O Preço de uma Estrela (Capítulos 32 e 33)

CAPÍTULO 32: INFORMANDO

Fiquei na livraria por trinta minutos, até o Leandro vir falar comigo.

- Posso te ajudar em algo?

- Ah. Você....trabalha aqui?

- Poderia te dar respostar grossas e curtas, mas ofender os clientes, mesmo eles sendo uns chantagistas, é contra as regras do estabelecimento.

É, não adiantaria esperá-lo para ir embora comigo, em segurança, suponho que ele jamais irá aceitar. Ele me odeia!

- Então, é o seguinte, meu amigo estava vendo você circular pelas estantes e, bom, por ser doido por notícias de famosos e ter uma ótima memória, ele lembrou que você saiu com o MAR-COS, e se sensibilizou com você, pensando que você está perdida, por isso precisava de ajuda para encontrar algum livro.

- Se sensibilizou?

- É um modo de dizer que ele queria se aproximar por achar que você pode ser famosa em algum futuro, ou por simplesmente ter andado com o Marcos.

- AH, entendo. Aqueles caça-famosos, não é? No meu caso, caça-quase-famosos. Rsrsrs.

- Não vejo graça.

- Certo. Mas me conta, por que o seu amigo não veio me atender?

- Porque ele quis brincar comigo, me deixar irritado, já que sabe que eu não gosto de você.

- Você contou para ele?

- Não, mas poderia.

- Leandro!

- Só não faço por causa do MEU Marcos. Eu disse para o meu amigo, quando te vi em uma NOTA na Focus, que seu cabelo era ruim e que você era gorda. Sem contar esse seu rosto todo pálido.

- Você falou isso?

- Falei. Eu não estou mentindo, todo mundo acha isso.

Dei uma risadinha, achei engraçado o jeito dele me chamar de feia. Sei que tudo foi brincadeira. Acho que no fundo ele gosta de mim, então é melhor eu avisá-lo.

- Leandro, eu não estou procurando nenhum livro.

- Sabia, está aqui para circular e ver se as pessoas te reconhecem, não é mesmo?

- Não! Eu vim para comprar um livro para faculdade.

- Que faculdade, você nã...

- Dá para me escutar!

Falei tão alto que algumas pessoas olharam para mim, inclusive um outro funcionário da livraria.

- Não precisa gritar. Não é nada não, amigo, está tudo bem!

- Desculpa, eu não...

- Fala de uma vez. O que você quer?

- Eu vim comprar apenas um livro quando entrei aqui, mas agora eu estou esperando você sair, para irmos embora juntos.

- Hã?

- Sabe aqueles dois meninos com quem você conversou há um tempo atrás?

- Que meninos?

- Uns dois que gritaram e você veio ver o que estava acontecendo.

- Ah sei, eles não são meninos, são homens já. Um deles eu até conheço, estudava comigo e er...

- Está bem! Eu já entendi que você já sabe quem eles são. O problema é que você não sabe o que eles estão querendo fazer.

- E o que eles estão querendo fazer?

- Te espancar!

O Leandro ficou sem fala, parecendo paralisado com o que eu dissera.

- Antes de você chegar eles estavam programando. Parece que estão esperando você sair para baterem em você, só pelo fato de você ser gay.

- Acho melhor você ir embora, Liani.

- Hã?

- Eu preciso trabalhar.

- Você não ouviu o qu....

- Eu ouvi! Me deixe em paz, pode ser?

O Leandro me virou as costas, me deixando sozinha no corredor de livros de psicologia.

CAPÍTULO 33: HOMOFOBIA

Eu comprei um livro que comenta algumas coisas sobre publicidade e um de psicologia, pois achei bem interessante, e também por ser uma desculpa para eu ficar mais tempo na livraria olhando para o Leandro. No entanto, mesmo atenta, eu o perdi de vista, então perguntei para um funcionário sobre ele, descobrindo assim que o Leandro já tinha ido embora. Peguei meu celular, liguei para a polícia e disse a única rota que eu sabia que o Leandro passaria, pois era a única que existia e porque mesmo sendo movimentada de dia, aquela hora da noite deveria estar deserta.

Corri para ver se encontrava o Leandro, até ver um vulto bem longe. Apressei o passo ainda mais e consegui chegar até o namorado do Marcos.

- Leandro! Leandro! Ai, até que enfim eu consegui te alcançar.

- Preciso ir para a casa rápido.

- Coloca rápido nisso.

- Não tenho tempo para conversar.

- Não é uma conversa, é um aviso. Leandro, faz pouco tempo sim que eu estou no Rio, mas eu já vim várias vezes no shopping, por isso eu conheço esse caminho e já sei onde os caras irão te atacar.

- E daí, eu trabalho no shopping mais tempo do que você está no Rio, então consid....

Eu também parei com Leandro, de andar e até de respirar. O choque foi imenso, não eram somente dois caras, mas seis, todos com um pedaço de madeira na mão vindo em direção a nós dois. Fiquei com medo e segurei a mão do Leandro.

- Ora, ora. A Margarida trouxe uma amiga.

Meu coração gelou. Cadê a polícia quando queremos?

- O que vocês querem?

- Te fazer virar homem.

Leandro estava nervoso, eu podia sentir a mão dele, que eu segurava, molhada de suor, mesmo assim ele estava firme na frente daqueles caras. Vendo a coragem do namorado do Marcos, eu resolvi falar também.

- Isso é homofobia.

- Isso é fazer ele parar de envergonhar os homens.

- Ele não está envergonhando ninguém. Ele é quem ele quer ser. Somos livres, temos liberdade de expressão. O que vocês estão dizendo é crime!

- Vai me dizer que você também é. Gosta somente de mulheres é?

- Sim, gosto! Vai me espancar também?

- Primeiro ele, depois você.

Engoli em seco. Eles já estavam ao redor de mim e do Leandro, então um dos caras o empurrou e uns três começaram a jogá-lo de um lado para o outro, como se ele fosse o boneco João Bobo, só que agressivamente.

- Para! Para com isso!

Eu tentei entrar no meio para fazê-los parar, mas um homem me segurou, me prendendo com seus braços, assim eu só podia gritar.

Depois de um tempo empurrando o Leandro, o mandante, aquele que estava na livraria programando tudo, deu um soco na barriga dele e pegou um pedaço de madeira para continuar a bater.

Não sei o que me deu, nem sei da onde eu tirei forças, só sei que eu pisei com força no pé do cara que me segurava, joguei a minha cabeça para trás, batendo-a no nariz dele, e mordi sua mão, pegando um pedaço de madeira do chão. Corri até onde o Leandro estava, bati o pedaço de madeira atrás da perna do menino que batia no Leandro, ele caiu, então me coloquei na frente do Leandro, segurando o pedaço de madeira bem forte em minhas mãos.

Deitado no chão, o mandante ainda teve forças para gritar.

- Peguem ela!

Tudo aconteceu muito rápido, não dava tempo de pensar, uma atitude seguida de outra e/ou acontecendo ao mesmo tempo. No entanto, os caras não tiveram tempo de começar a bater no Leandro novamente ou de relar um pedaço de madeira em mim, pois a polícia chegou e muitos deles fugiram, sobrando apenas dois, o mandante que estava caído no chão segurando a perna e o que me segurava, que depois eu percebi ser o outro homem da livraria.

- Você está melhor?

- Estou. Obrigado!

- Eu já liguei para o Marcos. Ele disse que não pode vir aqui pois podem vê-lo e reconhecê-lo, mas que assim que você chegar em casa ele te liga.

- Tudo bem. Mais uma vez obrigado, Liani.

- Hakuna Matata. Rsrsrs.

- Rsrsrs. Você é engraçada, sabia?

- Sério?

- Eu me esforço para não rir com você. Afinal, somos inimigos.

- Mas não precisamos ser. Eu não quero roubar o Marcos de você. Para mim ele é apenas um degrau da escada. Eu e ele nem nos damos bem. Ele já te contou sobre nossas conversas?

- Não. Ele não fala de você comigo.

- A gente sempre discute. Ele sempre é grosso comigo. Eu sou sempre grossa com ele. Mesmo se eu quisesse, o que não é o caso, eu nunca ficaria com o Marcos. Ele é grosso, chato, metido, e nossa, tanta coisa que eu não suporto. Me desculpe, eu sei que você o ama, mas eu me pergunto: como você consegue aturá-lo?

- Rsrsrs. O Marcos é um cabeça dura mesmo. Muito tempo junto e você acaba achando um jeitinho para tudo. Fico feliz em saber isso tudo.

- E você pode saber muito mais. Não quero brigar Leandro. Eu só quero ser atriz. Me desculpe ter achado esse jeito, mas foi o único no qual eu consegui ver uma luz. Eu também não gosto disso. Eu sei que sou uma chantagista, eu admito isso, mas eu não gosto disso, nem quero continuar por muito tempo. Deixe-me apenas conseguir um trabalho, me tornar reconhecida e eu prometo que o Marcos sairá da minha vida, sem beijos e abraços meus, apenas apertos de mãos.

- Tudo bem. Eu confio em você. Depois do que você fez hoje, quer dizer, você poderia ter me deixado lá, deixado eles me matarem, assim o caminho estaria livre para você com o Marcos. Mas não foi assim. Nunca esquecerei isso Liani. Você segurou minha mão, bateu em dois caras mais fortes que você, para me proteger.

- Sem contar que eu liguei para polícia, fiz uma estatística do local mais provável da rota para os caras aparecerem e fiquei um tempão naquela livraria esperando você sair.

- É! Precisamos conversar sobre você se achar de mais também. Rsrsrs.

- Rsrsrs. Ah, pelo menos não é o meu cabelo.

- Ah, verdade, seu cabelo e sua gordura também.

- Gordura?

- Só um pouquinho só, mas é algo que pod....

Eu e o Leandro ficamos conversando até ele ser dispensado do hospital, pois precisou fazer alguns exames e curativos. Inteiro fisicamente ele está, emocionalmente não tanto, pois é sacanagem ter passado por tudo isso. É nessas horas que eu me pergunto: onde fica a liberdade de expressão pela qual lutamos e conseguimos ao londo da história? Por que as pessoas não cuidam da sua própria vida? Por que repeitar a opção sexual de outra pessoa é tão difícil? Aff, tanta gente ignorante quanto a tudo isso.

Aqueles dois caras que não conseguiram fugir foram presos, mas e os que conseguiram? E todos os outros que por aí estão? Isso me machuca só de pensar.

O que me deixa um pouco alegre com tudo isso, é que ao contrário de algumas outras vítimas desses dolorosos e drásticos acontecimentos, o Leandro conseguiu sair vivo, com apenas alguns machucados e virou meu amigo.