O Preço de uma Estrela (Capítulos 30 e 31)

CAPÍTULO 30: DESPEDIDA

Voltei para casa pensando em tudo que o Marcos falara comigo no quiosque e no que exatamente ele sabia sobre mim, já que, ao contrário do que eu pensava, ele havia mandado alguém me seguir.

Depois de arrumar as minhas coisas, eu conversei com a Doroteia, a dona da pousada, agradecendo e confirmando a minha partida dali. Como já havia escurecido, eu fui até a lanchonete para conversar com o dono, ou seja, o pai da Joana.

- Ah! Apareceu a Margarida.

- Seu pai está aí?

- Se for para reclamar, você não vai conseguir. Já avisei meu pai sobre tudo.

Enquanto ela falava de um jeito que nem parecia ter a idade que tem, eu avistei ao redor e vi o dono da lanchonete sentado na última mesa, no fundo do local, fazendo contas. Então deixei a Joana falando sozinha e fui até ele.

- Olá.

- Ah, Liani.

- Me desculpa ter largado a lanchonete naquele momento, mas é que eu...

- Não, eu entendo. Claro que nada justifica a senhorita ter abandonado o emprego em pleno horário de expediente, mas eu conheço a minha filha. Com as outas garçonetes, antes de você, ela fazia de tudo para elas pedirem demissão. Tudo para poder ganhar mais. Eu canso de dizer que ela não dá conta de todo o serviço, mas não adianta, ela sempre faz a mesma coisa. As vezes eu penso em mandar ELA embora, mas é família, não é? Até que você está há um bom tempo aqui. Pensei até que ela havia se simpatizado.

Eu dei um sorrisinho para ele. Coitado, a Joana deve ser terrível mesmo, acho que eu só peguei o morno dela. Se o Marcos não tivesse conversado comigo sobre aquilo tudo, não tivesse me pressionado para mudar para o apartamento dele, eu ainda continuaria aqui.

- Olha, o senhor foi muito legal nesse tempo que eu trabalhei aqui e a Joana, bom, eu consegui trabalhar com ela, mas acontece que eu preciso ir embora mesmo, então, eu...Eu quero minha demissão.

- Certo, eu sabia que isso iria acontecer.

- Eu estou saindo daqui porque surgiram novas oportunidades, senão eu não sairia. A Joana não tem nada com isso. Não estou saindo porque ela disse algo ou por causa do jeito dela, eu estou saindo por causa de mim mesma.

O dono da lanchonete me deu um sorrisinho. Pegou a minha carteira de trabalho que eu segurava nas minhas mãos, escreveu algo nela e me entregou novamente com um pacote.

- Eu já sabia que isso iria acontecer, depois que a Joana veio falar comigo assim que eu cheguei, então já deixei tudo preparado. Nesse pacote está o que todo trabalhador tem direito quando pede demissão, com os descontos, etc.

- Ah! Obrigada, isso é...Isso é muito eficiente.

- Foi como as outras, por isso eu já me preparei. A diferença é que todas culparam a Joana pela demissão.

Ele sorriu e me abraçou, dizendo "Adeus".

Estranho, eu mal falava com ele. Talvez eu não tenha percebido o quão bom ele é para os seus funcionários, pois ele só vivia na rua, resolvendo coisas para melhorar a lanchonete cada vez mais.

Quando eu fui para frente da lanchonete, a Joana não estava lá. Ouvi a voz dela vindo da cozinha. Pensei até em ir lá me despedir dela e das cozinheiras, mas ainda estava com um pouco de raiva dela, então fui direto para a pousada. Liguei para o Marcos e peguei o endereço. Chamei um táxi, coloquei as minhas três bolsas com roupas no porta malas e segui para a minha nova casa.

CAPÍTULO 31: OUVINDO

O apartamento, que o Marcos me emprestara, não era tão pequeno. Havia um quarto, um cômodo que fora dividido por um balcão de tijolos em sala e cozinha e um banheiro com direito a box. Ou seja, um apartamento pequeno no estilo de um famoso. Para a minha alegria, tudo estava mobiliado no estilo de um famoso, logo tudo estava lindo, com móveis que eu sabia ser caro para mim.

Acomodei as minhas roupas no guarda-roupa, que era embutido na parede e sai para comprar comida, pois isso não tinha. Já esperava por isso, o que eu não esperava era encontrar algumas peças de roupas masculinas em uma gaveta do guarda-roupa, com algumas camisinhas e uma foto do Marcos com o Leandro abraçados, e esta, óbvio, foi parar na minha coleção de fotos sobre o Sandret, para ajudar mais no meu plano.

Dormi que nem uma princesa naquele colchão macio.

- Esta é uma das coisas que eu penso que posso ter quando penso em ser atriz.

De sorriso no rosto e já arrumada, depois de um banho naquele maravilhoso banheiro com água maravilhosa, eu fui até o shopping para comprar algumas coisas, como os livros que o Marcos falou, para poder ser mais realista com a minha faculdade de mentira. Pensando nele, agora que eu me lembrei que ele nem me ligou para saber se eu estou bem, acho que eu....Peraí, aquele ali é o Leandro. O que ele faz aqui?

O Leandro estava na mesma livraria que eu, a do shopping, carregando um monte de livros. Bom, ele não gosta de mim, acho melhor ficar na minha aqui, como se não o tivesse visto, pois se eu provocá-lo, do jeito que ele é esquentadinho, ele pode contar para alguém sobre o meu plano, só de raiva.

- Pede o livro para aquele cara ali.

- Eu não. Eu conheço ele.

- E o que é que tem?

- Ele não joga no nosso time.

- Você quer dizer que...

- Ele é gay.

- Então vamos esperar ele sair daqui para dar uma lição nele.

- O quê?

- Você sabe como eu odeio esses caras, nascem de um jeito e não respeitam isso. Meu pai vive falando que quando a gente encontra alguém assim, temos que socá-los até a cabeça dele voltar ao normal. Sem contar que será divertido.

- Ah, eu acho melhor....

- Vai virar um agora? Vai ficar do lado dele? Olha que eu digo que vocês estã...

- Não!

- Não grita, cara. Vai que alguém percebe.

- Tá!

- Algum problema aqui?

- Não gay, quer dizer, nenhum problema. Já estamos indo.

- É! Nenhum problema! Até mais.

Aiiiii! Eu ouvi tudo. Eu estava vendo alguns livros na estante de publicidade, quando esses caras idiotas começaram a conversar no corredor próximo ao meu. Eles irão cometer um crime e pelo que eu pude ver através da estante, a pessoa que eles ofenderam e pretende machucar, é o.......Leandro.