Os Macacos, o Vagalume , e o Pássaro
No alto duma colina, numa noite
Plena d'escuridão, alguns macacos
Reuniram-se p'ra u'a conferência…
Avistaram ali um vagalume
Que passava bem próximo a eles.
Pensando que era fogo, os macacos
Juntaram muita lenha e puseram
Em cima do azarento e pobre inseto.
E depois começaram a soprá-la
E abaná-la co'as mãos, intensamente.
Em cima duma árvore, um pássaro
Vendo aquilo, gritou:—Não sejam tontos,
O que viram não é o que supõem…
Os macacos nenhum caso fizeram
Do aviso, nem sequer olharam para
A ave conselheira que tornou
A gritar, repetindo a mesma coisa.
Irritada, desceu p'ra junto deles,
A fim de castigá-los, seriamente.
Um homem que passava por ali,
Ao ver aquilo, disse à ave:—Não
Queiras te intrometer a corrigir
Ou avivar o que não se corrige
Nem se aviva, e nem a castigar
E ensinar a quem não toma emenda.
A pedra que não se pode cortar
Não é exp'rimentada com espadas,
E o pau que não se pode dobrar,
Ninguém tenta dobrá-lo! E por isso
Eu digo que quem tenta fazer tais
Coisas, acabará se arrependendo!
O pássaro, por sua vez, não quis
Dar ouvidos ao homem e insistiu
Co'os macacos que estavam empenhados
Em acender um fogo inexistente,
E nem sequer ouviam quem lhes falava!
A ave, furiosa, arremessou-se
Em cima dos macacos e um deles
Agarrou-a, tirando-lhe a vida.
Dá conselhos somente a quem os peça,
E com muito cuidado, ainda assim.
NOTA: Adaptação duma fábula do Panchatantra, em versos decas-
sílabos heróicos.