[Original] We Are Young - Capítulo 11 - Parte 1

Capítulo 11 – For this is the end. – Parte 1

(É o fim para isto)

Tinha terminado, então. Porque a gente, alguma coisa dentro da gente, sempre sabe exatamente quando termina.

"Caio Fernando de Abreu in Os Dragões não Conhecem o Paraíso."

Isabel Longhi

- Oi, que surpresa tu aqui. – Lennon sorriu para Bruna. Ela estava com um olhar penetrante direcionado a mim, fitei Demétri por canto dos olhos, vi um leve desespero em seu olhar.

Essa garota vai aprontar comigo.

- Bah, vim prestigiar vocês. – Ela me olhou rapidamente, eu precisava para-la. – Primeiramente, parabéns pela apresentação, foi linda!!

- Obrigado.

- Bruna. – Demétri a chamou, num tom de alerta. Ela o ignorou por completo

- Isabel... Porque tu não convidaste a sua mãe para vir ao seu show?

Eu congelei ao lado de Lennon. Este passou a mão pelo meu ombro, num abraço afável.

- Bruna, a mãe dela faleceu. – Disse num tom de censura.

- Faleceu? – Ela pôs a mão na boca, fingindo surpresa. Eu fitei Demétri, e ele, assim como eu, sabia que ela ia aprontar algo. Só não sabíamos o que. – Oh! Estou surpresa.

- O que tu queres? – Perguntou Lucas, seco. – Temos que ir embora, Merten.

- Ah... – Ela começou, inocente. - Achei que vocês gostariam de ver essa mensagem tão bonita.

Demétri a envolveu no que parecia ser um aperto mal dado e a fez andar pra trás e eles começaram a discutir aos sussurros. Ela tinha um olhar feroz, quente. E como Demétri estava de costas pra nós, não dava pra saber como estava. Porém, a forma com que a segurava o braço dela acho que entregava que sua irritação era maior que a dela.

Só ele poderia me salvar.

- Eu gostaria de entender o que tá acontecendo... – Lennon murmurou confuso. Eu toquei seu rosto com carinho. – O que foi, Bel?

- EU EXPLICO O QUE TÁ ACONTECENDO!

Ele a soltou. E Bruna com toda aquela sua classe irritante marchou até Lennon e lhe entregou seu celular. Ao me olhar, deu uma piscadela. Meu coração batia tão descompassado que parecia que a qualquer minuto iria sair pela boca. Eu estava ficando trêmula.

- Pra que isso? – Perguntou ele, olhando o aparelho com o cenho franzido.

- Aperte o play, Lennon. – Ela olhou as unhas, distraída. Eu nunca quis tanto matar alguém como eu quero mata-la.

E ele apertou. No momento que fez isso, eu tive que ter uma força do além para não desabar ali mesmo.

A voz de minha soou como uma dolorida lembrança de meu passado, de minha vida em São Paulo.

“AQUI É A MÃE DA ISABEL, ELA FUGIU DE CASA SÓ DEIXANDO UMA CARTA E ALGUMAS ROUPAS! EU DESTRUÍ AS COISAS DELA, NÃO QUERO MAIS AQUELA MENINA COMO FILHA! ERA UMA GAROTA IMPRESTÁVEL, SÓ SABIA RECLAMAR E ME AFRONTAR! EU ESTOU COM PROBLEMAS DE PRESSÃO POR CAUSA DELA, TENHO INSÔNIA E VERGONHA, VERGONHA POR TER DADO VIDA A ESSA MENINA!”

Os olhares lançados a mim após a gravação foram de doer na alma. E eu merecia cada olhar.

Lucas me olhou, e em seus olhos azuis não tinha resquício de mágoa. Ele estava apenas surpreso.

- Como tu descobriu?

- Ah, meu amor. – Ela revirou os olhos, como se sua descoberta sobre minha vida fosse óbvia. – Facebook. E ela está pra completar 19 anos. Ou seja, Lennon, tu não conhece nem metade da vida dessa guria aí. – E me olhou enojada. Eu não estava chorando por orgulho próprio. Eu não daria esse gostinho a vadia.

- Obrigado, Bruna. Um choque de realidade é sempre bom. – Finalmente ele me olhou. Não dava pra explicar o que eu senti com a forma intensa com que ele me olhou, só que de uma coisa eu tinha certeza: Lennon estava magoado comigo. E muito. – Dispenso explicações porque no fundo, no fundo MESMO, eu sabia que tinha algo de errado contigo.

- Lennon, vamos conversar... – Pedi, num tom altamente implorativo.

Ele ficou com o rosto vermelho, estava irritado. Dessa vez, nem seu autocontrole funcionaria.

- Qual é a parte do “dispenso explicações” que não entrou na tua mente? – Engoli a vontade de chorar e tentei, mas sem sucesso, controlar meu desespero. Eu o estava perdendo. – Vamos, Lucas. – Lucas, surpreendendo a todos e inclusive ao próprio Lennon, se pôs firme ao meu lado, passando a mão pelo meu pescoço. – Ah, claro. Isso era de se esperar também.

E ele me deu as costas sem nem ousar olhar pra trás, sem pensar em me perdoar ou tentar entender que as minhas mentiras não foram na intenção de brincar com ele. Só que Lennon, claro, como eu já imaginava, não me daria nem chance de defesa.

Eu o fitei entrar na Kombi de Emerson, este, que ainda estava imóvel parecendo perdido em pensamentos, disse, me olhando brevemente.

- Preciso conversar contigo depois.

- Tudo bem. – Ele andou apressado até sua Kombi, só ele foi embora com Lennon. Olhei Lucas por canto de olho. – Tu devia ter ido com ele.

- Eu sei. Mas eu quero entender porque tu mentiu.

- Vamos conversar.

Nem a música do som do concurso me fazia acordar do transe que eu estava vivendo. Eu queria chorar, queria muito, mas eu não conseguia. Tudo tinha acontecido tão de repente que não me deu tempo de ter uma reação.

Bruna foi embora com um sorriso de satisfação. Eu terei prazer em destruir esse sorrisinho dela.

- Vocês podem ficar lá em casa. Hoje, com certeza, Lennon não os deixará entrar em casa.

Eu baixei a cabeça e então finalmente consegui chorar. Foi um choro silencioso, mas internamente, doeu mais em mim do que qualquer coisa. Demétri abriu os braços, me chamando para ele. Aí, claro, chorei mais. O abraço dele foi a melhor coisa que podia acontecer naquele momento. Lucas também nos abraçou e ficamos nós três abraçados por um longo tempo. Cada um preso ao seu pensamento.

Tamiris Vitória
Enviado por Tamiris Vitória em 23/12/2012
Reeditado em 13/01/2014
Código do texto: T4050402
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