Os Estrangeirismos e as Fronteiras da Língua Portuguesa

Os Estrangeirismos e as Fronteiras da Língua Portuguesa

Este artigo abordará sobre estrangeirismos, partindo de critérios de abordagem fundamentados em princípios lingüísticos, a fim de elucidar equívocos como os registrados na polêmica contra José de Alencar, o horror aos galicismos, a questão do certo e do errado e a posição lingüística de Monteiro Lobato. Concluiremos que os empréstimos são o suprimento de uma lacuna cultural no contato entre dois povos.

Breve intróito

Eugênio Coseriu retomou a dicotomia saussuriana langue e parole (língua e discurso) e a recompôs na categoria tripartite de sistema, norma e fala. Por sistema interpretou a parte abstrata da língua, ou seja, a rede de oposições funcionais e possíveis - se concretizadas no seio social, passam a situação de norma. A norma é, pois, a realização coletiva do sistema. A língua de Saussure passou a ser duplicada, enquanto o discurso (parole) de Saussure continuou a viger em fala na abordagem de Coseriu.

Ora, ilustre-se com o processo de sufixação na língua portuguesa que o sistema é um eixo de possibilidades, e a norma, uma imposição ao indivíduo. Desse modo, temos –ismo alternando das substantivações para –ista nas adjetivações (budismo / budista; mas apenas cristianismo) e assim outros. Portanto, podemos dizer que –ismo / -ista é um fato do sistema, mas nem sempre fixado na norma.

O verbo latino premo, premis, premere, pressi, pressum: apertar deu em português dois radicais: -prim-/-press- e não admite formar o verbo simples (não há premir), aceita a formação com o sufixo –ão (pressão), mas rejeita o sufixo -ivo (não há pressivo) e nem compõe com o sufixo –or (não há pressor); existe composição com os prefixos re-; de-; in-/im- (reprimir, repressão, repressivo, repressor; deprimir, depressão; depressivo, depressor; imprimir, impressão, impressivo, impressor), porém não compõe com o prefixo pro-, que apresenta excelente rendimento nas composições de outros radicais (progredir, produzir, profanar etc.) Isso quer dizer que há pauta de elementos inscritos no sistema, mas ausentes na norma.

Não é raro, encontrarmos posições radicais de professores e gramáticos que tomam atitudes extremas, incluindo a de reprovações em curso escolares e em concursos públicos. Tomando como saber lingüístico do sistema, por exemplo, a pergunta do gênero gramatical de cal, a da pronúncia de colmeia, ou a do plural de substantivo em –ão (tabelião, aldeão, ancião)... Quando tais dúvidas se resolvem com consulta ao dicionário para aqueles que raramente usam tais palavras. Se faz parte de um uso constante, quando há cuidado com a língua portuguesa, este mesmo uso não permitirá dúvidas.

Cabem observações sobre os fatos da norma. O fato de alguns dentro da coletividade distorcerem formas de palavras e expressões lingüísticas está muito ligado ao meio social. Se um indivíduo quer ascender socialmente, ele procurará superar suas limitações lingüísticas como primeira reação e atitude particular para não ser motivo de zombaria. Estamos diante de situações socioculturais.

Purismo ou nacionalismo equivocado

A sociolingüística estuda a linguagem no seio da sociedade e pode considerar como seu objeto os dados sociais da situação do emissor (origem étnica, profissão, nível de vida, idade, dentre outros circunstâncias sociais)

Cuidaremos aqui dos estrangeirismos que são empréstimos vocabulares ao português. Mas há em português, como em qualquer outro idioma, a partir de contatos com outros povos, possibilidade de incluirmos lingüisticamente múltiplos traços gramaticais peculiares a outros idiomas.

Celso Cunha conta o caso de um fazendeiro que viera ao Rio e, ao escrever para a família, resolveu contar um episódio que viu num circo. No meio da carta, veio a dúvida: “Eu gostei mesmo foi dos dois anões”. Ou seria “anãos”? Embora estivesse com as duas formas corretas na memória e a primeira de que se lembrou era apenas a mais usada, depois de alguns momentos de hesitação, terminou por redigir “Mas eu gostei mesmo foi de um anão e de outro anão”. (CUNHA, 1976: 68)

A visão míope de Pinheiro Chagas e António Feliciano de Castilho criticou José de Alencar pelos brasileirismos. E, por exemplo, seu nome (António) estaria grafado errado no Brasil, ele julgava errado em Portugal o que em Alencar era estilo: os tupinismos. Hoje quantos se chamam Iracema, Moacir, Caubi etc. Pinheiro Chagas e Castilho passaram e, se algum lingüista resolvesse abordar o problema à luz da nova visão da Lingüística, iria ressaltar o equívoco destes portugueses que defenderam um falso nacionalismo lingüístico.

Celso Cunha nos relata que um estudioso Dr. Castro Lopes (CUNHA, 1976: 34) ao repudiar galicismos e anglicismos, sugeriu formações latinas, substitutas de estrangeirismos, considerados “vícios de raça” (Idem, p. 34). São os seguintes exemplos: em vez de reclame diga-se preconício; não diga meeting, diga concião; ao invés de turista, fale ludâmbulo; premagem é melhor do que massagem; venaplauso, e não claque... O que o Dr. Castro Lopes não enxergou é que o estrangeirismo veio preencher uma lacuna no cotidiano da língua portuguesa.

É interessante lermos o comentário (MELO, 1975: 19) sobre um artigo de Monteiro Lobato na Revista D. Casmurro em 30 de junho de 1938. E destaca desta revista: Assim como o português saiu do latim, o brasileiro está saindo do português. O processo formador é o mesmo: corrupção da língua-mãe. A cândida ingenuidade dos gramáticos chama corromper ao que os biologistas chamam evoluir.

A afirmação de Lobato parte do biologismo e evolucionismo lingüístico, o que é um método superado. Tem razão Celso Cunha quando afirma que todos os métodos trouxeram a sua contribuição... (CUNHA, 1976: 47) Mas o problema, ele continua, mais ou menos assim, são os posicionamentos humanos. Modernamente, tais termos (evolução, família de línguas...) continuam sendo empregados nos estudos históricos da língua portuguesa, apesar das restrições, por terem surgido num período cuja moda era generalizar valor científico unicamente a partir do modelo teórico de ciências como a Física, Química e outras, porque se estruturavam com o auxílio do cálculo matemático e o seu objeto de estudo era mais concreto.

Estrutura Histórica do Português

Diacronicamente, faz parte de nosso repertório fonológico: a laringeal /x/ feita f, como em - 'al.xajjât’ > alfaite, ou a labiovelar germânica /we/ feita /g/, como em – ‘werra’ > guerra (CÂMARA JR., [s/d.]: EMPRÉSTIMOS). Os empréstimos de estrutura gramatical ou flexionismo são raros e também não se encontra em português (idem, ibidem). Mas há afixos derivacionais, como o sufixo –agem (garagem) do francês, -ardo (felizardo) do germânico e abundantemente do grego prefixos e sufixos, primeiramente em latim e, em seguida, no português, como nas demais línguas da Europa moderna (idem, ibidem).

Já o disse Luís Vaz de Camões: “E na língua, na qual, quando imagina, / Com pouca corrupção, crê que é a latina” (Os Lusíadas I, 33). Camões é um divisor de água e, após ele, temos o Português Moderno. A língua portuguesa pertence a uma família de outras dez línguas neolatinas ou novilatinas. Mas será que só temos palavras do latim em português? A resposta é não.

O próprio latim, que é do grupo indo-europeu, tronco lingüístico comum ao grego, sânscrito e às línguas germânicas e, conforme múltiplos fatos históricos, não se manteve imune da influência dos outros, principalmente do seu apenas vizinho etrusco e do seu parente mais próximo, que é o grego, que, apesar de capturado militarmente, introduziu no Lácio agreste as artes, como diz Horácio, I a.C., na Epístolas II, 1,156: Graecia capta ferum victorem cepit et artes / Intulit agresti Latio.

A formação de um vocabulário dispersivo, como temos insistido acima, é comum a qualquer idioma. Assim, o inglês, desfrutando atualmente de raro prestígio, assimilou do latim mais cinqüenta por cento de seu vocabulário, mas não perdeu a sua estrutura lingüística de base germânica. Diante de outros fatos históricos, o português, como demonstraremos adiante, também assimilou vocabulário germânico, árabe... e, nas Grandes Navegações, por ocasião de muitos contatos, acumulou africanismos, asianismos, tupinismos e, mais recentemente, galicismos, anglicismos, castelhanismos, italianismos e germanismos.

O nosso vocabulário se compõe historicamente do seguinte modo:

-do substrato ou da România Ibérica, onde se deu a formação do português, espanhol e catalão. O substrato ibérico é composto de palavras nativas ou pré-românicas ibéricas, como baía, barro e esquerdo; mesclado de palavras célticas, como gato, cerveja;

com palavras gregas, como esmeril, guitarra, galé e ainda com palavras fenícias, como mata, malha etc.

-de um elemento latino ao português: por crase: nudu > nuu > nu, pede > pee > pé, por desnasalização do n intervocálico: rana > rãa ..., bonu > bõ..., por queda da sonora intervocálica: radiu > *radio > raio; mediu > *medyo > *medo > meo > meio; por sonorização da surda intervolálica: vita > vida; por assimilação: adversu > avesso, persicu > pêssego; por vocalização: octu > oito, nocte > noite; por vocalização do grupo lt: alteru > *autro > outro, multu > muito; etc.

-de um superstrato da România, como o fato de os germânicos realizarem as invasões bárbaras (séc.V d.C.), vencerem o seu antigo opressor, os romanos, mas terminarem por abrir mão do seu idioma e adotar o latim. Porém, marcaram a sua presença com germanismos, como os nomes dos pontos cardeais. O elemento árabe, outro dominador da Península Ibérica, se fez presente a partir do século VIII e desses arabismos provemos o nosso dicionário português. São exemplos: algodão, alface, alfazema, álcool, alfafa, alcachofra, algema, alicate, alfaiate, álcool etc.

Dessa constante tendência nas mudanças das formas das palavras latinas, como a desnasalização em sinu > senu > seo > seio; arena > area > areia; frenu > freo > freio; a crase em lana > lãa > lã, pede > pee > pé, nudu > nuu > nu, videre > veer > ver, sede > see > sé; a queda das sonoras intervocálicas em gradu > grau, nodu > noo > nó, e da adaptação de elementos germânicos e arábicos na língua portuguesa, temos a formação do gênio português, que explicitaremos adiante.

Desde a influência positivista do século XIX, se passou a denominar essas mudanças de evolução e as suas causas seriam provenientes de leis fonéticas, por conta daquele momento histórico abordado acima: tirar princípios científicos das ciências (a Física e a Química) que identificam seus fundamentos de modo absoluto (mas que sofreram nova dimensão de investigação desde a teoria da relatividade de Albert Einstein, morreu em 1955). E há de se observar que existe uma tendência fonética ou correspondência fonética entre lacu > lago, pela regularidade das ocorrências fonéticas.

Se não tivesse acontecido a intervenção de escritores, principalmente em relação àqueles que tinham consciência da filiação latina do português, não teríamos um vocabulário tão rico nos nossos dias – além do que isso testemunha a importância da escrita para os povos civilizados em relação à língua oral, já que no processo histórico de evolução do latim para o português só no restariam aqueles étimos do caso lexicogênico, como inteiro, trevas, cadeira.

De quantas palavras se formam o Latim Vulgar? Não temos esse dado? Mas não é um inventário extenso e não deve ultrapassar a mil palavras, enquanto um dicionário moderno conta com cem mil no Antenor Nascentes e quase trezentas mil no Antônio Houaiss. Ora, se a comunicação se realizou em Latim Vulgar, mais tarde Português Arcaico, em torno deste reduzidíssimo número de palavras (hipótese de mil), então as lacunas eram largas e obrigaram, conforme os princípios da norma de Eugênio Coseriu, aos falantes a buscar recursos em vários vizinhos, chegando mesmo a recorrer ao próprio Latim Clássico.

Portanto, não reaproveitaríamos o termo íntegro, como primitiva de integralizar, desintegrar, integrante etc.; assim, desconheceríamos tenebroso, tenebrião etc.; bem como, não disporíamos de catedrático, cátedra etc. Não teríamos também conhecimento de formas derivadas no nosso vernáculo do Latim Literário: domus, equus, bellum, ludus – as quais não eram faladas em Latim Vulgar. Assim sendo, não teríamos domicílio, doméstico, domar etc.; eqüino, equitação (Antenor Nascentes) / equitação (Aurélio Buarque de Hollanda), eqüino etc.; bélico, belonave, rebelar, debelar etc.; lúdico e ludo. E mais: não teríamos a retomada ou recondução ao modelo latino de: abundância (em latim: abundantia) em lugar da forma histórica avondança, estimar (em latim: aestimare) pela forma histórica esmar; formoso (em latim: formosus) pela forma histórica fremoso; martírio (do grego ‘martýrion’ pelo latim: martyrium, ii) ao invés de marteiro. A forma olvidar resulta de uma forma divergente *olbidar > olvidar (teria vindo do espanhol para o português?); (em latim: *oblitare, um freqüentativo de oblivisci).

E note que os escritores buscaram o parâmetro de adaptação para o português no próprio Latim Vulgar. Ou seja, os nomes portugueses se fixaram em grupos temáticos, herança das diluídas declinações latinas, distribuídos em –a, -o, -e átonos finais (lua < luna; lobo < lupu; mar {no plural, recuperamos a vogal temática} < *mare), resultantes da redução das cinco declinações a três. Donde se conclui que o estudo do Latim Clássico e do Latim Vulgar representa os fundamentos de quantos se intitularem professores de Letras, ou seja, Português e Literaturas da Língua Portuguesa.

É necessário, contudo, ressaltar um fato muito curioso: na alma dos idiomas modernos, sobretudo no nosso português, reside a marca do latim. Citem-se algumas palavras de várias línguas, como do português, inglês, francês, espanhol, italiano e alemão, e sempre tais palavras estarão presas à remota estrutura do latim antes do uso, como é o caso das seguintes: abadia, abdome (abdômen, abdômen) (só em alemão há distanciamento), açafrão (origem árabe, mas com a marca histórica do latim); comédia, comercial (só o alemão distancia); disciplina, diplomata, diretor; escola; (mês de) março; psicologia; tragédia; urina etc. Elas se ligam pelo mesmo radical, propiciando aquele que tem ciência deste fato, lê-las em português, inglês, francês, espanhol, italiano e alemão com pequenas divergências de formas. É desse modo que qualquer expressão que entre para o nosso dicionário português, mesmo os neologismos (e até para muitos outros idiomas modernos, os quais não são nem mesmo filiados ao latim), ainda nos tempos atuais em que, em nenhuma nação, se apresenta registro de oralidade latina, receberá moldagem do latim, que, em relação ao português, nunca houve uma única interrupção histórica.

Ou seja, desse amálgama histórico referido acima, passamos a ter uma unidade elementar, um tema teórico, por assim dizer, herdado do latim, visto que a língua dos antigos romanos não foi a de um simples conquistador militar, com a espada na mão. Antes de mais nada, incluiu no seu programa de hegemonia o respeito à criação cultural de cada povo dominado, lição essa assimilada e apreciada pelos Renascentistas. Esta marca lingüística se tornou pedra angular desde então.

E este elemento que podemos denominar “tema teórico” a tradição denominou gênio da língua, Do ponto de vista diacrônico, refere-se a um sentido geral da evolução, a que Sapir denominou DERIVA (Sapir, 1954). (CÂMARA JR., [s/d.]: “Gênio da língua”) Desse modo, podemos apresentar o que caracteriza o português na sua estrutura formal e o que não estrutura lingüisticamente. Não é uma característica do português, na fonologia, a formação silábica por grupos consonantais sem fronteiras – historicamente apenas a alveolar surda, às vezes denominada sibilante (este), respectivamente a lateral e a vibrante, também dita líquida (alto, arte) e a nasal (anta) – conforme Mattoso, neste mesmo verbete citado acima, in Dicionário de Lingüística e Gramática (o nome moderno de Dicionário de Filologia e Gramática), daí a tendência a vocalização das consoantes vibrante /r/ e lateral /l/ nas rimas de versos, mesmo em poetas tradicionais e a criação de uma vogal de apoio na pronúncia de encontros consonantais mais travados, como advogado, pronunciado com erro ortoépico, conforme recomendação ‘advogado e não adivogado ou adevogado; absoluto e não abissoluto’, ou seja, sem juntura, destacando um conjunto de cada vez /ad/ e /vo/ e, finalmente /ab/ e /so/. No estabelecimento e fixação do seu quadro fonológico, o português não admitiu a passagem de sonoras para surdas e, se em posição medial caíam (ruga > rua), as surdas passavam a sonoras (vita > vida) e abundante palatalização (veclu > grupo ‘cl’ palatalizado, daí velho; pulsare > puxar; nidu > nio – com nasalização palatalizada do ‘i’ e, daí “ninho”).

Há um número expressivo de helenismos em português. Note-se sua importante presença na articulação de prefixos, que compõe grande parte de nosso dicionário: anti- (contra), em antítese (idéias contrárias); pro- (em frente): em prólogo (o que se diz antes); eu- (bom): em Eugênio (o bem gerado); etc. e sufixos, como –ia, formador de abstração: eufonia (sufixo –ia denota qualidade, prefixo eu-, radical –fon-, som vocal); -ismo (com múltiplos significados: doutrina, peculiaridade lingüística, doença etc.): hedonismo (doutrina filosófica que considera o prazer finalidade da vida); latinismo (empréstimos feitos ao latim); autismo (doença em que o paciente só se relaciona com o seu próprio mundo interior, sem se preocupar com nada do exterior) etc. Os radicais gregos são utilizados na nomenclatura científica e na comunicação em geral. Eles estão presentes de modo marcante em português e nas línguas européias, como já se observou acima.

Denominam-se latinismos as formas e expressões latinas, que não foram modeladas pelo gênio da língua (conforme já se comentou, adaptação de um empréstimo ao paradigma evoluído do Latim Vulgar), presentes em português desde a linguagem científica à vida cotidiana. São exemplos: habitat, deficit, sic, ibidem, idem, hábeas corpus, homo sapiens, lato sensu, stricto sensu etc. Há abreviaturas, como v.g., vergi gratia; etc., et cetera; a.C., antes de Cristo; d.C., depois de Cristo; etc. Sentenças consagradas: carpe diem, aproveita o dia; mens sana in corpore sano, mente saída num corpo sadio etc. Mencionem-se, por fim, os latinismos literários como ventos repugnantes, ventos que se repelem, ou seja, que sopram em sentidos contrários - atribuição de significado da forma repugnante está como no Latim Clássico; pelo modelo Vrbs Roma redige-se em português cidade Beja (CÂMARA JR., [s/d.]: “Latinismos”).

CONCLUSÃO

Temos dois inventários na língua portuguesa: a) as palavras lexicográficas e b) as palavras gramaticais. Assim, um dicionário – eternamente inacabado, pois jamais conseguiria abranger a totalidade lexicográfica de um idioma – esta pesquisa (COSTA, 2000: 24) (a citação esta pesquisa significa a coleta de empréstimos de uma língua para outra qualquer) não chega ao fim.

Desse modo, mídia (datação de 1960), fetiche (datação de 1873), realizar – no sentido de compreender, perceber bem: Ele realizou a situação, entram para o português de maneira interessante: o primeiro no chegou por empréstimo ao Latim Clássico: é o nosso adjetivo médio, já que a evolução de mediu deu meio, como se viu acima, e, como muitos neutros latinos no plural formaram coletivo em português (ferramenta, lenha etc.), assim entrou media, substantivado como neutro plural, mas no inglês e, em seguida, o tomamos emprestado para a nossa língua; o segundo já existia com a forma portuguesa feitiço, tomado emprestado pelo francês (documentado de 1605), assumiu nova forma e nós retomamos esta nova forma de volta; e o verbo realizar denota em português tornar real, efetivar. Esta última observação alguns chegam denominar decalque.

Como evitar habeas corpus, Corpus Christi, causa mortis, alibi, idem, sic e tantos outros latinismos, que são até nome de documento e data religiosa, mesmo que se rejeite o latim, como fazem muitos? Como não falar femme fatale, tête-à-tête, hors-concours, lingerie, laissez-faire e outras, mesmo que não se fale francês? O termo cash, dinheiro em espécie, não é etimologicamente do inglês. Muitos acreditam, inclusive in Larousse diz mot anglais (COSTA, 2000: 55). No entanto, é do francês casse e fixou em inglês cash. Talvez pelo fato do inglês ser a linguagem de negócios, esta palavra tenha se difundido com sua marca: cash. Como se denominaria melhor a situação conflitante da África do Sul, senão com o ter apartheid, já que houve mais do que discriminação: houve uma ação (no elemento –heid) de separar (no elemento apart-)?

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Amós Coêlho da Silva (UGF e UERJ)

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Enviado por J B Pereira em 17/01/2013
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