Prólogo do meu livro _ A DANÇA DO TEMPO(passado em Lemúria)
Prólogo
TEMPLUM DEI ARYANS
06h14m PM
A tempestade não cessava desde o iniciar do dia. Os céus enegrecidos derramavam-se sobre a Terra, aos prantos devido o assassinato da pessoa Mais Amada. Os corações dos habitantes daquele Império seriam marcados assustadoramente por essa morte. A prin-cipal marca seria a concretização de uma antiga lenda: “O início do fim será marcado pela morte da Mais Amada.”
O líder observava uma aproximação do alto de seu escritório, protegido pelos vidros cristalinos que tilintavam com as gotas de chuva. Ariel Sullivan, o Senhor Imperador, intrigou-se com a sombria naturalidade do sujeito que via de onde estava, com a difi-culdade peculiar dos vidros opacos. Sequer imaginava quais as intenções daquele se-nhor, mas desconfiava por motivos que somente seu ego tinha ciência.
Havia vislumbrado o homem deixando um veículo quase tão negro quanto a tarde tempestuosa. Com a paciência de um monge, atravessava o caminho entre o carro e o Templo, e carregava em seus braços algo que se empenhava com convicção, como se fosse um tesouro a ser defendido até a morte.
Inidentificável o que carregava o surrado senhor, pois nem mesmo apertando seus olhos Ariel Sullivan conseguia vislumbrar com precisão. Talvez os gélidos cristais em forma líquida que se derramavam do céu em prantos inibissem sua visão eterna, mas mesmo sem ciência do que pudesse ser, este poderoso imperador temia arrepiantemen-te até a última face de sua existência.
Os deuses demonstravam sua fúria, Sullivan sentia. Além de chorarem desespera-damente por motivo que ainda desconhecia, rugiam fortemente, causando estrondos e direcionavam sua luz na forma de relâmpagos cortantes e severos. Seu rosto pálido era ora iluminado, ora acrescido ao ambiente sombrio de seu escritório. Iluminava-se tam-bém a imagem ameaçadora do senhor que se movimentava em direção do Templo de Áries, o imponente símbolo do país ordenhado por Sullivan, do Dragão Sharizard das Águas da Costa. Num dos gritos dos deuses, seguido por sua luz furiosa, o imperador descobriu a verdade defendida pela sombra que seguia em direção de seu templo. Sua feição finalmente se assombrara. Como se tivesse visto a morte diante de si; talvez a vida. Partiu em direção da saída de seu escritório.
Um momento rotineiro diante do crepitar relaxante da lareira. Um ambiente alto e espaçoso ocupado apenas pela mobília requintada, pelos lustres e estandartes que de-fendiam um país. E o som afogadiço da tempestade que castigava o exterior daquele Templo. O casal de senhores, Marck Jashim e sua esposa, Mariah Jashim, saboreavam com prazer o maravilhoso chá de ervas vindo de regiões longínquas.
Todo o silêncio fora perturbado pelo som estridente do animalesco portão sendo surrado com fortes golpes. Naquele dia excepcionalmente não havia guardas que vigias-sem a entrada do Templo, portanto os Srs. Jashim entenderam que seriam obrigados a atender às desesperadoras chamadas. Concluíram que pudesse ser algum pobre desabri-gado, que buscava acolhimento. Partiram em direção da entrada principal do Templo.
Um colosso de cinco metros de altura, feito de madeira e ferro, escuro como árvore velha. Abriram-no com alguma dificuldade, deparando-se com uma cena estarrecedora: um jovem senhor, de imagem surrada e olhos tristes. Vestia-se como um maltrapilho sem rumo, transmitia ódio e agonia em existir. Trazia consigo um amontoado de cober-tores nos braços, provavelmente seus únicos pertences.
Ariel Sullivan originalmente pretendia intervir na aproximação suspeita do senhor, entretanto, instintivamente postou-se a observar a movimentação do alto da escadaria principal, posterior ao salão de entrada, por onde podia ver a toda a incomum movi-mentação sem ser notado.
Sem muito titubear, os cinquentenários Srs. Jashim se prestaram em acolher o pobre homem, uma vez que se recusava a adentrar num Templo onde todos dariam a vida para pisar algum dia. Dedicou sua trajetória àqueles senhores, em seguida desenrolou seu precário patrimônio, os olhos ardendo em dor. O casal Jashim sentiu a dor corroer seu peito.
Um inocente e delicado bebê adormecido estava preso por entre os panos pouco luxuosos, aguados, gélidos. A inocência, porém, o poupava de tamanha desonra por parte de seu suposto pai.
Não tinham sequer palavras que lhes expressassem a estranha sensação de ver algo como aquilo. Rapidamente retiraram o bebê de próximo dos cobertores gelados. Seu pai sequer hesitou em vê-lo nos braços dos senhores. Consequentemente revelou o que desejava, qual consequência o levara para ali, naquele dia. Os Srs. Jashim novamente puderam sentir a dor. Jamais imaginaram que escutariam algo naquelas proporções, com tamanha fluidez e impacto.
Existia tamanha convicção por parte do homem em deixar seu filho no interior do Templo de Áries, que apenas beijou sua delicada testa, em seguida partiu. Sua imagem imergiu na sombra do crepúsculo negro, banhado pela tempestade. O sobrenome do garoto era Stillen Tshinott. O nome inicial ficaria a critério de senhores que estavam aflitos, mesmo na posição de poderosos conselheiros imperais, os braços direito e es-querdo de Ariel Sullivan.
Dois pequenos sóis surgiram em meio ao negrume barulhento. A imagem de um carro aproximou-se, em seguida desapareceu.
O pai do pequeno Tshinott deixou um estranho aviso que seria repassado ao garoto quando fosse capaz de entender do que se passou naquele dia: “Cuidem bem do meu filho, por favor, senhores... Digam a ele que um dia eu voltarei...!”