[Original] We Are Young - Capítulo 9 - Parte 2
Capítulo 9 – Parte 2
(...)
Lennon M. Dias
Chegamos em casa de táxi e Lucas nos ajudou a levar tudo para a cozinha.
- Pô, vocês demoraram.
- O mercado estava cheio. – Respondi, pondo as sacolas em cima da mesa.
- É, cheio de piriguete dando em cima do seu irmão.
- Bah. É que mamãe passou açu... – Isabel quase voou em Lucas. – Deixa pra lá...
- Rose estava lá. – Eu disse. Meu irmão soltou um “vish”. – E tinha mais duas gurias com ela. Isabel ficou braba porque elas me olharam.
- Elas estavam te comendo com os olhos.
- Não comece!
- Isabel, meu irmão tá tão na sua que chega a ser meloso. – Revirei os olhos e taquei uma colher nele. – Ai ow.
- Sai daqui Lucas.
Ele saiu correndo com seu pacote de bolacha em mãos.
- Vai fazer lanche pra levar a casa da nona? - Isabel
perguntou.
- Não, é melhor pegar algumas coisas e levar, daí eu cozinho lá pra todo mundo.
- Tá bom.
Ela estava guardando os mantimentos quando eu a pressionei contra o armário.
- De novo crise de ciúme?
- Não é isso. Mas... Estava pensando naquela Rose. Não sei por que, mas ela me preocupou.
- Bah. O que ela pode fazer?
- Não sei... – Brinquei com uma mecha solta do cabelo dela. – Eu aqui toda séria e você aí.
- Faz um tempo que tu esta aqui no Sul... Geralmente quando um paulista se muda pra cá sozinho, sente falta da família... Conheço histórias de paulistas que se mataram até. Só que tu... – Ela congelou. Fitei seu rosto tentando tirar coisa de sua expressão totalmente controlada. – parece independente demais pra quem apenas tem 19 anos. E nunca fala do seu pai.
Ela deu um sorriso meio esquisito, abria e fechava a boca diversas vezes, pensando em algo como resposta.
- O que você quer saber?
- Nada em exato. Só acho estranho tu não falar do seu pai.
Era um pequeno interrogatório só pra saber como ela reagia. Dei de ombros, me afastando e pude ouvi-la soltando sua respiração reprimida.
(...)
Isabel Longhi
“Respira!” – Eu gritava mentalmente. Lennon sorriu calmo e se aproximou novamente, mas dessa vez em passos lentos. Ele depositou um beijo na minha testa.
Sinal de respeito, certo? Esse cara me confunde.
- Eu confio em ti. – Dissera baixinho, só que num tom levemente ameaçador. Como se isso fosse um aviso. O que de fato era. Lennon sabe que eu minto, só não sabe no que.
- Eu também. - Toquei em sua bochecha e contornei toda a extensão de seu rosto. A pele estava gelada, só que não me incomodei. Passei pelos lábios, depois pelo queixo. Ele deu aquele sorriso lindo que me deixava completamente louca. Eu tive vontade de chorar. Não posso lidar com a ideia de perdê-lo.
Porque eu não brequei minhas mentiras? Tudo seria tão fácil, tão mais simples.
Ansiosa e tentando esconder meu desespero, beijei Lennon, ele segurou minha cintura e me apertou contra o armário.
Ele era meu, irrevogavelmente meu. Nada que acontecesse mudaria isso.
- Você é meu. – Murmurei em seu ouvido. Nem eu mesma acreditava que podia ser tão possessiva. – E nada que aconteça vai mudar isso.
- Eu sou teu. – Ele beijou meu pescoço e sugou a pele levemente. As mãos desceram para o meu quadril, onde eu o senti me apertar com ainda mais força. Por um momento eu pensei que ele fosse me agarrar ali mesmo, e sinceramente, eu queria isso mesmo. Porém, Lennon relaxou me segurando pelos ombros e se afastou. – Eu continuaria, sério, continuaria muito... – Seu olhar estava ardente. Jesus, que homem é esse? – Porém... Temos que ir à casa da Nona.
(...)
- Fica assim não. – Lucas deu um abraço em Emerson. Eu, ele e Lennon estávamos na sala da casa da Nona o consolando. Ele brigou com a diaba loira, e os dois terminaram. – Sério, tu é boa pinta, arruma outra guria fácil.
- Boa pinta. – Repetiu ele, dando um meio sorriso. – Ou seja, sou pintudo.
Todos caímos na gargalhada. Depois eu dei um tapa em Lennon pra ele parar de rir.
- Fica em paz, gente... Foi melhor assim.
- Mesmo? – Perguntou Lucas, desconfiado.
- É. Ela estava mudada de uns tempos pra cá. O complicado é que eu me acostumei com a ideia de que a Rose era a mulher da minha vida. Um dia tu vai sentir isso, Lucas. Conhecer uma guria que entrará na sua vida de uma forma que tu passa a ser dependente dela. – Eu e Lennon nos encaramos involuntariamente.
Dava pra ler em seus olhos que ele tinha se identificado com as palavras do amigo.
- E tu pensas que aquilo vai ser pra sempre. – Ele deu um longo suspiro e continuou seu desabafo, não tinha drama em suas palavras, ele estava tranquilo, só que sua expressão estava de pura tristeza. Mas também, é muito tempo de relacionamento. Os dois namoravam desde os 15 anos. – Mas não é. Vou fumar um cigarro, já volto.
- Tu não fuma! – Lennon lembrou, franzindo o cenho.
- Agora eu fumo. – E saiu da sala, deixando nós três pasmos.
- Cadê o Demétri?? – Perguntou Lucas, de repente.
- Boa pergunta. – Fitei Lennon. Ele estava com o olhar distante, parecia estar em outro mundo.
- Vou mandar SMS pra ele. – Disse, pegando o celular do bolso e saindo da sala da nona. Voltou um tempo depois. – Já respondeu... Bah, que milagre. “To na casa do meu tio, vou demorar um pouco, talvez eu não vá, mas fique em paz, sei o que fazer amanha.”
Lennon soltou um risinho estranho. Eu não entendi, honestamente.
- E eu nasci ontem. – disse todo irônico e olhando a tela do celular. – Chama o Emerson, vamos começar sem o Demétri.
(...)
- Leite. – O celular de Lucas havia tocado a alguns minutos antes, ele saiu da sala e foi atender lá fora, quando voltou, estava meio receoso.
– A vó ligou.
Emerson de instantâneo olhou para o amigo com apreensão. Lennon não esboçou reação.
- O que ela disse?
- Vai ir lá em casa em breve. – Respondeu o irmão, que assim como todos estava mais preocupada com a reação de Lennon.
- E tu, claro, disse que ela pode ir. – Ele estava irritado. Lucas baixou a cabeça. – Que inferno.
- Calma. – Eu disse, puxando-o para um abraço. Lennon correspondeu, mas ainda estava tenso.
- Ela vai vir no pior momento, como sempre.
- Eu não poderia dizer não a ela.
- É, eu sei!
Observei Lennon sair da sala e decidi não segui-lo. É melhor ele ficar a sós com seus problemas.
- Nossa... – Lucas estava triste. Eu o abracei. – Sério, eu não gosto de quando Lennon fica assim.
- É normal, guri. – Emerson o fitou. – Tu sabe que quando o assunto é família, seu irmão é curto e grosso.
Engoli seco ao ouvir as palavras de Emerson. Levantei e fui até a sala de centro.
Lennon estava encostado na parede da cozinha, fumando um cigarro. Em instantâneo, eu tirei o cigarro da boca dele.
- Tenho nojo de cigarro. – Ele arqueou a sobrancelha.
- Foi só pra me acalmar. – Eu balancei a cabeça, assentindo com desconfiança. – É sério.
- Fica calmo. Talvez ela não apareça. – O olhei com cautela, eu tinha medo dele perder o controle por causa do assunto.
- Ela vai aparecer, eu conheço a minha avó. – Pus a mão em sua cintura e abri sua camisa. Ele deu um sorriso sacana.
- Para, não é o que tu tá pensando.
- Eu não pensei nada. – Nos olhamos. – Tu que fica aí me desejando.
- Cala a boca. – Beijei seu rosto, ele suspirou em frustração. – Estou preocupada com Demétri.
- Não fique. Ele tá bem!
- Tu fala de uma forma... – Comentei, desconfiada. – Me conta o que você ta sabendo.
- Desconfio que Demétri esteja sumido assim por causa da Bruna.
- Como assim? – Arregalei os olhos.
Lennon sorriu.
- O que ele teve com a Bruna acabou de uma maneira muito confusa. – Eu ainda não tinha entendido. – Pow, Bel. Eles estão se pegando, é isso.
Eu soltei um “ohhh” bem longo. Gente, que babado.
- É. Eu sempre achei que rolava um clima entre eles. Teve uma vez que fomos à festa de um conhecido da escola, eu levei a Bruna e tal. Demétri e ela passaram a noite se provocando.
- E você não dizia nada?
- Eu mesmo não. – Ele deu de ombros. – Ah Isabel, eu tinha tanta coisa pra me preocupar naquela época. E outra, eles combinam.
- Não acho. Sei lá. Bruna é tão burguesinha.
- Exatamente. Porém, Demétri sabe domá-la.
Tentei imaginar Demétri com Bruna, só que era um pouco difícil.