Como tudo deve ser - Epílogo de We Are Young

Ele andou de um lado pro outro diversas vezes. Estava confuso, ansioso, sentia uma pontada de expectativa que tentava ignorar, mas em vão. Precisava vê-la, precisava muito. Demétri respirou fundo e repassou mentalmente sua idéia.

“Vou ligar.” – Estava em frente ao prédio de Bruna e observava a sacada da casa dela. As luzes estavam acesas, sinal de que havia alguém em casa. “Pode ser ela, mas também pode ser Eveline.” – Deu de ombros e decidiu parar de pensar. “O negócio é agir.”

Pegou seu celular e discou o número de Bruna. Como ele esperava, ela não o atendeu. Ligou de novo. Nada. Olhou para o porteiro e viu que estava sendo observado também, o homem o conhecia, é claro.

Demétri sorriu polidamente ao se aproximar do enorme portão de ferro que protegia a entrada do edifício.

- Oi! A senhorita Bruna Merten está?

O homem se aproximou em passos lentos. Era um senhor que aparentava estar na casa dos 50 anos.

- Sim, ela e a irmã subiram faz nem 20 minutos. Entre, rapaz. – Ele apertou um botão que dava acesso ao edifício. Demétri entrou e seguiu o homem pelo hall. – Já sabe o nº do apartamento, né?

- Sei sim. Feliz ano-novo pro senhor!

- Igualmente! – E acenou com a cabeça, não queria perder tempo, estava ansioso demais para ver Bruna.

Entrou no elevador e lembrou-se da última vez que esteve com Bruna. Ela era um problema, um GRANDE problema em sua vida. E quanto mais tentava resolvê-lo, mais se enrolava.

Quando desceu no 6º andar e abriu a porta do elevador, encontrou Eveline no corredor.

- Demétri!!!!!! – Berrou ela, animadamente. Ele fez um “shhh” com o dedo. – O que? - Ao apontar para a porta da casa de Bruna, Eveline entendeu. – Ah sim!! Calma que eu te ajudo.

Eveline estava usando o vestido justo de renda em estilo “Mullet” na cor salmon. Combinava perfeitamente com ela.

Eve pegou na mão de Demétri e o levou até a frente da porta de Bruna. Ela já ia abrindo a porta quando a mesma fora aberta por sua irmã. Um silêncio mortificante tomou conta dos três.

- Ah não. – Bruna voltou pra trás e fechou à porta, Demétri tentou impedi-la, mas sem sucesso.

- BRUNA! – Exclamou Eveline, que já estava meio zonza pelas taças de champagne que bebera com Bruna na casa de uns parentes. – Ai, para de ser idiota!!!

- OLHA EVELINE, COM UMA IRMÃ COMO TU, EU NEM PRECISO DE INIMIGOS!

- Bah! – Eve cruzou os braços, chateada. – Tu dá conta? – Perguntou a Demétri.

- Pode deixar. – Respondeu, meio inseguro.

- Vou indo então!! – Eles trocaram um abraço carinhoso. – Feliz ano-novo!

- Pra ti também, Eve. Obrigado por tudo.

- De nada. Boa sorte com a fera. – Ela disse a última frase em um sussurro, sabia que Bruna estava ouvindo.

- Vou precisar.

Eles se afastaram e Eveline foi para o elevador. Alguns minutos depois, Demétri colou o ouvido na porta.

- Bruna... – Murmurou paciente. – Hoje é ano-novo, porra, tu nos anos anteriores deixavas eu pelo menos te cumprimentar.

- Nos anos anteriores tu me odiava.

- Eu te odeio.

- Idem.

- Bruna...

Ele odiou o tom de imploração em sua voz.

- Vai embora.

- Não vou!

- Vai com o Lennon, Emerson, sei lá!

- Não! E te cala, se eu estou aqui, é porque quero estar aqui.

Ele a ouviu suspirar.

- O que tu queres? Um feliz ano-novo? Se for isso... Feliz ano-novo, Demétri!

- Vou sentar aqui no chão, só saio quando você me deixar entrar.

- Tu não vai fazer isso!

- Já fiz.

Ela pensou seriamente em abrir a porta, mas seu consciente berrava em descontrole para que não. Se fizesse isso, sabia como iriam acabar as coisas.

Demétri tinha um péssimo defeito: conhecia Bruna melhor que qualquer pessoa.

Bruna seguiu para a cozinha e bebeu um copo de água e engasgou com o líquido ao ouvir Demétri cantar bem alto e desafinadamente.

- Só de pensar que nós dois éramos dois

Eu feijão, você arroz

Temperados com Sazón!!!!!!!

- Não... – Bruna murmurou, incrédula com o que ouvia. – Mamonas não. – Ela bateu a mão na testa. – Não me faça te pegar nojo!

- Só de lembrar nós na Kombi no Domingo

Nosso amor era tão lindo

Nós descíamos pro Boqueirão...

Ela tapou os ouvidos e voltou para a sala, sentando-se no sofá, irritada.

O primeiro vizinho gritou.

“O QUE É ISSO? TEM UM GATO SENDO MORTO AQUI?”

Era seu Paulo, o vizinho mais irritado do 6º andar.

- A Kombi quebrada lá na praia

E você de mini-saia

Dando bola para um alemão

“O pior não é ele cantar, mas sim, tentar cantar no ritmo dos Mamonas.” – Bruna balançou a cabeça em um não. “Talvez alguém o expulse.”

“EU TENHO CERTEZA QUE ESSE AUÊ É NA CASA DA BRUNA MERTEN, PELO O AMOR, ALGUÉM CHAMA A POLÍCIA PRA ESSA GURIA!” – Agora Bruna identificou a voz como sendo Martha, sua vizinha que a odeia por completo.

Seus vizinhos não costumavam comemorar festas no 6º andar e obviamente, odiavam barulhos. Bruna não tem uma boa relação com nenhum deles.

A cantoria de Demétri durou por horas, algumas vezes ele parodiava colocando o nome dela ou de Lennon, fazendo-a trincar de ódio no sofá. Quando ele finalmente parou, ela teve certeza que fora vencido pelo cansaço. Silenciosa, Bruna foi até a porta e a abriu lentamente. E pra sua surpresa, ele estava dormindo. As pernas estavam próximas da barriga e a cabeça deitada no joelho.

- Ah não! – Bruna terminou de abrir a porta e parou na frente dele. – Tu tá de sacanagem comigo. – Ela encostou o pé em Demétri. – Em pleno ano-novo!!!

- Poxa Merten, qual é? Tu não nos dá sossego nem no dia de hoje? – Era sua vizinha, Martha. De costas para ela, Bruna revirou os olhos.

- Vá para o diabo que te carregues, chinoca do inferno!

A mulher bateu a porta estrondosamente.

Bruna observou Demétri com mais calma e a cena a desarmou. Ele parecia uma criança dormindo sentada no chão. Os cabelos enrolados pendendo de um modo engraçado sob o joelho. Ela sentiu uma vontade imensa de ficar ali mesmo, o olhando dormir.

- Demétri... – Murmurou, agora se ajoelhando na frente dele. – Acorda.

Não houve respostas.

Bruna segurou um cachinho do cabelo dele e enrolou em seu dedo, depois, lentamente, levantou sua cabeça. O coração dela disparou quando Demétri abriu os olhos verdes e sonolentos.

- Oi. – Disse sorrindo de uma maneira que quase a fez se desmanchar. Bruna sentou-se ao lado dele.

- Oi. – Ela sorriu, sem-graça. Ás vezes a intensidade do sentimento por Demétri a machucava.

Ele cochilou novamente. E Bruna, com um imenso esforço, o levantou do chão. Demétri estava com a mão no ombro dela e tentava abrir os olhos, mas em vão.

- Sei que amanhã vou me odiar por isso, mas... – Disse mais a si própria, do que para ele.

Eles entraram e Bruna o deitou no sofá, tirando seus tênis e meia. Ela deu uma risadinha, debochando de si mesma. Estava se sentindo uma dona de casa cuidando do marido.

- Bruna... – Ele a chamou. Bruna sentou-se na pontinha do sofá.

- O que?

- Porque tu foges tanto de mim?

Essa era a pergunta que tematizava a história dos dois.

- Eu não sei. Segundo Eveline, eu fujo do que pode me fazer feliz. – Respondeu, tirando sua sandália rasteirinha e deitando-se junto com Demétri.

Ele a aconchegou em seus braços e inspirou seu cheiro. Ainda havia um grande barulho vindo da rua, mas naquele momento nada mais importava. Eles estavam juntos, isso era tudo.

- Lembrei de quando dormimos juntos na casa da minha mãe. – Começou Bruna, nostálgica. – Éramos apenas amigos... Uma amizade meio conturbada, né?

Ele sorriu, olhando-a com carinhosamente. Sabia o quão ridículo se tornava quando falava com Bruna, mas não conseguia fugir.

- Eu estava louco pra ficar contigo fazia é tempo, mas eu tinha receio de tu se afastar... Naquele tempo era mais fácil lidar contigo.

- Eu era adolescente. – Ela revirou os olhos. – Tu era menos babaca do que é agora.

- Fico admirado com tanta sinceridade.

- Eu sei.

Demétri a beijou e passou a mão por seus cabelos, depois as costas e como quem não quer nada, a deitou em cima dele. Ela riu, um sorriso leve, infantil. O sorriso que ele tanto amava em Bruna.

- Eu te faço feliz? – Perguntou ele.

- Faz... Faz muito feliz. Achei que soubesse disso. – Bruna selou seus lábios aos dele.

- Tu me faz pensar tanta coisa, às vezes fico confuso.

- Tu és a melhor coisa que me aconteceu... E a que menos mereci.

- Não quero falar disso agora. – Ela sabia do esforço dele para não brigarem. – Eu to feliz por estarmos juntos aqui... E sem briga.

- Eu gostava quando a gente brigava.

- Por quê?

Ela sorriu, serena.

- Era divertido, tu ficava muito brabo. Ficava gritando “Eu te odeio, não sei como tive coragem de te namorar” blá, blá, blá. Eu ria muito.

- Bah. – Demétri fez um bico. – Tua indiferença me irritava, aliás, me irrita.

- Isso é amor.

- Jura? - Ele perguntou, irônico.

E se beijaram novamente. Bruna sentia-se uma adolescente namorando no sofá da sala. Ela passou o nariz pelo de Demétri diversas vezes, fazendo-o sorrir.

- Mais tarde eu quero tomar um café bem preparado, e isso é uma ordem, Bruna Merten.

- Rá, rá. Vou ignorar porque to gostando mais do que eu deveria de estar deitada aqui contigo.

Demétri fechou os olhos, mas ainda sorria.

- E isso poderia acontecer sempre, mas não depende só de mim.

Como ela não respondeu, Demétri resolveu dormir. Apertou Bruna com força em seus braços, como se por acaso ela fosse fugir dali. Inspirou mais uma vez o cheiro dos cabelos dela e caiu num sono tranquilo, sereno. Como não tinha há muito tempo.

Era o fim de 2012, um novo ano ia começar.

(...)

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Pra finalizar de vez We Are Young e dar início a Volver.

Volto em breve. Beijos!

Tamiris Vitória
Enviado por Tamiris Vitória em 26/01/2013
Reeditado em 20/02/2015
Código do texto: T4105705
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