O Preço de uma Estrela (Capítulos 65 e 66)

CAPÍTULO 65: SEPARAÇÃO

"Leandro me deixou."

As palavras, que Marcos acabou de dizer, entravam em minha mente e eu não conseguia compreendê-las. Gostaria de saber o motivo, mas dei tempo ao Sandret, ele estava muito magoado e eu não queria pressioná-lo em nada. Isto foi bom, pois pude pensar e esconder minha surpresa e incredulidade.

Um tempo depois, Marcos, olhando para o chão, começou a dizer-me tudo o que tinha acontecido entre ele e Leandro, desabafando aquilo que havia segurado por tanto tempo consigo.

- Eu cheguei da casa de Penélope, onde tínhamos conversado sobre a viagem à Los Angeles, etc. Leandro estava sentado no sofá do meu apartamento, com os braços cruzados, todo nervoso. Ele estava com umas fotos.

Marcos levantou a cabeça e me olhou. Não consegui esconder minha expressão de pena dele, por ouvir suas palavras que carregavam tanta tristeza.

- Eu nem tive tempo de perguntar o que elas eram. Ele simplesmente jogou as fotografias no meu rosto e disse que tudo estava acabado.

Silêncio. Agora eu não consegui me segurar. Precisava perguntar, pois não podia acreditar que tinha apenas acontecido isto: uma jogada de fotos no rosto e uma saída, provavelmente, dramática.

- E foi somente isso? O que tinha nas fotos? Você não perguntou nada?

- As fotos era de mim abraçado com um outro cara. E não, não foi somente isso. Eu segurei o Leandro pelo braço, antes de ele sair do apartamento. Ele não podia sair assim, sem me explicar nada.

Ele e um outro cara? Abraçados? Novidade! Agora dá para entender tudo. Minha pena dele? Sumiu!

Marcos deve ter percebido que minha expressão de pena desapareceu ou lembrar daquela parte do ocorrido lhe deu forças, pois se levantou, e, de pé, continuou relatando com mais vivacidade em sua voz e percebi que com um pouco de raiva também.

- Leandro me contou que colocou um detetive atrás de mim. Eu não pude acreditar. Sabe o quanto isso pode ser ruim para minha carreira se alguém souber? E tem mais, isso significava que ele não tinha mais confiança em mim!

Uma bufada de raiva por parte dele.

- Foi horrível descobrir aquilo. Então ele percebeu que eu fiquei com raiva e me disse que eu não tinha direito de sentir aquilo. Que EU estava errado!

E não estava? Perguntas surgiam em minha cabeça, mas não chegavam em minha boca.

- Então ele me xingou, disse que eu devia ter sido homem e terminado com ele, não continuasse fazendo-o de palhaço. Eu nunca o fiz de palhaço, eu...eu...

Silêncio novamente. Marcos respirou fundo, sentou-se no braço do sofá e o tom de tristeza volto em sua voz, mas minha pena por ele nem se quer fez cosquinhas em meus sentimentos daquele momento.

- Eu o traí sim. Fui errado, eu concordo com ele, mas....Eu também nem sei porque fiz isso. Ele me disse que a viagem havia acabado. Que eu morri para ele. Depois que ele saiu do apartamento, eu cai no sofá, ainda com raiva por ele ter agido daquele jeito, só que alguns minutos depois, eu fiquei com raiva DE MIM por ter feito tudo isso. A ficha de tê-lo perdido caiu e eu sai feito louco atrás do Leandro, mas não o encontrei. Por isso vim aqui e depois que vi que ele não tinha te procurado, só me passou minha antiga casa pela cabeça, como o lugar onde ele pode estar, pois trazem boas lembranças, de nós dois juntos, para ele.

Só para ele?

- Eu não quero perdê-lo. E eu não sei mais o que fazer.

Ele respirou fundo e eu também. Eu não posso me meter! O que ele fez foi horrível. Segunda vez que o Leandro pega fotos dele com outro cara! Sendo que na primeira, foi enganado como se tudo fosse montagem.

Mas eu sei que o Leandro o ama de verdade e, provavelmente, voltar para o Marcos trará felicidade para meu amigo, acho que eu preciso tentar algo.

- Eu vou falar com ele.

CAPÍTULO 66: REAL MOTIVO

Marcos não achou o que eu disse propício, mas eu não abri um fórum de discussão sobre este assunto, simplesmente disse que já estava resolvido, pelo bem do Leandro, e, depois de um tempo, em que ele se recompôs sentimentalmente, fui deitando no sofá para dormir, quando ele me olhou e perguntou, em tom de desentendimento, com a voz habitual dos outros tempos.

- O que você está fazendo?

- São quase quatro da manhã. Eu estou indo dormir.

- No sofá?

- Sim.

- Para de ser boba. Vá dormir na cama! Eu durmo aqui.

- Que isso Marcos? Não tem problema, da outra vez eu dormi aqui.

- Porque da outra vez eu estava com.....com o Leandro aqui. Vá para o quarto. Você pode não querer discutir sobre ir falar com o Leandro, mas isso tem discussão.

Cheia de sono, tudo o que eu não queria era ficar discutindo até sabe lá que horas, então fui para o quarto e deixei o Sandret com o sofá, mas antes de eu sair da sala, Marcos me chamou.

- Garota! Seu braço já sarou?

- Meu braço?

Então entendi o que ele estava perguntando. E a resposta era óbvia, depois de tanto tempo que se passou, era claro que onde ele me apertara não estava mais dolorido.

- Sim.

- Ah....Me desculpa por tudo, eu não tive a intenção de te machucar, agi sem pensar.

- Só pense da próxima vez.

Ele balançou a cabeça positivamente e sorrimos um para o outro, sem mostrar os dentes, sustentando um olhar que não dizia nada e ao mesmo tempo dizia tudo. Então fui dormir no quarto.

No outro dia, com todas as ruas já liberadas e o caos do mau planejamento da infraestrutura a mostra, Marcos me levou até sua antiga casa, do outro lado da cidade, que ficava em um condomínio. Ele me deixou no portão, me deu um dinheiro para voltar de táxi, o que eu recusei a princípio, e saiu para voltar ao seu apartamento, pois tinha uma reunião com o Hugo.

Eu bati palmas, apertei a campainha e forcei o portão para tentar abri-lo. Tudo sem resultados promissores. No entanto, após uns quinze minutos em frente a casa, e com ideia mais do que certa que eu deveria ir pegar um táxi para voltar para casa, vi um rosto na janela, olhando para fora. Segundos depois, Leandro me deixou entrar.

- Achei que não tinha ninguém.

- Desculpe Li, eu pensei que fosse o Marcos.

Leandro estava com o rosto inchado, olhos vermelhos e duas olheiras que revelavam uma noite sem dormir e de muito choro.

Fui até a sala da casa. Um lugar enorme. Sem contar que depois fiquei sabendo que haviam quatro quartos grandes, uma cozinha super equipada e moderna, um quintal amplo, garagem para três carros e três banheiros. MUITO GRANDE A CASA!

- Marcos te trouxe aqui e foi embora?

- Ele precisava resolver uns assuntos com o Hugo. E como você está?

- Mal. É difícil acreditar que ele fez isso comigo.

- Ele esteve em casa ontem, te procurando. Quando viu que você não estava, eu sai com ele a sua procura. No entanto, por causa da chuva, a estrada ficou alagada e não podíamos passar, então voltamos para casa.

Leandro respirou e começou a desabafar.

- Foi horrível Li! Quando eu abri minha correspondência e vi aquelas fotos, com um cartão escrito: NÃO É MONTAGEM! Com data e hora de quando foram tiradas. Tudo desabou. Elas eram daquela época que ele dizia estar ocupado com o final da novela. Ele mentia para mim.

- Eu sinto muito.

- Ele que te pediu para vir falar comigo?

- Não! Eu quis vim te ver. Eu quis falar com você. Não gosto de te ver assim e....Ah, Le, eu sei o quanto você o ama, não quero te ver sofrer.

- Ele te disse algo? Além de te contar como tudo aconteceu?

- Ele me disse que não quer te perder. Estava bem arrasado.

- Ele te confirmou que me traiu?

Engoli em seco. Não sei se devia confirmar aquilo ou deixar o Sandret confirmar. Mesmo assim, eu confirmei com um aceno positivo com a cabeça e depois de ver as lágrimas formando nos olhos do Leandro, eu contornei a situação.

- Mesmo assim ele parece muito arrependido. Disse que não sabia porque fez aquilo e que concordava em estar errado.

- Humf! Agora talvez seja tarde de mais.

Talvez?

- Bom, se você conversar com ele para entender melh...

- Acho que não tem nada para entender, Li.

Acho? Quando temos uma decisão fixa, não há expressões de dúvidas em nossas falas.

- Tem certeza? Conversa com ele, tente entender tudo. Quem sabe não seja apenas uma crise. Todos os casais passam por crises.

Eu sentia que não devia ser uma crise. Segunda vez que isso acontece! E Marcos trata o Leandro estranho. As vezes eles nem parecem um casal. Mas eu compreendia o que aquela separação resultaria para todos.

Depois de um silêncio, Leandro me perguntou.

- No meu lugar, você conversaria com ele?

- Sim.

Menti.

- Então eu vou ligar para ele.

Vi uma luz no rosto de Leandro. Por mais triste que ele estivesse, ouvir aquilo de mim o deixara um pouco mais contente, como se ele já tivesse tido aquela ideia, mas estava esperando que alguém dissesse o mesmo para confirmar que era o certo a se fazer.

Conversamos um pouco mais, agora sobre a casa: como ele conseguiu a chave, após pedir uma cópia de presente de aniversário, para o Marcos; como ela representava bons momentos, com seu amor, para ele; como Marcos ainda deixava tudo como era antes de seu pai falecer, para poder matar saudades dele; como uma diarista conseguia limpar tudo aquilo em apenas um dia e somente uma vez por semana; etc. Quando fui embora, Leandro estava bem melhor do que quando cheguei.

Já no meu apartamento, deitada na cama, eu pensei na conversa com o Leandro e senti que podia estar errada, jogando-o novamente para os braços do Marcos dissimulado. Um pensamento perseguia este sentimento: Leandro estaria feliz com o Marcos dissimulado. E somente um outro pensamento, que seguia o primeiro e também o sentimento, me reconfortara: meu plano, de conseguir ser uma atriz reconhecida, só dará certo, se Marcos continuar namorando Leandro.