[Original] Volver - Capítulo 3 (3x1)

Dessa vez os comentários serão aqui em cima por causa que há música no capítulo. Tem gente que gosta de Green Day, tem gente que não, a música é maravilhosa do começo ao fim, quem se sentir a vontade para ouvi-la, ouça, quem não quiser, não é obrigado.

Gente, se houver leitoras menores de idade que tem interesse em ler os capítulos restritos, podem me mandar e-mail pedindo o arquivo que eu envio sem o menor problema.

Espero que gostem!!

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Capítulo 3 - Brutal Love - Parte 1

Oh how you want it

You're begging for it

But you can't have it

Even if you try

It's in the clutches

In my hands of

This brutal love

(Green Day - Brutal Love)

Demétri Scholz

Na última hora Bruna resolveu que queria sair para qualquer canto, pois fazia tempo que não saia. Honestamente, eu preferia a privacidade da casa dela, mas é muito difícil ir contra suas vontades.

- Bah, deve ter algum filme legal em cartaz! – Dissera ela enquanto seguíamos para o seu carro. Com os trajes que ela vestia, era difícil prestar atenção no que falava. – Vamos!!!

Abençoado seja o calor sulista que obriga as gurias da cidade a usarem roupas leves, tais como vestido. Bruna estava linda demais com seu vestido rosa de alcinha.

- Vamos.

- Porque tá calado? – Perguntou, parando em frente à porta do carro.

- Tu não tens medo de que alguém nos veja?

Bruna arqueou a sobrancelha.

- Eu deveria, só que não.

Entramos em seu Uno Prata, que por dentro, claro, era completamente chamativo.

- Isso é errado. – Ela começou a dizer depois um longo tempo de silêncio. – Por mais que eu tenha um relacionamento que seja motivo de piada para todos, é um relacionamento.

- Eu sei... – A fitei por canto de olho e tive vontade de contar tudo o que eu sabia, mas eu sabia que não era a hora.

- Estou esperando o momento em que tu vai sair correndo. – Bruna sorriu com sarcasmo.

- Eu a mesma coisa.

- Mas é só sexo. – Me olhou procurando algum apoio no que dizia. Eu concordei sem saber se era só isso mesmo.

Balancei a cabeça em um sim. Essa foi à medida mais drástica que tomei para não ficar longe dela.

- Tu achas que não será capaz de não me trair se voltássemos?

Bruna arregalou os olhos castanhos.

- É uma situação hipotética, Bruna!

Ela então relaxou.

- Não vou te fazer sofrer como da última vez.

- Éramos adolescente, pelo o amor de Deus, tchê.

Flashs de meu namoro com Bruna repercutiam em minha mente como um filme. Logo acabei entrando nas memórias e as palavras dela ficavam em segundo plano.

(...)

"- Casamento na praia é bonito, Dê. – A adolescente Bruna Merten, deitou-se em cima do namorado sob a grama vivaz do parque principal de Porto Alegre. – Sério. Vi isso em algum filme, não lembro qual. Quero casar na praia.

- Tão romântico isso, não combina contigo. – Ela mostrou a língua pra ele. Em resposta, ganhou um longo selinho. – Porém... Será que nós vamos casar? Tu só sabe brigar comigo.

- Eu???????

- Sim. Tu.

Ela sabia que Demétri não estava errado, por isso não retrucara.

Os dois haviam assumido um relacionamento a pouquíssimo tempo, eram amigos, e não sabiam como a amizade desenvolvera para o amor. Bruna era nova na escola e Demétri fora o primeiro com quem ela conseguiu fazer amizade e também o único em quem confiava.

Por isso Bruna, em pouco tempo se tornara possessiva em relação ao amigo.

- E se nós não casarmos, seremos amantes ao menos. – O garoto dissera, brincalhão.

E Demétri não tinha noção do que o futuro planejava a esses dois jovens."

(...)

- A próxima vez que eu estiver falando contigo e tu ficar com essa cara de paisagem eu irei te internar. – A voz de Bruna me trouxera a realidade. Nós estávamos no estacionamento do Shopping Bourbon.

- Desculpe.

- O que estava pensando?

- Era besteira.

- Se era em mim não era besteira. – Sorriu metida. – Vem...

Saímos do carro e Bruna pegou em minha mão.

- Se é pra fazer a cena, que seja bonita.

(...)

- Tu está de brincadeira! – Exclamei ao ver que ela escolhera um desenho para assistirmos. – Bruna... Desenho??

- É fofo.

A fila (única e) vazia de entrada era uma resposta clara que a animação devia ser uma bela porcaria.

Compramos pipoca e duas garrafas de refrigerante e seguimos para a sala 8, do filme – “Arabela na terra do Nunca”. Juro por Deus que nunca entrei numa sala tão vazia como essa.

Com muito esforço avistei um casal de idosos, mas, a mulher bateu com a bolsa na cabeça do marido e os dois saíram.

Encarei Bruna esperando que ela desistisse de assistir o filme, mas não. O sorriso enorme que ela deu respondia a tudo.

Ficamos na última fileira. Olhei para o lado esperando que alguém de repente aparecesse. Não é possível uma sala tão vazia.

- Bah, quanta gente. Manda o cara ali da frente se calar, Bru. – Ironizei, olhando-a de canto. Bruna me beliscou. – Ai.

- Adoro filme que todo mundo odeia ou não da muita atenção.

- Percebi, mas não tinha um menos pior que esse?

- Menos pior? – Ela franziu o cenho.

- Aham, esse é tão ruim que se tiver um pior é MENOS PIOR que esse.

- Demétri, fica caladinho pra eu gostar um pouco de ti. – Deu dois tapinhas em meu rosto e se concentrou na telona.

Eu afundei na poltrona e fechei os olhos. Se eu imaginasse que Bruna me traria pra assistir esse filme teria fugido para o ensaio. Abri os olhos novamente e observei minha ex-namorada sorrir igual criança com o filme. Assoprei em seu ouvido e ela me olhou.

- O que foi? - Perguntou, amorosamente. Eu senti aquele negócio estranho no peito com ela sorrindo toda querida. Meu coração disparou e eu achei que fosse ter um troço, mas exageros a parte, Bruna estava me devolvendo sensações que só ela conseguira me dar. Puxei seu queixo e a beijei carinhosamente, o braço da poltrona atrapalhando minhas ações. Eu já estava quase resolvendo o assunto, mas o celular fez um bip de SMS recebida. Tirei o celular do bolso da blusa. Bruna voltou a dar atenção ao filme

“Cadê tu?”

Era o Lennon. Estou atrasado para o ensaio, mas isso não é nada com o que eu tenha que me preocupar.

Irônico demais eu estar com a noiva dele e ele com a guria que eu pagava paixão.

“Estou na casa do meu tio, vou demorar um pouco, talvez eu não vá, mas fique em paz, sei o que fazer amanha.”– Não me importei em estar mentindo. Na verdade, me dava até uma sensação de vingança fazer isso. Enviei a SMS e guardei novamente o celular.

Preciso tornar esse passeio mais animado. Quando Bruna descobrir que omiti o fato de Lennon estar com outra ela vai me picotar (além, claro de que vamos brigar feio, ela não vai mais querer me ver, irá me odiar e etc, etc e etc), por dentro de uma mala e jogar ao rio mais próximo que achar.

- Bruna.

- Shhhhiu.

- Não, Bru... – Toquei o ombro dela. Eu sabia que estava sendo meio desesperado, mas de repente percebi que qualquer momento ao lado dela tinha de ser bem aproveitado.

- Ai, fica quieto, Dê. – Bruna tirou minha mão de seu ombro.

Desisto, mas só por enquanto.

Resolvi assistir a merda do filme, só que ver criança em floresta me dava sono, então não demorou muito e meus olhos estavam pesando... Pesando... E eu me deixei vencer pelo sono, resultado do tédio.

Bruna Merten

- Demétri. – Cutuquei o cretino que dormia tranquilamente ao meu lado. Levantei o braço da poltrona e mexi no nariz dele. Ele não se abalou. – Bah, tá igual ao Lennon.

O negócio é apelar.

Rocei meus lábios nos dele e depois chupei seu lábio inferior, ele abriu os olhos e eu me afastei. Demétri que de bobo não tem nada, me puxou novamente.

- Para. – Eu sussurrei, mesmo sabendo que não tinha mais ninguém na sala. – Tu é tão... – Belisquei sua barriga e tentei empurra-lo. Só que estou com um guri que é bem mais forte que eu, naturalmente isso não o abalou. – Desgraçado... - Demétri segurou minhas mãos e eu me deixei levar por ele.

Como resistir a esse homem? Meu Deus, não há remédio que me cure do desejo que eu sinto toda vez que estou perto dele.

- Vamos contar isso aos nossos netos. – Disse, quando eu já sentada em seu colo. Meus joelhos estavam em cima das poltronas. Demétri me segurou pelas costas. Eu estava respirando ofegantemente. – Nós dois juntos com uma penca de guri tudo com camisa azul, do nosso grêmio.

Meu coração disparou com suas palavras. Era imaginável nos ver juntos com nossos guris e uma família linda.

- Nosso guri torcendo contigo em dia de jogo. – Eu completei, entrando no momento. Segurei o rosto dele com carinho. – Capaz que puxe tua beleza.

- Se puxar a ti eu fico satisfeito. – Encostei minha testa a dele. Nossas respirações se uniram.

- Eu... - Comecei a dizer, só que eu não sabia se era mesmo aquilo que eu devia dizer. Toda vez que eu quero dizer o que se passa dentro de mim, eu falho. Me dá medo. É isso, medo.

- Tu? – Ele esperava que eu dissesse o que eu não iria dizer. Beijei-o novamente e coloquei as mãos deles sob minha cintura. Ele baixou uma alça e depositou um beijo em meu ombro. – Fala...

Ele queria ouvir aquilo, mas eu não podia dizer. Com o pouco juízo que me sobrara, me joguei pra poltrona ao lado, ofegando.

- Temos que ir embora. – Eu disse me recompondo e ficando de pé. Demétri franziu o cenho, confuso.

(...)

Demétri Scholz.

- Dá pra tu parar e falar comigo? – Bruna andava em passos rápidos até seu carro. Eu estava atrás dela, irritado com seu humor inconstante. – Droga, Bruna!

- TU NÃO ENTENDE NÉ, NÃO VOU TE MAGOAR, EU NÃO VOU ME ENVOLVER CONTIGO NOVAMENTE!

- Já estamos envolvidos. – Ela mordeu o lábio e baixou a cabeça. Acho que pela primeira vez em minha vida, verei Bruna chorar. – Para com isso.

- Eu não sou boa pra ti.

Eu não podia imaginar que Bruna havia se traumatizado tanto por me fazer sofrer na adolescência.

- Acho que isso quem decide sou eu.

- Não. – Tentei me aproximar, mas ela deu um passo pra trás. – Eu estou noiva.

Seu argumento me fez revirar os olhos.

- Claro. – Murmurei sarcástico. – Está certíssima. - Balancei a cabeça e fiz uma expressão bem debochado. - Vamos embora, tu pode me deixar em casa? Ou seu noivo não permite?

- Eu te deixo em casa.

A viagem de carro foi extremamente silenciosa. Quis argumentar com Bruna, dizer qualquer coisa que a fizesse mudar de ideia, mas as palavras pareciam não se formar.

- Bruna.

Ela entrou em uma rua que não era caminho de minha casa e sim da sua. Chamei seu nome pela segunda vez e não tive respostas. Talvez ela não quisesse me deixar.

Ao estacionar em frente ao seu apartamento, Bruna finalmente me olhou.

- Quando eu terminei contigo pra ficar com o Lennon o que tu pensou?

Eu não queria entrar nesse assunto, mas a forma com o que ela me olhava foi perturbadora.

- Pensei que era algo previsível, eu via que o que tu fazia e não impedia, não fiz isso porque no fundo queria que tu se tocasse sozinha.

- E eu não me toquei. Não me toquei porque simplesmente eu não me importava. – Suas palavras me abalaram, mas tentei não demonstrar. O celular dela tocou, só que Bruna continuou falando sobre o dia em que terminamos. Só depois quando percebera que o chamado não acabava, ela atendeu. – Alô. Rose? Que Rose??

“Rose?” – Murmurei baixo. Se essa for a Rose que eu to pensando...

- Ah sim, a namorada do Emerson. Como tu descobriu meu número? – Ela abriu a porta do carro, eu fiz o mesmo. - Ah... Eu não costumo atender ligações em desconhecido, nunca se sabe a maldade do outro lado da linha.

Eu observava suas expressões e ouvia atentamente a conversa.

- Quer falar do Lennon? Hum... – Bruna me fitou. Eu tentei não demonstrar reação. - Tu ligas em casa então. Estou na rua. Tchau!

Ao finalizar a ligação, guardou o celular no bolso.

- O que a namorada do Emerson poderia querer comigo? – Perguntou, me olhando. Isso tá me preocupando e eu nem sei o motivo.

- Sei lá, nem imaginava que vocês eram amigas.

- Amigas não... Conversamos algumas vezes quando Lennon me levava na casa do Emerson.

- Ah... – Eu balancei a cabeça, assentindo. – E ela quer falar contigo sobre o Leite... Tu não imagina sobre o que??

Um pressentimento ruim me passou pela cabeça, tentei ignorar, mas não consegui.

- Não tenho a mínima ideia. – Respondeu sincera.

- Ah... – Bruna franziu o cenho, eu sabia que estava agindo estranho. – Hã... Vou embora.

- Por quê?

Porque algo me diz que tu vai descobrir o segredinho do seu noivo e eu não quero estar perto quando isso acontecer.

- Ué. - Tentei pensar em alguma resposta rápida pra poder sair dali. - Tu vai querer falar a sós com a Rose né? E Bruna... Alguns minutos atrás parecia que o nosso “rolo” ia terminar.

- E tu quer que termine?

Como foi que de repente essa decisão se voltou pra mim?

- Sim, quer dizer... Não. – Eu estava confuso. Se Rose contar algo de Isabel e Lennon, Bruna não vai querer me ver tão cedo, talvez seja melhor adiantar as coisas.

- Sim ou não? – Pressionou ela, cruzando os braços, impaciente.

- Não. – Bruna sorriu e me puxou para si.

- Nem eu quero isso. - Ela tocou meu rosto e sorriu carinhosamente. – Nem sei se consigo.

- Tu quer sim. – Retruquei, com a intenção de fazê-la me odiar antes da hora. Mas, Bruna riu. Porra, porque ela é sempre do contra?

- Se eu quisesse não teria te trazido pra minha casa. Raciocina idiota!

- Me sinto usado. – Retruquei, fazendo manha. Bruna riu alto. – É sério.

- Perdão se eu firo o seu ego. – Ela se afastou, erguendo as mãos para o alto. Eu a puxei novamente. – Tu é muito cretino.

- Tu é louca por mim.

Ela revirou os olhos, só que não retrucou.

- Quando namorávamos tu não era exibido!

- Eu era idiota quando namorávamos.

- Era nada! – Bruna adquiriu um semblante pensativo. – Tu não mudou muito... Ainda tem aquela cara de moleque, os mesmos cachinhos, só que a personalidade... Bah! - Ela balançou a cabeça em reprovação.

- Sou lindo e tu me admira, assuma.

- Olha o ego. – Eu a beijei levemente.

De repente me deu vontade de tê-la sem nenhuma mentira ou omissão, apenas por que era algo que tinha que acontecer. Eu sabia que a minha história com ela tinha acabado sem um ponto final. Talvez por isso estejamos aqui depois de tanto tempo. Para ver se realmente vai acabar ou não.

- Vamos subir. – Pedi sussurrando em seu ouvido. Ela beijou meu pescoço e depois meus lábios. Eu segurei seu rosto, os olhos dela tinham um brilho sensual. Meu coração repentinamente se acelerou com a visão. Era ridiculamente inevitável ficar assim por ela.

- Vamos.

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Capítulo 3 – Brutal Love – Parte 2

Bruna Merten

- Ai. – Demétri me empurrou contra minha cama e sorriu maldoso. – Tá bruto hoje, hein?

- Estranho é que tu gostava de um carinho mais selvagem.

- Eu gosto, mas tu costumavas ser delicado.

- Sou um gentleman.

- Com as tuas gurias vadias. – Ele riu. – Não ri.

- Tá com ciúmes, Bru? – E baixou a alça do meu vestido. – Que bonitinho.

- Não tenho ciúmes.

- Não?

- Jamais.

- E cócegas?

Eu arregalei os olhos.

- NÃÃÃO! – Demétri começou a fazer cosquinha na minha barriga. – PARAAAAAAAA!!!

- Paro quando tu assumir que tem ciúmes de mim.

- NÃO DEMETRI!!!!! – Ele desceu e passou as cocegas pro meu pé. – TÁ, EU TENHO CIÚMES DE TI.

- Muito??

- MUUUITO. – E Demétri finalmente parou com a sessão tortura.

- Eu já sabia. – E me beijou, eu ainda tentei empurra-lo, mas a força do corpo dele me impediu.

Seu nariz passou em meu pescoço e ele me beijou com um pouco mais de fervor, chupava a pele, fazendo-me gemer rouco. Demétri ajeitou suas pernas de modo que eu sentia sua excitação encostar em mim.

Eu já tinha me esquecido totalmente da ligação de Rose, quando, o telefone da sala tocou.

Demétri não me soltou.

- Espera.

- Não!

- É rápido. Eu não dou muita ousadia a ela.

Com um pouco de resistência ele me soltou. Corri até a sala e atendi ao telefone.

“Alô.”

“Oi Bruna, sou eu, Rose.”

Jura??

“Sim. O que tu queres?”

“Tu ainda estais com o Lennon, não é?”

Suspirei.

“Sim.”

“Bom, acho que tu deves saber que por esses tempos, ele passeia com aquela guria de São Paulo e de mãos dadas.”

Eu fiquei em silêncio. Por mais que meu compromisso com o Lennon fosse uma merda, aquela noticia tinha me pego de surpresa.

“Isabel?”

“Sim, essa. Teve um dia que eu fui jantar na casa do Lennon, eles pareciam um casal, tipo, eles são um casal, ele nem estava mais com a aliança.”

Senti minha cabeça latejar com as palavras dela. Olhei pra trás e vi Demétri parado na porta. Seu semblante denunciava culpa.

“Isso faz quanto tempo, Rose?”

“Olha, faz um bom tempo. Antes de eu terminar com o Emerson, ele me contou que Demétri e o Leite brigaram por causa dela.”

Ela falou mais algumas coisas, mas eu não conseguia ouvir mais nada. Bati o telefone sem me despedir. Agora tudo fazia sentido. A briga de Demétri e sua resistência em me contar o motivo. A distância de Lennon e sua SMS recente querendo conversar comigo. A cara desconfiada daquela guria quando eu a vi pela primeira vez.

- TU SABIA DE TUDO! – Berrei, descontrolada. Eu queria chorar, gritar, bater nele. – SABIA E NÃO ME CONTOU!

- É.

O observei sair lentamente sem acreditar que ele estava mesmo fazendo aquilo. Ah, ele não vai me deixar sem respostas.

- NÃO! – Segurei a barra de sua camiseta. – PORQUE TU FIZESTE ISSO COMIGO?

- Tu tinhas que se tornar um pouco mais humana, talvez aprenda que a vida não gira em torno de ti.

Meu queixo caiu com suas palavras. A errada da história agora sou eu! Uma vagabunda paulista rouba meu noivo e a errada sou eu?

- É QUEM VOCÊ PENSA QUE É PRA DECIDIR ISSO? – fechei a porta com uma batida forte. Ele não vai sair até me dar uma resposta decente e um pedido de desculpas.

- Sou alguém mais humano que tu. – Eu não sei bem o que me irritava mais. Se era a indiferença com que ele me respondia ou a forma fria com que me olhava.

- Ohhhh! Perdão se eu não faço a linha “corno manso” que nem tu.

Demétri baixou a cabeça e eu o vi apertar os punhos. Peguei no ponto fraco dele, naturalmente.

- Me deixa ir embora, Bruna.

- NÃO! – Em descontrole, parti pra cima dele. – SEU FILHO DA PUTA, COMO TU TEVE CORAGEM? – Demétri tentava segurar minhas mãos.

- TUDO ISSO É POR CAUSA DOS CHIFRES OU É PORQUE OMITI DE TI? PORQUE SE FALARES PRA MIM QUE É POR CAUSA DO LENNON, É MENTIRA, TU NÃO AMA ELE. – Me lançou um olhar frio antes de continuar. – NEM ELE E NEM NINGUÉM.

Ele conseguiu segurar minhas mãos e me olhou esperando uma resposta. Surpreendentemente, eu estava sem respostas.

- Ah, não... – Acrescentou, agora num tom de voz normal, mas demasiado provocador e maldoso. – É porque perdeu pra uma paulista gostosa pra caralho... Não é? Doeu no ego.

Eu dei um tapa tão forte em seu rosto, que pude ver meus cinco dedos marcados em sua bochecha.

- SOME DAQUI. EU NÃO QUERO TE VER NUNCA MAIS!!!!!!! – Berrei, o empurrando com raiva. Quando fechei a porta, eu tremia por inteira, tentei controlar a vontade de chorar, mas fora inevitável. Às lágrimas desceram pelos meus olhos enquanto eu caia lentamente no chão.

Demétri tinha me magoado com suas palavras. Por mais que eu tentasse negar a mim mesma, ouvi-lo falar daquela forma comigo fora cruel demais. A verdade era sempre cruel demais.

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Capítulo 3 - Brutal Love – Parte 3

- Bru?? – Ouvi a voz de Eveline atrás de porta e não me movi. – Eu sei que tu estás aí, me deixa falar contigo mana!

- Não. – Respondi num sussurro de voz. – Vai embora, Eve.

- Eu não vou sair daqui até tu me explicar porque arranhou toda a cara do Demétri! – Saltei do chão e abri a porta. Eu conhecia Eveline suficientemente bem para saber que ela não sairia dali.

- Sou corna.

- Demétri te traiu??

Eu a fitei com um olhar gélido.

- EU TENHO ALGUM COMPROMISSO COM DEMÉTRI, EVELINE?

- Bah! – Exclamou, abrindo a boca em espanto. – Com quem o Lennon te traiu?

- Eu comentei contigo sobre aquela guria de São Paulo que estava morando na casa dele, né?

- Sim, a tal Isabel. Amiga do irmão de Lennon.

- Era mentira.

- Não creio!

- É. Lennon me deu um pé na bunda.

Minha irmã franziu o cenho.

- Tu não tá assim por conta dele. Quero saber o que aconteceu entre tu e o Demétri.

- Ele sabia de tudo e não me disse. E ainda por cima, disse umas coisas que... – Tentei repetir as palavras dele, mas eu não consegui. Eve me abraçou. – Eu não sei por que to chorando, Eveline.

- Está chorando porque tu o ama.

- Não... – Ela afagou meus cabelos e me olhou nos olhos.

- Sim, Bru. E não trate isso como um problema! – Demétri mentiu, só que tem algum motivo por trás disso.

- É, eu sei o motivo dele. – Retruquei, recordando a maldade em suas palavras. – Preciso ligar para o Lennon.

- Bah! Vai ligar para aquele nojento por quê?

- Vou fazer da vida daquela paulista um inferno.

- Bruna... – Ela ia me impedir, mas eu não desistiria.

Disquei os números de Lennon e sentei-me no sofá, com Eve ao meu lado. Fui atendida no primeiro toque.

- É bonito sair passeando com a paulista como se fossem um casal, não é?

“Eu estava mesmo querendo falar contigo.”

- Não mente pra mim. Tu estás com ela desde que eu voltei de viagem. Eu estou com tanto nojo e ódio de ti, Lennon!

Eu funguei tentando não chorar mais.

“Eu sinto muito por isso.”

- Liga o viva-voz, Bru. – Eve pediu e eu pressionei o botão do celular, colocando a ligação em alto falante.

- Tu sentirás muito quando eu fizer essa guria voltar para o estado dela, lugar que ela nunca deveria ter saído.

“Quem te contou? Foi a Rose, não é?”

Eve revirou os olhos azuis.

- É. Porque tu fez questão de sair exibindo seu novo troféu pelo bairro. Tu e essa guria não perdem por esperar.

Desliguei sem esperar resposta. Eve se encarregou de tirar a aliança do meu dedo. A primeira sensação que tive fora de liberdade e a segunda, a necessidade de me vingar.

Eu preciso pensar em um jeito em acabar com a felicidade do casalzinho.

- Tu precisa mesmo fazer isso? – Eve me fitou com preocupação.

- Sim. Preciso.

- Bruna...

- Eveline, desculpa se eu não tenho o seu bom coração.

Ela mordeu o lábio e deu um sorriso meio triste.

- É.

- Desculpa. Eu estou nervosa. – Segurei a mão de minha irmã com carinho.

- Tu tá certa. Pena que meu bom coração só me lascou. – Eu sabia do que ela estava falando, mas não quis aprofundar assunto. – Por favor, Bruna. Pensa bem se uma vingança a toa vai te fazer feliz.

- Talvez não. Só que eu preciso disso.

(...)

“É, tem algo de errado com ela. Emerson me falava isso, mas eu nem levava a sério.”

- Bah, eu percebi isso. Porém, não fiz comentários.

Ás 4:30 da manhã eu estava fazendo uma pesquisa no Facebook e também conversava com Rose pelo celular, ela me contara que Lennon e sua turminha foram para o concurso em Gramado e teriam como concorrente, a banda de Verônica. O que ajudava e muito. Imagino como Lennon e Demétri ficaram felizes ao saber o concorrente deles no concurso, ah, como eu imagino. Eu estava a 4 horas tentando achar com as poucas informações que eu tinha, o perfil de Isabel no facebook.

- Eu acho que ela foi expulsa de casa.

“É, deve ter feito alguma besteira. Peraí...” – Ela estava teclando bem rápido. “ACHEEEEEEEEEEEEEI!!!”

- O que??? Me manda pelo bate-papo!!

“Não poxa, é uma loja de sapatos lindos em Ipanema.”

Revirei os olhos.

- Ah tá.

Ficamos em silêncio, mas eis que a sorte se lança ao meu favor e eu encontro o perfil da guria paulista. Estava parado com uma última postagem dela feita a 1 mês e meio. Olhei os amigos. Ela não tinha muitos. Coitadinha. E também não tinha nenhum parente no facebook. Mas, voltando ao mural, havia uma publicação que até então passara despercebida por mim. Era de uma mulher chamada Renata Longhi. A publicação era a seguinte:

“Não importa o que aconteça, ou que nós façamos, falemos uma à outra. Você sempre será a minha filha e eu sua mãe.”

Bingo!

Tamiris Vitória
Enviado por Tamiris Vitória em 02/03/2013
Reeditado em 10/07/2022
Código do texto: T4168055
Classificação de conteúdo: seguro
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