[Original] Volver - Capítulo 4 - Parte 2

Capítulo 4 – A vida que não gira em torno de ti – Parte 2

No caminho à Gramado eu passei e repassei meu plano. Era simples até demais. Eu chegaria em Lennon – de preferência quando ele estiver bem agarrado a sua namoradinha – e mostraria a gravação da mãe dela.

Tcharam!!!!!!!! O casal vai ter uma longa e deliciosa briga que resultará no fim do relacionamento.

Isso é óbvio porque eu conheço o Lennon e sei que se tem uma coisa que o faz perder a estribeira, é mentira sobre família. Principalmente as que envolvem mãe, visto que ele perdeu a dele novo demais.

É o famoso plano toma lá dá cá. Depois disso eu deixo Lennon em paz.

(...)

Quando finalmente estacionei meu carro no estacionamento do Concurso, já era noite. Não dei sorte, peguei um trânsito desgraçado no caminho. Só que isso nem de longe tirou a minha vontade em realizar meu plano. Desci linda e bela do carro e segui para a entrada do Concurso. Só que como Bruna Merten não é de pegar fila, rapidamente arrumei um jeito de entrar VIP. Eu dei em cima do segurança que me pôs na plateia.

- Ah, não acredito que essa cadela vai entrar no palco. – Eu disse incrédula ao ver Verônica, a ex-namoradinha daqueles dois imbecis mentirosos. É, eu tenho a leve impressão que Demétri está destinado a dividir mulher com Lennon. Coitado. – Gente, por favor! Taquem pedras nessa cadela falsa!!

Conheci Verônica na época da escola e bem pouco, aliás, quase nada, mas o pouco que a conheci, já me fez desgosta-la por completo. Ela é de um ego enorme, se eu me acho do tipo convencida, aquela ali... Só Jesus na obra dela. E o pior não é isso. Essa guria se acha tanto, quando na verdade, ela é um nada. Um nada em meio a tantos outros nada que existem nesse mundo. Meu Deus, como eu a detesto.

“Nenhuma verdade me machuca

Nenhum motivo me corrói

Até se eu ficar

Só na vontade já não doí”

- Blá, blá, blá, blááá e blááá – Eu cantava debochando da voz dela. Se esses adolescentes votarem nessa bandinha fundo de garagem, eu vou até embora. – UHHHHHHHHHHHH!!!

Algumas meninas me olharam em aprovação e começaram a me imitar. O olhar de Verônica encontrou o meu e ela revirou os olhos. Claro, eu que estava começo a algazarra. A apresentação dela estava prestes a acabar, quando, na última parte da música, a guitarra se desafinou e o som que saiu, foi de ensurdecer qualquer um.

É óbvio que eu fui a primeira a tacar um tomate que peguei da mão da menina ao meu lado e joguei no palco. Não demorou muito e o restante do público fez a mesma coisa.

- Agora sim. Que venha a próxima banda!

(...)

- Ué, cadê a próxima banda? – Perguntei, notando que já estava demorando pra iniciar.

- Parece que está tendo um quebra-pau no camarim. – Um cara atrás de mim respondeu.

Quebra pau? Bah... Isso é coisa do Lennon. Eu aposto.

Eu não sei bem o tempo que passou, mas quando a Fratternity entrou no palco, os gritos foram assustadores. As meninas ao meu lado e até o cara atrás de mim ficaram enlouquecidos com a entrada da banda.

Já eu, bom, eu enlouqueci internamente vendo um certo loiro sorrir timidamente para as milhares de pessoas que o olhavam.

- MEU DEUS!!!!!!!! OLHA O DEMÉTRI, ELE TÁ PARECENDO UM NENÉM COM ESSA CAMISA BRANCA, PORRA! – Abruptamente, eu olhei a guria ao meu lado. Ela tá falando logo do Demétri? Que vadia.

- Ele é gay. – Eu disse, em instantâneo. O grupo das meninas me fitaram descrentes. – Sério!

- Como tu sabe? Bah, que pecado.

- Eu moro perto dele. Só o vejo saindo na noite com guris. Sabe aquele bar gay em Porto? – Elas assentiram. – O “Pinks”? Então.

Minha mentira fez a animação delas em relação à Demétri acabar. Ótimo.

- E o Len... – A menina ia perguntar, mas ao vê-lo ganhar um selinho da paulista nojenta, deu um suspiro, triste. – Droga, não gosto de homem alto como o Emerson.

Maria palco existe? Pelo o amor de Deus.

- Boa noite. – Lennon disse, dando um sorriso grande a sua plateia. - Sem delonga, porque vocês não vieram aqui pra ouvir blá, blá, blá. Vamos de som.

Ah, ele tem presença de palco. Quase senti orgulho dele. Quase...

Meus olhos focaram em Demétri. Ele estava mesmo de tirar o fôlego. E em cima de um palco, ficava ainda mais atraente. Todos estavam deslumbrantes, até mesmo a paulista. Quando se é guitarrista, a responsabilidade é maior. Guitarra é a amiga íntima do vocalista, e a união das duas tem que ser sempre perfeita.

Lennon esticou o microfone para o público, que cantou com animação.

Era inegável a presença de palco deles. Olhei meu celular com um pouco de amargura. Eu não ia desistir do meu plano, só que vendo Demétri ali, tão conectado a sua banda, levei um choque de realidade.

Eu ia estragar uma relação perfeita. Fitei Isabel e Lennon novamente. Eles eram bonitos juntos, bonitos como eu e Demétri fomos no passado, e seríamos hoje se tivéssemos a possibilidade de namorarmos. Eu sabia que isso só dependia de mim, mas não conseguia me livrar da necessidade de vingança.

- Meu voto é da banda deles, sem dúvidas. – Eu precisei ouvir a voz da guria ao meu lado pra voltar à realidade. A Fratternity já tinha saído do palco.

Sai da multidão que esperava ansiosa a entrada da próxima banda e segui para o estacionamento do Concurso. Pelo caminho, eu era atingida por lembranças de minha briga com Demétri.

“Tu tinhas que se tornar um pouco mais humana, talvez com isso tu aprenda que a vida não gira em torno de ti.”

- Talvez com isso tu aprenda que a vida não gira em torno de ti. – Repeti, sabendo que seria incapaz de esquecer a frase. – Que a vida não gira em torno de ti. – Baixei a cabeça ao me encostar no capô do meu carro. Era grande a vontade de chorar que eu tinha sempre que me lembrava dessa briga. Talvez Demétri estivesse certo com essas suas palavras. Talvez.

- Bruna?!

Ao ouvir a voz de Lennon, me recompus e virei-me lentamente para olha-lo, dei meu melhor sorriso a eles. Não dava mais pra voltar atrás. E honestamente? Eu nem quero.

- Olá!

Demétri Scholz

- Oi, que surpresa tu aqui. – Lennon disse a Bruna, que claro, estava prestes a acabar com o namoro dele. E ele ainda fala de surpresa. Meu Deus.

- Bah, vim prestigiar vocês. – Ela me olhou rapidamente, eu precisava para-la. – Primeiramente, parabéns pela apresentação, foi linda!!

- Obrigado.

- Bruna. – Eu a chamei, mas ela fingiu não me ouvir e se aproximou de Isabel.

- Isabel... Porque tu convidaste a sua mãe para vir ao seu show?

Todos olhamos a paulista entre nós. Até onde eu sei, a mãe de Isabel morreu. De instantâneo, ela empalideceu.

- Bruna, a mãe dela faleceu. – Lennon disse em censura.

- Faleceu? – Bruna pôs a mão na boca, fingindo surpresa. Eu fitei Isabel, acho que só ela sabia que Bruna ia aprontar algo. – Oh! Estou surpresa

- O que tu quer? – Perguntou Lucas, seco. – Temos que ir embora, Merten.

- Não sei... Achei que vocês gostariam de ver essa mensagem tão bonita.

No momento em que ela mexeu em sua bolsa eu a envolvi num aperto que resultou em eu empurrando-a pra trás, numa esperança idiota de fazê-la parar.

- Dá pra tu parar? – Eu perguntei, num sussurro audível.

- Me solta! – Ela tentava se afastar, mas sem sucesso. – Eu disse que acabaria com a alegria deles dois.

- Pra que isso? Tu não vai ficar feliz, não vai mudar o que eles te fizeram.

Bruna revirou os olhos.

- Como eu admiro esse seu jeito de bom moço. Só que para! Isso só fode contigo. Olha ai um exemplo. Tu não tem uma magoazinha deles dois?

- Não, Bruna. Graças a Deus sou livre de tal sentimento. E nesse momento, eu to mais preocupado é com outra coisa.

- E com o que seria?

- É contigo.

Ela ficou em silêncio.

- Vai embora... Por favor. – Pedi, no tom mais ameno que consegui.

- Não dá. Tu sabes que eu não consigo.

Eu balancei a cabeça em um sim, pois era mesmo verdade. Se ela não fizesse isso agora, faria outra hora. Sempre há tempo pra Bruna.

- Eu gostaria de entender o que tá acontecendo... – Lennon murmurou, confuso.

- EU EXPLICO O QUE TÁ ACONTECENDO! – Bruna foi até ele e lhe entregou seu celular.

- Pra que isso? – Perguntou ele, sem imaginar que ali poderia estar o fim de seu relacionamento com Isabel.

- Aperte o play, Lennon. – Ela olhou as unhas, distraída. Eu nunca quis tanto matar alguém como eu quero mata-la.

Uma voz feminina soou através do celular.

“AQUI É A MÃE DA ISABEL, ELA FUGIU DE CASA SÓ DEIXANDO UMA CARTA E ALGUMAS ROUPAS! EU DESTRUÍ AS COISAS DELA, NÃO QUERO MAIS AQUELA MENINA COMO FILHA! ERA UMA GAROTA IMPRESTÁVEL, SÓ SABIA RECLAMAR E ME AFRONTAR! EU ESTOU COM PROBLEMAS DE PRESSÃO POR CAUSA DELA, TENHO INSÔNIA E VERGONHA, VERGONHA POR TER DADO VIDA A ESSA MENINA!”

A minha surpresa com aquelas palavras tão ríspida, fora enorme. Todos, menos Bruna (que olhava sua unha, despreocupada) e Isabel (pálida e quase tendo um troço) estavam sem saber o que dizer, o que nos restou, foi olhar a paulista ali presente.

- Como tu descobriu? – Perguntou Lennon, num tom que não dava pra saber o que ele realmente estava sentindo.

- Ah, meu amor. – Bruna revirou os olhos pra ele. – Facebook, né? Ela está pra completar 19 anos. Ou seja, Lennon. Tu não conhece nem metade da vida dessa guria aí. – E olhou Isabel com nojo.

- Obrigado, Bruna. Um choque de realidade é sempre bom. – Desde que tudo acontecerá, essa foi à primeira vez que senti pena de Lennon. Tudo bem, eu sei que ele não merece, mas esse cara é praticamente meu irmão – Dispenso explicações porque no fundo, no fundo MESMO, eu sabia que tinha algo de errado contigo.

- Lennon, vamos conversar... – Isabel pediu, quase chorando.

- Qual é a parte do “dispenso explicações” que não entrou na tua mente? – Era melhor ela não ter pedido isso. Não agora. Ele precisa de um tempo. - Vamos, Lucas. – Lucas, surpreendendo a todos e inclusive ao próprio Lennon, ficou ao lado de Isabel. – Ah, claro. Isso era de se esperar também.

E sem dizer mais nada, Lennon saiu. Acho que ninguém conseguiu ter uma reação decente. Bruna tinha sido certeira em sua vingança. E antes de sair, ela me lançou um olhar satisfeito.

Me aguarde, Bruna. Me aguarde.

- Vocês podem ficar lá em casa. Hoje, com certeza, Lennon não deixará vocês dois entrarem em casa. – Eu sugeri, sem saber se isso era mesmo certo.

Vi de coração partido Isabel baixar a cabeça e chorar. Com isso eu deixei pra lá todas as minhas mágoas em relação a ela e abri meus braços, chamando-a para um abraço. Quando percebeu isso seu choro aumentou um pouco mais, a ponto de manchar a blusa que eu usava. Lucas veio até nós e o abraço foi triplo. Ficamos um longo tempo ali em um silêncio necessário. Ás vezes o silêncio é o melhor remédio.

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Gente????? A música obviamente não pertence a mim, é da digna da Pitty né. Eu só usei o útil ao agradável utilizando a música dela na minha história.

Beijosssssssss :3

Tamiris Vitória
Enviado por Tamiris Vitória em 17/03/2013
Reeditado em 22/05/2017
Código do texto: T4193460
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