[Original] We Are Young - Capítulo 12 - Parte 4

Lennon M. Dias.

Bati três vezes à cabeça no volante com raiva.

- Burro! Ela foi embora porque tu és burro! Não soube perdoar e agora perdeu. Ela se foi. – Quando cheguei à casa de Demétri tudo estava fechado e em completo silêncio. Isabel já tinha partido. E nem minha ligação ela queria atender. E com razão, claro. Eu quis que ela fosse embora.

Liguei o carro e dei partida. Eu nunca odiei tanto Isabel por não ter sido teimosa a ponto de ficar no Sul. Ela sempre fora teimosa comigo. Porque AGORA que eu precisava, ela não fazia isso? Eu estava a 5 minutos da lanchonete quando meu celular tocou. Olhei no visor e o número era restrito. Atendi prontamente.

- Alô?

- O senhor é Lennon Marquez Dias?

- Sim, sou eu.

- É do Hospital Geral de Porto Alegre. Eu achei seu número nas últimas chamadas do celular de... Ahn, só 1 minuto... Isabel Longhi. Ela sofreu um acidente hoje no ônibus 146 que tinha como destino a rodoviária. O que tu és dela?

Minha voz sumiu e fui tomado por um pavor que não sentia desde a morte de minha mãe.

- Sou namorado. – Respondi forçando-me falar. Eu nunca usei tanto meu autocontrole como agora.

- O senhor pode comparecer ao Hospital? – A voz dela era séria e formal.

- Sim, estou a caminho.

- Obrigada.

Finalizei a ligação e liguei o carro indo rumo ao Hospital. Por algum milagre do destino, as ruas estavam vazias, o que facilitava meu trajeto.

(...)

Estacionei o carro, fechando a porta de qualquer jeito e indo em frente ao Hospital e entrei correndo direto a recepção. Eu tremia e suava.

- Pois não? – Perguntou a recepcionista. Ela era alta e loira e tinha um sorriso simpático.

- Eu sou namorado de uma guria que sofreu um acidente de ônibus agora. Eu preciso vê-la.

- Ah claro, só 1 min...

- NÃO! NADA DE UM MINUTO, SEGUNDO, PORRA NENHUMA, EU QUERO VÊ-LA A-GO-RA! – Eu sabia que a recepcionista não tinha culpa, mas se ela me colocasse pra sentar eu seria capaz de invadir a sala de emergência.

- Senhor, por favor, mantenha a calma! – Ela olhou de soslaio para o segurança que estava na entrada do hospital. Aproveitei a deixa e corri disparado até a ala que presumi ser de emergência. Pela movimentação que estava, eram os parentes dos acidentados do ônibus 146.

- Isabel?? – Chamei por seu nome olhando em todas as direções daquela minúscula e lotada sala. Uma doutora negra e de altura mediana se aproximou de mim.

- Isabel Longhi?

- Sim.

- Está na sala de emergência. – Respirei fundo e pus minha mão no ombro dela, para me apoiar. - O senhor pode se encaminhar a sala de espera. Te acalme, ela é uma guria forte. Chamou por um tal “Lennon” muitas vezes. Deve ser você.

Assenti e tentei sorrir, mas soou meio doentio diante do estresse que eu estava passando. Liguei para meu irmão pois no momento era o único número de telefone que eu lembrava

“O QUE? E PORQUE TU SÓ AVISAS ISSO AGORA?”

- Porque eu só consegui ligar agora. Chama o Demétri e o Emerson e venham pra cá.

Eu estava sentado na sala de espera com mais umas dez pessoas desconhecidas. Alguns choravam, outros tentavam se controlar. A maioria parecia ser família, talvez eu fosse o único namorado presente.

Na primeira vez que passei por uma situação dessa eu era novo demais e não tive nem tempo de sofrer o quanto eu merecia. Depois de 2 anos eu estava novamente num hospital, agora esperando notícias de Isabel.

- Senhor? – Acordei em sobressalto ao ouvir a voz da Doutora. – Me desculpe, tu cochilou. Aqui está o celular de sua namorada. Como descarregou, tivemos que arrumar um carregador pra conseguir ligá-lo e pegar seu número. – Ela me entregou o celular de Isabel, ou pelo menos o que restou dele.

- CADÊ ELA, CADÊ? – Ao ouvir a voz de meu irmão eu fiquei de pé. – Porra, Lennon!

- Fica quieto, ela vai ficar bem. – Eu o abracei. Demétri e Emerson chegaram logo atrás. – E aí gente.

- E aí mano. – Soltei Lucas e cumprimentei meus amigos. Eu, Lucas e Demétri nos sentamos nas cadeiras vazias. Emerson preferiu ficar em pé.

- Quem vai ligar pra família dela? – Perguntou ele, se encostando a parede e mexendo nas mãos, nervoso.

- Eu ligo pra mãe dela. – Respondi. Eu sou o namorado, eu quis que ela fosse embora. É o meu dever ligar. – Lucas, te lembra daquela tal amiga dela, Faela, Rafaela, sei lá?

- Lembro. Quer que eu ligue?

- Sim. Por favor. – Tirei do bolso o celular de Isabel e entreguei a ele. –

Tá nas últimas ligações o número dela. Explica tudo e com calma.

- Beleza.

Lucas saiu da sala e Emerson sentou-se em seu lugar.

- Cara, ainda não acredito que isso aconteceu com ela... – Murmurou Demétri, balançando a cabeça em negação.

- Nem eu. Eu estava indo atrás dela e isso acontece.

- Ela vai ficar bem é uma guria forte. – Emerson disse, em seu modo “paizão” que sempre teve com Isabel. – Demétri, o que foi que seu tio te disse?

- Bah... – Ele baixou a cabeça, parecendo não querer se lembrar da bronca que recebera.

- É verdade, também quero saber. – Eu disse, o observando atento.

Talvez uma conversa nos distraia desse clima tenso que é estar dentro de um hospital esperando noticias.

- Tá, eu vou contar... Foi assim [...]

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Como eu não postei nada aqui nesse ano que entrou, eis um capítulo pra aguçar a curiosidade de vocês.

Um spoiler do próximo:

“E eis que você estava lá do meu lado, foi bonito.”

(Caio Fernando Abreu) O título tem mais a ver com a parte 2 do capítulo 13.

- Oi, Lucas.

“Rafaela, a Isabel sofreu um acidente.” – Ela mordeu o lábio pra segurar um grito que nascia em sua garganta. Não podia ser. Não. Isabel não podia estar no meio do acidente do ônibus 146. “Ela já foi socorrida, está no Hospital Geral de Porto e...”

- AGORA ME EXPLICA UMA COISA... PORQUE A ISABEL ESTAVA INDO EMBORA? – Não queria se descontrolar, mas sabia que tinha algo errado nessa história. Iasmin a olhava. Sabia que estava certa sobre Isabel.

“Meu irmão descobriu que ela havia mentido e eles terminaram. Daí ela tava voltando pra São Paulo.”

- EU QUERO FALAR COM O SEU IRMÃO A-GO-RA!

“Se tu parar de gritar eu juro que chamo ele.”

- FODA-SE! EU QUERO FALAR É COM ELE.

Rafaela pode ouvir Lucas sussurrar um: “vadia escandalosa”, mas preferiu não responder.

Cerca de 5 minutos depois, a voz séria e distante de Lennon chamou Rafaela.

“Alô, Rafaela?”

- A SUA SORTE GAÚCHO BABACA, É QUE EU NÃO ESTOU AÍ, PORQUE SE EU TIVESSE, EU TE FARIA ENGOLIR TODOS OS DENTES DA SUA BOCA! VOCÊ NÃO SABE A HISTÓRIA DE VIDA DA ISABEL! NÃO SABE AS MERDAS QUE ELA PASSOU POR CAUSA DA MÃE, VOCÊ DEVIA TER PROCURADO SABER A HISTÓRIA DELA ANTES DE MANDA-LA IR EMBORA COMO SE ELA FOSSE UM OBJETO QUE VOCÊ CANSOU DE USAR!! E...

Rafaela e Lucas terão história... huahuahuah. Vou soltar uma prévia de Volver. Tenho alguns capítulos prontos.

Tamiris Vitória
Enviado por Tamiris Vitória em 02/01/2013
Reeditado em 13/01/2014
Código do texto: T4064349
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