O Preço de uma Estrela (Capítulos 91 e 92)

CAPÍTULO 91: TADEU VASCONCELOS

Depois de tanto conversar com as pessoas do grupinho, senti uma vontade de ir ao banheiro. Pedi licença ao pessoal e sai de perto deles, indo fazer o número um. Saindo de lá, vi o Marcos conversando com um senhor, de cabelos grisalhos e com uma cicatriz no rosto, em uma mesa próximo da onde eu estava sentada. Fui na direção deles.

- Oi, querido!

- Ah, oi!

Cumprimentei também o senhor que estava com ele, com um sorriso, então Marcos nos apresentou.

- Este é o senhor Tadeu Vasconcelos e esta é a Liani Mendes.

- Prazer.

- Prazer! Bom, eu irei deixá-los sozinhos.

Ele mal me cumprimentou e já estava saindo?

- Ah, não se preocupe senhor, eu não quero incomo...

- Que isso?! Eu já estava de saída mesmo. Deixei minha mulher sozinha na mesa.

- Ah.

Respirei um pouco aliviada. O nome deste homem não me é estranho, mas não me recordo onde eu ouvi antes. Mesmo assim, não queria atrapalhar, vai que era trabalho para o Marcos. Ele iria me matar por incomodar.

O senhor se afastou e eu me sentei perto do Marcos.

- Vamos embora?

- Ah, tudo bem. Hum, eu não atrapalhei nada, não é?

Ele sorriu.

- Não. A conversa já tinha acabado.

Ele passou a mão no meu rosto e arrumou um fio de cabelo atrás da minha orelha. Sorri e percebi que seu olhar estava diferente, meio lento. Parecia com sono, ou bêbado.

- Você está bem?

- Por que não estaria?

- Porque seu olhar está estranho. Quanto de vinho você bebeu?

- Um copo.

- Um copo de dois litros?

Mais um sorriso.

- Não, eu estou bem. É sono mesmo. Vamos para casa?

- Você vai conseguir dirigir?

- Eu juro que eu bebi somente um copo. Eu tenho responsabilidade nestes aspectos.

Acompanhei o sorriso dele. Levantamos, nos despedimos de todos e fomos embora. No caminho até o carro, ele me abraçou e fomos andando abraçados até o porsche.

Nenhuma palavra foi dita no caminho de volta para casa. E no apartamento, eu levei um susto. A porta estava destrancada. Então Marcos resolveu entrar primeiro e pareceu não gostar da surpresa.

- LEANDROO!

CAPÍTULO 92: CIÚMES

Abracei meu amigo e comecei a perguntar como ele havia entrado. Leandro disse que o Marcos lhe dera a chave mais cedo. Isto explicava porque o Marcos apertou a campainha e não entrou direto, quando veio me buscar para a inauguração. Meu amigo chegou aqui meia noite, nos esperando duas horas, pois são duas da manhã.

- Marcos não me falou isso. Mas que bom que você está aqui, estava morrendo de saudades.

- Eu também.

- Você vai dormir aqui?

- Bom, já é de madrugada, então acho que sim.

- Tudo bem, eu vou me arrumar então. Tirar esta roupa, tomar um banho, pegar a roupa de cama, daqui a pouco eu volto.

- Tudo bem Li.

Fui ao banheiro e tomei um banho relaxante. Saindo dele, corri para o quarto e coloquei o pijama. Enquanto pegava cobertor e travesseiro, eu ouvi vozes vindo da sala, nada de gritaria, mas dava para sentir a tristeza da voz do meu amigo.

- Me diz a verdade.

- Você sabe que eu gosto de você.

- Ultimamente eu tenho duvidado disso, Marcos.

- Leandro, para!

- Então me responde: Por que você me evitou esses tempos, desde que chegou da viagem?

- Já tivemos esta conversa hoje. Eu te dei até a chave para você vir aqui e a gente ficar junto. Achei que teríamos paz.

Então tudo já estava programado. Marcos idiota!

- Hoje a gente nem conversou. Você só me deu a chave.

- A gente ficou junto. Não é isso que você quer? Ficar junto de mim.

- Não desse jeito.

- Você sabe que eu não gosto de conversar.

- Antes você gostava, mas já faz muito tempo que não conversamos. Eu conversei com um amigo sobre isso e....

- Você conversou sobre a gente?

A voz do Marcos se alterou, ele parecia com raiva.

- Não! Não citei nomes. Não falei sobre você. Só precisei comentar com alguém e ele estava mais próximo na hora.

- Você nem deve comentar estas coisas. Já não chega as coisas que você disse para a Liani?

Ele disse meu nome?!

- Marcos, eu precisei desabafar. Eu sinto um vazio ultimamente. Me sinto sozinho. Você não aparece. Não sei onde você está. Você não para mais em casa.

- Você não pediu para eu me resolver com essa garota, para que tudo andasse mais rápido?

- Eu sei qu...

- Então! Eu estou fazendo isso. Eu estou conseguindo as coisas, conversando, fazendo-a se misturar com o pessoal. Eu estou me empenhando nisso POR NÓS.

- Mas já faz tempo que você está distante de mim. Não é por causa da Liani. Antes de a conhecermos você já es....

- TUDO BEM, LEANDRO!

A voz do Marcos encobriu a do Leandro. Se este era o objetivo dele, ele conseguiu, pois eu não consigo mais ouvir meu amigo.

- Me desculpa! Eu tenho agido assim, pois a Penélope está pegando no meu pé. Este filme de Hollywood é um grande passo para mim. Eu tenho me dedicado as aulas para ficar com um sotaque mais americano. Tenho pensando no teste. Você sabe como é tudo muito corrido e complicado. A Penélope tem influência, mas é aqui no Brasil, lá fora ela é só mais uma. Eu te disse o quanto a gente teve que pensar, conversar, analisar. Eu te contei tudo sobre isso. Por pouco eu não consigo o papel. É pequeno, mas é um degrau da escada para eu subir. Eu precisei ir para Los Angeles fazer o teste e agora eu estou esperando a resposta. O que mais me deixa nervoso. Vamos esquecer tudo isso, vai? Eu gosto de você e você sabe disso.

Hollywood! Testes! Eu suspeitava da viagem, mas agora tenho certeza. Não imaginava que o Marcos era deste nível.

- Então demonstra que você gosta de mim. Pare de se distanciar, pelo menos um pouco.

Eu voltava a escutar a voz do meu amigo, agora chorosa. Então um silêncio. Acho que acabou a discussão.

Voltei minha atenção para as cobertas. Peguei o que precisava e sai do quarto. Antes tivesse ficado lá, pois o que eu vi não me deixou feliz, pelo contrário deu um aperto dentro de mim e um vazio tomou conta do meu ser.

O silêncio dos dois tinha uma razão e não era porque eles estavam sorrindo um para o outro, ou simplesmente se olhando. O silêncio era porque o Marcos e o Leandro estavam se beijando, ali na sala. Um beijo profundo e apaixonado. Pelo menos é o que me pareceu.

Devia ficar feliz pelo meu amigo, mas depois de voltar de fininho para o quarto e sentar na cama, depois que o vazio e o aperto foram embora, a raiva e a vontade de estar no lugar do Leandro, me consumiu.