Mudando a letra da vida - Capitulo 08

O diretor estava sem paciência, pois não deixou que eu me explicasse, deu umas tarefas extras e broncas, e o restante do dia de suspensão. O meu maior medo, foi quando ele ligou para minha mãe falando sobre o ocorrido, me chamando de negligente e etc. Minha mãe ia me comer viva!

Cheguei em casa chateada, joguei a mochila no sofá e me rastejei até o quarto. Deitei em minha cama e pensei em alguma desculpa para amenizar a situação, mas nada vem em minha cabeça. Fui até o banheiro lavar o rosto e ouvi meu celular tocando. Corri para atendê-lo.

- Oi não é da sua conta. – Ouvi a voz do Caio do outro lado da linha. – Muito bonito responder a professora.

O que me irrita nele é o fato de um dia não querer olhar na minha cara por sei lá qual razão, e depois fala como se nada aconteceu.

- Como conseguiu meu numero? – Perguntei cheia de grosseria, lembrando-me da situação no ônibus.

- Ainda esta estressada por causa da professora? – Ele era calmo.

- Não! Talvez isso seja tudo sua culpa! – gritei andando de um lado para o outro em meu quarto.

- Por que minha culpa?

- Não seja sínico! Você conseguiu estragar um dia tão maneiro que foi ontem. – sentei na cama e aumentei ainda mais minha voz. – Você me tira do sério, parece que sente prazer nisso!

- Achei que prazer você sentisse com o Guizinho. – Riu sarcástico.

Pronto, eu realmente quero matar esse garoto, espremer aqueles olhos lindos com minhas próprias mãos, socar aquele braço forte até ficar roxo. Enfim, quero mata-lo!

- Como ousa dizer uma coisa dessas! – Levantei da cama de supetão. – Antes de qualquer coisa eu exijo respeito!

Ele tentou dizer algo, mas desliguei na cara dele. Garoto idiota, muito idiota, perfeito idiota!

***

Estava a ponto de matar alguém, soltava gritinhos estéricos que cairia melhor na Caroline e não a mim, mas estava tão irritada que poderia fazer qualquer coisa. Desci para beber água e minhas mãos tremiam, sentei no sofá tentando me acalmar, mas o celular toca outra vez.

- Não quero falar com você de jeito nenhum! – Gritei assim que aceitei a ligação.

- Você esta errada e ainda grita?

Não era o Caio ao telefone, e sim minha mãe. Ela estava irritada de mais para que eu dissesse qualquer coisa.

- Em casa conversamos! – Seu tom foi de ameaça.

- Ok, mãe.

Desliguei o celular e me joguei no sofá. Hoje eu sou uma garota morta!

Amália chegou em casa, vi que não podia dizer mais nada. Continuei sentada no sofá e ela começou gritando.

- O que se passa na sua cabeça, Alice Brienza! – Parou em minha frente e me encarou.

- Eu... – Tentei dizer alguma coisa, mas fui interrompida.

- Você nunca foi assim. Em Roma suas notas eram ótimas, você tinha as melhores notas e o respeito dos professores. – Sentou ao meu lado e continuou. – O que esta havendo?

- Mãe! Eu estava estressada e a professora me pegou em um dia ruim. Você viu como sai daqui, acordei tarde! Eu nem pude me explicar. Já vieram me acusando e dando broncas. – Minha voz estava furiosa.

- Como se fosse à coisa mais normal do mundo responder a professora porque estava irritadinha. – Se levantou e começou a andar pela sala. – Meu chefe me estressa, o guarda de trânsito me estressa, a mulher da padaria me estressa, e eu não respondo grossamente nenhum deles!

- Eu te estresso e você esta gritando! – comecei a chorar. – Meu pai não era assim!

Ela parou de andar, pensou em algo para dizer, mas quando falou sua voz era triste chorosa.

- Seu pai morreu, e ele não vai voltar. – Ela sentou em um dos braços do sofá, e não olhava em minha direção. – Somos só nós duas, Alice, e eu me sinto sozinha.

Abaixei a cabeça ao ver minha mãe também chorando. – Me desculpa. - Minha mãe escorregou do braço e sentou ao meu lado.

- Eu sei que é difícil não ter seu pai. – Fungava. – Sei que mal conversamos, mas eu trabalho todos os dias pra colocar comida nessa casa, ainda arrumo assim que chego para que quando você quiser trazer um amigo, a casa não seja motivo de vergonha para você. A única coisa que quero em troca é o seu esforço de sempre na escola, seu jeito doce e descontraído. Você esta amarga, com respostas na ponta da língua. – Soltou a respiração como se fosse aliviar a tensão. – Acredite... Seu pai não estaria orgulhoso de você agora.

***

Diário.

Por causa de uma resposta eu estou nessa situação. Como eu irei resolver tudo isso?

O Caio esta muito diferente, apesar de eu já ter escrito aqui que ele era alguém importante. E ainda é! Só que agora só vive de mau humor e brigamos. Eu não o entendo...

A Bianca é legal de mais, não esperava que ela me ligasse para perguntar como eu estava. Acho que consegui uma amiga aqui, mas é claro que nunca substituirei a Alicia, mesmo que mal nos falamos.

O Guilherme tem se aproximado de mim. Ele é diferente do Caio. Alto, dentes perfeitos, levado e safado. Nunca pensei que iria gostar de alguém assim, apesar de ele ser um ano mais velho. Parece ter vinte, mas tem dezenove. Repetiu um ano.

***

A Bianca me ligou e ficamos conversando bastante tempo, disse que viria aqui em casa. Perguntei a minha mãe se ela podia, mas apenas balançou a cabeça positivamente.

Guardei o diário sob o colchão e fui atender a porta, era a Bianca.

- Entra. – Sorri desanimada.

Fomos em direção ao meu quarto, tranquei a porta e sentamos em minha cama.

- Gostei da decoração, os ursinhos são ótimos. – sorriu empolgada.

- Você é sempre assim? – Ela pareceu não entender. – Você ri o tempo todo.

- Verdade. – Riu mais ainda. – Lembra quando meus óculos caiu do meu rosto? Fiquei sem graça.

Nós duas rimos e então comecei a contar o meu péssimo dia para ela.

- Acho que você gosta do Caio.

- Como? Claro que não! – Fiquei vermelha. – Ele só foi simpático quando eu não conhecia ninguém.

- E agora esta com ciúmes... – Sussurrou.

- Bobeira. – dei de ombros. – Só posso ter ele como amigo?

- Ele não esta com ciúmes dos seus amigos, e sim do Christian. – Deitou-se na cama. – E a ultima coisa que ele quer nesse momento é ser seu amigo.

Fiquei com cara de tonta pensando se entendi o que ela disse. Será que ele gosta de mim? Quer muito mais do que minha amizade? Será?

- O que esta havendo entre vocês... Digo você e o Christian.

Revirei os olhos lembrando-me de tudo que passei com o Guilherme desde que conheci.

- Hoje quase nos beijamos. – engoli em seco.

- Como? – ela pulou de supetão. – Você e o Christian?

- É... – Respondi sem graça.

- Sinceramente. Você precisa saber de quem gosta. – Ela voltou a se sentar. – Christian é meu amigo, mato você se magoa-lo. Ele não é tão forte como todos pensam.

Lembrei-me da conversa que tive com o Gui na Lagoa Rodrigo de Freitas. Pena que não posso dizer a ela que esta totalmente certa, pois ele me pediu segredo.

Daniel Marcos
Enviado por Daniel Marcos em 25/01/2013
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