[Original] We Are Young - Capítulo 12 - Parte 2
Capítulo 12 - Parte 2
Isabel Longhi
Depois da conversa com Lennon eu segui pra casa de Demétri. Passei a noite em claro, não tive a menor vontade de dormir. Quando o dia raiou, liguei para Lucas pedindo o endereço de Bruna, ainda tenho uma pendência a resolver com a piranha.
- Desculpa não ter ligado pra ti, mas eu não estava bem... Preciso de mais um favor seu.
“Não desculpo!! Fala, Bel.”
- Vê pra mim se ainda estão vendendo passagem pra São Paulo?
“Tu vai mesmo?”
- Sim e eu volto quando você menos imaginar.
“Promete?”
- Prometo.
“Certo. O que tu vai aprontar com a Merten?”
- Vou ensinar a ela como se tornar humilde.
“Arrebenta na surra.”
- Pode deixar.
(...)
O prédio onde a piranha Merten mora é sem dúvidas um dos mais bonitos de Porto Alegre. O estilo era moderno, dinâmico, trabalhado em cores clássicas, que se destacavam em meio aos arredores do bairro. Com certeza só os burguesinhos gaúchos moram nele. Coitada, vai ser uma vergonha tremenda pra ela apanhar dentro de casa.
Apertei a caixinha preta que era o interfone de fala direta com o porteiro. Uns 5 minutos depois, ele abriu o portão e eu entrei tentando soar o mais normal o possível.
- Oi, bom dia! – Dei meu melhor sorriso ao velho. – Eu sou de São Paulo, vim tratar de uma encomenda com a senhorita Bruna Merten, o senhor por gentileza pode me passar o número do apartamento dela?
O velho que lembrava seriamente ao Mr. Bean, parecia desconcertado com meu modo de falar. Educação choca as pessoas.
- Bah, claro. Srta. Merten é do 6º andar, nº89. Pode subir.
Hoje é meu dia de sorte.
Entrei no elevador, apertei o botão pra ir ao 6º andar. Por alguns minutos me olhei no espelho de fundo. Eu estava horrível. Meu cabelo estava num rabo de cavalo mal feito, parecia que eu estava usando a mesma roupa há séculos. Senti cansaço só em me olhar.
Aliás, eu podia não estar cansada fisicamente, mas no emocional eu estava só o caco.
Desci no 6º andar e me encaminhei pro nº 89. Toquei a campainha e Bruna me atendeu rapidamente. Mas não era a minha visita que ela esperava.
- O que tu estás fazendo aqui? – Perguntou, pondo a mão na cintura e me medindo com nojo. – Bah! Como é que foi que tu descobriu meu endereço guria??
- Tenho meus contatos. – Respondi lentamente. – Nós temos algumas coisinhas a resolver antes de eu ir pra São Paulo. - E dei um sorriso de canto a ela. Bruna pareceu entender a minha intenção e tentou fechar a porta. Travei sua ação com o pé e ela ficou batendo sequencialmente pra não me deixar entrar. Segurei a maçaneta com força e empurrei a porta contra ela, que caiu no chão. – Não dificulta. Se eu não te bater aqui, te bato no seu local de trabalho.
Entrei no apartamento, e nem perdi meu tempo olhando a decoração, apesar de ter total ciência que era um dos lugares mais bonitos que eu já estava entrando.
- Vai me bater???? Do que adianta tu me bater se o que já foi feito não tem volta? – Ela ficou em pé.
- É verdade. E acho que você não tem solução. Seu egoísmo não tem solução. – Bruna ficou em silêncio. – Parabéns, conseguiu acabar com meu relacionamento, mas de uma coisa você pode ter certeza.
- Do que? – Perguntou, arqueando a sobrancelha.
- Diferente da época em que você o namorou, Lennon agora sabe o que é amar alguém e ser correspondido. Amor, sabe? – Ela não disse nada. – Ah não, você não sabe o que é amor ou amar alguém além de si própria. E mesmo você tendo feito o que fez, eu continuo sendo a mulher que ele ama. E você vai morrer com isso. Com essa inveja.
- Inveja????????? Tu achas mesmo que eu tenho inveja logo de ti? – As mãos dela ficaram em sua cintura. – Quero que os dois se fodam. Só isso.
O espaço de tempo que eu fui até ela e lancei um soco no canto esquerdo de sua boca foi muito pequeno. Bruna não gritou ou fez escândalo como eu esperava, ela deu o revide na mesma hora. A esquerda dela era boa pra caramba.
- Tu não é ninguém pra falar de mim. – A mão dela foi ao meu pescoço, enforcando-me. Eu sentia suas unhas grandes machucarem minha pele e o ar começar a faltar no pulmão. – É apenas uma paulista rebelde que deu sorte de conhecer três trouxas de bom coração.
Eu chutei sua canela para me livrar de suas mãos sob meu pescoço.
- Trouxa? É assim que você fala do único cara que ainda ama é capaz de te amar? – Eu estava entrando no ponto fraco dela, que era basicamente falar de Demétri. – Ah, mas claro. Além de o amor ser cego, você conta com a sorte de ter conhecido ele na época em que você devia ser menos imunda do que é agora.
- Não fala do Demétri. – Sussurrou lenta e ameaçadora. Eu ri em total deboche. Ela ameaçou avançar contra mim. Eu a chamei com o dedo. – Não vou me sujar mais contigo do que já me sujei.
- Você já é suja sem precisar tocar em mim. Tenho muita pena do Demétri.
- Ah é? Se tens tanta dó porque não ficou com ele?
Essa pergunta me pegara desprevenida, eu não sabia do conhecimento dela sobre meu “rolo” com Demétri.
- Porque eu não o amava. O amor que tenho por ele é diferente.
- Blá, blá, blá. – Meu Deus, como eu a odeio. – Desculpa, mas isso pra mim é conversinha fiada.
- Tá faltando espelho na sua casa? Se enxerga, Bruna. Olha você! Cheia da pose e da autossuficiência. Você é mais dependente de atenção do qualquer um. – Pela primeira vez, Bruna Merten baixou a cabeça pra mim. – Aproveita enquanto ainda tem o Demétri apaixonado por você. Vê se não repete a burrada que fez com ele.
- Tu esta me aconselhando? – Ela me olhou rapidamente.
- Talvez. – Dei de ombros, sem perceber que eu estava mesmo fazendo isso. – Apesar de saber que ele merece alguém melhor que você.
- Devo concordar. – Uma lágrima desceu pelo rosto vermelho da gaúcha. – O problema é que ele não entende. E isso não me alegra.
- E você é egoísta demais pra conseguir deixa-lo.
Bruna finalmente liberou um pouco suas emoções com as lágrimas que caiam em seu rosto.
- É. Eu sou. – Balançou a cabeça sinalizando um sim. – Sou porque eu tenho um problema com o Demétri.
- E qual é? – A cena de Bruna chorando estava mexendo comigo. Eu me identificava com sua dor.
- Ele é meu. Sempre foi. Nossa história é antiga demais. – Ela estalou o dedo médio e o polegar sinalizando longo tempo de convivência. – Mas ele merece alguém que possa ama-lo da forma que ele merece. E ele merece ser muito amado.
- E você se sente incapaz de ama-lo?
- Sim. – Ela limpou suas lágrimas com as costas da mão. - A questão é que eu não sou boa para ele. Mas também não sei me livrar da possessão que me prende a ele e que o prende a mim.
Eu ia dizer algo, não sabia bem o que, nunca gostei de julgar o que acontecia dentro dos outros. Vê-la falar dele daquela forma me deixara sem ação. Ela o amava. Do jeito doentio e maluco dela, mas o amava. É como dizem por aí, temos que considerar justas todas as formas de amor.
Uma batida na porta nos trouxera a realidade.
- Quem é? – Perguntou Bruna, secando seu rosto e ajeitando o cabelo.
- Sou eu, Bruna. Eu sei que eu não devia estar aqui, mas eu preciso de te ver. – Era Demétri. Bruna me olhou como se dissesse “Viu? Ele também não coopera”. Silenciosamente ela abriu a porta de seu apartamento.
- Bruna, eu te... – Demétri começou a dizer, mas ao me ver, se calou. – Isabel?!
- Oi. – Eu ajeitei meu cabelo em um rabo de cavalo e dei um meio sorriso pra ele.
- O que tu está fazendo aqui? – Ele então reparou no vermelho do rosto de Bruna e depois no do meu. – Vocês estavam brigando?
- É. – Bruna respondeu, olhando-o com cautela.
- Mas já está tudo bem. – O tranquilizei. – Vou passar na sua casa e pegar as minhas coisas.
- Vai voltar pro Lennon?
- Não. Estou indo pra São Paulo. – Demétri passou por Bruna e me puxou pela mão. Eu o abracei. – Muito obrigada por tudo.
- Shiu... – E dentro dos braços dele eu me senti como na primeira vez que o abracei: protegida. – Eu queria tanto poder te ajudar.
- Você já me ajudou muito. É hora de eu voltar. – Ele segurou meu rosto com as mãos. Não demorou muito e eu já estava chorando. – Não me faz chorar mais do que eu já chorei.
- Eu te amo, tá? – Bruna nos olhava inexpressiva.
- Também te amo, Dê. – E Demétri beijou minha testa por um longo tempo. Depois mexeu no bolso e tirou sua chave de casa. – Vou deixar embaixo do tapete.
- Beleza. Vou sentir saudade.
- Eu também.
Sai da sala em passos lentos, meu olhar encontrou o de Bruna, mas logo ela baixou a cabeça. Talvez ela estivesse envergonhada, talvez. Era muito difícil compreende-la.
Dia seguinte...
Lennon M. Dias.
“Sim, quero saber se há disponibilidade de passagem pra São Paulo e é pra hoje. Bah! tem? Muito obrigado.”
Encostei-me a parede ao lado do quarto de Lucas e tentei não me abalar pelo o que eu estava ouvindo. Ela ia embora. Tinha que ir. E eu quero que ela vá.
Desci as escadas rumo à sala e decidi ir pra lanchonete pra ver como estavam as coisas. Desde que o seu Zete fora internado tudo estava uma bagunça completa. Trabalhar seria bom e me distrairia dos problemas pessoais.
(...)
Era início da tarde quando eu cheguei a lanchonete e encontrei Emerson e mais meia dúzia de funcionário recepcionando nosso patrão.
- Bah! Eu não sabia que o senhor já estava de volta! – Eu disse, parando ao lado de Emerson.
- E também não procurou saber, com funcionários como vocês, nem de inimigo eu preciso. – E é claro que o velho continua ranzinza. Eu preferi me manter calado. Preciso do emprego. – Onde está Demétri?
- Não sabemos. – Emerson respondeu. – Vou ligar pra ele.
- Obrigado. Vou pra minha sala. Quando ele chegar, peça para ir até lá.
- Certo.
- Ele não muda. – Disse Ana, uma das funcionárias. Zete já tinha saído.
- Não mesmo. – Concordei indo pra cozinha. – Vamos trabalhar pra garantir nossos 13º pessoal. Fim do ano ta aí!
Meus colegas de trabalho riram enquanto cada um se encaminhava pra sua área.
Se eu conheço bem o meu patrão, hoje o Demétri vai ouvir até amanhã de manhã.
- Quer ser minha pequenina e por muito grandona, meu negócio da China, caipira brigona. – É claro que quando se ouve uma música assim, logo se pega cantando ela pra alguém. - Pedido nº 15 tá pronto!! – Anunciei, colocando o Cheeseburguer na mesa de pedidos prontos.
Emerson entrou correndo na cozinha, levou o pedido e voltou um tempo depois.
- Caraaaaaa!! Demétri chegou! – Ele puxou o ar para finalmente conseguir respirar. – Mano...
- Ele falou onde estava?
- Na Bruna... Isabel passou lá na casa dela e parece que as duas brigaram.
- Ah.
- Tu vai mesmo deixa-la ir?
- Vou.
- E se ela não voltar? – Eu me sentei na cadeira e Emerson sentou na bancada.
- Ela volta. - Respondi, convicto.
- A gente tem que viver sempre com o “e se” na vida, Lennon.
- Se ela não voltar, eu... – Eu tinha tanta certeza que Isabel voltaria que nunca pensei como reagiria se não voltasse. – eu não sei.
- Tenho a impressão que tu talvez vá se surpreender.
- Já disse que tu às vezes me assusta?
Demétri entrou na cozinha, parecia pasmo demais. E estava pálido.
- Eu acabei de receber a maior bronca da minha vida, mas também, recebi uma puta notícia.
- Que notícia? E porque você está com meu celular cara? – Emerson perguntou, fitando seu aparelho de celular na mão dele.
- NÓS VENCEMOS O CONCURSO!!!!!!!!!!!!!!!!!
- PORRA! – Gritei, ficando de pé.
- MANO, ESTAMOS RICOS! – Nos abraçamos e começamos a pular gritando: “É campeão, é campeão”. Só que apesar de toda a alegria, era evidente a falta de uma certa garota paulista em nossa comemoração. Meus amigos me olharam, eles esperavam que eu dissesse alguma coisa. Eu não sabia o que dizer.
- Ela tá lá casa pegando as coisas dela pra ir embora. Se tu correr, dá tempo de impedi-la.
- Certo! Vou pegar o carro do seu tio emprestado. – Demétri deu um gemido agoniado diante de minhas palavras. – Bah, o que foi?
- Ele já falou pra caralho no meu ouvido. – Emerson revirou os olhos. – É sério.
- É coisa rápida e tu bem que mereceu um esporro do velho pra ver se te situa na vida. – Demétri cruzou os braços, emburrado. – Corre Leite!
- Fui!
Tirei o avental do corpo e o joguei na mesa. A chave do carro do Zete geralmente ficava na em cima da geladeira, ele nos deixava usar o carro em questões emergenciais. Não deixar Isabel partir é uma questão muito emergencial. Ele vai ter que entender.
- Lennon, aonde tu vai?? – Ouvi alguém perguntar do balcão, mas não soube identificar a voz.
- Buscar a futura mãe dos meus filhos. Torçam por mim!
Segui pra garagem aos fundos da lanchonete e procurei pelo Gol preto de meu chefe. Quando entrei no carro já me sentia movido por algo que não sabia definir. Deve ser a esperança.
- Vai dar tempo, vai dar tempo. Ela nunca foi muito rápida com esse negócio de arrumar roupa.
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Prestem bem atenção na parte da Bruna... u_u conversamos no final da próxima postagem.