Mudando a letra da vida - Capitulo 05
A aula foi tranquila, já que a professora estava de bom humor.
Caminhei com a Bianca até a portaria e pude conhecê-la melhor. Ela me disse que nasceu no Brasil, era do interior de São Paulo, e que só veio para o Rio de Janeiro, pois seus pais estavam cuidando de sua avó que não tava nada bem. Falou da rotina da escola, dos grupinhos que eram formados, e lugares que ela gostava de frequentar nos finais de semana.
- Iremos ao Jardim Botânico hoje. Aproveitar que saímos cedo e não tem tarefa.
Aproximamos-nos de um casal que conversavam e debatiam algum assunto na portaria.
- Eu não sei... – passei a mão em minha nuca. – Eu não gosto de sair em grupinho.
- Para de graça! – Ela gritou fazendo seus óculos saltarem em minhas mãos.
Entreguei seus óculos e nos aproximamos dos dois alunos.
- Gente! Essa aqui é a Alice Brienza. – me encolhi de vergonha – Ela é Italiana - complementou.
Um garoto alto que parecia ter uns 20 anos se aproximou para me cumprimentar. Seus olhos eram castanhos escuros, cabelos espetados em formato de moicano, pele clara, mas não tão quanto a minha, e um sorriso brilhante.
- Prazer Brienza. – Apertou minha mão gentilmente. – Ou posso te chamar de Alice?
Uma garota loira bateu em sua cabeça o fazendo olha-la furiosamente.
- Meu nome é Caroline... Caroline Caldas, mas não me importo que me chame pelo primeiro nome.
– Sorri.
Caroline tinha cabelos longos e cachos enormes. Deve ser muito vaidosa com eles. Tem um corpo de atleta, parecia fazer academia ou algum esporte. Olhos verdes de dar inveja a qualquer garota e sua voz é suave, doce, boa de ouvir.
- Não da bola pra esse idiota. – apontou para o garoto anterior – Ele adora dar em cima das garotas mais novas.
- Christian é repetente. – Bianca revelou ao ver a confusão – Deveria ter se formado no ano passado, mas só vive de bobeira por ai.
- Você poderia me passar à resposta na sala, já que tenho uma amiga tão inteligente. - Ele entrelaçou seus braços nos meus. – Me chame de Guilherme. É meu primeiro nome.
- Então! – Começou Caroline. – Eu estava dizendo que devo chamar o americano para nosso passeio, talvez eu tenha alguma chance com ele, mas o jumento acha que preciso da permissão dele. – Bufou.
- Por mim tudo bem – disse Bianca.
- Há! Dois contra um bobão! – Pulou animada – Vou aproveitar que ele esta vindo aqui e falar com ele. Espera um minuto... Ele esta vindo!
Ela começou a arrumar o cabelo desesperadamente e nós três também olhamos para trás.
Caio vinha em nossa direção. Sorriu assim que me virei, e por alguma razão, achei que estava me encarando.
- Oi “não é da sua conta”, vejo que fez novos amigos.
Ele sorriu para mim e os outros que estavam presentes. Caroline sorria abobalhada, Bianca o examinava de cima em baixo e Guilherme fechou a cara.
- Queria saber se você gostaria de sair para conhecer o Rio já que estamos saindo cedo. – Olhava para mim e somente para mim, o que me deixava muito nervosa.
- Ela já tem um compromisso, com agente. – Guilherme antecipou.
- Mas você pode vir também! – Caroline gritou empolgada.
Ele olhou para cada um mais uma vez e voltou sua atenção para mim.
- Aonde vocês vão? – perguntou ainda me encarando.
- Jardim Botânico. – Agora quem respondeu foi Bianca apertando sua mão. – Meu nome é Bianca.
Ele correspondeu o aperto e respondeu em seguida. – Eu vou com vocês.
***
Despedi de meus novos colegas e fui para casa ver com que roupa eu iria. Coloquei todas as roupas do meu guarda roupa na cama e ainda estava em duvida, apavorada.
- O que esta havendo, filha? – Minha mãe apareceu na porta do quarto.
- Não tenho nem uma roupa que preste! – irritei-me.
- Claro que tem. Você escolheu todas. – Ela entrou e examinou minhas roupas. – Mas você vai sair?
- Alguns alunos me chamaram para ir ao Jardim Botânico. Conhecer.
- É uma boa, já que você mal sai de casa depois da escola. – Ela pegou um short jeans e uma blusa de mangas. – Experimenta essas.
Peguei as roupas, fui ao banheiro do quarto, vesti e sai. Olhei para ver sua reação.
- Essa, com certeza. Você mal sai com ela, e foi a que seu pai te deu.
Realmente.
Meu pai me levara para comprar essas roupas a cinco meses atrás, antes de eu saber que ele estava com câncer, e que já era muito tarde. Foi tão bom que sempre que falam dele eu me lembro desse dia. Apesar de não me contar nada sobre sua doença, ele parecia feliz e agora penso que ele poderia já esta se despedindo.
- Pode ser essa. – respondi a minha mãe. – Agora vou lá embaixo ver o tênis!
Sai do quarto e não pude mais conter a vontade de chorar. Calcei meu tênis e sentei no sofá, após pegar uma fotografia de meu pai que ficava na estante. Lágrimas caíam compulsivamente em meu colo.