[Original] We Are Young - Capítulo 3 - Parte 3
Lennon M. Dias.
Isabel e eu deitamos no sofá e decidimos assistir algum filme, ela estava mais quieta, parecendo estar em algum dilema interior. Eu tive muita vontade de poder ler sua mente só para saber o que estava se passando dentro dela.
E a entendia em relação a isso. Se eu não a atentasse tanto, talvez ela não tivesse esses problemas e nem se sentiria assim. Ou então se Isabel não ficasse com Demétri.
- Ei. – A chamei, mexendo carinhosamente em sua orelha. Ela sorriu para mim. – Bah, não gosto de ver tu assim.
- Eu to bem.
- Ta nada, não mente pra mim. – Fiquei bem pertinho dela e dei uma fungada em seu pescoço.
- Não faz isso.
- Por quê?
- Da vontade de repetir a cena da cozinha, só que agora sem interrupções. – Um meio sorriso nasceu em seus lábios.
- É, eu também fico... Um dia poderemos fazer tudo sem interrupções.
Ela suspirou e se afundou no sofá. Acho que assim como eu, ela teme o futuro. Por quê?
- É, tomara. – Dei uma mordida em seu lábio e ela me abraçou. – Você vai ficar bravo se eu perguntar da sua mãe?
Eu balancei a cabeça sinalizando um não.
- Porque ninguém te ajudou a criar o seu irmão?
- Por muitos motivos. Primeiro porque ninguém me procurou, nem minha família materna e piorou a paterna e quando me procuraram, foi para fazerem meu irmão ir para a casa da minha avó em Ipanema. Eu dei carta livre caso ele quisesse ir, mas Lucas não quis.
Falar de minha família era como deixarem tocar na minha ferida particular e que jamais fora curada.
- Você não é do tipo família.
- Nunca fui. Minha avó não gosta de mim.
- Porque não?
- Boa pergunta. Todas as festas infantis que tinham no casarão em Ipanema ela dava um jeito de me humilhar. Minha avó é meio louca, tem uma personalidade fria, estranha. E o pior não é isso... – Era difícil controlar a vontade de xingar minha avó quando eu entrava nesse assunto. – Minha mãe me obrigava a ir a todos esses “eventos”. Quando fiz 16 anos eu briguei feio com ela, disse para deixar de ser cega e ver o óbvio: que a mãe dela não gostava de mim.
- E ela?
Em minha mente iniciara um filme do dia em que briguei com minha mãe. Balancei a cabeça tentando afastar essa memória.
- Chorou muito. Acho que nunca chorou tanto como daquela vez.
- Nunca ouvi falar de uma avó que não gosta do neto.
- É que temos um ideal de avó de comercial de margarina, mas não é bem assim.
Isabel riu, mas seu olhar astuto entregava que eu não estava livre do interrogatório.
- E seu pai?
- Meu pai morava no Paraná, na ultima vez que conversamos ele estava no Chile. Meus pais se separaram quando minha mãe estava com 8 meses de gravidez e não se interessou em criar um elo com meu irmão, ele nunca o procurou. Por isso que Lucas tem aversão a ele. A família do meu pai nunca foi muito próxima da gente. E eu também nunca fiz questão deles. – Eu estava feliz por conseguir contar minha vida a ela.
- Pra quem tem uma família assim, você ate que é mentalmente saudável. – Disse Isabel, séria.
- Não... Eu sou um psicopata, mas tu ainda não percebeu. – Brinquei. Ela revirou os olhos rindo.
- Besta.
- Tu perguntou de minha, mas e a sua família?
- Minha mãe faleceu... – Disse, num tom meio estranho, engasgado. Por um momento eu pensei que ela fosse chorar. – Meu pai mora com outra mulher.
- Você não tem irmãos?
- Não. - Percebi que Isabel estava editando suas falas, mas não fiz comentários. – Mas invejo quem tem irmãos. – Continuou, depois de uma pequena pausa. - Ter um irmão é ter pra sempre uma infância lembrada com segurança em outro coração.
Eu sorri com sua declaração, e de fato, era exatamente isso.
- Eu te dou o Lucas de presente.
Nós rimos.
- Ele é um bom menino. – Isabel elogiou. – Já vi irmãos piores.
- É. Com Lucas as coisas acontecem na base da troca. Ano passado ele estava pra repetir na escola, eu disse a ele: “Oh, se tu passar, te dou um Playstation.” o moleque terminou o 4º bimestre com azul e conseguiu passar... Ele é inteligente, mas tem a preguiça adolescente de estudar.
- Sua mãe deve ter muito orgulho de você.
- Eu acho que sim. – Ela me deu um selinho demorado. Quando nos afastamos, eu continuei. – Eu faço com Lucas o que minha mãe não fazia comigo, e quando fazia, eu não sabia retribuir. Daí eu falo a ele, você pode ter tudo, mas tem que estudar.
- Ele sabe que você faz tudo isso pelo bem dele.
- Faço... Lucas quando terminar vai fazer faculdade. Eu pretendo também, mas daqui a uns dois anos.
Minha conversa com Isabel durou muitas horas, falamos de tudo, de muitas coisas, acabamos compartilhando alguns planos, sonhos, e eu vi que além de me encantar como mulher, me encantava como pessoa também.
O telefone da sala tocou e como Isabel estava mais próxima, ela atendeu. Pensei que talvez fosse Bruna, mas ela quase nunca liga em casa.
- Oi gigante! – Pelo apelido eu sabia que era o Emerson. – O Lucas? Não ta não.
Eu a observei conversar com Emerson, de repente ela afastou o aparelho e disse:
- Emerson disse que viu um garoto bêbado parecido com o Lucas no centro de Porto Alegre.
Sai do sofá e peguei o telefone de Isabel.
- Fala Emerson.
“Leite, acho que o Lucas ta muito ruim no centro, eu ia chamar ele, mas tava passando no carro dos pais da Rose.”
- Bahh, não acredito! Que guri idiota.
“Liga no Téo, ele te leva no centro.”
- Beleza, valeu por avisar.
“Que isso... Eu lembro quando tu ficou de porre pela primeira vez.” – Emerson riu pelo telefone.
- Te cala. Ate amanhã.
“Até.”
- Eu vou contigo. Peraí. – Isabel saiu do sofá e correu até o andar de cima.
Respirei fundo e pedi aos céus paciência pra lidar com adolescente de porre.
(...)
Téo é meu vizinho, estudou comigo no ensino médio e por ser meio sozinho em sua vida social, nunca me nega favor.
Eu estava no banco da frente do seu Crossfox dele tentando ligar para Lucas, mas estava dando caixa postal. Isabel estava no de trás, bastante tensa.
20 minutos depois chegamos ao centro de Porto Alegre, sorte que não estava mais chovendo, 1h00 da manhã e o centro estava completamente cheio, a maioria eram adolescentes bêbados e casais, muitos casais.
- Esta vendo ele?? – Téo perguntou.
- Não.
Ele andou um pouco mais e parou perto da loja da Claro.
- ELE ESTÁ ALI! – Isabel gritou. O carro parou e nós descemos. Ver meu irmão bêbado e sentado na calçada me fez ter um dejá-vu de mim mesmo. – Lucas!
Corremos até ele, que nos olhou, completamente torto.
- falimia, oi.
Não tinha como não rir.
- Vamos pra casa. – Puxei seu braço e ele ficou de pé, mas se eu não o seguro, cai novamente. – Bah, se não sabe beber, porque bebe?
- Não briga com ele. – Olhei Isabel sem acreditar que ela estava me censurando. – Lennon, seu irmão bebeu por causa de mulher. – Explicou.
- E daí? Pior ainda ele beber por isso. – Respondi brabo. – Guria ele arruma em qualquer canto, é fácil.
Ela me lançou olhar gelado.
- É. – Téo me ajudou a levar Lucas para dentro do carro.
Isabel deu uma olhada geral na rua onde estávamos e parou ao ver uma guria observar Lucas com pena.
- Foi você né? Por tua causa que ele esta assim! – A guria baixou o olhar. – Sua imbecil, ele é melhor que qualquer um desses aí da rodinha.
Como não teve resposta nós continuamos andando. Eu sorri ao vê-la defender meu irmão. Foi até meio maternal essa cena.
(...)
- Obrigado, Téo. – Agradeci, ao estacionarmos em frente a minha casa.
- Que isso, quando precisar é só chamar.
Isabel estava servindo de apoio ao Lucas, este, murmurava algumas frases desconexas, volta e meia eu o mandava se calar.
Entramos em casa e eu me apressei pra ligar o chuveiro.
- Vou fazer café. – Disse Isabel, meio de cara comigo. Eu não disse aquilo porque eu queria, foi repentino, praticamente voara de minha boca as palavras.
Subi com Lucas ate o banheiro e de roupa e sapato, o coloquei debaixo da água fria. Ele acordaria rapidinho com água gelada no corpo. Estou ate sendo bonzinho, quando cheguei em casa de porre eu fiquei são debaixo de tapa da minha mãe.
Voltei pra sala e segui pra cozinha, Isabel estava pondo pó de café no filtro de papel.
- Isabel.
- “Guria ele arruma em qualquer canto, é fácil.” – Me imitou numa voz muito infantil.
- Eu não disse aquilo pra ti.
- Claro.
- É sério, meu irmão se apaixona todo mês por uma guria diferente, a única diferença é que dessa vez ele bebeu pra afogar a mágoa.
- Tá. – Murmurou seca. Eu bufei e voltei pra sala.
Porque às vezes ela tem que ser tão irritante?
Algum tempo depois Lucas desceu as escadas, totalmente trocado e resmungando alguma coisa que eu não conseguia entender.
- Toma. – Isabel apareceu na sala com uma xícara de café e ofereceu ao meu irmão.
- Não quero. – Ele sentou no sofá. A expressão fechada. Deve estar com uma dor de cabeça infernal.
- Toma logo e para de graça. – Lucas pegou a xícara de café. – Isso.
- Estou brabo.
- A guria era tão boa assim? – Eu perguntei sentando do lado esquerdo de Lucas e Isabel no direito.
- Não é só isso. Eu discuti com a Pamela também. – Pamela é a melhor amiga dele, ele diz que nunca a pegou, mas eu já ganhei que ela arrasta um caminhão por ele. – Ela falou que eu não passava de um babaca por ficar me arrastando pela Carla. Daí eu disse... Mas oh, eu já estava meio bêbado... Eu disse que ela só estava falando aquilo porque era apaixonada por mim.
- Você realmente é um babaca. – Isabel disse sem delongas.
- Eu gosto da Pamela, mas como amiga, eu a vejo como uma irmã pow. – Ele deu de ombros, mas estava triste. Eu o conhecia muito bem. – Nós ficamos uma vez no cinema, foi estranho.
- Estranho como? – Perguntei a ele. Já fiquei com amiga, não fora estranho pra mim.
- Sei lá, parecia que eu estava beijando uma irmã. – Fez cara de nojo.
- Dizem que os melhores relacionamentos nascem de uma amizade. – Isabel disse, e me lançou um olhar rápido.
- Acho que não. Ai pra piorar a Carla me da mais um fora. Acabei bebendo uma garrafa de Absolut sozinho.
- Desiste daquela guria, sério. Ela só é um rostinho bonito, o tipo que você leva pra cama e depois pega ódio porque ela se mostra ser completamente vazia.
- É o jeito né.
Ele terminou de beber o café, sorriu para nós dois e Isabel o abraçou.
- Fica bem.
- Vou ficar.
Ele voltou pro quarto. Estranho ver meu irmão assim por causa de uma menina, não que ele nunca tivesse dado essas cenas, mas dessa vez ele parecia estar realmente mal.
Isabel levou a xícara pra cozinha e voltou em seguida.
Um trovão lá fora anunciava que viria chuva em Porto Alegre.
- Droga!
- O que foi? – Perguntei ao ver Isabel ficar nervosa de repente.
- Nada, nada. – E saiu correndo escada a cima.
Eu fui para meu quarto e deitei na cama após fechar a janela, o vento estava bem forte. Detesto trovão, lembra os dias em que passei no hospital com minha mãe convalescendo rapidamente. Fechei os olhos e imaginei o sorriso de Cristina, minha mãe. Me ajudava a dormir bem.
Ouvi alguém bater a porta e entrar, era Isabel.
- Eu não consigo dormir com esse trovão. – Sorri ao entender porque ela correra ao ouvir o barulho de trovão na sala.
- Entra aí. – Ela entrou timidamente em meu quarto, deu uma olhada rápida em tudo e deitou-se na minha cama de casal. Ofereci meu cobertor e a olhei se ajeitar ao meu lado. – Tem medo de trovão?
- Uhum. – Percebi que Isabel continuava braba comigo. Outro trovão e, ela gemeu agoniada.
Puxei-a para mim e a apertei de leve.
- Calma.
- Eu sei. – Beijei sua orelha. – To brava contigo sim.
- Tu fica braba comigo a todo instante. – Ela se virou para me olhar. Entrelacei minhas pernas as dela.
- Ah, porque será?
- Porque tu é boba.
- Sou nada.
- É sim.
- Ai, cala a boca.
- Nunca deixei guria alguma me mandar calar a boca. Tu já fez isso duas vezes. – Essa observação me fez franzir o cenho e perceber o quanto eu estava diferente.
- Sou foda.
- Tonta. – Ela sorriu brincalhona e me beijou. Mais rápido, eu já a puxei deixando-a em cima de mim. Ainda estou com vontade de terminar o que não conseguimos mais cedo.
- Eu vim aqui para dormir, só pra deixar claro... – Disse. A voz quente e sedutora me deixando arrepiado. Isabel estava se fazendo de durona.
- E nós vamos dormir quem disse que não? – Sem pudor, tirei sua blusa, dando continuidade ao momento da cozinha. E dessa vez, sem interrupções.