Eterna peter pan

Sinto que devo cuidar dela. Claro que devo. Ela me encara, com grandes olhos azuis, que penetram em minha mente. Minha pequena criança. Quero ficar com ela no colo para sempre.

Quando quer alguma coisa, ela faz beicinho, arregala os olhos e não há como lhe negar qualquer pedido. Ela tem medo do escuro, mas isso não conta para ninguém, apenas para simpática cachorrinha de pelúcia com quem divide a cama todas as noites.

Antes de dormir, minha pequena toma sempre um copo d'água, que, apesar de ser de plástico, gosta de segurá-lo com as duas mãos.

Ela abraça a pelúcia enquanto apago a luz e ligo uma "playlist" com músicas que a embalam para que ela viva seu mundinho de sonhos, príncipes e perfeições.

Sim, o príncipe dela há de chegar, com seu cavalo branco e com um buque de rosas na mão.

Ela me conta de como ela o imagina e, enquanto ela se perde em suas idealizações, sorri de um jeito delicioso, único.

Ela não quer crescer, eu lhe mimo demais, será? Talvez ela não mereça crescer. O mundo real dói muito, seria muito frustrante pra ela. Não se pode confiar em ninguém por aqui. Até aqueles que te prometem proteção te frustram, te deixam na mão. Não, minha criança, você não precisa crescer. Não perca essa maravilhosa ingenuidade. Nao tente correr. O tempo vai tão rápido, que logo será você que falará isso, Pra sua criança. Fique, fique ai, meu amorzinho. Fique nesse delicioso conto de fadas, onde o maior medo é o do escuro, onde a maior preocupação é a roupa da boneca, onde a maior dor é a do merthiolate depois de ralar o joelho, onde todos te amam e te protegem. Fique Ai, minha pequena. Se eu pudesse, ficaria também.

25/6/12