[Original] Volver - Capítulo 1

História escrita a lápis, lápis-borracha para tudo ser mais prático. Escrita de qualquer jeito, torta, em linhas invisíveis. Com um início de perder o fôlego, mas com um eterno três pontinhos num final que nem existe. Os três pontinhos são o que me matam, ponto final seria a dureza clara e o fim da história, três pontinhos são o que me matam.

Tati Bernardi

Capítulo 1 - O amor dá meia volta, volver.

Alguns meses atrás...

Demétri Scholz

Acordei cedo com uma ligação do meu celular. Olhei no visor e era o Lennon.

- Bah, o que é que tu quer? – Perguntei, brabo. Lennon sabe que não gosto que me liguem cedo.

“Preciso que tu venha aqui em casa, é urgente.”

- Ah, para! São 8h e estou de folga.

“Se eu to dizendo que é importante, é porque é mesmo importante.”

Pela urgência de suas palavras, senti que tinha algo a ver com Isabel.

- Estou indo... 15 minutos chego aí!

“Beleza.”

E Lennon finalizou a ligação. Estranho, muito estranho. Ele estava muito tenso e parecia nervoso. Me levantei com a maior preguiça do mundo e segui para o banheiro, pensativo.

“O que será que ele vai falar?”

Vestido e ainda refletindo sobre a conversa com Lennon ao telefone, segui o caminho de sua casa com pressa. Ele pode ter expulsado Isabel. Os dois vivem brigando. É isso.

Não, Lennon não faria isso. Apesar de seco, ele é educado.

Quando finalmente cheguei a sua casa, entrei sem delongas e encontrei meu amigo sentado no sofá, imóvel.

- Cadê a Isabel? – Perguntei, olhando a sala no geral.

- Dormindo.

- Bah... Achei que tivesse a expulsado. – Ele mexeu no cabelo, desconfortável. – O que foi, hein?

- Eu preciso te contar uma coisa.

- Fala.

Ele apontou para o sofá, e eu me sentei. Lennon me fitou.

- Demétri... Eu... Ahn. Eu não vou te enrolar.

- Assim espero.

- Há um tempo eu estou com a Isabel e... A gente se... Se... – Conforme suas palavras saiam, meus olhos se arregalavam. Meu corpo tremeu e eu senti uma onda de ódio me invadindo. – Se apaixonou. Foi acontecendo aos poucos, queríamos te contar, mas...

- Vocês se odiavam... – O relembrei, sem saber o que mais eu poderia dizer. Um nó seco percorreu minha garganta.

- Até um certo tempo sim. – Respondeu, dando de ombros, mas sua expressão estava temorosa.

Explodi na mesma hora.

- TU NÃO PODIA TER FEITO ISSO COMIGO!!!!!!!! – Berrei descontrolado. – PORRA LEITE, EU SOU APAIXONADA PELA GURIA E TU FAZ ISSO. FAZ ISSO DE NOVO!

Lennon não soube o que responder. E desde que o conheço, ele sempre teve respostas para tudo. Ele baixou a cabeça, derrotado. Depois ficou em pé. Eu me levantei na hora, fechei o punho e o lancei na direção de Lennon. Ele caiu no chão e movido por algo que parecia mais que fúria, parti pra cima dele.

- Parem! – Era Isabel, ela desceu as escadas com pressa, dava pra sentir o desespero em sua voz. – PORRA, PAREM!!!!!!!!!!

Eu a empurrei e continuei batendo nele. Houve uma hora em que viramos e ele ficou em cima de mim. Era uma briga de verdade.

Ela segurou o punho de Lennon no momento em que ele ia me socar.

- Para. – Insistiu, chorosa. – Por favor.

Lennon me olhou antes de levantar, sua respiração estava descompassada. Pingava sangue de seus lábios.

Isabel tentou me ajudar a levantar, eu me desviei de seu toque.

- PELAS MINHAS COSTAS! PORRA, COMO TU FAZ ISSO??? – Eu olhei para ambos - EU NÃO QUERO MAIS FALAR COM VOCÊS. – Sai disparado até a porta, mas parei no meio do caminho. – E O CASAL QUE NÃO SE PREOCUPE, NÃO VOU CONTAR NADA A MERTEN, ELA VAI DESCOBRIR POR CONTRA PRÓPRIA, COM ISSO TALVEZ BRUNA APRENDA SER UM POUCO MAIS HUMANA!

Não sei bem porque pensei em Bruna, ela bem que merecia isso mesmo. Aliás, Merten merece coisa pior.

- Eu amo ele, Demétri, eu ia te dizer... mas... – Isabel chorava alto e soluçava. Eu saí balançando a cabeça várias vezes, não acreditando que estava vivendo aquilo de novo.

Às cegas eu corria pelas ruas sentindo as lágrimas de raiva escorrer pelos meus olhos. Eram lágrimas de puro ódio. Novamente eu estava sendo traído por um amigo e pelo mesmo motivo: mulher. Lennon ama Isabel. É óbvio, eu que não quis enxergar. O dia da cozinha foi praticamente uma revelação. Só eu que não entendi.

Parei na praça do centro ignorando todos os olhares curiosos sob mim.

Sentei-me no chão e escondi meu rosto nas mãos. Não sei quanto tempo fiquei ali naquela posição que demonstrava a minha derrota.

- Bah. O que foi? Brigou com a namoradinha?. – Ao ouvir a voz de Bruna Merten, minha ex-namorada e a última pessoa que eu gostaria de ver no momento – levantei a cabeça a ponto de perceber que eu estava bem próximo de sua loja. – Não vai dizer que se iludiu novamente? – Fez uma cara de falsa pena. Eu quis soca-la por conta disso.

- Não é da tua conta. – Com certo esforço físico, fiquei em pé. A expressão de Bruna mudou para assustada.

- Bah, Demétri. O que aconteceu??? - Ela tentou me tocar, mas eu me afastei. – Tu ta todo sujo e sangrando!

- Ah, jura? - Perguntei, irônico.

- Demétri, me fala!

- Não. - Dei-lhe as costas e comecei a andar. Ela me segurou pela barra da camiseta. - Já disse que não interessa. – Murmurei, friamente.

- Ah, larga a mão de ser infantil. – Segurou meu pulso e me puxou, quando seu dedo tocou minha boca, gemi de dor.

- Vou te levar ao P.S. – Disse séria e preocupada. Eu revirei os olhos.

- Não quero.

- Não é um pedido. Tu sabes que eu nunca peço.

(...)

Após o médico nos orientar com alguns remédios dizendo que meus cortes eram apenas superficiais. Bruna e eu saímos do Pronto Socorro juntos. Eu poderia fazer uma piada em relação a isso, claro, mas estava com a minha cabeça fervendo.

- Eu quero ir pra casa. – Disse a ela. Sabia que estava sendo birrento, mas Bruna me ajudando é estranho e me incomoda.

- Tu vais depois que formos à farmácia.

- Bruna, porque tu não me obedece só uma vez na vida? – perguntei, bravo.

- Porque eu estou preocupada contigo. E faz tempo que não faço boas ações. – Franzi o cenho. Eu tinha me esquecido de como Bruna era louca.

Entramos em seu carro e ela deu partida. A cada farol que parávamos, ela me olhava de canto.

- Tu não vai me contar o que aconteceu contigo? – Perguntou novamente.

Eu queria contar, mas balancei a cabeça sinalizando um não. Encostei minha cabeça no banco macio e fechei aos olhos, tentando por alguns minutos me desligar do mundo.

- Hey. – Ela me cutucou quando chegamos. Eu tinha cochilado. Que merda. – Vamos subir.

Bruna morava no edifício Joana Darc, um dos mais famosos e chiques de Porto Alegre. Ela cumprimentou o porteiro com um sorriso educado e subimos para o 6º andar e entramos no apê de nº 89.

- Não repara a bagunça. – Disse quando abriu a porta de seu apartamento.

Sempre que as pessoas falam isso eu imagino ver uma casa totalmente do avesso, com direito a passada de furacão e tudo mais, mas a de Bruna não tinha uma sequer coisa fora do lugar.

- Que bagunça?

- É modo de dizer. – Sorriu. A mobília do apartamento era rica em cores creme. A decoração pendia para tons de branco e salmon. Apartamento de guria moderna e financeiramente independente.

Bruna foi para a cozinha e eu a segui.

- Encosta aí. – Disse, apontando para a mesa. Eu obedeci. Bruna jogou as coisas da sacolinha da farmácia na mesa, estava cheia de remédio, band-aids e outras coisas. Como eu tinha cochilado, não vi quando ela saiu para comprar.

- Acho que vai arder um pouco. – Avisou, molhando algodão num remédio de cheiro forte e encostou no meu nariz. Eu reclamei de dor. – Bah, desculpa.

- Tudo bem.

Tudo isso ainda esta meio esquisito para mim, jamais imaginei que um dia ela iria me ajudar dessa forma.

- O que foi? – Perguntou, percebendo que eu a fitava.

- Porque esta fazendo isso? – Eu perguntei, estudando sua reação cautelosamente. - E sem piadinhas dessa vez.

- Não sei. Acho que estou de bom humor.

- Bah! – Exclamei, fingindo surpresa.

- É verdade. – Ela sorriu e continuou cuidando dos meus ferimentos. – Tira a camiseta.

- Por quê?

- Porque eu to mandando ué.

- Bruna! – Exclamei, revirando os olhos.

- Se tu não tirar eu tiro tchê.

Não sei por que eu obedeço a essa guria.

Quando entreguei a camiseta a ela, vi que estava toda rasgada por conta da minha briga com Lennon. Como Bruna reagirá quando descobrir essa história?

- Eu acho que tenho alguma camiseta do Lennon aqui, vou pegar pra te emprestar.

- Não precisa. Se tu me levar pra casa, eu acho melhor. – Ela franziu o cenho, estranhando minha resposta seca.

- Tudo bem.

Depois de terminar de cuidar dos meus ferimentos no rosto, Bruna guardou tudo de volta na sacola.

- Terminei! – Eu a fitei novamente, tentando entende-la, mas era difícil, Bruna sempre me surpreende.

Ela estava indo guardar a sacola na sala quando eu a puxei pelo vestido rosa. Não calculei bem a força em que fiz isso, pois Bruna parou próxima demais.

Não que isso a tivesse assustado. E mesmo se tivesse seu orgulho não deixaria demonstrar.

- Obrigado. – Eu disse, absorvendo um pouco do momento. Ela apenas sorriu, sem conseguir dizer nada. Um silêncio pairou na cozinha. Não sei bem qual foi o tempo em que eu a puxei para meus braços e ela correspondeu com ansiedade e por incrível que pareça, paixão.

Bruna encostou seu nariz no meu e minha boca capturou a sua com sabedoria. Como se já soubesse que estar ali, era estar no lugar certo.

Foi como voltar a dois anos atrás.

O mesmo Demétri completamente vulnerável a ela, as mesmas emoções quando nos tocávamos e os mesmos batimentos cardíacos acelerados.

Era como se alguém abrisse uma portinha lá no fundo do coração dando passagem para um velho sentimento guardado que eu custei a aprender esconder.

Minhas mãos apertaram com firmeza a sua cintura, eu fiquei de pé e a empurrei contra a parede ao lado da fruteira. Bruna mordeu o lábio no momento que pressionei contra a parede.

O beijo fora lento e longo. As mãos dela caminhavam pelas minhas costas, ela me arranhava com força, e eu já excitado com aquilo.

Ergui sua saia sem nenhuma gentileza, lembrando (ou jamais esquecendo) que com ela, o negócio era selvagem. E eu já não era mais aquele guri babaca de dois anos atrás.

Tirei sua calcinha e Bruna baixou minha calça. Eu já estava completamente pronto para ela. Ao ver o que a esperava, ficou admirada.

- Não lembra mais? – Perguntei, piscando pra ela.

Bruna sorriu largo.

- Eu nunca esqueci.

A primeira estocada fora dolorida nela, mas Bruna não reclamou, eu mexia seu quadril, dominando-a por completo.

Aumentei o ritmo e ela empinou a cabeça, nossos corpos agiam em total sintonia, a alça de seu vestido caiu sozinha e foi a minha vez de sorrir aos ver os belos seios de minha ex-namorada. Soltei a mão esquerda de seu quadril e pus em seu seio, massageando e brincando com os mamilos.

Quando mordisquei o outro, passei maldosamente a língua pela aureola, fazendo a gritar de tamanho prazer.

Bruna me puxou para voltar a beija-la. Eu segurei sua perna para equilibra-la melhor e não perder o ritmo. Tudo nela era excitante. Eu percebi quando estava com ela, não sentia vontade de estar com outra pessoa.

Era como se desde sempre, estar ao lado fosse o meu verdadeiro lugar. Chegamos ao ápice juntos, ela mordeu meu lábio com força enquanto eu soltava sua perna. Eu finalizei toda a loucura com um beijo. Não dissemos nada enquanto colocávamos as nossas roupas. Acho que ela estava refletindo sobre o acontecido. Esse é o momento em que Bruna pira e me manda ir embora.

- Tu estás diferente.

Não era bem isso que eu esperava, mas fiquei feliz por não ter sido expulso.

- Obrigado, eu acho. – Murmurei, irônico. Ela me olhou mais uma vez, em análise. – O que?

- Nada. Só que isso foi...

- Bom pra caralho. – Completei, já totalmente vestido. Puxei Bruna para mim novamente. – Vai negar?

- Não. Só que não voltará a acontecer.

Revirei os olhos. Ela já estava pondo ordem nas coisas, nunca perde essa mania.

- Por quê?

- Porque somos ex? Porque isso só aconteceu por um impulso idiota? Ah, por favor!

- Não senti impulso idiota quando tu gemeu meu nome.

Ela abriu a boca em um “O”. Talvez eu a tenha ofendido.

- Foi um impulso! Isso acontece.

Ou não.

- Vou embora. – Avisei. Ela deu de ombros.

- Tudo bem.

Ela se afastou, indo em direção à sala, mas eu a puxei novamente, forçando-a me beijar. Bruna beliscou meu braço, tentou me chutar, mas eu travei sua perna. Eu havia me esquecido de como era bom estar com ela.

- Tu ainda me ama, Bruna.

- Não. – Deixe-a se afastar. E a uma certa distancia, acrescentou. – Tu que ainda me ama.

E naquele momento eu me toquei que já não sentia raiva de Lennon e Isabel, que a magoa que sentia horas atrás havia simplesmente sumido. E também constatei que me sentia alegre e tranquilo, como se ficar com ela fosse uma coisa normal.

- Tu tá louca. – Eu disse, balançando a cabeça, atordoado. – Nada a ver, pelo o amor de Deus.

É impossível alguém se reapaixonar pela ex, não é? Isso tá muito conto de fadas.

- Certo. – Ela murmurou, sabendo que eu tinha chegado a minha conclusão, mas não querendo comentar por... Por sei lá. Eu não entendo essa guria.

- Vou embora.

- Tudo bem.

Nos olhamos mais uma vez, ela balançou a cabeça como dissesse “é isso mesmo que você concluiu”. Eu saí da casa dela em silêncio, pois não há o que falar quando você acaba de concluir que ainda ama a mesma guria da adolescência. Você se sente meio parado no tempo.

Eu estava no corredor quando Eveline apareceu animada, como sempre.

- Bom dia!

- Oi Eve.

- Bah. O que tu tem?

- É impossível alguém se “reapaixonar” pela ex, não é?

Eveline franziu o cenho. Depois abriu a boca em espanto. Eu baixei a cabeça, suspirando. Não é possível.

- Demétri... - Eu a olhei. - Tu sempre a amou... Esse tempo que vocês passaram longe o amor ficou escondido, mas não acabou.

Não respondi Eve, primeiro, por estar perturbado demais e segundo, há contestação diante de um fato?

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Oi!!!!

Eu ainda to longe de terminar Volver... mas liberei o primeiro capítulo. Vou dar uma enxugada na história pra não ficar tanto tempo escrevendo.

Esse capítulo era pra ser restrito, mas como é o primeiro é sacanagem fazer isso. Se eu for sinalizada, terei que mudar pra restrito. E pra quem ficou confuso... Tem o epilogo que finaliza W.A.Y e Volver que começa a partir da briga de Lennon e Demétri (Capítulo 6 de W.A.Y - Como é que se diz eu te amo) e a partir daí eu narro o que aconteceu com o nosso protagonista nesse tempo.

Tamiris Vitória
Enviado por Tamiris Vitória em 08/02/2013
Reeditado em 10/07/2022
Código do texto: T4130675
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