[Original] Volver - Capítulo 5
Mas eu, Julieta, presa nesse pacto
Você, o meu Romeu.
Romeu – Agridoce.
Bruna Merten
Eu não senti nada depois que finalmente consegui estragar o relacionamento de Lennon e Isabel. Nada. E foi a coisa mais frustrante que me aconteceu. Voltei para casa naquele dia com uma extrema sensação de vazio. Eu só queria ficar perto do Demétri, mas agora, provavelmente ele me odiava como antigamente.
Mal pisei na sala do meu apartamento e Eveline me ligou. Tirei o aparelho da bolsa e dei um suspiro, triste.
“Bru!! Tá em casa?”
- Sim.
“Em 20 minutos eu to ai.”
- Tudo bem.
Deitei no sofá e fiquei os exatos 20 minutos olhando para o teto, totalmente perdida em meus pensamentos. Quando minha irmã abriu a porta, parecia ter lido em minha expressão que tudo tinha dando errado.
- O que aconteceu? – Sentou-se com as pernas cruzadas em minha frente.
- Fiz tudo... Consegui faze-los terminar o namoro. – Me virei para olha-la. – Não estou feliz.
- E porque tu achas que não estas feliz?
- Não sei, eu esperava estar pulando de felicidade, mas... – Dei de ombros. – Eu só queria o Demétri aqui.
- Ligue pra ele.
- É claro que não!
Eveline deu um muxoxo, triste.
- Quando eu saí de lá, Demétri estava consolando a guria – A cena, tão viva, rodava em minha mente. – Ela chorava de um jeito que conseguiu me comover... Infelizmente.
- O que tu queria? Tu acabou com o namoro dela, Bruna.
- Eu só fiz o que tinha de ser feito. Tudo bem. A vida continua. – Ela sabia que quando eu falava assim, era porque estava finalizando um assunto.
- Mamãe ligou...
- E aí? – Nossa mãe estava numa viagem importante de negócios. Mentira. Ela viajou para o Nordeste com o meu pai. Depois de anos separados, eles resolveram se envolver novamente. É nojento.
- “Diga a tua irmã que eu existo, e que estou com saudades dela.” Papai mandou um beijo e disse que em breve estão voltando.
- Quero saber até quando eles vão conseguir enganar a Sara. – Sara é a atual namorada do meu pai. É uma boa pessoa, mas sua índole pura a trai nesses momentos.
- Tapada como ela é, por um bom tempo.
- Coitada. Eve... Vou dormir. Estou com a cabeça estourando. E amanhã tenho que ir cedo pra loja.
- Bah. Deus que me livre. Prefiro mil vezes meu consultório!
- Cala a boca.
Ela riu ao ficar de pé.
- Qualquer coisa me ligue.
- Sempre.
Nos despedimos com um leve sorriso uma a outra e minha irmã saiu. Eu não queria sair do sofá, então, simplesmente me virei para o lado e caí num sono rápido e cansado.
Dia seguinte
- Chefe?
Eu estava com a cabeça deitada, em sinal de derrota, sob a mesa da minha sala quando Maria me chamou.
- O que é? – Perguntei, ríspida.
- Bom, eu acho que gostaria de saber que o Demétri está aqui na loja.
Levantei-me para fita-la.
- Diga que não estou.
- Bah... Ele está vendo algumas roupas.
Fiquei de pé na mesma hora e em passos rápidos, fui até a entrada da loja. Maria estava falando a verdade, Demétri estava lá olhando distraidamente um manequim masculino. Não sei que força sobrenatural me fez ir até ele. Não mesmo.
Parei ao seu lado, ele percebeu a minha presença, mas não disse uma só palavra. Seu silêncio doeu mais que qualquer coisa.
- Te avisaram rápido que eu cheguei. – Eu tentei sorrir, mas soou vazio. – E muito me surpreende tu estar aqui.
- Eu sei. – Nossos olhares se encontraram. – Tá irritado comigo, não?
- Eu estou te odiando nesse momento.
Meu coração disparou com a sinceridade em suas palavras. Abri a boca duas vezes, mas não consegui falar nada. Ele sorriu, balançou a cabeça em negativa e se afastou.
- Demétri. – Chamei seu nome com a voz trêmula. De costas, eu vi os músculos de suas costas se mexerem de acordo com sua respiração.
Todas as minhas funcionárias assistiam a nós dois. Elas tinham um leve conhecimento sobre meu relacionamento conturbado com meu ex-namorado.
- Tu conseguiste o que tu querias. – Murmurou, fitando-me novamente. Ele mordiscou o lábio e eu tive que me apoiar na parede pra não cair.
- Eu sei.
- Está feliz?
- Não.
- Foi o que eu pensei – Disse, em um tom que finalizava o assunto. - Preciso comprar algo para minha mãe. Me ajuda?
Franzi o cenho, confusa com sua mudança de humor tão rápida.
- Ajudo... Mas acho que tu não sabes comprar roupa para mulher.
Demétri me fitou com a sobrancelha arqueada. Eu dei de ombros, sem-graça.
- Compre um acessório pra ela.
- Conhece alguma loja legal?
- Sim!
Demétri Scholz
- Esse colar aqui é bonito, olha... – Bruna apontou para uma vitrine repleta de colares de todos os tipos e estilos. Também havia a descrição de cada peça. – Colar de prata. O coração é vazado e feito com zircônia branca. Precinho salgado.
- Preço não é problema. – Murmurei, avaliando o colar. – É o aniversário da minha mãe. – Meu celular vibrou e em seguida uma melodia calma tomou conta do ambiente. Atendi a ligação. Era a minha mãe. – Oi mãe... Sim, eu vou, eu disse que vou, não disse? Bah. Eu to comprando teu presente... Adivinha com quem? Bruna. Sim, Bruna Merten, minha ex-namorada.
Afastei o aparelho da orelha.
- Ela mandou um enorme beijo.
- Ah, manda outro pra ela!
- Bruna mandou outro, mãe... O que? Mas mãe... – Me distanciei de Bruna, não seria legal ouvir uma puta bronca perto dela. – Tá, tá, vou chamar. Ei... – Ela me olhou. – Minha mãe está te convidando para ir ao aniversário dela na casa da minha avó.
Bruna me observou por um tempo, se perguntando se devia aceitar ou não. Eu sibilei um “não aceita”, mas ela, claro, fez totalmente o contrário.
- Diga a ela que estarei lá.
Depois que finalizei a ligação com minha mãe, cruzei os braços e fitei a guria a minha frente. A vendedora da loja nos encarava, esperando ansiosamente para ser chamada.
- Bah, o que foi? – Bruna perguntou, cínica.
- Não era pra ti ter aceitado.
- Já foi.
- Bruna! – Ela deu de ombros e continuou andando pela loja. – Não é assim que se resolvem as coisas.
- Ah, é sim. Eu não vou como a sua namorada, vou como tua amiga.
- Não somos amigos. – Eu frisei, cortante. – E pare de falar como se as coisas entre nós fossem simples.
- Não são, mas estou tentando simplificar. Eu preciso de ti, tu de mim, então...
- Então?
- Então aqui estamos nós. – Ela me olhou com aquele mesmo sorriso pacífico que me desarmava completamente. – Qual é, dá um sorriso!
Nossa aproximação corporal quase, mas quase mesmo resultou em um beijo. Lembrei-me com muito desgosto que eu ainda a odiava pelo feito com Isabel e me afastei.
- Quando será a festa?
- Daqui a uma semana.
- Ótimo. Vamos escolher o presente da sua mãe.
Depois de comprarmos o presente, fomos tomar sorvete, e foi nesse momento que vi Bruna se roer de ciúmes. Duas gurias, uma loira e outra morena, me abordaram freneticamente. Eram fãs da banda. Ou do que restou da banda. Já que pelo o que eu conheço do Lennon, ele não vai querer dar continuidade ao nosso antigo sonho.
- DEMÉTRI, AI MEU DEUS, AI MEU DEUS!!! – A morena de altura mediana saiu correndo pelo corredor e me abraçou com força. – É ELE MESMO!!!
- LIIIIINDO! – A loira fitou Bruna. – Bah, eu te conheço de algum lugar. Não foi tu que disse no show que o Demétri era gay?
- Como é? – Perguntei, surpreso.
Minha ex-namorada se entregou ao ficar completamente vermelha. Eu a fitei friamente. Bruna se encolheu diante do meu olhar.
- Ai, não importa! – A loira disse, me abraçando também. Ah, as glórias de uma quase fama. – Tu é lindo guri e fico feliz por não ser gay.
- Bah, obrigado. – Discretamente ela pôs o número de seu telefone em meu bolso. A outra guria fez a mesma coisa e em seguida as duas saíram saltitantes. – Curti isso.
- Me dá aqui. – Merten cruzou os braços e me olhou como um general furioso.
- O que?
- Eu ainda não tenho cara de idiota pra não ter visto as duas vadias colocando número de telefone em seu bolso. – Rapidamente ela colocou a mão em meu bolso, tentando pegar o papel. Eu me afastei, mas sua força repentina me imobilizou. – Tu quer uma namorada? Eu te ajudo a arrumar uma, mas DECENTE!
- Ah é? E o que tu define por decente?
Bruna ficou me olhando, abriu a boca duas vezes, tentou formular uma resposta, mas não conseguiu.
- To esperando uma resposta. – Pressionei.
- Qualquer uma que possa te amar de verdade, amar pelo o que tu é, não pelo que tem.
Sua resposta me deixou sem ação. Novamente nossos olhares se encontraram e eu fiquei sem saber o que dizer. Claro que eu queria dizer um monte de coisas. Eu a odeio! E odeio mais ainda o fato dela conseguir fazer tudo isso comigo. Bruna se afastou, como se estivesse envergonhada pelo o que estava fazendo.
- E tu se importa com alguém, Bruna? – Perguntei, depois de um longo e tortuoso silêncio.
- Eu me importo contigo. E não é pouco. - Me limitei a arquear a sobrancelha. Ela entendeu a expressão. – E como tu não é obrigado a acreditar, eu também não sou obrigada a provar.
- É. Deve ser isso aí mesmo.
- É.
Era sempre assim que nossas conversavam acabavam, sem um ponto final, sem um “the end”. E a culpa disso era minha, eu não tive coragem de terminar de uma vez por todas com essa história quando eu era adolescente, e agora adulto, muito menos.
Depois de muito refletir e não conseguir concluir nada, decidi ligar para Emerson e chama-lo para sair. Sair me fará bem, e sair com uma boa companhia será melhor ainda.
“Bah, e pra onde tu queres ir?”
- Sei lá. Só quero sair. Preciso.
“Demorou. Tem um barzinho perto da parada de ônibus que parece bacana, bora lá?
- Bora.
“Em 15 minutos eu chego ai, falou!”
Desliguei o celular e segui para o meu quarto. Minha casa andava um tanto vazia desde a mudança de minha mãe, não que eu tivesse problema em morar só, mas ainda assim era estranho o silêncio.
- Vou dar um jeito na minha situação. E vai ser hoje.