**Surpresas do Amor**
Escutando uma musica, deixando o tempo passar e mexendo nas minhas coisas.
Começa a tocar Raça Negra, “O que é que eu vou fazer com esta tal liberdade”.
Eu tentava não fazer esta pergunta a mim mesmo... Deixava minha mente divagar e prestava atenção às coisas sem importância... Tirei tudo do meu guarda roupa, selecionando algumas delas para doação, o mesmo com os tênis e sapatos.
O fim de semana seria longo, muito longo para o meu gosto... Sei que teria mil opções de passeios, poderia ligar para os amigos, havia o acesso a internet buscando shows e eventos interessantes, massss... Faltava a motivação.
A vontade de desligar o som, ao mesmo tempo em que, é normal curtir uma fossa... Faz parte da vida, sentir o desalento e analisar o fim de um romance... Quando a paixão aconteceu, quando existiu aquele friozinho na barriga, quando a ansiedade se fez presente em diversos momentos, quando o coração balançou.
Houve sim... Existiram momentos inebriantes, dos quais, tornaram-se inesquecíveis... Fatos delirantes, lotados de carinho e de cumplicidade... Sensações das mais encantadoras, recheadas de alegrias... Passagens que tiveram o poder de marcar uma fase de minha vida, com cores fantásticas, onde tudo era bom e maravilhoso... Em todos eles, você era o motivo principal.
Cinco anos de namoro... Há seis meses, as mudanças começaram a acontecer... Encontros esfuziantes tornaram-se comum, sem grandes estrepolias, perdendo aquele algo mais...
Os encontros começaram a espaçar, cada vez, mais dias entre os nossos encontros... Quando aconteciam, não havia aquela sensação mais forte, aquele lance do... Te quero.
Sem uma explicação plausível, a flor começou a perder o seu aroma, a lua não mais nos enternecia, o fogo da nossa paixão foi perdendo a intensidade e as chamas foram consumidas, tornando-se apenas cinzas.
Resolvo sair e andar a esmo, perdido nas minhas reflexões... Mãos nos bolsos, cabeça baixa, com uma ponta de tristeza me cutucando... Olho para lá e para cá em busca do nada... Simplesmente perdido, querendo sentir novamente aquela vontade louca de ligar para você... A vontade não vem, mas, as lagrimas aparecem e resolvem escorrer.
Sento-me no banco de uma pracinha e fico olhando o balanço vazio, o escorregador e uns tubos de concreto colocados estrategicamente como um labirinto... As cores alegres dos brinquedos não me animaram... Abaixei e peguei um bocado de areia... Ela começou a escorrer pelos vãos dos dedos, assim como o nosso amor... Eu tinha em minhas mãos um amor enlouquecedor e ele havia escapado pelos vãos dos meus dedos.
Apoiei os cotovelos nos joelhos e o rosto entre as mãos... Lagrimas teimosas pingavam e se perdiam na areia... Não sei quanto tempo se passou até que...
- Oi... Está tudo bem??? Você está bem???
Levantei o olhar, mas, estava turvo... As lagrimas ainda escorriam... Não me preocupei em esconder o desalento que me fazia companhia.
Ela sorriu comovida... Um sorriso doce... Como se pudesse entender o que eu estava passando...
- Dói não é mesmo??? As explicações não existem somente a dor... Mas, acredite em mim, a cada dia ela se tornará mais leve e suportável... Pode acreditar.
- Nossa... Como eu queria um abraço agora...
- Levanta vai... Levanta... Deixe-me te dar este abraço... Vem.
Levantei e a abracei... Abracei... Abracei forte... Abracei com força mesmo... Com a força da dor que me apunhalava... E o choro aconteceu... Em silêncio ali ficamos... Silêncio cortado somente pelos meus soluços.
- Estou envergonhado... Puxa vida, não sei o que dizer.
- Melhorou??? Está mais calmo ou mais tranquilo.
Sequei os olhos com a camisa e demorei em levantar a cabeça... E quando o fiz affff...
- Um ser humano lindo... Uma mulher realmente belíssima, de um sorriso fluorescente, magnifico... Um rosto angelical, decorado por um nariz delicado, rosto oval, olhos cor de mel e uma boca de lábios grossos... Linda, delicadamente linda.
Meu rosto começou a queimar... Não sabia o que fazer ou o que falar.
- Ela viu... Ela sentiu... Ela sorriu.
- Puxa!!! Você vermelhinho assim fica lindo demais... Fica de novo para eu ver.
Comecei a rir, não resisti... A suavidade daquela voz, a forma delicada como havia dito, procurando me aliviar um pouco daquele tormento... E conseguiu.
- Seria muita pretensão minha convidá-la para um café???
- Eu ainda tenho um tempinho sobrando, aceito sim.
Havia uma lanchonete do outro lado da rua... Sentamos e acabei pedindo dois cafés e uma porção de pão de queijo.
Ela pediu para que eu contasse a minha história e não me fiz de rogado... Fui soltando e soltando... As palavras saiam sem peso ou dor... Não entendia o que estava acontecendo comigo, mas, sabia que aquela companhia havia surgido na hora certa.
Quando terminei de contar, ela me olhava firme... Olhos nos olhos sem uma palavra... Seu rosto inexpressivo, como se estivesse avaliando detalhe por detalhe... De repente esticou a mão e segurou a minha...
- Eu sei o quanto é difícil... Eu sofro deste mesmo dilema... Tudo aconteceu como se fosse uma nuvem descuidada que se encaminhou para o sol escaldante... Desvaneceu em uma fração de segundos... Se foi... Sumiu... Acabou... Precisei também de um abraço... Precisei chorar... Precisei caminhar sem rumo, até te encontrar e sem pensar, me aproximar de você e aceitar o seu abraço e o seu convite.
- Uauuu... Jura??? Que loucura... Quer dizer que estava dando uma volta para tentar amenizar um pouco deste sofrimento??? Está passando exatamente por este sofrimento???
- Verdade... Estou sim!!! Exatamente igual, de forma diferente, porém, com a mesma intensidade... Agora que percebi, que não me falou o seu nome.
- É verdade... Não nos apresentamos não é mesmo??? Oi, me chamo Felipe e do fundo do meu coração, está sendo um prazer incrível estar conhecendo alguém tão especial.
- Eu sou a Renata e estou muito feliz por este encontro tão diferente... Te ver chorar aliviou um pouco da minha dor... Compartilhar esta dor contigo foi bom... Agora eu tenho que ir.
- Por favor... Renata, só mais alguns minutos sim??? Por favor??? Talvez estranhe a minha timidez, mas, sou assim mesmo, entretanto, não posso deixar de dizer algo.
- Hum, estou lhe ouvindo.
- Queria muito reencontrá-la... Queria de verdade... Minhas ideias estão confusas, a não ser pelo fato que... Gostaria realmente de conhecê-la melhor.
- Uauuu... Pelo que disse, não parece ser tão tímido...
Falou isto com uma carinha de menina sapeca... Acabei sorrindo.
- É isto mesmo!!! Queria ter a chance de conhecê-la a fundo... Teu perfume está impregnado em mim... Ainda consigo sentir o calor daquele abraço... Você me transmitiu uma paz tão gostosa.
- Você acabou de quebrar a cara... Acabou de se desiludir... E já quer novamente entrar neste barco furado???
- Kkkkkk... Não sei, juro que não sei, mas, sei que quero muito saber tudo sobre você.
- Tá certo... Dois bobos de mãos dadas chorando o amor perdido... Que romântico não é mesmo??? Rsrsr
- Bom, pelo menos, um pode enxugar a lagrima do outro... Quem sabe outro abraço daquele??? Não iria ser ruim não...kkkkk
- Aqui está o meu número... Vou aguardar a sua ligação... Só te aviso uma coisa... Não estou sendo uma boa companhia.
- Agora é a minha vez... Posso te dar um abraço???
Ela sorrindo, levantou e se deixou abraçar.
A sensação era deliciosa... Não tinha vontade de soltá-la... Sentia seus braços me apertando com a mesma intensidade... Sentia o seu delicado perfume... Sentia paz.
Ao nos afastarmos, senti uma vontade louca de beija-la, mas, me contive...
Paguei a conta e saímos... Ela se despediu e foi andando devagar... Parado fiquei, vendo-a se afastar, até que...
- Renata, por favor, espere... E corri em sua direção.
Ela se voltou e parou.
Aproximei-me, parei bem pertinho eeee...
Roubei um beijo... Aquele beijo que tive vontade de dar ainda na lanchonete... Um beijo forte, pegado, molhado... E ela correspondeu com a mesma intensidade.
Ao me afastar, voltei a beija-la... Abraçando forte, prendendo-a em meu corpo... Um beijo recheado de vontade de ser feliz.
Ficamos parados, olhando um para o outro sem nada falar... Até que ela sorriu.
- Vou ficar aguardando ansiosamente a sua ligação... Virou-se e saiu andando, saltitando, andando como uma criança peralta... Lá na frente, voltou-se, mandou-me um beijo e se foi...