Sapos de Papel ( Capítulo 7 )
Foi uma risada que fazia tempo que Olívia não dava. Não era bem um riso das piadas, mas daquela situação toda, ninguém atendia, o pé quebrado, a carona de um estranho e uma chuva assustadora que só aumentava! Era um choro de não tem mais o que fazer, sim Olívia não estava bem e talvez carregado de um pouquinho de desespero, engrossava o caldo dos risos e das piadas que iam fazendo de tudo que estava acontecendo. Apesar disso era incrivel como os dois tinham uma sincronia.
Assim rapidinho, de repente aparece o carro dos pais de Olívia. E por incrível que pareça, foi uma especie de tristeza boba como de uma criança que perdeu o doce que a menina sentiu pela chegada dos pais. Tinha se esquecido de perguntar o que havia acontecido. As coisas passaram meio rápido, os pais chegaram e tinham dito sobre uma compra que haviam feito, um trânsito que acabaram presos e uma interferencia por causa do mal tempo. Assustaram-se com o pé quebrado, perguntaram o que tinha acontecido, acabaram agradecendo o garoto e se desculparam pela ausência. Carregaram a menina pra dentro encheram de abraços e desculpas, se preocuparam e discutiram o aluguel de uma muleta.
O garoto foi embora.
Olívia jantou, a mãe ajudou a tomar banho, a preocupação era como iam fazer a rotina dar certo enquanto aquilo durasse, algumas reclamações e finalmente a mãe a ajudou a deitar-se.
Tudo passou como se Olívia não estivesse ali, afinal ela realmente não estava.
Sentia-se meio flutuando como se tudo fosse desimportante e ao mesmo tempo uma sensação estranha, tudo estava incomodando. Agora estava sozinha. Precisava de um tempo de reconhecimento, daquilo que era estranho sabia que não ia dormir. Sentou na cama e acendeu o abajur.
Era uma sensação de ter despertado, sentia-se alerta e começou a pensar em sí, o cerebro lhe apresentou um branco e sentiu um certo desespero como se estivesse perdendo alguma coisa, como se ja tivesse perdido e agora começava a se dar conta disso. O sentimento criou uma necessidade de olhar-se no espelho, abriu ligeiro a porta do guarda-roupa que ficava a pouca distancia da cama, por dentro do armario havia um espelho.
Começou a observar seu reflexo, como se precisa-se encontrar com sí mesma. Nunca se observou com tanta atenção quanto naquele momento. Começou a reparar primeiro nos cabelos que eram castanhos escuros, depois passou a olhar a pele que era morena e estava bronzeada, aí parou nos olhos expressivos, verdes, brilhantes. Estava séria e experimentou um sorriso. Lembrou-se daquele momento que tinha passado com Eric, ela só lembrava que havia sido gostoso e que raramente havia tido momentos assim com alguém... Ela ria pouco, não se lembrava da ultima vez, nunca fora de piadas, mas saíram todas. Divertiu-se por alguns momentos lembrando e recitando sem som das piadas que havia feito. Era um certo orgulho, nunca havia sido engraçada. De novo sentiu aquela sensação de estar a muito tempo adormecido, sentiu que tinha deixado muita coisa pra trás... Mas o passado não parecia ser claro, não se lembrava, na verdade contemplava assustada agora um certo vazio angustiante em suas lembranças. "Quem sou eu?"
Quase sussurra " O que sou eu?": ela não sabia.
Tentou lembrar-se do que havia comido no almoço e nem disso lembrava bem, tentou lembrar qual era o nome da professora de biologia e nada. Comeu e teve aulas, mas e daí?
Além daquilo tudo sentia um pouco de peso, como se não conseguisse ingerir tudo que o dia havia sido, parecia alguma coisa dificil, parecia alguma coisa estranha... Ainda estava digerindo. Por fim tentou realmente lembrar-se, de quando quebrou o pé e não lembrava de muita coisa, nem lembrava bem como Eric apareceu, e se deu conta de que não lembrava bem do rosto dele. Decidiu tentar dormir, apagou o abajur, deitou-se.
Só que bastou um fechar dos olhos e relances de olhares passavam assustadores na sua cabeça e ela acendeu a luz. Algo não podia ser ingerido, absorvido, algo atrapalhava o sono, algo pesava. Sentou de novo e virou-se como se estivesse hipnotizada para a mochila, observou e se esforçou para conseguir alcança-la com aquele pé. ALcançou, tirou o folheto de lá, aquele da cartomante. Tremeu um pouco ao tocar o papel sentiu como se estivesse fazendo algo errado, mas parecia era como se precisasse.
Tentou até não fazer mais que olhar para o folheto, mas o dobrou no meio, respirou fundo, sentiu um arrepio e mecanicamente realizou os ágeis movimentos do origami de um sapo.
Fechou os olhos segurando aquilo, e como se fosse perigoso, o guardou numa caixa que mantinha no fundo do armário.
Sentiu-se cansada e mais nada quando terminou deitou-se e apagou a luz. Dormiu.