Telshine - Parte 8
Os dois olharam para trás e viram uma bela mulher de cabelos ruivos que vinha em sua direção.
–Olá doutora Loren. Nós viemos visitar uma amiga, mas ela não pode receber visitas, então estávamos procurando a senhora – Karina falou naturalmente, mesmo quando o amigo olhou assustado para ela.
–Não me chame de senhora – Vivian a corrigiu, descontraída –, eu não sou tão velha assim, me chame por você. Agora que me encontrou pode dizer o motivo, se estiver ao meu alcance, eu lhe ajudarei.
–É que eu gostaria de marcar uma entrevista com a senhora, digo, com você. Eu estou fazendo uma pesquisa sobre a história da cidade e como a Tríade está diretamente ligada a ela, achei que você, como membro da Tríade, poderia me ajudar com algumas coisas.
–Será um prazer ajudá-la. Estarei lhe esperando amanhã, às 10 horas da manhã, no prédio da Tríade.
–Muito obrigada doutora – Karina agradeceu contente.
–Não é nada, mas agora, se me dão licença, tenho alguns pacientes a atender. Até mais.
–Até mais e bom trabalho – os dois agradeceram e Vivian seguiu pelos corredores do hospital.
Albert esperou ela ficar fora de vista, e virou-se para Karina:
–Karina, você andou bebendo? – ele fez uma cara cômica.
–É claro que não – ela disse, reprimindo a pergunta do amigo – Se ela soubesse que estamos aqui pra ver a Pauline, nos mandaria embora.
–Isso eu já – ele fez outra careta – Estou falando da desculpa que você deu. Se você não lembra, ela é da Tríade.
–Exatamente – a garota sorriu para ele.
–Ahn?! Você cada vez faz menos sentido pra mim.
–É bem simples, eu vou conseguir alguma informação e não vou levantar suspeitas.
–Claro que não, você só vai bater na porta da Tríade e perguntar: "Oi, vocês poderiam me contar os seus segredos", ninguém vai suspeitar.
–E não vão mesmo, ninguém suspeita do óbvio, todo mundo procura o que está escondido e esquece do que está na frente dos olhos.
Albert a fitou por um tempo. Os dois ficaram se olhando em silêncio, até que ele cedeu:
–Tudo bem, mas e se ela for falar com seus professores para saber sobre a pesquisa?
–E quando foi que eu disse que era uma pesquisa pra universidade – ela respondeu, sorrindo pra ele.
–Você um dia ainda vai me matar sorrindo desse jeito pra mim – ele disse, retribuindo o sorriso.
Ela corou, em seguida olhou rapidamente para seu celular e virou-se para continuar o caminho.
–Está certo, vamos logo – ela disse, e riu baixo – antes que encontremos mais algum membro da Tríade.
–Haha, é verdade, e eu também tenho que me apressar pra não perder o horário da aula.
Eles continuaram andando até o quarto que a recepcionista indicou, no segundo andar. Eles chegaram no quarto, abriram a porta e encontraram Alex sentado em uma cadeira ao lado da cama, segurando a mão de uma moça. Ela tem longos cabelos negros, seus olhos não podiam ser vistos, mas são de um azul profundo, ela tem um rosto muito bonito, que demonstra independência.
–Alex?! – Karina o chamou.
Ele se virou e olhou para os dois, estava calmo e não parecia abatido.
–Oi pessoal – ele disse, em seguida fez uma cara de espanto – Como vocês conseguiram entrar aqui?
–A Karina – Albert respondeu.
–É claro – Alex sorriu – Valeu por virem.
–Como ela está? – perguntou Albert.
–O estado de saúde dela está estável agora, mas ela vai ficar em coma por tempo indeterminado.
Karina foi até o outro lado da cama e olhou para Pauline, em seguida olhou para Alex:
–Para alguém que está levemente atraído, você se preocupa um bocado com ela.
–Agora você me pegou – ele sorriu –, eu gosto mesmo dessa garota dessa garota – ele disse olhando para a Pauline – Eu realmente só estou aqui parado ao lado dela, porque é a única coisa que eu posso fazer. Mas não importa, ela logo, logo vai acordar, ela é teimosa.
–É claro que sim – a amiga disse a ele – Você vai ficar? É que nós temos que ir.
–Não, eu vou também.
–Se você quiser, eu aviso o professor – Albert tentou ajudar.
–Que nada, se, quando acordar, ela souber que eu abandonei tudo pra ficar aqui, ela me mata – ele beijou a mão de Pauline, cochichou em seu ouvido e beijou seu rosto – Vamos?
Eles saíram do quarto e voltaram pelo mesmo caminho que vieram. No caminho, Karina falou um pouco sobre o que descobriu, até que Albert a interrompeu para contar ao amigo sobre o que aconteceu com a doutora Loren. Os dois riram da amiga até que uma enfermeira mandou eles se calarem, aí Karina riu deles em silêncio.
Os amigos voltaram para a universidade com um pouco de pressa, para chegarem antes que as aulas da tarde começassem. Os dois rapazes seguiram para o segundo andar e Karina foi até a biblioteca.
A biblioteca ocupa todo o térreo e o 1º andar da ala sul do campus e reúne um enorme acervo que engloba temas desde contos clássicos à metafísica e de direito legal à alquimia. Por ser a única biblioteca da cidade, é aberta a todos que tem interesse, porém, esses não são muitos e os visitantes são sempre alguns alunos da própria universidade.
Suas paredes são todas cobertas por estantes que se intercalam com as janelas, a não ser pela parede leste, onde fica o balcão da bibliotecária e um guarda-volumes atrás do primeiro. As estantes são repletas de livros de todos os tipos e tamanhos, alguns novos, outros nem tanto, e até mesmo alguns caindo aos pedaços. No lado oeste ficam as escadas para o primeiro andar.
Metade do teto do térreo é aberto, dando visão ao primeiro andar, com um corredor ao longo das paredes, onde estão mais estantes. A parte do primeiro andar com piso tem algumas estantes e duas mesas retangulares em seu meio e é a seção reservada.
As estantes do térreo estão todas espaçadas e alinhadas uniformemente e ocupam todo o local, menos uma faixa central que aloca as mesas de estudo e divide as estantes em dois grupos.
Karina chegou à biblioteca, que tinha uma meia dúzia de alunos estudando, e foi direto ao balcão da bibliotecária. Lá estava a responsável pela ordem do local, uma moça muito simpática e competente, que usa os longos cabelos castanho-claros presos em um rabo-de-cavalo, mas sempre deixa uma mecha solta caindo sobre o rosto, tem olhos castanho-esverdeados e uma voz melodiosa. É muito astuta e também tem um certo tom de malícia em seu jeito de falar.
–Oi Julia, separou o que eu pedi? – disse Karina, entregando sua bolsa para que fosse guardada.
–Sim, sim – disse a moça, mostrando uma amizade entre as duas – Deixei tudo em uma das mesas da reservada, acredito que assim você não vai ser incomodada. Mas eu ainda acho que passar tempo demais com o Alex fez o teu intelecto regredir, porque eu não vejo outra razão para essa tua súbita febre pelos celtas.
–É só curiosidade mesmo. Você fala do Alex até demais pra alguém que não gosta dele.
–Não é que eu não goste dele, eu simplesmente o desprezo – Julia sorriu ironicamente.
–Sei. Eu vou subindo, vou deixar você trabalhar – Karina se despediu.
–Você só pode estar brincando comigo. Como se eu tivesse algum trabalho por aqui. Mas tudo bem, vai lá matar a tua curiosidade – Julia fez um gesto com as mãos, brincando.
Karina riu e deu as costas à ela, seguindo na direção oposta do saguão, onde estão as escadas para o andar superior. Ela passou ao lado das mesas de estudo, as quais apenas duas ou três estavam ocupadas, e não deu muita atenção quando alguém, que estava em uma estante atrás dela, derrubou um livro, apenas riu em silêncio com a represália de Julia naquela pessoa.
O piso da biblioteca, assim como o de todo o prédio da universidade, é um mosaico xadrez simples, feito de dois tons de mármore, um escuro e outro claro, totalmente polidos, que se intercalavam formando um grande tabuleiro. As escadarias pelas quais Karina estava subindo, são em espiral e de uma madeira negra e reluzente, assim como as estantes, mesas e cadeiras do restante da biblioteca.
A garota chegou ao topo da escadaria e logo avistou quatro pilhas de livros em uma das mesas. Ela sentou à mesa e, sem muita cerimônia, pegou o primeiro livro da pilha mais próxima. Assim ela deu início a uma tarde incessante de pesquisa.
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