Telshine - Parte 11

No sábado, Albert acordou perto das 8 da manhã. Olhou para a cama ao lado onde Alex jazia dormindo, num ângulo tão estranho de uma forma tão esparramada, que mais parecia que tivesse caído do vigésimo andar de um prédio.

Albert levantou deixou o amigo assim mesmo. Foi ao quarto de Karina, como haviam combinado na noite anterior, onde ela já o esperava. Ele bateu na porta e logo Karina colocou sua cabeça pra fora. Ela fez sinal de silêncio e apontou para uma das camas atrás dela, onde uma garota de cabelos castanho-claros dormia.

–Espera só um minutinho – ela sussurrou. Ele concordou com cabeça e ela fechou a porta com cuidado.

Ele se espreguiçou, bocejou mais uma vez e encostou-se à parede. Pelas janelas da ponta do corredor oposta à das escadarias, ele viu que o céu estava fechado por nuvens muito brancas, que, apesar de tapar totalmente o sol, não representavam perigo de chuva.

–Bom dia Kate, bom dia Peter – ele cumprimentou quando uma moça de cabelos longos e fortes traços de ascendência indiana, vestida com um jeans, um suéter cinza e um gorro, e um rapaz loiro de cabelos curtos divididos ao meio, olhos verdes e um pouco alto, usando também um jeans e um casaco verde-escuro, passaram.

–Bom dia, Albert – ela respondeu sorrindo.

–E aí, cara, tudo bom? – o rapaz retribuiu o cumprimento simpaticamente.

–Tudo bom – Albert respondeu.

–Você vai à festa de Halloween na quarta, não vai? – a garota perguntou.

–Vou sim.

–Que bom – ela sorriu – Até mais – ela se despediu e o rapaz fez o mesmo com a mão.

–Até mais – ele disse. Estranhou um pouco a pergunta da garota, mas por fim acabou achando aquilo bom, ela era uma das alunas mais bonitas da universidade, e ficou um pouco mais disposto a ir à festa de Halloween.

Assim que os dois viraram o corredor para a saída dos dormitórios, a porta do quarto de Karina abriu e ela saiu de dentro. Ela usava uma saia marrom até os joelhos, botas simples e um casaco leve verde-escuro aberto sobre uma blusa branca e seus cabelos estavam presos em uma única trança.

Quando Albert a viu se sentiu desleixado e menor por causa de sua calça jeans um pouco desbotada, seu moletom azul-marinho e seu cabelo mal penteado. Ele ficou olhando para ela pensando nessa comparação e logo ela perguntou:

–O que foi? Tem alguma coisa errada comigo?

–Não.

–Então o que foi?

–Nada de mais. Deixa pra lá.

–Você é muito distraído, Cabeça-de-Vento – ela riu.

–Legal – ele sorriu – agora ela encontrou um apelido pra mim também. Vamos tomar café.

Eles tomaram seu café sem muita pressa, no sábado era dia de waffles com amora, então se deram ao luxo de saborear aquilo lentamente. Quando terminaram, foram à biblioteca, que só fecha aos domingos. Albert queria, antes de voltar à caverna, tentar encontrar alguma coisa sobre ela (Alex tinha reclamado na noite passada que os dois só perdiam tempo na biblioteca e que era muito mais fácil procurar na internet, até que Albert mostrou como uma pesquisa na mesma tinha sido inútil para procurar sobre a caverna de Grantlink e convenceu o amigo que, se tinha algum lugar onde pudessem achar algo, era na biblioteca, e assim Alex não falou mais nada sobre isso) e, como a entrevista com a doutora Loren era só às 10 horas, Karina o ajudaria até lá.

Albert explicou à Karina alguns parâmetros para escolher livros em que eles pesquisariam e depois de tudo entendido os dois se dividiram entre as várias estantes cm livros sobre cavernas.

Depois de vinte minutos, eles viram com uma mesa abarrotadas de livros e se obrigaram a começar a pesquisa. Cada um se colocou de um lado e começou a ler o livro mais próximo.

Vez ou outra Albert se pegava ingênua e distraidamente observando a amiga ler e o mesmo acontecia com Karina, porém nenhuma vez os olhos deles se encontraram.

Depois de uma hora, quando Karina saiu para a entrevista, eles não tinham saído da estaca zero. Ela deu beijo no rosto dele e se despediu.

A sede da Tríade ficava na mesma rua da universidade, seis quadras mais ao sul. É um prédio de três andares todo construído de tijolos vermelhos à vista e placas de granito nos cantos, que ocupa uma quadra inteira. Ele tem várias janelas espalhadas pelos três andares, mas apenas uma entrada, uma grande porta dupla de madeira à oeste, que tem um triskle, três meios-círculos que se juntam formando algo que lembra uma flor de três pétalas, dentro de um triângulo pintado nela.

Karina levou vinte minutos até o prédio. Ela entrou pela porta dupla e se encontrou em uma sala de cerca de 9m por 6m, um balcão da recepção à esquerda, cinco cadeiras à direita e uma única porta na parede à frente. A sala era pintada de um verde fosco, que Karina descobriu mais tarde, parecia ser igual em todos os outros cômodos, um carpete ocre em todo o chão e quatro vasos, com uma espécie de palmeira parecida com um leque, uma em cada canto da sala.

Assim que ela chegou ao balcão, a recepcionista, uma mulher de uns 30 anos, cabelos negros e encaracolados até os ombros, olhos azuis, pele clara e magra, com um ar frio, disse a ela:

–A Dra. Loren está lhe aguardando. Só um minuto – Karina concordou com a cabeça e a mulher pegou o telefone – A senhorita Burnwide chegou. Está bem.

Passados alguns segundos, a porta, que leva ao resto do edifício, se abriu e Clarice entrou por ela.

–Karina, certo? – ela cumprimentou.

–Isso. Prazer em conhecer.

–Prazer, eu sou Clarice Melville, assessora da Tríade – ela sorriu – Vivian está lhe esperando, vamos – ela fez sinal e Karina a acompanhou.

–Escolheu o membro certo da Tríade para fazer perguntas – Clarice disse, amigável, enquanto andavam pelo corredor verde fosco de carpete ocre.

–Por quê? – Karina quis saber.

–Os outros dois membros são reservados demais para esse tipo de coisa.

–Que sorte a minha.

Depois de muitos corredores e portas, Karina perdeu as contas e desistiu de tentar imaginar o que havia atrás de cada uma. O escritório de Vivian ficava no primeiro andar, muitas portas e corredores depois da escadaria e Karina ficou feliz quando enfim chegaram.

Quando entrou na sala, pensou que tinha saído do prédio. As paredes não eram verdes, mas sim de um papel de parede de estampas florais em tons leves de várias cores. O chão era todo coberto por uma espécie de carpete de uma grama sintética muito fina, que dava a impressão de se estar pisando do lado de fora do prédio. Havia uma escrivaninha branca toda entalhada no canto da sala á frente, uma mesinha de centro à frente da primeira, três poltronas confortáveis à escrivaninha e dois sofás à mesinha. Nas duas paredes do lado haviam estantes brancas cheias de livros. O resto da sala estava decorado com todo tipo de objetos e adornos.

Vivian estava sentada confortavelmente em sua poltrona, de olho em alguns papéis, com um biscoito em uma mão e uma xícara na outra. Ao lado dos papéis, à esquerda, havia uma bandeja com uma chaleira de porcelana e um prato de biscoitos.

Quando entraram, Vivian ergueu o olhar para elas e sorriu. Clarice fez uma mesura e se retirou, fechando a porta.

–Seja bem-vinda – Vivian disse, estendendo a mão para os sofás – Sente-se.

Ela levantou, pegou a bandeja, colocou na mesinha e sentou-se em um dos sofás. Karina ficou parada por alguns segundos olhando para sua bota e para a falsa grama.

–Obrigada – ela respondeu cordialmente – Se a senhora não se importa… – Vivian fez uma cara e Karina entendeu – Se você não se importa, eu posso tirar as minhas botas? É que não estragar o carpete.

–Está brincando!? Sinta-se à vontade para ficar como você achar melhor – Vivian a respondeu descontraidamente.

Karina sorriu, aliviada por estar na presença de alguém tão espontânea e interessante. Ela retirou as botas e as colocou cuidadosamente junto à parede.

–Nossa! É tão fofinho – ela disse, massageando a grama com os dedos dos pés.

–É por isso que eu gosto tanto – Vivian contou, enquanto Karina se sentava no outro sofá.

–Aceita chá com biscoitos? – Vivian ofereceu à Karina – O chá é de erva-cidreira e os biscoitos são de chocolate com menta.

–Eu aceito, sim – a garota esticou o braço e pegou um biscoito, enquanto a mulher a servia uma xícara de chá.

–Fez a escolha certa – disse Vivian – Estou farta de oferecer coisas aos meus convidados e eles recusarem por educação, mesmo que estejam morrendo de vontade – ela riu e Karina a acompanhou – Bom, o que você quer saber?

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Felipe Eduardo Marques dos Anjos
Enviado por Felipe Eduardo Marques dos Anjos em 23/11/2012
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