A fantasia de João.
João era um jovem que não conseguia mais fazer nada. Tinha tido uma crise esquizofrênica e não conseguia mais estudar nem trabalhar nem fazer exercícios e, se conseguia, não era satisfatório e por pouco tempo. Dessa forma, João não era nada além de um esquizofrênico solitário. Tinha vinte e cinco anos e resolveu se matar. Não queria mais viver. Achava que não tinha mais o que fazer na Terra. Queria acabar com seu sofrimento. Bebeu veneno para insetos. Acordou no hospital. Não conseguira morrer.
Passaram-se cinco anos e João continuou o mesmo. Aos trinta anos de idade, João resolveu virar a sua própria fantasia. Ele foi ao psiquiatra e perguntou se ele poderia transformá-lo na sua fantasia, ao que o psiquiatra respondeu que ele deveria tomar outro remédio. Então João procurou um psicólogo e nada, procurou um poeta, depois um professor de filosofia e até um traficante, mas nada deu certo. Até que João falou baixinho só para ele mesmo escutar: "Estou aqui dentro de você." Ele virou-se, olhou ao redor e depois viu que estava só ele ali. Perguntou a si mesmo: "Dentro de mim?" E a resposta veio: "Sim. Nós somos a sua fantasia. Você pensava que estava sozinho, mas está repleto de fantasia. Tudo o que você vê, toca e sente passa a fazer parte da sua fantasia. Só você não está com a gente. Precisamos de você." Ele respondeu: "Mas como posso entrar dentro de mim mesmo?" Ao que a voz respondeu: "Você deve seguir a voz da fantasia quando ela fala com você do lado de fora do seu corpo. Como você não está na fantasia, a fantasia pode estar fora de você. Procure-a e vê-la-á." João não compreendeu. Como poderia escutar uma voz fora do seu corpo se não havia ninguém? Andou até sua casa e lá começou a procurar pela voz no telefone, depois no celular e até no rádio, mas não achava. Até que ouviu chamarem pelo seu nome no seu quarto. Não era um chamado normal, mas um chamado que fazia o seu corpo se mover impulsivamente. Foi até o quarto e sentou-se em sua cadeira de estudo em frente à escrivaninha e começou a ler um livro de História. Começou lendo sobre o Império Romano e foi aí que começou a sentir um leve toque sobre os seus ombros. Parou de ler e a sensação passou. Voltou a ler e, em vez de aprender, passou a ouvir a voz falar com ele e ele respondia sem entender nada do que estava lendo. A voz falou: "Eu sou a Princesa Ideal da sua fantasia e preciso da sua ajuda, pois o meu Príncipe perdeu tudo o que tinha, todo o seu reino foi destruído pelo vazio que tem dentro de você. Você precisa ajudá-lo a resgatar o seu reino, ou não haverá como a sua fantasia sobreviver." "Mas o que eu faço?" Perguntou João. A Princesa Ideal respondeu: "Entre na sua fantasia." E ele entrou.
Na sua fantasia, João estava só. Não havia nada e então João perguntou onde estou? E, em seguida, João se viu novamente em seu quarto e lendo o mesmo livro, mas sem entender nada. Estava mais convicto ainda de que a fantasia não existia. Então João resolveu pular do seu apartamento e matar-se, e o fez, mas, quando caiu no chão, achou-se no reino do Príncipe da Princesa Ideal.
"Onde estou?" Perguntou.
Um voz respondeu: "Você está em busca do real."
João retrucou: "Não! Eu quero a fantasia!"
Mas a voz respondeu: "Se você quisesse a fantasia, você não teria se matado."
João retrucou novamente: "Eu não pertenço ao real, mas à fantasia, senão o real me aceitaria."
Mas a voz respondeu novamente: "Se você fizesse parte da fantasia, você não precisaria buscá-la."
Entretanto, outra voz falou: "Isso é verdade, João. Você ainda não faz parte da fantasia e é por isso que você está desse lado. Você precisa ajudar-me a vencer o nada, mas, para isso, você precisa encontrar o caminho para a fantasia. Só você pode trilhá-lo e não é matando-se que você vai conseguir. Tente enfrentar o vazio que há dentro de você e somente assim você conseguirá me ajudar, mas, para isso, preciso que você me ajude.