O Preço de uma Estrela (Capítulos 55, 56 e 57)

CAPÍTULO 55: MENTIRA COM PROPÓSITO

Marcos demorou no banheiro, em outro momento eu faria a piadinha sobre ele estar fazendo o número dois, no entanto, o jeito como ele saiu da sala me preocupou um pouco. Eu nunca tinha visto o Marcos daquele jeito. Quieto, cabisbaixo, triste. Acho que eu mexi em uma parte delicada de sua vida.

- Eu aceito.

Em meio aos meus pensamentos sobre o episódio que acabara de ocorrer, Marcos saiu do banheiro e entrou na sala como se nada tivesse acontecido. Sua expressão séria, fria, e também sarcástica, voltou para o seu rosto.

- Aceita o que?

- Pela felicidade do Leandro, eu aceito este plano ridículo que você teve.

- Sobre vocês passarem a noite aqui?

- Sim. Por quê? Existe outro plano ridículo.

É! Ele voltou!

- Não, seu babaca.

- Certo. Vamos colocá-lo em prática neste final de semana.

- Tud....Quer dizer, não sei.

- Como assim?

- Eu preciso ver se o Gabriel não vai precisar de mim para ensaiar.

- Tudo bem. Então, depois que você resolver isso, liga para mim.

Marcos já estava indo em direção a porta, quando eu lembrei sobre o teste falso, então levantei do sofá e parei na frente dele.

- Espera um momento. Antes de você ir, eu preciso saber por que você mentiu sobre o teste?

- Que teste?

- O teste da peça teatral. Gabriel me contou tudo.

Sem culpa em sua expressão, Marcos continuou com sua expressão habitual quando respondeu.

- É simples, garota. Gabriel me devia uma e você precisava de um papel.

- E precisava fingir o teste?

- Você preferia que eu dissesse que você já estava dentro?

- Claro! Eu fiquei nervosa. Eu fiquei com medo. Você me fez de idiota!

- Pense o que quiser. No entanto, saiba que todos os testes serão assim, com isso você já sabe o que esperar do próximo. Agora tenho que ir.

Marcos passou por mim e saiu do apartamento. Seco, insensível e....Sei lá, acho que agora eu entendo um pouco o motivo de ele ter mentido. Não devo sentir tanta raiva dele assim.

CAPÍTULO 56: FORÇADO A ME ACEITAR!

Liguei para o Gabriel e depois de ter confirmado que sábado não era para eu ir, pois as coisas estão bem brandas, eu liguei para o Marcos e confirmei sobre o nosso plano.

Em casa mesmo, e sozinha, eu passei algumas cenas da Catilde. A cada fala dela, eu sinto uma chama dentro de mim e uma vontade louca de vivê-la no palco.

- Oi!

- Oi!

- Oi, Li!

- Oi, Le! Rsrsrs.

Leandro contou que o Marcos entrou com o carro no prédio, no qual ele, todo espremido, se escondeu no vãozinho entre o banco da frente e o banco de trás do automóvel, agora um porsche panamera preto.

- Ninguém te viu?

- Não. Foi meio apertado, mas tudo ocorreu bem.

- E na hora que vocês subiram?

- Pela escada, como você disse. Nunca havia reparado, o povo daqui não usa mesmo as escadas.

- Principalmente neste horário. As pessoas ficam em suas casas, é difícil saírem.

Nove e quinze da noite. O pessoal fica ligado na novela, logo NINGUÉM sai de casa.

- Então, como você planejou tudo?

Desde que me disse "oi", esta era a primeira vez que Marcos falava. Ele estava estranho, mais sério que o habitual, mas também dei de ombros para isso, afinal ele SEMPRE é estranho. Uma hora ele está sarcástico, outra ele está sério, outra está frio. Nunca feliz. Me surpreenderia se ele estivesse agora, nem quando o elogiam ele fica.

- Ah,....Bom, eu....hum, é que...

- Você não planejou nada.

Respirei fundo.

- Não, Marcos. Eu não planejei nada.

- É mais fácil admitir, não é?

- Você me estressa, sabia?

- Ei, gente! Ooooh! Vamos parar, ok? Marcos, a Liani não planejou nada, pois o essencial ela já nos deu: a oportunidade de ficarmos juntos.

Sorri com vitória para o Marcos.

- Eu tenho tudo bem aqui na minha cabeça. Vamos jantar e depois vamos dormir.

- E esta garota, aí?

- Janta com a gente.

Mais um sorriso de vitória.

- Bom, então vamos cozinhar, não é?

Leandro falou todo alegre, olhando para mim, e eu me virei para a cozinha, até Marcos falar todo indiferente.

- Eu vou assistir televisão.

- Não, querido, vamos fazer juntos a comida. Eu, você e a Liani.

Me virei para ver a expressão de Marcos. Ele terá que me engolir!

Apesar de eu saber que era um momento deles, eu me senti feliz por Leandro me incluir no jantar, fazendo Marcos me aceitar. Rsrs.

- Não era para ser um momento nosso, Leandro? Além de jantar com esta garota, eu vou ser obrigado a cozinhar com ela? E você sabe que eu nem cozinho.

- Ai Marcos, para de ser mau-humorado. Vamos fazer isso como amigos. Por mim, amor. Você pode cortar o tomate!

Eu ouvindo tudo aquilo. O que o Marcos falava referente a mim, não me fazia tanto efeito, e o jeitinho do Leandro, era engraçado e fofo.

Como o Leandro consegue ficar com um cara idiota como o Marcos? Tudo bem que ele é lindo, sexy, tem um voz encantadora as vezes e....O que eu estou pensando? Melhor eu ir pegar as coisas na geladeira.

- Tudo bem. Por você!

CAPÍTULO 57: PÉSSIMA NOTÍCIA

Leandro verificou a geladeira, depois que eu peguei o alface para fazer a salada.

- Nossa Li, ainda tem aquela carne que eu te trouxe?

- Você sabe que eu não sou de cozinhar muito, principalmente se for somente para mim. Ainda tem um monte de coisas que você trouxe.

- Beleza! Vamos ver o que temos para fazer o jantar, pois eu não pude passar no supermercado para comprar algo, já que devia ficar escondido.

Marcos pegou uma faca, alguns tomates e a tábua de cortar carne, sentou no banquinho do lado do balcão da cozinha e começou fazer o que o Leandro pediu, em total silêncio.

Acende o fogo ali, procura algo aqui. Enfim, a preparação do jantar estava correndo muito bem. Iremos ter arroz, salada de alface com tomate, strogonoff de carne à la Leandro e suco de laranja natural.

- Ai, droga!

- O que foi?

- Estou apertado.

- Vai no banheiro, ué?

- Ué?

- Uma expressão da minha cidade.

- Ah. Mas não dá para eu ir no banheiro agora, senão vai desandar o meu molho especial do strogonoff.

- Hum, quer que eu fique olhando para você?

- Bom, é meu molho especial, logo deve ter algum segredo meu, não é?

- Entendo. Um segredo que você não vai me contar.

- Isso mesmo, por isso é....Ah, já terminei. Vou ao banheiro. Já, já eu volto! Não mecham no molho!

Assim que Leandro saiu, eu olhei para o Marcos, como para perguntar "ele é sempre assim?", mas percebi que mesmo com aquele jeitinho bobo do Leandro, ele não mudava sua expressão séria, como se não estivesse gostando de nada daquilo. Mesmo sabendo que poderia estar errada, resolvi puxar papo, pois não gosto de ficar em silêncio.

- E aí? O Leandro me disse que como foi a última semana da novela, você estava totalmente ocupado. Como conseguiu uma folga no sábado a noite?

Marcos me olhou, não disse nada, depois voltou para o seu tomate, que por sinal, ele estava demorando para picá-lo.

- Tudo bem, não quer falar, não fala.

- Você é irritante, garota!

- Era para ser uma coisa legal, divertida, mas pelo jeito só está sendo para mim e para o Leandro.

- Eu estou me divertindo, não vê como os tomates estão super contentes comigo por perto?

- Você não sabe falar uma coisa sem ter ironia no meio?

- Perto de você? Não.

- O que você tem contra mim?

- Tudo.

- Marcos, é sério.

- Eu também estou sendo sério.

Bufei. Eu sabia que estava sendo errada em puxar conversa com ele. É isso que eu levo por tentar ser simpática.

- Ah, você deve saber que Penélope virá aqui amanhã. Ela quer conversar com você.

- Conversar comigo? Se for para ela di...

- Ela vem jantar.

- Jantar? Você é louco? Esqueceu qu...

- Ela é minha mãe.

Fiquei quieta. Ouvir isso da boca dele é pior do que ter ouvido da boca do Leandro.

- Não se espante, eu sei que você sabe. O Leandro me contou tudo o que ele te disse. Eu disse que vinha "ficar" com você hoje e ela disse que já que estamos seriamente juntos, ela quer te conhecer melhor. Um momento de paz.

- Momento de paz? Péssima notícia. E por que você contou à ela que viria aqui? Ou por que você aceitou isso? Pelo que eu saiba vocês se odeiam, não é?

Marcos somente me olhou como da última vez e depois voltou para seus tomates. Percebi que a conversa havia acabado. Alguns instantes depois, Leandro voltou.

- Não mexeu no meu molho, não é?

- Não.

- Amor, você já terminou. Agora só faltam os seus tomates para a salada e podemos jantar.

Não ouvi a voz de Marcos, nem agora, nem durante o resto da noite.

Após o jantar, Leandro foi com o Marcos para o quarto e eu me ajeitei no sofá.

O que será que me aguarda amanhã a noite?