Mudando a letra da vida - Capitulo 07

Todos foram para suas casas um a um assim que os ônibus chegavam. Só estava eu e os garotos no ponto e o Caio ainda não me olhava.

- Foi muito maneiro hoje, não é? – Guilherme cortou o silêncio.

- Eu adorei tudo. – Sorri. – Era tudo muito lindo.

- Linda é você. – colocou uma de suas mãos em meu queixo, e minhas bochechas coravam rapidamente.

Olhei o ônibus que o Caio havia falado que iria pegar, mas ele não fez sequer um movimento.

- Não vai fazer sinal pra para-lo? – perguntei saindo da direção do Guilherme.

- Não é esse. – Respondeu de mau humor.

Vimos o ônibus passar por nós e o Guilherme continuou o assunto.

- Aquela nossa foto ficou muito maneira, parecemos um casal. – Ele me puxou e me abraçou pela cintura. Retribui o abraçando pelo pescoço e sentia-me envergonhada por meu coração bater tão rápido junto ao dele.

-Seu ônibus esta vindo. – Caio me tirou dos encantos do Guilherme e por reflexo acabei me afastando.

Fiz sinal junto ao Caio e agradeci por ele ter me ajudado.

- Não precisa me agradecer, eu vou nesse também.

- Como? – Fiquei confusa.

-Por que vai nesse ônibus junto com ela? – Guilherme segurou minha mão como se fosse me colocar atrás dele.

- Porque estamos querendo ir embora, certo? – Caio ironizou.

O ônibus parou no ponto em que estamos e entrei completamente envergonhada com a situação e o Caio entrou em seguida. Eu não queria ficar me gabando, mas foi impressão minha, ou os dois brigavam por minha causa? Com certeza é só impressão.

Passamos na roleta e sentamos um ao lado do outro. Dei tchau para o Guilherme, enquanto ele me mandava beijos. Fiquei triste por deixa-lo sozinho.

Ficamos em silêncio desde que o ônibus começou a andar, observei o mesmo se afastar do lago que ficava ainda mais lindo acompanhado das estrelas que se formavam.

- Por que veio nesse ônibus? Você não mora nem perto da minha casa. – Cortei o silêncio constrangedor.

- Como você sabe? – Perguntou sem me olhar.

- Não sei, mas nossos caminhos depois da escola são diferentes.

- Eu vou soltar daqui a quatro pontos.

- Não vai ser mais demorado? – perguntei confusa.

- Você que esta pagando a minha passagem? – retrucou.

- Ai seu grosso! – gritei fazendo as únicas cinco pessoas que estava no ônibus nos olharem.

Fechei a cara e não olhei mais para seu rosto, mantive observando o lado de fora, mesmo que mal dava pra enxergar com a escuridão e o ônibus andando rápido.

- Ei – Olhei para ele ainda com raiva e vi que já estava se levantando. – Me desculpa.

Sorri sem vontade e voltei a olhar para a janela. Ele pegou em meu queixo assim como o Guilherme e tentou dizer algo.

- I like you a lot. – Sussurrou.

Perguntei o que significava, mas ele deu sinal e desceu sem olhar para trás, assim que o ônibus parou.

***

Cheguei em minha casa completamente cansada. Joguei-me no sofá da sala relaxei e com o silêncio que permanecia.

- Filha! Me conte como foi! – Minha mãe desceu as escadas correndo, levantou meus pés para poder sentar e colocou-as em seu colo.

- Estava demorando! Não se pode ficar em silêncio nessa casa. – Levantei as mãos para enfatizar o drama.

- Me conta filhota!

Tirei os pés de cima dela e sentei ao seu lado, liguei a TV e comecei a contar os detalhei sem tirar minha atenção do programa que se passava.

- Guilherme... Caio... Minha filha esta podendo. – zombava.

- Mãe! Vai ver se tem uma louça pra lavar! – irritei-me.

Ela se levantou de cara feia e caminhou até a cozinha. Segui seus passos com o olhar e enfim ela parou para falar.

- Tem louça do almoço que eu estava com preguiça de lavar, mas como a mãe sou eu e você não tem um pingo de direito de falar assim comigo... Você vai levantar agora desse sofá e vai lavar toda a louça e limpar a pia. – Sorriu terrivelmente. – Mamãe te ama.

Olhei com raiva para ela, desliguei a TV e caminhei até a cozinha. Ela me deu um beijo na testa e subiu as escadas.

***

No dia seguinte acordei com a minha mãe dando bronca. Perdi a hora completamente e como saíamos juntas todos os dias, eu estava atrasando ela também.

- Eu não sei o que houve! – Respondi correndo para o banheiro enquanto ela berrava em minha porta.

- Sabe que não posso chegar atrasada, ainda não tenho nem um mês no trabalho! – gritava.

Joguei água no corpo para despertar, coloquei a roupa da escola, que por sorte já estava separada na cadeira da escrivaninha, calcei os tênis, peguei a mochila e sai penteando os cabelos.

- Você tem que ser mais responsável, Alice. – Disse olhando atentamente ao volante.

Apoiei o braço na janela para segurar minha cabeça, olhava para fora ignorando os sermões e mais qualquer coisa que ela estivera dizendo. Hoje não é meu dia.

Passamos pela Central do Brasil e pude ver a cidade lotada. Muitas pessoas andando de um lado para o outro, carros e mais carros pelas ruas. Sem perceber acabei cochilando e só acordei, pois minha mãe estava gritando mais uma vez.

- Anda Alice! Você já esta atrasada. – Pegava minha mochila no banco de trás e me empurrava para que eu saísse.

- Ta! – Peguei a mochila e entrei na escola emburrada.

***

Sentei na ultima fileira de costume, então não pude falar com a Bianca que senta na primeira. Acenei para ela assim que cheguei, coloquei a mochila na mesa e abaixei a cabeça. Estava cansada de mais, não sabia o que tinha me dado, mas sabia que meu corpo pedia cama.

- E então quem pode me responder essa pergunta? – Perguntou à senhora de matemática. – Alice, poderia tirar seu material da mochila e me responder essa pergunta.

Levantei a cabeça após ouvi-la. Estavam todos me olhando, alguns riam, outros olhavam com indiferença.

- Eu não sei... – Disse após ver o cálculo.

- Se tivesse prestando atenção entenderia como os outros.

- Então por que não pergunta a eles, já que eles sabem? – alterei a voz e me arrependi rapidamente.

- Pegue sua mochila e vai encontrar o diretor. – Falou furiosa.

Peguei a mochila sem vontade, arrumei os cabelos desgrenhados e caminhei lentamente até a diretoria.

***

- Olha quem esta aqui... – Guilherme gargalhava de alegria.

Parei um pouco para olha-lo. Estava sentado em um banco que fica em frente à porta do diretor. Seu uniforme era limpo e arrumado, cabelos rebeldes que fazia alguns fios voarem por causa do vento, e seu sorriso perfeito e divertido, anima qualquer pessoa.

- Oi. – Disse sentando ao seu lado.

- O que aprontou? Por que esta com cara de morta-viva? – Colocou seus braços em volta do meu ombro.

- Respondi a professora de matemática. – Disse envergonhada. – Eu não sei o que me deu. Estou com sono, corpo pesado.

Ele colocou uma de minhas pernas em cima da sua, me puxou para um abraço e colocou minha cabeça sobre seu peito. Dava pra sentir seu hálito quando falava.

- Não liga pra isso, às vezes da muita raiva e não da pra guardar. – Acariciava meu braço levemente. – Eu briguei lá fora, e agora só eu estou aqui.

- Por que brigou? – Sussurrei quase dormindo em seu peito.

- Um carinha estava falando merda. – Bufou. – Algo sobre minha ex me trair com ele.

- E seu orgulho falou mais alto... – Falei já de olhos fechados.

Seu coração batia calmamente, dava pra contar os batimentos cardíacos. Senti ele se mover e seu coração bateu ainda rápido, abri os olhos e ele me fuzilava com seu olhar.

- O que foi? – Minhas bochechas queimavam. – O que eu fiz?

- Você é linda, e muito diferente de qualquer garota que fiquei. – sorriu de lado.

- Mas nunca ficamos... – Levantei de seu peito e ele segurou em minha mão.

Encaramos-nos e podia sentir meu coração acelerado, um carnaval acontecia dentro do meu peito. Ele se aproximava lentamente, parecia ter total cuidado em cada centímetros que se aproximava. Não me reconhecia mais, já estava implorando mentalmente que sua boca chegasse mais rápida, que tocasse a minha e que juntas fossem uma só. Senti sua respiração mais forte. Vai acontecer!

- Senhorita Brienza já pode entrar. – Uma mulher apareceu na porta em nossa frente.

Daniel Marcos
Enviado por Daniel Marcos em 21/01/2013
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