UM GAROTO, UMA FOTO E UMA ROUPA - memória de família - anos 1960 e 1970.

Prof. João Bosco – 01/03/13

Recentemente, assistindo ao filme Dezember boy s, traduzido por Um verão para toda vida, identifiquei-me ao modo de vestir dos quatro meninos deste filme. Destacam-se: simplicidade nos trajes masculinos, tipos e cores não berrantes, calção e camisa leves. O rapaz da moto com jaqueta ou blusão de couro lembrava meu pai. O vestido colorido das meninas e mulheres era comum naquela época. Hoje esse tipo está de volta nas vitrines de lojas.

Sinto um pouco de saudade e viajo no tempo quando olho as fotos de álbum de família nos anos 1960. Tenho uma foto com meu irmão no quintal de minha vó. Nós dois com caminha de cor, short e botas, posando para a câmara. A foto é em preto e branco. Puxa! Como éramos! Como mudamos! Como vestíamos. Sim, as retrospectivas nos permitem não só o sentimento de saudade, mas ainda a investigação ou um curioso olhar sobre o modo de vida das pessoas, a cidade, o interior, enfim, os gostos e maneiras de vestir. Envelhecemos aos poucos e o mundo vai se arranjando em novos formatos e configurações de viver e vestir.

Se olharmos as pinturas medievais, os meninos são representados por rostos e corpos de adultos. Durante muito tempo, a roupa indica a grupo social a que o individuo está inserido.

Há um livro sobre a história do vestuário : trata-se de mostrar como cada época tem um jeito próprio de se vestir. Quando vivemos nosso tempo, perdemos a noção de como era antes de nós. Nem sempre as pessoas vestem do mesmo modo e igual. A roupa é uma invenção da cultura e representa poder e status, ou submissão ou trabalho.

As roupas de um garoto do século XX, no interior de Minas Gerais, são adquiridas em lojas e algumas outras podem ser feitas em casa pela mãe. Minha mãe, várias vezes, Fez meus shorts e camisas de escola em máquina Singer.

Embora minha família fosse de muitos irmãos, minha mãe arranjava tempo para confeccionar nossas roupas. Ela tinha orgulho de nos ver apresentáveis para as festas e a vida social ou escolar.

Sempre as irmãs demandavam mais tempo e dinheiro para a escolha de roupas apropriadas; não havia ainda a pressão da cultura teen como é hoje. Geralmente, a televisão e a propaganda começava seu assédio à garotada feminina, principalmente, com a boneca Barbie nos anos 1960 e 1970.

Os garotos novos se espelhavam no comportamento dos irmãos mais velhos e os jovens formavam grupos de jovens em igrejas, gangues de rua... Tanto garotos como adolescente ouviam Bee Gees , uma banda de três irmãos deslocados para a Inglaterra. Estes fizeram sucesso a partir de 1966. Era chique ter discos deles em vinil.

Lembro as botinhas, as camisas xadrez (aquelas tão usadas em festa juninas, e o visual é aquele do filme Gatinhas e gatões ), as blusas de lã, os blusões pretos de couro, as gravata borboletas para festas e cerimônias religiosas, as congas (tênis emborrachado da época), o suspensório e o cabelo com brilhantina à moda de Elvis, dos Stones e de outras bandas de sucesso daquelas épocas em que o Brasil vivia os anos de chumbo da Ditadura militar. Os meninos eram fotografados como estátuas e sérios, porque não se adotavam as risadas, gestos descontraídos com dedos e bonés colocados de modo irreverente (já usados naquela época, mas sem uso massificado como hoje).

O Brasil entrava na Copa do mundo como país do Futebol, baixo alfabetismo, transamazônica, ditadura, carestia a cada dia, a Tevê Tupi apresentava os primeiros programas de crianças.

Os Estados Unidos investiam na América Latina como grande mercado de consume de seus produtos como eletrodoméstico, televisão, geladeira, principalmente o jeans. Eram comuns os filmes com atores famosos da garotada e a jovem guarda com Erasmo e Roberto Carlos conquistava seus primeiros fãs. Não faltava o júri do programa de Televisão Flávio Cavalcante lançando os cantores mais queridos do Brasil como Vanderleia, Elis Regina, Gal Costa, Maria Betânia, os jovens da Tropicália como Gil e Caetano logo a seguir. Geraldo Vandré ficou famoso com “Caminhando e seguindo a canção...” contra o regime militar.

Era a época da calça de sino, muito comum entre os jovens e estudantes no Brasil. J. Lenon era o modelo de um comportamento de adesão contra as guerras e a busca pela paz no mundo. Logo depois, é assassinado.

Os adolescentes tinham sua inspiração e modelo de imitação os Beatles,

Nos anos 1990, os Mamonas Assassinas já representam um modo irreverente e uma inserção no mundo dos fãs como um deboche, ironicamente, mais engraçado e os problemas da juventude são tematizados de modo criativo como o fenômeno midiático coletivamente que renderam muito dinheiro às empresas e familiares de conjuntos musicais ou de Rock no Brasil.

Com o tempo, a roupa dos garotos e meninas começou a se espelhar mais e mais em atores e cantores famosos. Elas indicariam a classe social ou a condição econômica dos pais das crianças. A roupa estaria, infalivelmente, reproduzindo demandas das mídias e/ou a circulação da moda um jeito de estar no mundo ou ironizar a sociedade ou a ideologia. Aos poucos, os jovens assumiriam figurinos arrojados e ousados conforme seu pertencimento a determinado grupo, lugar, escola, faculdade, igreja, gêneros, ONGs, etc.

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Notas de rodapé:

1. “December Boys (br: Um Verão para Toda Vida; Os Rapazes de Dezembro é um filme australiano dirigido por Rod Hardy e escrito porMarc Rosenberg adaptado do livro de mesmo nome de Michael Noonan. Baseado no clássico romance de Michael Noonan, Um Verão Para Toda Vida é a história de quatro adolescentes órfãos que crescem enclausurados em um convento católico no deserto da Austrália nos anos 1960. Cada vez mais, eles veem crianças menores sendo adotadas por famílias adoráveis (...). Os laços de amizade acabam superando as rivalidades, selando de uma vez por todas as fortes amarras que sempre ataram os garotos de dezembro, fazendo-os descobrir o verdadeiro sentido de amizade, famí¬lia e amor.” http://pt.wikipedia.org/wiki/December_Boys. Acesso em 03/03/13, às 09:57.

2. HISTÓRIA DO VESTUÁRIO. Autor: KÖHLER, CARL, Tradutor: CAMARGO, JEFFERSON LUIZ, Editora: WMF MARTINS FONTES, Assunto: MODA E BELEZA. http://www.livrariacultura.com.br/Produto/LIVRO/HISTORIA-DO-VESTUARIO/2775086?idLink=8102&estat_id=14782&gclid=CO2wkMby3LUCFQ-7zAodPigAMQ. Acesso em 01/03/13, às 22:41.

3. http://pt.wikipedia.org/wiki/Bee_Gees. Acesso em 01/03/2013, às 21:39. “O Hall da Fama do Rock and Roll diz em uma citação: Somente Elvis Presley, The Beatles, Michael Jackson, Garth Brooks e Paul McCartney superam os Bee Gees em recordes e vendas".”Os Bee Gees, é uma das bandas que mais arrecadaram na história da música, e são considerados por grande parte da crítica musical, a segunda maior banda da história pelo conjunto de sua obra (composições, produções e gravações), perdendo apenas para os Beatles.”

4. Sexteen Candles: Samantha Baker, uma adolescente que está completando 16 anos, sonha em namorar um colega que infelizmente namora uma linda jovem. Além disso, em virtude do casamento de sua irmã mais velha seu aniversário é, totalmente, esquecido...” http://orientacaopsicologica.com/2011/07/19/melhores-filmes-da-decada-de-80-e-90/. Acesso em 01/03/13, às 22:31.

5. Grease – Nos tempos da Brilhantina. “Este filme é do fim dos anos 70, mas a história se passa nos EUA dos anos 50. Sucesso do gênero musical, com Olívia Newton John e John Travolta, o filme cansou de passar na Sessão da Tarde. A história é meio água com açúcar, contando, dançando e cantando o romance dos dois jovens.” http://orientacaopsicologica.com/2011/07/19/melhores-filmes-da-decada-de-80-e-90/. Acesso em 01/03/13, às 22:18.

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