Eu também te amo. – Respondi, num sussurro quase inaudível. – Eu sempre te amei. – Um pouco tonta por conta da bebida, eu massageei as têmporas e sorri, mas não sei bem porque fiz isso. Não é engraçado falar eu te amo.
Demétri franziu o cenho e se afastou para me observar. Lentamente, baixei a cabeça e a pousei na mesa. Eu estava ficando bêbada. E além de ter ficado bêbada no momento errado, eu ria feito uma idiota.
- Eu estava achando mesmo estranho tu se declarar assim, mas já entendi o porquê. – Disse, claramente irritado. Minha visão estava começando a ficar turva.
- Eu não falei menfira. – Tentei dizer, mas além de sair totalmente enrolado, Demétri riu, com raiva. – Eu vou... Me espera.
(continua...)