Nas profundezas de uma vida (nada) normal - Capítulo 11

Nas profundezas de uma vida (nada) normal

Capítulo 11 - Ilusionista

- E quem são "eles"? - olhei para cima e lá estava o cara fantasma me olhando de cima para baixo. Literalmente. Já que ele estava flutuando a cima de mim. A cada movimento dele um calafrio se passava pela minha espinha.

"O grupo com quem a bruxa da sua tia trabalha todo halloween... Acredite em mim, menina. Porque você sabe que se tentar sair daqui as coisas vão ser piores. Veja pelo lado bom... Você tem absolutamente tudo aqui, e sabe qual é a melhor parte? A casa aqui decide como ela vai ser, por isso nunca, nenhum dos cômodos serão como você os viu da primeira vez, então você nunca vai ficar entediada."

- Não chama a minha tia de bruxa! Eu sei que ela não é assim!

"Uma menina tão jovem... Tão ingrata! Estou salvando a sua vida e você aqui preferindo morrer... Quem entende as mulheres?..."

- A minha tia não vai me matar! E mesmo se essa coisa que você disse fosse verdade de alguém ter que morrer pra um nascer! Ela mataria outra pessoa por mim! Tenho certeza!

"Achei que as loiras fossem as mais burras, mas percebi que ruivas também podem ser... Faz o que você quiser, mas depois não me venha pedir essa casa para assombrar."

De repente o frio sumiu, e junto dele, o homem fantasma. Era estranho. Há alguns minutos atrás ele estava me forçando a acreditar nele e agora ele me deixa em paz e vai embora como se dissesse "tanto faz". Nos primeiros segundos eu não conseguia me mover, como se uma corda invisível me envolvesse, mas logo depois recuperei o movimento. E claro a primeira coisa que se passou na minha cabeça "CORRE!!".

Eu me lembrava que havia uma orquestra no salão de entrada, mas estava escuro a ponto de eu não saber o que havia depois do campo de iluminação do fogo fraco da lareira. Sobre a decoração, o tal Cassion tinha razão, a casa escolhia como seus cômodos iriam ser, parecia até que ela estava viva... E aquela hora só havia poucas coisas o sofá vermelho, a lareira e os quadros dos provavelmente ex moradores da casa viva;

Meu coração estava acelerado. Eu podia já não sentir medo (do tipo pânico) de escuro, mas quando a gente não consegue ver nada o que está a nossa frente procurando por algo que a gente nem sabe se vai encontrar já dá um certo nervosismo, principalmente quando se trata de encontrar uma saída. A luz no fim do túnel. Só que eu tinha medo de que a "luz" do fim daquele túnel não fosse de um trêm que estava acabando de chegar...

Com a pulsação alta, a respiração dificultada, o frio me perseguindo e o medo do que encarar pela frente, dei meu primeiro passo. Vi que não havia nada e continuei correndo o mais rápido dali, desesperada e quase gritando, tentando achar a porta. "Mari você não é fraca... Você sabe que para viver a vida precisa passar pelos obstáculos" eu mesma pensei.

Respirei novamente querendo puxar todo aquele ar gelado. Meu corpo se arrepiou todo. Aquele cara tinha que estar errado. Eu ia abrir aquela porta, sair daquela casa e nunca mais voltar. E minha tia continuaria a mesma e eu não iria me matar. Não mesmo.

Enxerguei uma sombra a minha frente. No começo imaginei que fosse imaginação minha, mas contando aonde eu estava, nada que eu pudesse imaginar seria bom. Mas essa sombra não era um vulto. Não se mexia. Minha mente mandou meu braço tocar a coisa na minha frente. Algo liso que se parecia com madeira todcou a ponta dos meus dedos. "A Porta!" Eu pensei.

Eu pulei de alegria e girei a maçaneta da porta. Estava destrancada para minha surpresa. Mas antes que o trinco pudesse se abrir com aquele barulho alto, eu ouvi uma voz. Uma voz que eu reconheceria em qualquer lugar, mesmo que debaixo d'água.

- Erik? - eu olhei para trás na mesma hora e minha mão escorregou da maçaneta.

Uma luz forte se acendeu sobre o teto, como se fossem holofordes. Eu tive que piscar várias vezes os meus olhos para poder enxergar.

- Oi Mari... - eu o vi humano, com pernas e tudo mais. Falando normalmente. Andando na minha direção. Era o Erik, só que ele estava meio esquisito. Eu sabia que era ele, mas era como se não fosse...

- O que v-você? E-Erik? Por que você... Mentiu pra mim? Por que você disse que não podia se transformar?

- Mari, eu quis obedecer a sua mãe, Mari...

- E o que você está fazendo aqui?? V-Você não estava no mar? Na sua cabana?

- Mari... Você não pode sair daqui, por favor... Entenda... Olha minha família e a sua estão mais ligadas do que você pensa... E-Eu e você vamos morrer se não ficarmos aqui. Eu saí do mar direto para cá. Hoje é dia das bruxas...

- O que?? Erik sobre o que você tá falando? Você...

Ele não me respondeu. Ao invés disse me beijou como se fosse a última vez em que fossemos nos ver na vida. E eu não consegui fazer absolutamente nada enquanto isso. Pura idiotice.

- Adoro quando você se joga assim pra mim, gata. Ou... Sereia quero dizer...

- O que???

Quando o olhei de novo já não sabia mais a que ponto minha loucura tinha chegado. Eu gritei e quase desmaiei. Não era mais Erik quem estava na minha frente e sim Lipe. O cara de água doce que só queria "ficar" comigo. Apesar de que aquelas coisas que ele tinha me respondido antes era só o Erik quem sabia. Se aquilo fosse um truque idiota... E se... Todo mundo soubesse desse segredo entre a minha mãe e o meu melhor amigo? Só eu que não sabia de nada?

- Que foi, Mari? Não gostou de me ver? Poxa você tava tão animada com o beijo e correspondendo como se fosse morrer no próximo segundo... Por acaso eu não ser o seu amiguinho estúpido te deixou triste?

- Lipe... Como você? O que... Eu... Não sei o que tá acontecendo.

...

"Marina Coral?" - Só deu tempo ouvir uma voz melódica chamar meu nome e quando abri os olhos estava em um lugar branco vestindo um vestido branco esvoaçante. O homem fantasma da casa olhava para mim com aqueles olhos sem expressão. Tudo esta tão perfeito que só havia duas palavras que rondavam a minha cabeça.

- Eu morri?

Ele riu como se isso fosse uma piada.

"Ainda não... Mas eu te avisei de vários jeitos que é melhor pra você ficar aqui, porque se você tentar sair de novo... As coisas podem ser bem piores do que um simples desmaio...".

Bec
Enviado por Bec em 03/03/2013
Reeditado em 19/06/2014
Código do texto: T4170174
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