O Preço de uma Estrela (Capítulos 63 e 64)

CAPÍTULO 63: ENGARRAFAMENTO

- Marcos, a gente não vai conseguir passar por aqui.

Marcos não me ouvia e andava mais um pouco com o carro.

- Você viu a fila de carros. Alguma coisa deve ter acontecido, para resultar neste engarrafamento.

Biiii! Biiii!

- Para! Para de buzinar! Ele não vai sair da sua frente, você viu a fila.

Marcos não me dava atenção, mas parou de buzinar.

Desde que saímos do prédio, Marcos correra com a hilux. Ele não se importou com uma rua um pouco alagada, muito menos em reduzir por causa de uma lombada. No entanto, tanta pressa e impaciência, não fazia o carro se mover muito naquela fila de carros, que encontramos no caminho. Uma fila que entramos logo que o Sandret virou uma esquina, o que por pouco não o fez bater no carro da frente.

Assim que paramos atrás do carro, Marcos saiu da hilux, eu o acompanhei. Precisávamos ver a dimensão fila. Havia uns dez, quinze carros adiante. Voltei para o automóvel, assim como ele: encharcada pela água da chuva.

Sério, nervoso e impaciente. Marcos metia o pé no acelerador, toda vez que o automóvel diante da gente andava um pouco.

Olhei pela janela, para tentar me distrair um pouco, pois ver o Marcos naquela impaciência, mesmo sabendo que era por um importante motivo, estava me deixando louca.

Lá fora, a chuva parecia mais forte do que quando saímos de casa. As palavras que o Leandro me dissera, surgiram na minha mente: "Te adoro, viu?". Então lembrei de quando aqueles homofóbicos nos abordaram. As coisas horríveis que disseram. Imediatamente comecei a imaginar o que poderá ter acontecido com o Leandro. Ele estava tão feliz hoje mais cedo. Por que sumiu? Será que fizeram algo ruim para ele? Será que o Marcos tem algo com isso?

Me virei para perguntar, sobre o motivo do sumiço de meu amigo, para o Sandret, mas ele estava conversando com um policial, que estava na janela do carro. Estava tão distraída, que nem percebi o guarda chegando.

- Eu não posso retornar. Eu preciso seguir adiante. Tenho algo urgente para resolver daquele lado da cidade.

- Sinto muito, mas não será possível.

- Eu estou aqui há muito tempo, somente esperando para prosseguir.

- Eu sei, muitas pessoas também. Têm pessoas que estão aqui desde as nove horas da noite. Achamos que daria para liberar a estrada, mas não tem como prosseguir.

- Eu atravesso a água. Não há problema.

- Senhor, o nível da água está muito alto.

- Quanto?

- 70% da altura do seu carro.

- Eu não posso acreditar.

- Barreiras já foram montadas. Seu carro não irá prosseguir. Faça o retorno como eu lhe expliquei. Não há mais nada que possa ser feito.

Os carros atrás de Marcos estavam buzinando. O carro da frente já tinha seguido para fazer a curva de retorno improvisada pelos policiais.

Marcos fechou a janela, bateu no volante, soltando um "Merda!" e prosseguiu para fazer o mesmo que outros carros adiante estavam fazendo.

CAPÍTULO 64: EVITANDO O ASSUNTO

No trajeto de volta, nenhum palavra foi dita. Nem por mim, nem por Marcos.

Cheguei em casa, ainda molhada. Marcos me acompanhou. Pensei que ele fosse embora, por isso fiquei surpresa ao vê-lo entrando com o carro no prédio e depois no elevador comigo.

No apartamento, Marcos sentou no sofá, cabisbaixo, e eu me encostei na parede do lado da porta. Um silêncio percorreu a sala, por alguns minutos talvez. Então eu decidi dizer algo, não somente porque eu não gosto de silêncio, mas porque o Sandret estava com uma expressão que eu só vi uma vez, quando perguntei se ele amava o Leandro.

- Quer um chá, ou um café para se aquecer?

Sua resposta foi balançar a cabeça negativamente. Fui ao seu encontro e me sentei do seu lado no sofá.

- Marcos. Você não pode ficar assim todo molhado. Acho melhor tomar um banho. Se pegar um resfriado será ruim para trabalhar.

Marcos levantou a cabeça e me olhou nos olhos. Percebi tristeza em seu olhar.

- Quer conversar?

- Você tem razão. Eu vou tomar um banho.

Sua voz não perdeu o tom sério e encantador. Pelo menos o tom frio e de raiva, neste momento, ela perdeu.

- Tudo bem.

Sorri sem mostrar os dentes para ele.

Marcos se levantou e foi ao banheiro. Fui ao quarto e peguei um short, que ele havia esquecido quando passou a noite com o Leandro aqui, e peguei uma toalha para ele também. Aproveitei e peguei um vestido para eu colocar, depois que tomasse banho.

Fui até a porta do banheiro e bati.

- Marcos!

- Oi!

- Vou pendurar a toalha na maçaneta da porta, tudo bem?

- Tudo.

- Eu encontrei um short que você esqueceu aqui. Vou deixar junto com a tolha, ok?

- Certo. Obri...Obrigado!

Agradecendo. Que coisa estranha de se ouvir!

Voltei para o quarto e fiquei esperando o Sandret sair. Não demorou muito e ele apareceu somente com o short e eu fiquei meio boba, olhando seu tórax definido. Eu já o tinha visto sem camisa antes, mas agora, sei lá. Das outras vezes, acho que eu sempre me distraía pensando em xingamentos por ele me tirar do sério, e no momento, eu não estou fora do sério. No entanto, afastei meus pensamentos e fui tomar banho.

Depois de me arrumar, fui até a sala, verificar se Marcos estava bem ou se tinha ido embora, pois a casa estava um silêncio novamente. Para minha surpresa, Sandret estava no sofá, tomando algo, que a julgar pelo vapor no copo, era quente. Notando minha presença, começou a falar do que estava bebendo.

- Tentei fazer um café, mas ficou muito aguado, então acho que virou um chá.

- Rsrsrs. Tudo bem. Eu vou fazer outro para gente.

- Tome esse mesmo. Está bom. Está doce.

Duvidei um pouco quando vi aquela aguá marrom-claro no bule, mesmo assim levei um gole a boca e percebi que não estava tão ruim assim. Todavia, fiz um outro café, e Marcos deu um sorriso com a minha justificativa.

- Está bom sim, mas acho melhor eu fazer outro, pois você fez pouco e caso mais tarde queiramos tomar, não terá mais. Rsrsrs.

Marcos sorrindo? Agradecendo? Não tendo tom de raiva na voz? Me tratando bem? Havia algo estranho e apesar de eu deixar as coisas rolarem, eu sabia que ele apenas estava se escondendo por trás de uma máscara. Tentando não pensar no Leandro. Tentando não pensar no motivo de ele sumir. Entretanto, depois de eu fazer o café e tomarmos, tudo em silêncio, Marcos, do nada, soltou a voz.

- Leandro me deixou.