O Preço de uma Estrela (Capítulos 23, 24 e 25)

CAPÍTULO 23: A ENTRADA

Um vestido preto, sem mangas, aberto atrás, sem decote, acima dos joelhos e apesar de mostrar minhas costas, bem discreto. Uma sandália de salto alto, preta, chique, mas não chamando a atenção. Pulseiras e uma maquiagem leve. Cabelo arrumado no salão, sendo um coque misturado com tranças. E pronto! Assim eu estava arrumada para a festa, lógico que eu precisei da ajuda da vendedora, da cabeleireira e de umas fotos de pessoas famosas. Para todos eu dizia que iria em um casamento.

- Oi!

- Olá.

Peguei um táxi para ir até a casa do Marcos, eu não podia ir de ônibus naqueles trajes.

- Você já está pronto?

- Já!

Ele estava com o cabelo meio de lado, meio bagunçado, com sempre usa e estava usando um terno, bem chique.

- E o Leandro, ele...

- Vamos logo!

Tudo bem! Acho que terei que me acostumar com o mau humor desse cara.

- Chegamos.

- Você vai abrir a porta para mim?

- Sério?

- Bom, eu achei que teríamos um motorista, mas não tivemos. Então acho que o mínimo você deveria abr...

- Não e não! Garota, presta a atenção: Não tem motorista. Não tem madame. Não tem tapete vermelho. Para! Você está no mundo da fantasia. Isso aqui é real e você vai perceber que ser artista não é só luxo.

- Eu sei que não, mas...

- Mas nada! Você vai sair do carro sem eu abrir a porta para você, porque isso jamais vai acontecer. Você queria vir em um evento, não queria? Eu te trouxe e pronto. Aqui você vai conhecer diretores, produtores e pessoas influentes, então trate de arrumar logo uns amiguinhos, pois a minha paciência está se esgotando a cada dia.

- Você se esqueceu que eu tenho fo...

- Não! Eu não me esqueci, mas para tudo tem limite, você não acha?

Respirei fundo. Olhei para frente e vi a Cláudia Abreu descendo de um carro. Caraca, ela mesma veio dirigindo? Acho que talvez ele esteja certo. Respirei mais uma vez profundamente e sai do carro. Marcos veio atrás de mim.

- Saiba que eu sai do carro, somente porque eu vi outras celebridades saindo também, caso contrário você teria que abrir a porta para mim.

Ele nem me respondeu.

Estávamos chegando perto da entrada do evento, mas antes da porta, havia um corredor cercado de fotógrafos de ambos os lados. Sorri! Minha felicidade, meu sonho. Estou quase lá. Até sentir alguém segurando-me pelo braço.

- Vamos passar por ali. Finja ser alguém comum. Não me faça passar vergonha. Acene com a cabeça. Dê sorrisos leves. Eles vão tirar várias fotos, mas seja discreta.

Tanto glamour que até me esqueci que aquele ogro estava do meu lado.

- Mas eu quero aparecer com você.

Marcos olhava para o chão e quando falou, disse entre dentes, assim percebi que ele estava com raiva.

- Eu sei. Eles irão tirar muitas fotos, você estará do meu lado, logo você VAI aparecer. Mas, por favor, não demonstre que você QUER aparecer. Ser apavorada. Eles não gostam disso. Não se esqueça que você não é uma artista.

- Ainda!

Ele apenas acenou com a cabeça. Então partimos para a entrada da festa, quando ele sibilava.

- Sem grude. Afinal somos amigos, não é?

Assenti com a cabeça e somente fiquei do lado dele, caminhando lado a lado, como se fôssemos amigos. Mas aí, teve um momento que um fotógrafo o chamou, daí ele parou comigo, na frente de um negócio, tipo um banner enorme, com o nome da revista escrito várias vezes. Então ele colocou a mão no meu ombro e eu fiz uma pose com um sorrisinho leve. Várias fotos foram tiradas e eu me senti uma celebridade.

CAPÍTULO 24: A FESTA

Na festa Marcos foi cumprimentar algumas pessoas e algumas pessoas vieram cumprimentá-lo. Para todas ele me apresentava como amiga dele, e eu complementava, quando necessário, que eu era uma amiga de infância, que havia acabado de me transferir para uma faculdade do Rio, cursando publicidade.

- Publicidade? Que legal! Eu fiz publicidade. O que está achando do curso?

Um diretor, amigo de Marcos, começou a me fazer muitas perguntas. Eu tentei enrolar, fazendo a minha mentirinha virar uma mentirona, até que consegui mudar o assunto e começar a falar sobre atuação.

- É! Concordo que atuar é esplendido. Não sei se você já atuou na vida, mas quando eu fazia um curso na escola, achava fantástico. Se bem que depois mudei de ideia e dirigir é minha vida agora.

- Bom, na verdade eu sei bem como é, pois apesar de eu fazer publicidade, eu amo atuar.

- Sério? Você é atriz?

- Hum, digamos que sim. Na verdade, eu nunca fiz novela nem nada para televisão, mas eu já fiz algumas peças teatrais.

E assim minha conversa com o diretor Bruno Lourenço continuou. Ficamos um tempão conversando, Marcos até me largou com ele na mesa e foi conversar com outras pessoas.

A festa teve de tudo. Pessoas recebendo prêmios. Música ao vivo. Vídeo sobre a história da Revista Máximo. Etc.

Depois de conversar com o Bruno, Samanta Aguiar (atriz), Giuliano Hans (ator), e companhia, eu pedi licença à eles e sai para ir ao banheiro, pois não aguentava mais segurar minha bexiga. Após de sair do banheiro, eu estava aliviada e mais empolgada para continuar conversando com o pessoal, mas parei no meio do caminho, em direção a minha mesa, pois vi o Marcos sentado sozinho, olhando a banda, curtindo o som. Achei aquilo meio estranho e resolvi ir lá conversar com ele.

CAPÍTULO 25: PERSONAGEM BÊBADO

- Oi.

Ele apenas acenou com a cabeça.

- Está tudo bem?

- Claro, nada poderia estava fora do normal.

Percebi o tom de ironia na voz dele e virei as costas para deixá-lo sozinho, mas então pensei que seria falso isso. Marcos, meu amigo de infância perante todos ali, está sozinho enquanto eu me divirto. Assim a mentira iria furar. Voltei para ele e sentei em uma cadeira perto dele.

- Sei que não nos damos bem, mas somos amigos agora.

Marcos sorriu ironicamente.

- Me esqueci do teatro.

Olhei ao redor de nós dois para ver se alguém nos ouvia. Estávamos em uma mesa, perto do palco que a banda estava tocando, havia poucas pessoas ali, e com o som da música, nos ouvir seria difícil. Eu só conseguia ouvir o Marcos, sem ele precisar gritar, pois estava bem próxima dele.

- Marcos, você está aqui sozin...

- Para.

Marcos olhava em meus olhos e como nossos rostos estavam bem próximos, percebi o cheiro de álcool do bafo de sua boca. Balancei a cabeça negativamente e tentei entender o motivo dele pedir para eu parar.

- Parar com o quê?

- Se fazer de simpática.

- Eu não estou me fazendo de simpática. Olha, quer saber, acho melhor irmos embora, você bebeu e nã...

- Não, Liani. Olha, isso não combina com você. Você é má! Muito má.

- Eu não so...

- Vai lá, vai. Vai conversar com seus novos amigos. Conseguiu o que você queria, não conseguiu? Agora me deixa em paz. Não precisa fingir que está preocupada comigo, não precisa fingir é minha amiga.

Aquela conversa estava estranha, eu não estava fingindo, quer dizer, no começo eu estava, mas depois que senti o bafo de álcool dele, eu estou realmente preocupada.

Enquanto eu o olhava, ele acariciou meu rosto e depois o segurou com força, virando-o para mesa onde eu estava sentada, para eu olhar o tanto de pessoas que estavam lá.

- Veja. Dez pessoas dessa festa já estão caindo de amores por você. Você encantou o Bruno com sua simpatia e ele foi chamando outras pessoas e vocês estavam bem animados conversando.

Aquilo não fazia sentido. O Bruno chamou alguns amigos dele para se juntar a nós, como a Samanta e o Giuliano, mas não por causa de mim.

- Para Marcos. Você está bêbado e está falando bobeiras.

Afastei a mão dele de mim e me endireitei na cadeira para olhá-lo.

- Vamos embora.

- Eu não estou bêbado. Eu bebi pouco. Não posso passar vergonha.

- Mas irá, se não sairmos daqui.

- Escuta Liani. Você conheceu eles, não conheceu?

- Marcos.

- Eles gostaram de você.

- Estávamos apenas conversando.

- Me libera Liani, por favor.

Agora entendi tudo, era aí que ele queria chegar.

- Vamos embora ag...

- Pessoal! Pessoal! Um minuto da sua atenção, por favor.

Me virei para o palco, nem havia percebido que a banda parara de tocar.

- Gostaria de agradecer a todos vocês por terem vindo comemorar os 10 anos da Revista Máximo e agradecer aos organizadores Pedro Ludovic, Julian.....

- Bom, agora acabou a festa. Vamos embora, porque o seu fingimento de bebedeira está me matando.

- Não é somente você que sabe fingir aqui, não é mesmo?

Esperei a mulher terminar de agradecer e assim que a banda voltou a tocar, eu me levantei da cadeira e peguei a chave do carro do Marcos que estava em cima da mesa.

- Liani.

Fingir não ouvir.

Bêbado? Uma ova! Ele bebeu, mas não uma quantia para deixá-lo bêbado. E ainda confessou! Idiota!

- Tchau gente.

- Já vai Liani?

A festa acabou. Essa gente!

- É. Amanhã eu preciso acordar cedo e o Marcos também, não é Marcos?

- Claro.

Marcos se aproximava da gente, falando e andando normalmente. Pelo visto acabou o fingimento.

- Ah é. Havia me esquecido que amanhã é sábado. Achei que fosse domingo.

Dei um sorrisinho amarelo para o comentário desnecessário do Bruno.

- Foi um prazer te conhecer Liani.

- O prazer foi meu Giuliano, Samanta, Bruno e todo o pessoal.

Marcos foi se despedir um por um do pessoal. Eu não quis me aproximar deles, pois estava com um pouco de raiva e não queria que eles percebessem. Então apenas me despedi de quem estava mais próximo de mim e para os outros dei um aceno.

Na voltar para casa, um total silêncio no carro. Fui para casa do Marcos e de lá peguei um táxi para a pousada.