[Original] We Are Young - Capítulo 10 - Parte 3
Capítulo 10 – Parte 3
“E está aberta a Batalha de Bandas em Gramado! Curtam muito!” – Anunciou o apresentador do show. Eu fiquei de pé na hora. Eram bastante audíveis os gritos de “Fratternity” vindas da plateia. Olhei para meu irmão, que deu de ombros.
- Ah... Eu não vou negar que trabalhei as escondidas na divulgação da banda. – Eu o abracei, idiotamente emocionado. – Ah, por favor, Lennon.
Isabel nos abraçou.
- Pow, tu é foda mano.
- Ah, não foi nada. Tudo pelo meu Playstation no final de ano. – Lennon se afastou. – Viemos aqui pra ganhar. Tu sabe disso.
Eu ignorei o olhar de desdém de Verônica e sua corja. Elas entrariam no palco primeiro que a Fratternity, isso facilitava bastante, pois eu queria conversar com meu pessoal antes de entrarmos no palco.
O produtor apareceu no camarim e chamou Verônica, provavelmente era
a vez dela de entrar. Ao vê-la sorrir, minhas suspeitas foram confirmadas.
- Meninas, vamos!!
Com toda a educação ensinada por minha mãe, desejei a minha concorrente toda a sorte do mundo:
- Boa sorte, Verônica.
- Pra você também, amor. - Isabel ameaçou avançar até ela, mas eu a segurei – Segura sua cadelinha, viu? Ela ta raivosa.
A banda de Verônica saiu.
- Ignora. Ela quer te provocar. – Beijei a bochecha dela. – Aproveitando que elas saíram... Eu quero conversar com vocês. – Fiquei de pé no meio do camarim e os chamei. Eu ia chamar meu irmão, mas ele fez um sinal dizendo que ia até o banheiro. – Bom. – Respirei fundo, tentando pensar em algo para dizer. – Passamos por muitas coisas, muitas mesmo. E não foram coisas fáceis. Só que uma prova de que superamos isso é estarmos concorrendo contra a Verônica nesse Concurso. E como Isabel disse, viemos pra vencer. Esse momento é pra esquecermos todos os nossos problemas pessoais – Eu e Demétri nos olhamos. – e entrarmos naquele palco pra cantar como uma banda DE VERDADE. Foda-se não somos experientes, vamos usar toda a nossa garra pra botar pra foder ali. Eu quero ver a Verônica humilhada e sei que vocês também. – Isabel sorriu. – Não importa o resultado, claro que eu quero ganhar, todos querem, mas, se não for a nossa vez, nós vamos sair de cabeça erguida... Como bons perdedores. É isso, galera!
Demétri estendeu a mão ao nosso centro e disse:
- Aqui é Fratternity, porra! – E colocamos nossas mãos em cima da dele.
Juntos, a jogamos para o alto, em sinal de vitória. Unidos, nós conseguiríamos vencer.
Mais tarde...
Isabel Longhi
- Que porra é essa??? – Perguntei, tapando os ouvidos. Algo tinha saído errado na apresentação de Verônica e a guitarra dela parecia ter desafinado. Os meninos se olharam e Lennon bateu a mão na testa lamentando alguma coisa. – O que foi?
Lucas abriu a porta do camarim e entrou fazendo uma dancinha bastante ridícula.
- Eu vou matar tu. – Lennon avançou até o irmão e o pegou pelo pescoço. – Lucas, isso é sacanagem, cara!
- Por quê? Ela merecia, Leite! – Olhei de Emerson pra Demétri. O primeiro estava como eu, confuso. Já o segundo assistia a tudo aquilo com seu habitual ar de graça.
- Lucas ferrou a apresentação da Verônica. – Explicou, percebendo a minha confusão. – Leite... – E foi até os irmãos. Lennon soltou Lucas. – Deixa isso quieto. Ninguém viu né Lucas?
- Claro que não, sou eficiente.
- E arrogante. – Eu murmurei, rindo pra ele. – Bom, cadê elas?
“SUA BURRA, IDIOTA E BURRA!” – Ao ouvir a ferocidade na voz de Verônica, nós nos aquietamos no camarim. Ela nem podia sonhar que isso tinha dedo de um dos nossos.
As meninas entraram no camarim, Verônica ainda xingava a guitarrista.
- NÃO FOI CULPA MINHA! – Retrucou a outra, também aos gritos. – FOI ARMAÇÃO.
E as quatro olharam diretamente pra mim. Antes que eu pudesse correr, elas avançaram, só que Lennon se pôs em minha frente me protegendo.
- Tu toca nela e eu juro por Deus que eu acabo contigo. – Disse, bem lento e ameaçador.
- FOI ELA, ISSO É COISA DO PESSOAL DE VOCÊS! – A loirinha gritou, olhando para todos nós.
- Ah, faça-me o favor, ninguém saiu daqui ow. – Falei atrás de Lennon. Eu enfrento uma, mas as 5 é sacanagem. – Isso foi azar de vocês.
- Não acredito em azar. – Verônica retrucou. – De fato, vocês não saíram, o pessoal do concurso não permite. Não foram eles, meninas. - Lucas soltou o ar que segurava. - E Tainara, quando acabar o concurso, eu quero tu fora da minha banda.
Tainara entrou em uma crise de choro de dar dó.
- Hei, é a vez de vocês. –O produtor apareceu na porta do camarim, avisando. – Rapidinho galera!
Eu ainda não estava preparada, mas como não dava pra pensar, deixei Lennon sair me puxando pra ver se eu me encorajava. Lucas me lançou um olhar encorajador. Espero que ele não apronte mais nada.
- Vamos arrebentar. - Emerson disse, segurando minha mão e me dando força. – Tu vai ver.
Minha cabeça girou levemente ao ver tanta gente nos olhando e gritando com ansiedade. Lucas tinha trabalhado mesmo na divulgação da banda. Pois até meu nome eu conseguia ouvir.
Emerson foi para a bateria, Demétri se posicionou ao lado direito de Lennon com seu baixo. Eu fiquei no esquerdo, ele me ajudou a ajeitar a guitarra, sorriu e me deu um beijo na testa, surrando em meu ouvido três palavras suficientes para me dar força e coragem:
- Eu te amo.
Eu dei um selinho nele em resposta. Quando ele se afastou, já não era aquele Lennon que eu conhecia. No palco, ele se transformava em um verdadeiro vocalista.
- Boa noite. – Ele estava com o microfone nas mãos. - Sem delonga, porque vocês não vieram aqui pra ouvir blá, blá, blá. Vamos de som. – E de costas pra Emerson, ergueu a mão e contou até 3, pra então dar início a música, que não era a mesma que havíamos tocado no ensaio geral.
* Fizera pouco em tê-lo deixado todo quebrado
Desfigurado, irreconhecível até pra mãe
- Mãe olha só que legal, carro que eu ganhei no natal
Tu que me deu, disse “cuidado pra que não arranhe”.
No começo, estávamos todos meio receosos, mas o sorriso de cada uma daquelas pessoas que nos assistiam era como um incentivo. Lennon cantava andando pelo palco, e eu sabia que ele estava fazendo aquilo para não ficar tão nervoso.
- Menino doido, tu quebrou os friso
Tem noção do prejuízo?
Acho que o teu pai te matar
Os olhos deles esperando o carro do ano
Um modelo italiano
Que acabaram de inventar
[...]
Na repeat do refrão, ele esticou o microfone para o público, que respondeu, cantando em perfeita sincronia com a gente. Quando chegou o solo da música, eu fui pra frente de Lennon e fiz a minha parte e com direito a jogada de cabelo à lá Slash.
Eu quero é ver o oco
Só na mãozada eu deitei seis, mas detestei matar
Eu quero é ver o oco
Sem controle, tocando fole, é hora de dançar
Não sei explicar a emoção que senti ao ser aplaudida com tanta energia.
Lennon cantava e fazia o público interagir com a gente. Finalizamos a nossa apresentação com chave de ouro. E eu por estar vivendo a experiência mais marcante da minha vida, chorei emocionada.
“MAIS UM, MAIS UM, MAIS UM!!!” – O Público pediu, e o apresentador apareceu no meio do palco. Surpreso e muito feliz.
“Que apresentação foi essa banda Fraternity?” – Ele cumprimentou Lennon. “Meus parabéns!”
Ele disse mais alguma coisa que eu não consegui entender, ainda estou bastante elétrica. Ao sentir a mão quente de Lennon segurar a minha, eu o olhei.
- Vem!
Lennon M. Dias
- MANO!!!!!!!! O QUE FOI AQUILO?? – Emerson perguntou, extasiado. – Cara... Sem palavras.
Verônica lançou a nós um extremo olhar de ódio.
- Vocês! – Ela apontou pra mim e Demétri. Nós a olhamos. – Isso não vai ficar assim.
- Qual foi, Verônica? Se tu não sabe brincar, não desce pro Play. – Todos rimos com a resposta de Demétri. Ela saiu do camarim com suas fieis seguidoras.
- Ela é louca. – Emerson disse, balançando a cabeça, pasmo. – Precisamos comemorar isso com muita cerveja.
- E vamos. – Eu o olhei. – Só que precisamos saber como vai acontecer à votação.
- Eu acho que vai ser pela internet. – Isabel murmurou, sentando-se no sofá. – Tá tão mainstream votação pela internet.
- E é bem melhor né? – Lucas, que tinha aparecido de algum lugar, disse. Eu o fitei, desconfiado. – O que?? Eu estava gravando vocês ow!
- Eu espero que seja só isso mesmo. – Murmurei, num tom levemente ameaçador. Ele deu de ombros.
Alguns minutos depois o produtor da banda entrou e informou que por motivos administrativos, a votação aconteceria por sms e internet após o Concurso. Particularmente, acho mais democrático quando ocorre nesse sistema. Não demorou muito e nós seguimos para o estacionamento. Quando de repente, vi Bruna Merten, minha ex-namorada sentada no capô de seu carro, que estava estacionado um pouco longe da Kombi de Emerson.
- Bruna?! – Perguntei, chamando sua atenção. Ela se virou lentamente, deu seu sorriso mais cruel e ficou de pé.
- Olá! – Ela veio em nossa direção, parando um pouco distante. Naquele momento eu sabia que algo esteve prestes a acabar.
* A letra "Eu quero é ver o Oco" pertence a banda Raimundos. Eu sou apenas uma fã da banda que recomenda esse somzão a vocês.